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Movimento de descriminalização de drogas esbarra em falhas de políticas sociais

Congresso Nacional
Movimentos contraditórios entre si marcaram o cenário das políticas sobre drogas no mundo no início de 2024. Indicações de avanços e recuos em relação às leis relacionadas à descriminalização acirraram o debate sobre como lidar com a questão dos entorpecentes da forma mais eficiente, com foco nos direitos humanos e na saúde pública.

O maior recuo aconteceu em fevereiro, quando Oregon, nos Estados Unidos, voltou atrás de uma decisão de ser o primeiro estado americano a descriminalizar todas as drogas. Um mês depois, entretanto, a Alemanha deu um aceno no sentido oposto ao legalizar, ainda que parcialmente, o consumo recreativo de maconha.

Enquanto os defensores da descriminalização comemoram o sinal alemão, os adeptos da guerra às drogas usam o caso americano para indicar o fracasso da liberação e defender a proibição total.

Para especialistas, é cada vez mais evidente que é preciso associar políticas sociais a qualquer medida legal sobre as drogas a fim de garantir o resultado mais positivo para a sociedade.

RECUO AMERICANO
A decisão de Oregon reverteu uma aprovação eleitoral de 2020 que liberava a posse de pequenas quantidades de todas as drogas e expandia os serviços sociais e de saúde para usuários.

Apesar de muitos especialistas defenderem que a política no estado americano na verdade deu certo, cenas de uso de drogas em público, o aumento do número de pessoas em situação de rua e o crescimento do registro de overdoses levaram o governo a mudar de rumo. A partir de setembro, o porte de drogas voltará a ser crime punido com prisão.

Assim como Oregon, relatos de dúvidas sobre a descriminalização estão ganhando destaque na imprensa internacional. Segundo uma reportagem da revista The Economist, há uma redução no ritmo de abertura e mudança das leis, enquanto políticos e a população de países antes vistos como modelo, como Portugal, Suécia e Holanda, mostram-se preocupados com a criminalidade que continuam a ver como associada às drogas. Aliado ao avanço da ultradireita no mundo, isso poderia indicar um refluxo das políticas desse tipo.

Para ativistas e pesquisadores de leis sobre drogas, entretanto, a reversão da lei em Oregon fez da descriminalização um bode expiatório para todos os problemas do estado e manipulou informações para alimentar o movimento proibicionista.

“O problema é que a descriminalização deve vir acompanhada de políticas sociais e de tratamento de saúde para os usuários, mas muitos países estão cortando o orçamento enquanto mudam a lei de drogas”, explica Ian Hamilton, pesquisador da Universidade de York, no Reino Unido. “Foi o que aconteceu em Oregon. Temos uma abertura maior para drogas, mas falta apoio social e de saúde. Essa não é uma boa receita”, afirma.

De acordo com Theshia Naidoo, diretora de política externa da ONG americana Drug Policy Alliance, fatores externos geraram os problemas da descriminalização em Oregon.

Segundo ela, o aumento de overdoses ocorreu por conta da crise do opioide fentanil, que afeta o país inteiro, e não teve relação com a lei estadual. Além disso, o fim da pandemia de Covid-19 gerou uma mudança na legislação que lida com moradia no estado, o que facilitou o despejo de inquilinos e aumentou o número de pessoas em situação de rua —também um problema em âmbito nacional.

“Usar Oregon como exemplo do fracasso de descriminalização é uma manipulação da realidade. O que houve foi falta de investimento e atraso no envio de verbas para oferecer os serviços necessários para dar apoio à população”, diz Naidoo.

A opinião é compartilhada pela professora de direito da Universidade de Essex, também no Reino Unido, Julie Hannah. “O fracasso não foi a descriminalização, mas a ausência de políticas sociais mais amplas”, diz. “Se nos concentrarmos apenas na descriminalização e ignorarmos reformas sociais mais amplas, como a habitação, a saúde e a segurança, surgirão outros problemas.”

A questão, dizem os especialistas, é que o retrocesso americano revelou a necessidade de aplicar políticas sociais de forma paralela, para garantir o sucesso da medida. Sem essas medidas de apoio, avaliam, o processo de descriminalização tende a não surtir os efeitos esperados.

Ainda assim, esse tipo de movimento nos EUA pode influenciar o debate no Brasil.

O STF (Supremo Tribunal Federal) está julgando um caso que pode deixar de tratar como crime a posse de pequenas quantidades de maconha. Paralelamente, uma proposta que criminaliza o porte e a posse de drogas está em discussão no Congresso e foi aprovada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, com apoio de grande parte dos brasileiros. Uma pesquisa Datafolha apontou que 67% da população se diz contra a descriminalização.

AVANÇO GLOBAL
Apesar da sensação de desaceleração do processo de abertura, organizações e acadêmicos que se dedicam a estudar políticas de drogas em todo o mundo afirmam que o movimento internacional ainda é mais favorável à liberação.

“Se há uma tendência global, é de avanço acelerado da descriminalização”, diz Steve Rolles, analista da fundação britânica Transform Drug Policy. “Até 12 anos atrás, o que havia era proibição total na maioria dos países. Agora há avanços, e quase meio bilhão de pessoas vivem em países em que há algum modelo de descriminalização”, explica.

“Cada vez mais países percebem que a proibição não traz benefícios à saúde e ao bem-estar”, diz Juan Fernandez Ochoa, que atua em campanhas da rede IDPC (International Drug Policy Consortium). “A própria ONU recomenda a descriminalização.”

O fluxo de regulamentação é irregular, entretanto, e cada país tem adotado um modelo diferente em relação à questão.

Há o caminho da descriminalização, que evita prisão e condenação de usuários, mas há também o da liberação para uso de drogas específicas. Além disso, a maioria tem focado apenas a questão da maconha, e não há um consenso sobre qual seria a melhor forma de fazer esta transição.

Neste sentido, a liberação da maconha na Alemanha é apontada como um passo importante. O país determinou em março que adultos podem transportar e cultivar a droga. Este sinal pode até mesmo influenciar uma ampliação do debate em outras partes do mundo.

A lei alemã ainda é alvo de críticas por não ter uma contrapartida social muito bem definida. Ainda assim, o governo prometeu uma campanha sobre os riscos do consumo, destacando que a maconha continua proibida para os menores de 18 anos e que o uso é proibido a menos de cem metros de escolas, creches e parques infantis. Então não gera tanta preocupação quanto Oregon e tem potencial de dar peso às decisões contra a proibição.

“Trata-se de um país-chave da União Europeia, que pode vir a se tornar um modelo para que mais governos levem adiante a descriminalização”, explica Rolles. A reforma posiciona a Alemanha entre os países mais permissivos com a maconha na Europa, ao lado de Malta e Luxemburgo, que legalizaram o consumo recreativo nos últimos anos.

Daniel Buarque/Folhapress

TSE retoma julgamento que pode levar à cassação do senador bolsonarista Jorge Seif

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) retomará, nesta terça-feira (16), o julgamento que pode levar à cassação do mandato e à inelegibilidade do senador Jorge Seif (PL-SC), ex-secretário da Pesca de Jair Bolsonaro (PL).

Seif é acusado pelo crime de abuso de poder econômico durante a sua campanha nas eleições de 2022. Caso a ação seja julgada procedente, a consequência será a realização de novas eleições para repor a vaga do senador no estado.

O recurso foi movido no TSE pela coligação formada pelo PSD, União Brasil e Patriota, que teve como candidato ao Senado o ex-governador Raimundo Colombo (PSD).

O caso também envolve os suplentes do bolsonarista, além dos empresários Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, e Almir Manoel Atanázio, presidente do Sindicato das Indústrias Calçadistas de São João Batista (70 km de Florianópolis).

A coligação acusou os empresários de favorecerem ilegalmente a campanha de Seif, com o uso de suas estruturas físicas e de pessoal, como transporte aéreo, sala de gravação de lives e vídeos para redes sociais.

