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Desembargador que relata o processo de TH Joias é preso pela PF no Rio de Janeiro

O desembargador federal Macário Ramos Júdice Neto, do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), foi preso pela Polícia Federal, na manhã desta terça-feira (16), na 2ª fase da Operação Unha e Carne, que investiga a atuação de agentes públicos no vazamento de informações sigilosas.

O desembargador foi preso em casa, na Barra da Tijuca, zona sudoeste do Rio de Janeiro.

A defesa do desembargador, por meio do advogado Fernando Augusto Fernandes afirma que "o ministro Alexandre de Moraes foi induzido a erro ao determinar a medida extrema".

O advogado diz ainda que não foi disponibilizada a cópia da decisão que decretou a prisão "obstando o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa". Fernandes afirma que apresentará os esclarecimentos nos autos e vai pedir a imediata soltura de Júdice Neto.

Neto é o relator do processo contra o ex-deputado do Rio de Janeiro Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, que está preso sob suspeita de ligação com o Comando Vermelho. O desembargador expediu, em setembro, mandado de prisão contra o ex-deputado na Operação Zargun.

TH Joias integrava a base aliada do governador Cláudio Castro (PL) e de Rodrigo Bacellar, presidente afastado da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) suspeito de envolvimento em possível vazamento de operação contra TH. Ele chegou a ser preso.

De acordo com as investigações da PF, o desembargador estava em um restaurante com Bacellar quando este ligou para TH Joias. Não há detalhamento, no entanto, se foi nesaa ocasião que teria ocorrido o vazamento de informações da operação.

Bacellar, que havia sido preso na primeira fase da operação e foi solto após votação no plenário da Alerj, foi alvo novamente de busca e apreensão na operação desta terça. O chefe de gabinete de Bacellar também foi alvo de busca e apreensão em sua residência, em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense.

Segundo agentes federais, TH Joias será transferido para um presídio federal.

A defesa de TH afirmou que não teve, ainda, acesso à decisão que determina a transferência. "Até o presente momento, não há nos autos qualquer intimação dirigida à defesa que confirme a existência, o conteúdo ou os fundamentos de decisão dessa natureza, o que inviabiliza o pleno exercício do direito de defesa e o acompanhamento regular dos atos processuais", disse, em nota.

A Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) também afirma que não foi notificada.

Na ação desta terça, além do mandado de prisão preventiva contra o desembargador, a PF cumpre dez mandados de busca e apreensão, expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), no Rio de Janeiro e no Espírito Santo.

A operação se insere no contexto da ação chamada ADPF das Favelas, que determinou que a Polícia Federal conduzisse investigações sobre a atuação dos principais grupos criminosos violentos em atividade no estado e suas conexões com agentes públicos.

Por Constança Rezende e Bruna Fantti/Folhapress

Congresso ignora transparência de emendas imposta pelo STF e mantém R$ 1 bilhão com padrinho oculto

Alvo de operação da Polícia Federal na sexta-feira (12), as emendas parlamentares ao Orçamento seguem com um sistema pouco transparente e que mantém ocultos os padrinhos de mais de R$ 1 bilhão em verbas, mesmo após o STF (Supremo Tribunal Federal) bloquear o pagamento dos recursos e exigir que o Legislativo adotasse novas regras.

Meses após o acordo que destravou o pagamento das verbas, o modelo adotado se provou inconsistente: consulta da Folha com base no ano de 2025 mostra que os dados estão espalhados por mais de 40 arquivos nos sites das comissões da Câmara e do Senado, com erros de diagramação, links que dificultam a consulta e formatos que não permitem trabalhar os dados.

Os portais de transparência impedem que se saiba de quem foi a indicação da despesa paga, uma vez que a autoria nos portais do governo é a da própria comissão; e quase 10% das verbas sequer identifica o autor, mantendo o uso das chamadas emendas de liderança —dispositivo os líderes partidários recolhem pedidos de suas bancadas, mas assinam a destinação do recurso, escondendo seu verdadeiro padrinho.

Em maio deste ano, o ministro do Supremo, Flávio Dino, decidiu que este mecanismo poderia ser usado apenas para direcionar recursos do próprio parlamentar que ocupa o cargo, e não poderia servir para ocultar quem realmente indicava a verba.

O Congresso também chegou a criar um sistema eletrônico (Sinec) para registro das emendas e envio às comissões e, posteriormente, ao governo, mas o acesso é exclusivo ao Legislativo. A divulgação é feita individualmente nas páginas das comissões, que nem sempre consolidam os dados.