A sessão será reaberta com a leitura do voto de Floriano de Azevedo Marques, relator do caso. No início do julgamento, em 4 de abril, ele fez a leitura do resumo da ação.

Segundo o ministro, a acusação apontou que Seif teria usado de forma irregular um helicóptero da Havan para deslocamentos em sua campanha, o que configuraria doação irregular.

Foi relatado, ainda conforme o magistrado, que o senador teria usado os canais oficiais da empresa para veiculação de campanha eleitoral e envolvido funcionários da rede de lojas na promoção de sua campanha.

O vice-procurador-geral eleitoral, Alexandre Espinosa Bravo Barbosa, se manifestou pela cassação do mandato da chapa e inelegibilidade do senador. Ele afirmou, no parecer do Ministério Público Eleitoral, que os fatos narrados na ação demonstraram claramente a vinculação entre Seif e Hang.

“O investimento do empresário ao candidato apoiado por ele, que colocou à disposição toda a estrutura empresarial disponível, por óbvio criou uma desigualdade evidente com relação aos outros candidatos”, disse o representante da Procuradoria.

Já a advogada de Seif, a ex-ministra do TSE Maria Cláudia Bucchianeri sustentou que não há provas dos crimes cometidos pelo senador, só narrativas e que, caso ele seja cassado, seria “desprestigiar resultado expressivo” das urnas.

“Não à toa, a acusação não quis fazer, não quis produzir provas. As poucas que pediu, e das quais desistiu, não reforçam essa inventiva narrativa”, disse na sessão.

A defesa argumentou ainda não terem sido demonstradas irregularidades na prestação de contas do senador. Seif teve 1,48 milhão de votos no pleito de dois anos atrás, cerca de 40% dos votos válidos de Santa Catarina.

Antes de o caso chegar ao TSE, o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do estado considerou o pedido improcedente.

A relatora, desembargadora Maria do Rocio Luz Santa Ritta, identificou irregularidades, mas não as considerou suficientes para trazer impacto ao resultado eleitoral, a ponto de justificar a cassação e a inelegibilidade do senador.

Outros magistrados da corte regional contestaram algumas irregularidades, divergindo da relatora, mas reforçaram que o abuso de poder econômico não estava caracterizado. Foram sete votos favoráveis a Seif e nenhum contrário.

Constança Rezende/Folhapress

PSDB estreia ferramenta digital com crítica a uso político da Petrobras

O Instituto Teotônio Vilela, ligado ao PSDB, lança nesta quarta-feira (17) uma ferramenta digital semanal para municiar seus filiados e autoridades na oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O Farol da Oposição vai estrear com o tema da Petrobras, estatal que é pivô de uma crise no Executivo.

“É o PT de novo querendo colocar a mão na empresa, que foi fonte de vários escândalos em seus governos anteriores. De novo, é Lula voltando ao local do crime”, diz o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), presidente do Instituto.

O material será veiculado nas redes do partido e enviado por WhatsApp a militantes, contendo dados e argumentos contra o governo. “Vamos mostrar que outra oposição ao governo, além do bolsonarismo, é possível”, diz Aécio.

Outros temas que devem ser destacados em breve são a questão da segurança pública, com enfoque na Bahia, estado governado pelo PT, e as viagens ao exterior feitas por Lula.

Segundo cálculos do ITV, Lula, juntando seus dois primeiros mandatos e o atual, passou já 1 ano e meio fora do Brasil. Isso equivale a quase a soma dos outros governos nos últimos 30 anos.

Fábio Zanini/Folhapress

Não me espanto se em 2025 o governo piorar meta de novo, diz líder da oposição

A mudança de superávit de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) para meta fiscal zero em 2025 anunciada pelo governo nesta segunda-feira (15) é apenas a constatação de uma situação que vai se repetir no próximo ano e nos seguintes, afirma o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN).

“Quando o governo mudou o regime de teto de gastos para arcabouço fiscal eu me manifestei contrário. Eu disse que o governo não era confiável e nem estava preocupado em cumprir essa nova metodologia que estava sendo apresentada ao Congresso Nacional”, diz. “Eu afirmei que ele não cumpriria nem no primeiro ano e isso, de fato, aconteceu”.

Para Marinho, o governo “tem se notabilizado em buscar fazer furos” no próprio arcabouço que ele construiu. Ex-ministro do Desenvolvimento Regional de Jair Bolsonaro, o senador cita como exemplo a recente mudança no arcabouço fiscal que permitiu ao governo antecipar a expansão do limite de gastos deste ano e liberar uma despesa extra calculada em R$ 15,7 bilhões.

“Como o governo não tem nenhuma responsabilidade fiscal, tem baseado a sua gestão fiscal no aumento desenfreado de despesas e procurado fazer o equilíbrio com o aumento de impostos e buscando receitas não recorrentes, é evidente que o desequilíbrio fiscal iria acontecer”, critica. “Eu não me espantaria se a meta que está sendo rebaixada agora seja novamente rebaixada no ano seguinte, porque vai haver um aumento substancial da dívida pública.”

Marinho avalia que o governo Lula, afetado por redução no índice de popularidade, vai adotar “políticas populistas” e ampliar mais os gastos de olho nas eleições de 2026.

“Esse governo está mostrando de maneira muito clara novamente o projeto de poder mais importante do que o bem estar, segurança fiscal e o crescimento sustentável do país a médio e longo prazo. Ou seja, não tem possibilidade nenhuma de você fazer um controle da dívida pública”, conclui.

Danielle Brant/Folhapress

Caiado dá a largada para a disputa de 2026, já faz campanha e não esconde que quer disputar Planalto

Há uma semana, em Porto Alegre, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), assinou uma parceria que lhe permitirá usar o Sistema do Complexo Regulador de Saúde da Capital. Trata-se de uma ferramenta que integra o gerenciamento dos serviços de saúde pública (leitos, consultas etc). “Vocês desenvolveram o que há de mais sofisticado em regulação de saúde”, disse Caiado na agenda bem longe de casa. Com 86% de aprovação entre os goianos, segundo a última pesquisa Genial/Quest, que mediu a aceitação de quatro governadores de direita em seus Estados, Caiado está decidido a disputar a presidência da República em 2026.

A mesma pesquisa indica que ele tem índices de conhecimento que oscilam entre 35% e 37% no Paraná, em São Paulo e em Minas Gerais, outras praças presentes no levantamento. Assim, viagens como a que fez até a capital gaúcha, que podem fazer dele mais conhecido, já fazem parte de um roteiro percorrendo o País. É bem verdade que ainda faltam mais de dois anos para a próxima eleição. Mas os concorrentes são muitos. Portanto, correr um pouco não há de fazer mal. “Acho que poucos lembram de mim, lá atrás, dos meus debates com Lula, quando eu era presidente da UDR, tinha 39 anos, não? E quando disputamos a Presidência da República, em 1989? Eu era o mais jovem candidato entre todos”, recorda.

Aos 74 anos, o atual governador de Goiás foi reeleito no primeiro turno das eleições de 2022, com 51,81% dos votos. Caiado foi deputado federal entre 1991 e 2014 e senador entre 2015 e 2018, quando se elegeu governador e pediu licença do cargo. Nascido em Anápolis, ele é médico ortopedista e pecuarista. “Considero que sou uma pessoa que posso me apresentar ao meu partido, o União Brasil, pensando numa pré-candidatura. Minha trajetória de vida me credencia para isso. Tenho condições de avaliar a possibilidade de transformar isso numa realidade ou não. É claro que ainda falta bastante tempo e esse assunto será tratado em 2026″, avalia em conversa com a reportagem.

Embora ele mesmo diga que ainda é cedo para pensar na sucessão de Lula, Caiado não esconde que sempre teve o desejo de ser presidente da República. Agora, animado pelos índices positivos que tem colhido em sua administração no Estado, ele acredita que tem um trabalho para mostrar ao País. As pesquisas mostram que 59,2% da população está preocupada com a violência e o avanço do narcotráfico no Brasil. “Esse é o tema de maior relevância que temos hoje e a pesquisa mostra que 69% da população aprova minha gestão nessa área.”, diz, citando o levantamento da Quaest, e acrescentando: “Aqui montamos uma estrutura exemplar. Agora, veja. Lula vetou parte do projeto da saidinha por pressões que, entre elas, apontavam que cancelar a saidinha resultaria em rebeliões nos presídios. Quando você tem um governo de verdade, não pode ser colocado em xeque por bandidos e ameaças”, afirma.

Na opinião de Felipe Nunes, diretor da Quaest e autor da pesquisa, os resultados obtidos por Caiado se devem a uma boa avaliação da maneira como ele faz a gestão e também ao fato de Goiás ser um Estado cuja população se identifica com a direita. Levantamentos mostram que 46% dos eleitores goianos se definem assim, 21% ao centro e 17% se diz de esquerda. “Uma gestão que funciona e um posicionamento ideológico do governador aderente ao da população justifica o alto índice de aprovação”, explica Nunes.

Caiado critica a falta de programas especialmente para as questões de segurança que afligem a população. O governador acha que teria condições de pacificar o País. “Temos que terminar com isso de uns contra os outros. Precisamos acabar com esse terceiro turno eterno”, diz. Ele lembra que o União Brasil tem três ministros no governo Lula, mas diz que a permanência deles ou não também será decidida no momento oportuno. “Eu defenderei e acredito que o União vai se definir por uma candidatura de oposição. Portanto, a posição deles também terá que ser avaliada quando isso estiver definido”.

Apesar dos altos índices de aprovação em seu Estado, Caiado está ciente de que existem, pelo menos, mais outros três governadores também aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que estariam nesse páreo. Ratinho Júnior (PSD), do Paraná; Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais. Todos eles com índices menores de aprovação popular na pesquisa Genial Quest, mas também bem avaliados em comparação ao presidente Lula em suas regiões. E, exatamente por isso, não menos competitivos. Todos esperando contar com a força da popularidade de Bolsonaro que, inelegível por oito anos, terá que escolher um sucessor.

Tarcísio, com quem Caiado visitou Israel recentemente, ainda é a maior indefinição porque está em seu primeiro mandato no mais rico Estado do País e, talvez, lhe seja mais conveniente disputar a reeleição, como tem dito nos bastidores. Os demais, no entanto, com maior ou menor exposição, não escondem de aliados suas aspirações pelo Palácio do Planalto, embora mais discretos publicamente.

Caiado, durante um bom tempo, não esteve entre os nomes mais alinhados com Bolsonaro. As divergências na vacinação e no tratamento contra a Covid, que Bolsonaro rejeitava e Caiado, médico, recomendava para população, deixaram algumas sequelas entre os dois. Mas, atualmente, o governador goiano crê que isso tudo é passado e que não há mais arestas. Ele cita, por exemplo, sua presença no ato que Bolsonaro promoveu em São Paulo, reunido milhares de pessoas. “Já estou me programando para o próximo, dia 21 de abril, em Copacabana”.

Embora decididos a entrar na disputa presidencial, tanto Caiado quanto os outros governadores sabem que qualquer cenário dependerá dos recursos e ações que Bolsonaro move na justiça tentando recuperar seus direitos eleitorais, bem como das investigações que estão sendo feitas pela Polícia Federal (PF) e o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os atos golpistas do 8 de Janeiro. “Se Bolsonaro tiver condições de ser candidato, é evidente que ele será. Agora, não sendo ele, todos sabemos que, mesmo sem mandato, ele tem condições de mobilizar milhões de pessoas Brasil afora. Então tudo vai depender de como as coisas vão correr”, diz Caiado.

Monica Gugliano/Estadão

Lira conversa com Rui Costa e garante que briga com Padilha não vai interferir na agenda econômica

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), assegurou ao governo que suas desavenças com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, não vão interferir na votação da reforma tributária nem de outros temas da agenda econômica. O recado foi dado por Lira numa conversa com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, na última sexta-feira, 12.

Os dois falaram sobre a crise de relacionamento durante um voo com destino a Salvador. Lira avisou, porém, que vai tratar da pauta de interesse do governo com Costa e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Nunca com Padilha. Se dependesse dele, o articulador político do Palácio do Planalto – com quem trava um embate desde meados do ano passado por causa do controle de emendas parlamentares – seria demitido.

Embora tenha dito ao chefe da Casa Civil que não pretende esticar mais a corda, o presidente da Câmara não vê possibilidade de retomar o diálogo com o ministro de Relações Institucionais. Na quinta-feira, 11, Lira chamou Padilha de “incompetente” e se referiu a ele como sendo seu “desafeto pessoal”. Foi a gota d’água de uma relação marcada por desgaste há cerca de nove meses.

A preocupação do Planalto, agora, é com o impacto dessa briga, que só vem se agravando, nas próximas votações da Câmara. Os projetos de lei complementar da reforma tributária, a proposta que prevê o fim gradual do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) e a desoneração da folha de pagamentos de municípios menores estão na lista dos temas que passarão pelo crivo dos deputados.

“A agenda econômica não ficará subordinada a nenhum ruído político”, disse à reportagem o deputado Elmar Nascimento, líder da bancada do União Brasil. “Além disso, a reforma tributária é assunto de Estado, não de governo. O interesse do Brasil está preservado”.

Pré-candidato à presidência da Câmara, Elmar também estava no voo em que Lira e Costa conversaram. Ao chegar a Salvador para participar da comemoração pela passagem dos 20 anos da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf), Lira foi questionado por repórteres sobre o embate com Padilha, mas ficou em silêncio.

Centrão prepara troco ao Planalto

Mesmo com a garantia do presidente da Câmara de que não há motivo para preocupação, aliados do governo temem que o “troco” do Centrão ao Planalto seja dado na análise dos vetos presidenciais. Há uma sessão do Congresso convocada para a próxima quinta-feira, 18.

Deputados e senadores estão dispostos a derrubar o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos R$ 5,6 bilhões aprovados para as emendas de comissão no Orçamento deste ano. O Planalto tenta chegar a uma espécie de acordo de compensação, mas, após o ataque de Lira na direção de Padilha, o governo tem receio de que mais dificuldades apareçam nas negociações, com a cobrança de novas faturas.

“Não vai ocorrer nenhuma pauta-bomba porque, se o Congresso aumentar as despesas, tira os recursos das emendas”, afirmou o deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), que foi relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024.

Presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara, Forte tenta promover um acordo em torno dos projetos de regulamentação da reforma tributária. “Isso é o que temos de mais importante na agenda econômica, pois representa investimento e emprego”, destacou ele.

Na quarta-feira, 17, a comissão vai reunir o secretário extraordinário da reforma tributária, Bernard Appy, o deputado Aguinaldo Ribeiro, relator da proposta, e presidentes de frentes parlamentares, como a da Agropecuária e do Empreendedorismo, para tratar de temas que vão da fiscalização dos novos tributos às regras para bens e serviços com alíquotas reduzidas.

Em conversa com aliados, nos dois últimos dias, Padilha disse ter certeza de que a pauta apresentada pelo governo ao Congresso, tanto em relação à agenda econômica quanto à transição ecológica, não enfrentará percalços.

Lula pediu a Costa, Haddad e ao líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), que continuem como interlocutores de Lira. A ordem dada a Padilha é para que ele não jogue lenha na fogueira e permaneça calado. Ao fazer um desagravo ao ministro, nesta sexta-feira, 12, Lula disse que o cargo de articulador político do governo vira sempre um “martírio” para quem o ocupa.

“Só de teimosia, o Padilha vai ficar muito tempo nesse ministério”, reagiu Lula. “Não tem ninguém melhor preparado para lidar com a adversidade dentro do Congresso do que o companheiro Padilha.”

Votação para manter Brazão preso foi gota d’água

Na prática, o estopim para o destempero de Lira teve início na quarta-feira, 10, quando ele foi informado de que Padilha atuou para que deputados votassem pela manutenção da prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ). O parlamentar foi acusado pela Polícia Federal de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco.

Lira argumentava que a prisão não havia sido feita em flagrante, como manda a lei. Deputados do Centrão relataram depois que o presidente da Câmara agia para que o plenário aprovasse a soltura de Brazão.

Muitos criticaram sua estratégia longe dos holofotes, alegando que acabaram expostos num caso de repercussão internacional. Lira atribuiu o “vazamento enviesado” das informações a Padilha e negou ter dado qualquer orientação aos deputados. Pressionado, ele “explodiu” e chamou o ministro de “incompetente”.
Vera Rosa/ Estadão

Planalto teme retaliação da Câmara, que mira STF em novo atrito entre Poderes

             O presidente Lula (PT) e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL)
O avanço do julgamento do foro especial no STF (Supremo Tribunal Federal) e a atuação de aliados do governo Lula (PT) para manter a prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) ampliaram os atritos entre Câmara, Planalto e a corte.

Além disso, críticas públicas do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ao ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, reforçaram o temor de integrantes do Palácio do Planalto de que a Casa imponha derrotas ao governo.

Embora o Senado tenha liderado nos últimos meses a cruzada contra o STF, desta vez a animosidade de parlamentares com o tribunal e também com o Planalto se concentra na Câmara.

Lira sempre expressou mal-estar na relação com Padilha. Na quinta-feira (11) afirmou que o ministro é “incompetente” e seu “desafeto pessoal”. Ele também disse que a próxima semana “vai pegar fogo”.

Nesta sexta (12), Padilha afirmou que não desceria ao nível dos ataques de Lira. Ele disse que seu foco é seguir trabalhando com o Congresso para aprovar pautas de interesse do país.

Lula também saiu em defesa do aliado. “Mas só de teimosia o Padilha vai ficar muito tempo nesse ministério, porque não tem ninguém melhor para lidar com o Congresso Nacional que o Padilha”, afirmou o presidente.

Nos bastidores, integrantes do Planalto citam receio de que acordos sejam descumpridos na análise de vetos presidenciais. Há uma sessão do Congresso prevista para a próxima quinta (18), na qual deverá ser discutido o veto de R$ 5,6 bilhões às emendas de comissão dos parlamentares no Orçamento.

Há um acordo costurado entre o ministro Rui Costa (Casa Civil) e líderes para que haja apenas a derrubada parcial desse veto, de modo que os congressistas fiquem com R$ 3,6 bilhões do montante.

O trato foi costurado em paralelo a aprovação de uma mudança no arcabouço fiscal que libera mais R$ 15 bi a Lula de forma imediata.

O medo no governo e a ameaça de alguns parlamentares é que o veto seja derrubado na íntegra. Alguns líderes da Casa ponderam a possibilidade de que isso ocorra é remota.

Ainda assim, caso essa possibilidade prospere, a perspectiva é que o Senado mantenha o compromisso com o governo.

Líderes dizem que Lira não deixou claro qual será novo recado ao governo, mas acreditam no risco de retaliações. Parlamentares afirmam, porém, que vão atuar para arrefecer a crise. Eles dizem que essa disputa não pode contaminar a agenda do Legislativo, ainda que enxerguem que o Executivo poderá enfrentar dificuldades em votações estratégicas.

Após o estremecimento da relação com Padilha, o presidente da Câmara passou a negociar sobretudo com Rui Costa. As reclamações do líder do centrão são em relação à interferência do Planalto em temas de interesses do Congresso e demora na liberação de emendas.

Nesta semana, o endosso à decisão do STF de prender Chiquinho Brazão, suspeito de ser mandante do assassinato de Marielle Franco, azedou ainda mais o clima.

Lira e seus principais aliados trabalharam para reverter a decisão e soltar Brazão. A base do governo na Câmara, por sua vez, agiu para confirmar a determinação do Supremo, tese que prevaleceu. O presidente da Casa enxergou as digitais de Padilha nessa articulação.

Em outra frente, o centrão se somou ao apelo de aliados de Jair Bolsonaro (PL) para responder ao que considera interferências indevidas do STF no Congresso. Também causou irritação a decisão do ministro Luiz Fux de autorizar a abertura de inquérito contra o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) por ter chamado Lula de ladrão.

Lira indicou a aliados a intenção de avançar com a PEC (proposta de emenda à Constituição) que altera as regras do foro, caso o tema avance no STF. Nesta sexta, a corte formou maioria, com o voto do presidente Luís Roberto Barroso, para ampliar o alcance do foro especial de autoridades.

Os ministros entendem que em casos de crimes cometidos no cargo e em razão dele, o foro especial deve ser mantido mesmo depois da saída da função. Apesar disso, o ministro André Mendonça pediu mais tempo para análise e interrompeu novamente o julgamento do caso.

Lira concorda que deve haver uma revisão do foro especial para que parlamentares não sejam julgados por juízes de primeiro grau, mas quer evitar que o STF continue com tanto poder sobre os parlamentares.

Para integrantes do centrão, magistrados de primeiro grau guardam conexões com diferentes grupos de poder em seus estados, e seriam mais suscetíveis a interferências políticas.

A ideia de Lira é encontrar um meio-termo para transferir os processos de parlamentares aos TRFs (Tribunais Regionais Federais) ou ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Lira indicou que pode apoiar outra ação que mira o STF e que elevaria a idade mínima para o ingresso na corte. Hoje, a pessoa precisa ter 35 anos para se tornar ministro. No Senado, uma proposta eleva essa idade para 50 anos e pode ganhar apoio da Câmara.

Senadores veem ainda espaço para avançar com a criação de mandatos para novos ministros. O tema conta com apoio de Pacheco e foi defendido pelo ministro Flávio Dino durante a busca por votos para a vaga no STF, no ano passado.

Lira, porém, é contra a fixação de mandatos. Por isso, definir uma idade mínima pode ser uma alternativa.

Pacheco, que encampou no ano passado a aprovação de uma proposta para limitar as decisões individuais de ministros do Supremo, tentou baixar a fervura nesta semana ao ser questionado sobre as críticas feitas por Lira a Padilha.

Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) avaliou, durante audiência pública, que as rusgas com o Supremo podem se transformar num dos temas das próximas eleições nacionais.

Em outra frente, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) ampliou as reclamações contra o ministro Alexandre de Moraes e anunciou a apresentação na Câmara de uma proposta que confronta decisões do ministro.

O acirramento do conflito entre a OAB e Moraes ocorre a menos de um ano das eleições da Ordem, que definirão os próximos conselheiros federais e as cúpulas estaduais da entidade da advocacia.

Julia Chaib/Victoria Azevedo/Thaísa Oliveira/Catia Seabra/Folhapress

‘Tenho absoluta convicção de sua inocência’, diz Eduardo Cunha sobre Chiquinho Brazão

O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PRD-SP) disse ter “absoluta convicção” da inocência do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), suspeito de ser um dos mandantes da execução da vereadora Marielle Franco, em 2018, segundo a Polícia Federal (PF). O ex-deputado acredita que Brazão será cassado pela Câmara, após a Casa votar para manter a prisão dele na quarta-feira, 10.

“Cassação, eu não tenho a menor dúvida de que vai haver, se ele não venceu uma votação para sair da cadeia”, disse Cunha, aliado político da família Brazão, ao CNN Entrevistas, em trecho divulgado nesta sexta, 12.

Brazão foi preso preventivamente em 24 de março por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O mandado de prisão foi referendado pela Primeira Turma do Supremo e precisava ser autorizado por ao menos 257 deputados. Foram 277 votos a favor da prisão, 129 contra e 28 abstenções.

Para Cunha, foi estabelecido um precedente nocivo ao Congresso. “Os parlamentares praticamente fizeram uma emenda constitucional dizendo que pode ter prisão preventiva de deputado”, criticou o ex-presidente da Casa.

O resultado apertado da votação na Casa foi decorrente da competição entre dois grupos para garantir votos em paralelo. De um lado, governistas e ministros do STF pediam para manter Brazão encarcerado; do outro, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e Cunha articulavam pela soltura do parlamentar.

Horas depois da votação, Eduardo Cunha negou ter atuado nos bastidores contra a prisão preventiva de Brazão, como mostrou a Coluna do Estadão. Ao longo do dia, a filha dele, deputada Danielle Cunha (União Brasil-RJ), se articulou para evitar que os deputados mantivessem a prisão do colega de plenário.

Mesmo preso, Chiquinho permanece com o mandato de deputado e, em paralelo, tramita uma representação no Conselho de Ética da Câmara que pode cassá-lo. A representação é de autoria do PSOL, partido de Marielle, e ainda não tem relator designado.

Cunha é aliado político da família Brazão, em especial do conselheiro do Tribunal de Contas do Rio (TCE-RJ), Domingos Brazão, irmão de Chiquinho, também suspeito de ser mandante da execução de Marielle. “Minha relação se dá até mais com o irmão dele, Domingos. Eu fui deputado estadual com ele. Depois que eu vim para ser deputado federal, ele me apoiou nas eleições e, assim, foram aumentando as dobradinhas eleitorais”, disse Eduardo Cunha.

Para o ex-presidente da Câmara, Chiquinho Brazão foi tratado com “indignidade” ao participar da reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) por chamada de vídeo e “de cabeça raspada”. Ele falou na CCJ de cabeça raspada, de dentro do presídio. Esquece, aquilo é uma indignidade”, afirmou.

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Juliano Galisi/Estadão Conteúdo

Interferência do Planalto em prisão de Brazão foi estopim da nova crise entre Lira e Padilha

                                               Arthur Lira, Rui Costa e Alexandre Padilha
O estopim para a nova crise política entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, foi a interferência do articulador político do governo Lula na votação que confirmou a prisão do deputado federal Chiquinho Brazão. Mais cedo, Lira chamou Padilha de “incompetente” e “desafeto pessoal”.

A aliados, Lira reclamou que o acordo entre Câmara e Executivo previa que eles não interferissem na votação. Interlocutores garantem que o líder do Centrão, porém, não responderá ao Palácio do Planalto nos projetos de regulamentação da reforma tributária. Uma reação prática pode vir na análise do veto, feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao fim das saidinhas.

Pautas que envolvam um freio aos poderes do Judiciário também devem ser alvo de pressões de deputados, resumem aliados de Lira, mas ele não deve capitanear nada nessa seara, para evitar atrito direto com a Corte.

A liderança do governo na Câmara iria liberar a base, mas Padilha entrou em campo de última hora e pediu aos aliados que votassem pela manutenção da detenção de Brazão. Ele está preso desde o dia 24 de março, acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco.

Augusto Tenório/Estadão

Congresso vê decisão do STF ‘inevitável’ sobre fake news e teme ‘sangue nos olhos’

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal)
O retorno à estaca zero do projeto que regulamenta as big techs gerou em parte do Congresso a avaliação de que será inevitável que o STF (Supremo Tribunal Federal) regule o tema, diante dos atritos recentes com o empresário Elon Musk, dono da rede social X.

Esses mesmos parlamentares, no entanto, temem que os embates levem os ministros a adotarem uma orientação mais rígida do que a que o Congresso teria justamente pelos ataques de Musk ao ministro Alexandre de Moraes.

Na última terça-feira (9), o ministro Dias Toffoli divulgou uma nota em que indicou que o julgamento do recurso extraordinário que discute a constitucionalidade de artigo do marco civil da internet deve ser retomado até o final de junho.

O artigo 19 determina a necessidade de prévia e específica ordem judicial de exclusão de conteúdo para a responsabilização civil de provedor de internet, sites e aplicativos de redes sociais por danos decorrentes de atos ilícitos praticados por terceiros.

Na nota, Toffoli escreve que “em razão de solicitação para se aguardar a votação, na Câmara dos Deputados, de novas regras dispondo sobre a matéria, o julgamento do caso acabou não ocorrendo em 2023.”

Sem perspectiva de que o Congresso legisle sobre a questão no curto prazo, a expectativa é que esse recurso acabe servindo para o Supremo regulamentar a atuação das big techs na retirada de conteúdo indevido, segundo interlocutores da corte. A solução não é tida como a ideal, mas necessária diante da falta de ação do Legislativo.

Na avaliação de Renata Mielli, coordenadora do Comitê Gestor da Internet, a solução não seria a ideal, porque o artigo 19 não foi feito para regular ou moderar conteúdo em plataforma de rede social. “O artigo 19 fala em provedor de aplicação de internet”, diz. “Então não está falando de plataforma de rede social que oferece um tipo específico de serviço que não é neutro, porque a rede social é um editor de conteúdo”.

Ela lembra que o conteúdo consumido pelo usuário é resultado de um algoritmo e pode ser alterado com dinheiro aplicado para aumentar o engajamento. “Então eles precisam responder por isso, porque eles, de fato, estão fazendo curadoria de conteúdo, uma curadoria que pode ser automatizada por engajamento, por uma série de mecanismos algoritmos de perfilização ou por uso de poder econômico”.

Mielli explica que o artigo 19 foi feito para aplicações que são neutras e que não deveriam ser responsabilizadas judicialmente por conteúdo dos terceiros, como o WordPress. “Quantos e quantos sites no Brasil são hospedados usando WordPress? O WordPress não modera o conteúdo e não interfere na visibilidade maior ou menor do que aquele site vai ter.”

“Se a gente tira o marco civil da internet e diz que o provedor de aplicação se torna responsável pelo conteúdo do terceiro mediante mera notificação, então significa que se eu mandar uma mensagem para o WordPress e dizer que o WordPress tira o site X do ar, ele tem que tirar”, conclui.

Fábio Zanini/Danielle Brant/Folhapress

Parlamentares da oposição reagem a Lula e prometem derrubar veto a projeto das ‘saidinhas’

O senador Ciro Nogueira (PI) diz que o veto será derrubado pelo Congresso “com a maior facilidade”

Integrantes do Congresso Nacional creem que derrubarão sem maiores problemas o veto parcial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto de lei que proíbe as saídas temporárias dos presos, as “saidinhas”. Ao vetar a proposta, Lula permitiu que presos tenham direito a deixar a prisão em datas comemorativas para visitar familiares, sempre com tornozeleira eletrônica.

A aprovação da matéria no Legislativo foi com ampla margem. No Senado, foram 62 votos favoráveis, dois contra e uma abstenção; na Câmara, a proposição passou em votação simbólica, com a anuência de todos os partidos. O governo liberou a bancada e não orientou voto contrário nas duas Casas.

O senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, diz que o veto será derrubado pelo Congresso “com a maior facilidade”, sentimento compartilhado entre outros partidos do Centrão. O deputado federal Mendonça Filho (União-PE) também acredita crer numa derrubada sem muitos problemas.

Os congressistas da oposição foram os mais categóricos em criticar Lula. O senador Sérgio Moro (União-PR) afirma que trabalhará com os colegas para derrubar a proposta. “Lula, ao vetar a lei que colocava fim à saidinha dos presos nos feriados, ignora as vítimas e a segurança da sociedade, e confirma o porquê foi o candidato favorito nos presídios”, afirma.

“Nós iremos derrubar o veto dele (Lula), com certeza”, diz Bibo Nunes (PL-RS). Para o Congresso derrubar um veto presidencial, é preciso a maioria absoluta de deputados federais e senadores. Isso significa 257 votos de integrantes da Câmara e 41 membros do Senado. Caso haja menos do que esse número de votos de cada uma das Casas, preserva-se o veto.

A recomendação foi feita pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, a Lula. O governo teme uma rebelião de facções criminosas nos presídios caso esse benefício, concedido desde 1984, seja derrubado.

“Nós entendemos que a proibição de visita à família dos presos que já se encontram no regime semiaberto atenta contra valores fundamentais da Constituição, o princípio da dignidade da pessoa humana, o princípio da individualização da pena e a obrigação que o Estado tem de proteger a família”, diz Lewandowski.

O texto aprovado do projeto de lei apenas mantém o benefício para o caso de condenados inscritos em cursos profissionalizantes ou que cursem os ensinos médio e superior, somente pelo tempo necessário para essas atividades.

Na legislação em vigor, a autorização é dada aos detentos que tenham cumprido ao menos um sexto da pena, no caso de primeira condenação, e um quarto, quando reincidentes. As “saidinhas” ocorrem até cinco vezes por ano e não podem ultrapassar o período de sete dias.

A proposta também prevê a exigência de exames criminológicos para a progressão de regime penal e o monitoramento eletrônico obrigatório dos detentos que passam para os regimes semiaberto e aberto. O exame avalia “autodisciplina, baixa periculosidade e senso de responsabilidade”.

Levy Teles/Estadão

 

Centro de Liderança Pública rejeita emenda que aumenta salário de juízes

O Centro de Liderança Pública (CLP) divulgou posição contrária a uma proposta discutida na Comissão de Constituição e Justiça do Senado que pretende condicionar a aprovação da chamada “PEC dos quinquênios” à dos supersalários.

O tema entrou em pauta nesta quarta-feira (10) na comissão. A votação casada é defendida pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e pelo da CCJ, Davi Alcolumbre (União-AP). A PEC prevê aumento salarial de 5% para juízes e promotores a cada cinco anos, e representaria aumento de gasto.

Isso seria compensado pela aprovação de uma medida que acabaria com penduricalhos que façam salários no serviço público ultrapassar os vencimentos recebidos por ministros do STF. Para o CLP, a estratégia não se justifica.

“Não faz sentido conceder um benefício para acabar com outro, até porque continuaríamos tendo um prejuízo de pelo menos R$ 2 bilhões. Por isso é fundamental que o projeto que acaba com os supersalários avance sem a eventual aprovação dos quinquênios”, afirma Tadeu Barros, diretor-presidente da organização.

Fábio Zanini, Folhapress

 

Manutenção de prisão de Brazão enfraquece Lira e afeta disputa por sucessão na Câmara

A decisão do plenário da Câmara de manter a prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) enfraquece Arthur Lira (PP-AL), fortalece o STF (Supremo Tribunal Federal) e embaralha ainda mais a disputa pela sucessão do comando da Casa, marcada para o início de 2025.

Alguns dos principais aliados de Lira encabeçaram as articulações pela derrubada da detenção sob o argumento de que a decisão do Supremo de prender o acusado de mandar matar a vereadora Marielle Franco viola prerrogativas de parlamentares e abre um precedente perigoso.

Os críticos da ordem de prisão dada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes e referendada pela 1ª Turma da corte afirmavam que a decisão desrespeita a Constituição, que permite a prisão de parlamentar no exercício do mandato apenas em flagrante e por crime inafiançável.

O líder da União Brasil, Elmar Nascimento, foi o principal articulador nesse sentido a fim de impor uma derrota ao STF e declarou publicamente que votaria contra a prisão, na terça (9).

Outros nomes próximos ao presidente, como o presidente do Avante, Luís Tibé, não participaram da votação desta quarta-feira (10) para tentar evitar que tivessem os 257 votos necessários para revogar a detenção.

À certa altura do dia, diante da pressão de deputados para derrubar a prisão, até o governo temeu ser derrotado e ver Brazão libertado. Integrantes da base governista previam uma margem apertada de no máximo 10 votos de folga para manter a detenção.

Ao final, no entanto, foram 277 votos para manter a decisão de Moraes, 20 a mais que o necessário. O resultado foi interpretado como um sinal de que Lira e seus principais aliados não têm a mesma força de tempos atrás.

“Houve um movimento para esvaziar a votação, mas ele não funcionou. Apesar de todas as movimentações feitas pela extrema direita e por parte do centrão, a democracia e a decisão do STF prevaleceu, porque ela está ancorada na legalidade”, afirmou a deputada Erika Hilton (PSOL-SP), líder da legenda na Casa.

Ao mesmo tempo, o resultado foi um indício de que, apesar das críticas ao STF, a disposição de impor derrotas à corte segue forte na bancada do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas não tem a mesma ressonância no centrão, que costuma ser o fiel da balança das votações na Câmara.

Apesar disso, parlamentares ponderam que a comoção social envolvida no assassinato da vereadora também pesou e que os deputados não votaram apenas com a ideia de dar ou não um recado ao Supremo e também sopesaram o desgaste que seria libertar Brazão.

A aposta de deputados é que o placar indicou que a disputa pela sucessão de Lira está mais aberta do que nunca. Elmar, tido como favorito do presidente da Casa para substituí-lo no cargo, por exemplo, saiu enfraquecido, na avaliação de parlamentares. Essa postura também gerou atritos com o governo —que anunciou que orientaria a favor da manutenção da prisão.

Na terça, Nascimento disse a interlocutores que era preciso ter “coragem” para defender os deputados e que se ele não tivesse condições de defender a prerrogativa dos parlamentares, ele não teria condições de ser um dia eleito presidente da Casa.

Ele também afirmou que não tinha receio de que a postura contrária à manutenção da prisão pudesse trazer desgaste à sua candidatura. A interlocutores, lembrou que o próprio Lira foi um dos poucos parlamentares que votou contra a cassação do ex-presidente da Casa Eduardo Cunha e, mesmo assim, foi reeleito na presidência com votação histórica.

O deputado Antônio Brito (PSD-BA), que também é candidato à presidência, por sua vez, viu seu partido sair vitorioso ao votar em peso pela prisão, assim como o MDB, que tem o deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL) como postulante à sucessão de Lira. Marcos Pereira (Republicanos-SP), outro nome cotado na disputa, não votou.

Matheus Teixeira e Victoria Azevedo/Folhapress

Prisão de Chiquinho Brazão: Saiba como votaram os deputados que concorrerão à presidência da Câmara

 O deputado federal Antonio Brito (PSD) votou pela manutenção da prisão de Chiquinho Brazão

O deputado federal Chiquinho Brazão, acusado de mandar matar Marielle Franco, teve sua prisão mantida em votação no plenário da Câmara na noite desta quarta-feira, 10. A disputa antecipada para suceder o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), contaminou a votação interna. Veja como votou cada um dos que já atuam em campanha nos bastidores da Câmara:
  • Antonio Brito (PSD): Sim (pela manutenção da prisão);
  • Elmar Nascimento (União): Não (pela revogação da prisão);
  • Marcos Pereira (Republicanos-SP): não votou;
  • Isnaldo Bulhões (MDB-AL): Sim.
Augusto Tenório/Estadão

Câmara aprova novas regras para o seguro obrigatório de veículos

 Projeto mantém a gestão do DPVAT com a Caixa Econômica Federal. Texto segue para o Senado

A Câmara dos Deputados aprovou projeto que reformata o seguro obrigatório de veículos terrestres, mantendo com a Caixa Econômica Federal a gestão do fundo para pagar as indenizações. O Projeto de Lei Complementar (PLP) 233/23, do Poder Executivo, será enviado agora ao Senado.

O texto foi aprovado na forma de um substitutivo do relator, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), que retoma o pagamento de despesas médicas da vítima dos acidentes com veículos; e direciona entre 35% e 40% do valor arrecadado com o prêmio do seguro pago pelos proprietários de veículos aos municípios e estados onde houver serviço municipal ou metropolitano de transporte público coletivo.

Desde 2021, a Caixa opera de forma emergencial o seguro obrigatório após a dissolução do consórcio de seguradoras privadas que administrava o DPVAT, mas os recursos até então arrecadados foram suficientes para pagar os pedidos até novembro do ano passado.

Com a nova regulamentação, será possível voltar a cobrar o seguro obrigatório. Os prêmios serão administrados pela Caixa em um novo fundo do agora denominado Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito (SPVAT).

Arcabouço fiscal
No exercício da relatoria ad hoc do projeto, o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA) acatou mudança na lei do arcabouço fiscal para antecipar do segundo bimestre para o primeiro bimestre de 2024 a possibilidade de o Executivo abrir crédito suplementar permitido na lei em razão de crescimento adicional da receita deste ano em relação ao mesmo período de 2023.

A lei do novo regime fiscal (Lei Complementar 200/23) permite aumento de despesa em 2024 no montante em torno de R$ 15,4 bilhões.

Esse valor corresponde à diferença entre o crescimento máximo da despesa (equivalente a 2,5% do crescimento real da receita do ano anterior) e o crescimento previsto no Orçamento deste ano (equivalente a 1,7% do crescimento real dessa mesma receita).

Pagamentos suspensos
Devido aos pagamentos suspensos do DPVAT por falta de dinheiro, os novos prêmios poderão ser temporariamente cobrados em valor maior para quitar os sinistros ocorridos até a vigência do SPVAT.

Os valores para equacionar o déficit do DPVAT serão destinados ao pagamento de indenizações, inclusive decorrentes de ações judiciais posteriormente ajuizadas, para provisionamento técnico e para liquidar sinistros e quitar taxas de administração desse seguro.

Outra novidade no texto é a inclusão de penalidade no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) equivalente a multa por infração grave no caso de não pagamento do seguro obrigatório, cuja quitação voltará a ser exigida para licenciamento anual, transferência do veículo ou sua baixa perante os órgãos de trânsito.

Já a transferência de recursos da arrecadação com o seguro para o Sistema Único de Saúde (SUS) deixará de ser obrigatória, passando de 50% para 40% do dinheiro a fim de custear a assistência médico-hospitalar dos segurados vitimados em acidentes de trânsito.

Outro repasse previsto é de 5% do total de valores destinados à Seguridade Social para a Coordenação do Sistema Nacional de Trânsito, a ser usado na divulgação do SPVAT e em programas de prevenção de sinistros.

Despesas médicas
Embora o governo argumente que deixar de fora as despesas médicas resultaria em prêmios mais acessíveis aos proprietários de veículos, o relator incluiu o pagamento dessas despesas em seu substitutivo.

Assim, poderão ser reembolsadas despesas com assistências médicas e suplementares, inclusive fisioterapia, medicamentos, equipamentos ortopédicos, órteses, próteses e outras medidas terapêuticas, desde que não disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) do município de residência da vítima do acidente.

Zarattini incluiu ainda cobertura para serviços funerários e reabilitação profissional para vítimas de acidentes que ficaram com invalidez parcial.

Caberá ao Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) estabelecer os limites de valores a indenizar e quais despesas serão reembolsáveis. Desde já, o projeto deixa de fora aquelas cobertas por seguros ou planos privados de saúde; aquelas sem especificação individual de valor, prestador de serviço na nota fiscal e no relatório; ou aquelas de pessoas atendidas pelo SUS.

O texto proíbe a transferência do direito ao recebimento da indenização, seguindo-se a ordem de herdeiros do Código Civil.

No caso de invalidez permanente, o valor da indenização será calculado a partir da aplicação do percentual da incapacidade adquirida. Se a vítima vier a falecer, o beneficiário poderá receber a diferença entre os valores de indenização (morte menos incapacidade), se houver.

Consumidor
O texto de Zarattini especifica que a legislação relativa aos demais tipos de seguro (Decreto-Lei 73/66) e o Código de Defesa do Consumidor não se aplicam ao SPVAT. O prazo máximo para a vítima ou beneficiário herdeiro entrar com pedido de indenização é de três anos.

Quanto à terceirização do serviço pela Caixa a outra pessoa jurídica, poderão ser usados recursos debitados diretamente do fundo mutualista do SPVAT desde que o serviço seja caracterizado como despesa relacionada diretamente à regulação de sinistro; tenha cobrança variável por número de atendimentos prestados; e a metodologia de remuneração da Caixa contenha especificação detalhada dessa cobrança direta.

Prazo de pagamento
O pagamento da indenização do SPVAT será feito com prova simples do acidente e do dano decorrente, independentemente da existência de culpa ou dolo e ainda que no acidente estejam envolvidos veículos não identificados ou inadimplentes com o seguro.

Após o recebimento de todos os documentos exigidos, a Caixa terá 30 dias para fazer o pagamento em conta corrente, de pagamento, de poupança ou de poupança social de titularidade da vítima ou do beneficiário. Caso haja atraso no pagamento, ele será reajustado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e por juros moratórios fixados pelo CNSP.

Documentos adicionais
No caso de morte, caso não seja comprovado o nexo de causa e efeito entre a morte e o acidente apenas com a certidão de óbito, o interessado deverá apresentar certidão da autópsia emitida pelo Instituto Médico Legal (IML), mesmo sem que ela tenha sido requisitada pela autoridade policial.

Convênio
A Caixa e os departamentos de trânsito estaduais poderão firmar convênios para que o pagamento do prêmio do SPVAT seja feito juntamente com a taxa de licenciamento anual do veículo. A taxa de administração para esse serviço será, no máximo, de 1%.

Conselho de Seguros Privados
O Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) estabelecerá os valores de indenização vigentes para cada ano de cobertura do SPVAT, assim como:

  • percentuais para cada tipo de incapacidade parcial;
  • critérios para os serviços prestados pela Caixa, além de metodologia e forma de remuneração do banco;
  • examinará anualmente as contas do fundo;
  • estabelecerá e divulgará os valores anuais dos prêmios do seguro com base em estudo atuarial apresentado pelo agente operador; e
  • estabelecerá diretrizes e normas necessárias ao funcionamento do fundo.

O conselho não terá, entretanto, competência para fazer revisão administrativa das decisões proferidas pelo agente operador e relacionadas à operação do seguro.

Debate em Plenário
Deputados do governo defenderam o retorno do seguro obrigatório de veículos terrestres para custear a reabilitação de vítimas de acidente de trânsito. Porém, outros parlamentares reclamaram pelo fato de a proposta deixar a Caixa Econômica Federal na administração do seguro.

O deputado Rubens Pereira Júnior elogiou a ampliação do rol de despesas cobertas pelo SPVAT, para incluir reembolso de despesas com assistências médicas e suplementares, inclusive fisioterapia, medicamentos, equipamentos ortopédicos, órteses, próteses, desde que não estejam disponíveis pelo SUS no município de residência da vítima do acidente.

"Se o SUS não tiver previsão, a partir de agora o SPVAT vai poder cobrir essas despesas. Quem está no interior do Maranhão agora poderá contar com o SPVAT para isso", disse o deputado, que leu o parecer do deputado Carlos Zarattini em Plenário.

Segundo o deputado Chico Alencar (Psol-RJ), a suspensão do seguro foi fruto da cultura do hiperindividualismo e um populismo que não preza pelo coletivo e a responsabilidade social. "Esta proposta vai atender a muita gente que está desassistida. Quem tem automóvel, de alguma maneira, pode dar uma contribuição anual de R$ 40 ou R$ 50. A gente tem de ter solidariedade social, e o DPVAT vai nessa direção", afirmou.

Concorrência
O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) reclamou que o projeto impede a participação da iniciativa privada na concessão do seguro. "Há muitas pessoas pobres. Se a pessoa passa a ter condições de pagar um seguro no mercado privado, por que ela vai ser obrigada a pagar o valor do DPVAT? O cidadão mais pobre poderia economizar esse dinheiro", afirmou.

O deputado Hugo Leal (PSD-RJ), presidente da Frente Parlamentar do Trânsito Seguro, defendeu o retorno do seguro obrigatório. Porém, ele criticou o fato de somente a Caixa poder oferecer o seguro, de acordo com a proposta. "Hoje as seguradoras têm capacidade de fazer isso, deixa o setor privado definir e mantenha a obrigatoriedade", sugeriu.

Saiba mais sobre a tramitação de projetos de lei complementar

Reportagem – Eduardo Piovesan e Tiago Miranda
Edição – Pierre Triboli

Fonte: Agência Câmara de Notícias

Câmara vota prisão de Brazão em meio a irritação com Moraes e indefinição de bancadas

A Câmara dos Deputados deve votar nesta quarta-feira (10) a manutenção da prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) em meio a um clima de revolta com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e a indefinição de líderes das bancadas sobre o tema.

Um dos principais nomes do centrão na Casa já anunciou que é a favor da soltura de Brazão.

O caso será votado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) pela manhã e a previsão é que o plenário da Casa analise a situação do parlamentar acusado de mandar matar a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) no mesmo dia.

A votação ocorre porque qualquer prisão de parlamentares ocorrida no exercício do mandato precisa ser referendada pelo Congresso Nacional.

O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), informou na reunião de líderes que a detenção de Brazão será pautada e deixou cada partido decidir como se posicionará. “A CCJ vota amanhã o relatório e vem ao plenário na tarde de amanhã mesmo. Sobre mérito, ninguém falou absolutamente nada”, afirmou nesta terça-feira (9).

Deputados do centrão e de direita ouvidos pela Folha entendem que a avaliação crítica da atuação de Moraes tornou o cenário do caso Brazão indefinido. A detenção do congressista foi ordenada pelo magistrado em março.

Por um lado, a maioria da Casa deseja mandar um recado ao ministro por ver violações de prerrogativas de parlamentares em decisões recentes. Por outro, reconhecem que a brutalidade e a comoção social envolvidas na morte de Marielle dificultam a formação de uma maioria para libertar o acusado de ordenar a morte da vereadora.

Os defensores da derrubada da prisão dizem que manter a decisão fortaleceria ainda mais o magistrado, enquanto a articulação na Casa nos últimos meses vai no sentido oposto, de impor freios a Moraes.

Um dos principais líderes do centrão afirmou sob reserva que há chances de não manter a prisão, mas reconhece o potencial constrangimento em tomar uma decisão nesse sentido.

Expoente do centrão, Elmar Nascimento (União Brasil-BA) falou que votará pela soltura. “O meu voto é que não há previsão legal de prisão preventiva para parlamentar. Vou votar pela Constituição. Cada deputado vota com a sua consciência”, afirmou.

Ele disse que vai liberar a bancada de seu partido para que cada deputado se posicione como preferir.

Um dos receios de parlamentares diz respeito ao temor de que essa situação abra um precedente para casos no futuro —por isso, dizem que é necessário cautela sobre o tema.

Apesar disso, a aposta nos bastidores é que a prisão será mantida, ainda mais pelo fato de se tratar de uma votação aberta. A previsão é que as bancadas se reúnam para debater o tema, mas muitas delas não devem fechar questão, liberando os deputados para votarem como quiser.

Uma estratégia estudada seria derrubar a prisão e, na sequência, cassar o mandato do deputado, como forma de mostrar que a Casa não é condescendente com a impunidade, mas também não tolera ofensivas do Judiciário contra os parlamentares. A Comissão de Ética irá instaurar o processo de cassação do mandato do deputado também nesta quarta.

A insatisfação em relação a Moraes tem sido a tônica de reuniões sobre o tema. O ministro determinou neste ano busca e apreensão nos gabinetes dos deputados Carlos Jordy (PL-RJ) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), no âmbito das investigações que apuram se o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pessoas próximas tentaram dar um golpe para impedir a posse de Lula (PT).

O magistrado também é criticado por dar ordens judiciais na contramão de pareceres da PGR (Procuradoria-Geral da República) e por não dar acesso aos autos dos processos a investigados.

Até mesmo os críticos da atuação desses parlamentares consideram exageradas algumas decisões de Moraes e violadoras das prerrogativas de parlamentares.

Além disso, há deputados que não veem no caso de Brazão os requisitos para prisão de deputado no curso do mandato: pego em flagrante e por crime inafiançável. Outro ponto é que não teriam provas suficientes contra o deputado e que seria um equívoco respaldar a prisão que teria sido decretada apenas com base em delação premiada.

O referendo à decisão chegou a ser pautado na CCJ, mas os deputados Gilson Marques (Novo-SC), Fausto Pinato (PP-SP) e Roberto Duarte (Republicanos-AC) pediram vista (mais tempo para analisar o caso) e adiaram a definição no colegiado, o que atrasou também a análise em plenário.

Na semana seguinte, a Câmara estava esvaziada devido ao fim do prazo de filiações para concorrer no pleito municipal deste ano e, mais uma vez, foi remarcada a votação do tema.

A demora em apreciar o caso já indica a resistência de parte da Casa com a atuação de Moraes. Agora, no entanto, Lira decidiu levar o caso adiante. Primeiro, a comissão analisará o parecer do relator, deputado Darci de Matos (PSD-SC), pela manutenção da prisão. Depois, o tema vai a plenário.

Após ser preso em 24 de março, Brazão foi expulso da União Brasil. O deputado, porém, já estava com migração certa para o Republicanos, partido que, na prática, já comandava na capital do Rio de Janeiro.

O ex-conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio Domingos Brazão, irmão do parlamentar, e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil fluminense, também foram presos na Operação Murder Inc., realizada em conjunto pela Polícia Federal com a PGR e o Ministério Público Federal do estado.

Além dos mandados de prisão, a polícia cumpriu 12 mandados de busca e apreensão, todos no Rio. Segundo a PF, as diligências foram cumpridas em um domingo para surpreender os suspeitos. Há indícios de que eles tentariam fugir.

Foram ainda alvo de busca o delegado Giniton Lages, que esteve à frente do caso Marielle no início das investigações, na delegacia de homicídios do Rio; Marcos Antônio de Barros Pinto, que foi seu auxiliar; Erika Araújo, esposa de Rivaldo; e Robson Calixto Fonseca.

Brazão já apresentou sua defesa perante a CCJ e afirmou que tinha “ótima relação” com Marielle quando era vereador com ela.

Ele citou projeto de lei que a Polícia Federal apontou em seu inquérito como um dos indícios da motivação para o crime, em março de 2018. Os investigadores afirmaram que Marielle foi assassinada “por ser vista como um obstáculo aos interesses” da família.

No inquérito, a polícia destacou divergência entre Marielle e Chiquinho Brazão em uma discussão na Câmara carioca sobre projeto. Brazão, porém, disse que isso é uma “coisa simples demais para tomar uma dimensão tão louca”.

“O tema que está sendo debatido hoje aconteceu na Câmara Municipal do Rio de Janeiro num debate. Foi um debate onde eu debatia com a vereadora, uma coisa simples. Não vejo esse elo gerando o que gerou para o mundo todo, pelo Brasil, pela simples discordância de pontos de vistas. Onde eu estava lutando para aprovar o projeto de lei 174”, disse o deputado.

Matheus Teixeira e Victoria Azevedo/Folhapress

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