Parte das indicações, por exemplo, acabou rejeitada por erros no cadastro (nome da cidade ou CNPJ incorretos, por exemplo) e foi refeita, sem que isso tenha sido identificado nas atas. Desta forma, os números podem aparecer dobrados. Como uma mesma emenda contém um volume grande de indicações, fica praticamente impossível saber qual parlamentar acabou beneficiado com o pagamento.

Na última sexta (12), a PF realizou uma operação contra o desvio de recursos de emendas parlamentares em endereços ligados a Mariângela Fialek, conhecida como Tuca, assessora que coordenou a distribuição das verbas na gestão do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e seguiu com esse papel sob a presidência de Hugo Motta (Republicanos-PB).

Para Dino, que autorizou a operação da PF, "há elementos que indicam que, apesar da troca de comando na Câmara dos Deputados, a investigada manteria, ainda, importante papel nas já conhecidas tentativas de perpetuação do malfadado orçamento secreto". A busca e apreensão ocorreu em um dos gabinetes da presidência, onde a servidora costuma despachar.

Tuca afirmou, por meio de advogados, que cumpria função "técnica, apartidária e impessoal" e que todo o material apreendido era público. Motta e Lira saíram em defesa da auxiliar, com o argumento de que ela era uma servidora da Câmara e que não há irregularidade no direcionamento das emendas.

No final de 2024, Dino bloqueou R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão, por falta de transparência. Esses recursos substituíram as antigas emendas de relator, que ficaram conhecidas por manter em sigilo a distribuição de bilhões em dinheiro público para bases eleitorais de deputados e senadores, com critérios de transferência políticos e sigilosos. Parte é investigada por desvios e irregularidades.

O Congresso negociou um acordo com o Supremo para liberar o pagamento das emendas de comissão e aprovar projeto de lei para garantir que tornaria público o nome do parlamentar que indicasse os recursos. A proposta, porém, ainda permitiu aos parlamentares driblar a determinação de Dino, designando como autor o líder da bancada partidária.

Levantamento feito pela Folha nas atas das comissões identificou que ao menos R$ 1 bilhão segue escondido sob a alcunha da liderança partidária. A liderança do PP da Câmara, por exemplo, distribuiu cerca de R$ 358 milhões desta forma –foi o partido que mais utilizou este expediente.

A maior parte dos recursos foi para o Piauí (estado do presidente do partido, o senador Ciro Nogueira), com R$ 189 milhões. Em seguida está o Rio de Janeiro, base eleitoral do líder da sigla na Câmara, com R$ 80 milhões, além de Tocantins e Alagoas (terra do ex-presidente Arthur Lira), com R$ 19 milhões cada.

Líder do PP na Câmara, o deputado dr. Luizinho Texeira (RJ) disse à Folha que "todas as emendas tem seus parlamentares responsáveis", e que talvez o sistema tenha vinculado de forma errada recursos que iriam para outros deputados como sendo de autoria da liderança.

Outras siglas que mais indicaram recursos sob a alcunha de "emenda de líder" foram o União Brasil, com R$ 266 milhões direcionados para 15 estados, e o Republicanos, com R$ 201 milhões. Hugo Motta, de acordo com as planilhas, indicou R$ 180 milhões em seu nome, mas outros R$ 77 milhões foram direcionados para a Paraíba sob a rubrica do líder do Republicanos, sigla da qual ele é o principal nome no estado.

Também constam nas planilhas como responsáveis por emendas de "líder partidário" Solidariedade, Avante, Podemos e PL, legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro e que faz oposição ao governo Lula (PT).

Outro problema é com os dados em si. Os documentos que constam nas páginas de emendas da Câmara e do Senado trazem informações despadronizadas, não compiladas e com links errados, e mesmo com uso de inteligência artificial, a Folha não foi capaz de sistematizar as informações de forma a garantir que elas fossem comparáveis.

Na maioria das comissões, os dados estão em arquivos PDF, o que dificulta a leitura. São poucas as que disponibilizam os arquivos consolidados e em formato editável, como Excel, o que permitiria analisá-los.

Além disso, parte dos arquivos contém informações já desatualizadas, de acordo com técnicos a par do assunto.

O governo tem feito alterações no Portal da Transparência, entre outros canais de divulgação de informações sobre despesas federais, mas ainda não é possível localizar o autor de parte das emendas parlamentares.

Há cerca de R$ 50,4 bilhões em emendas parlamentares disponíveis no Orçamento de 2025, sendo que R$ 39,1 bilhões foram empenhados e cerca de R$ 27,4 bilhões estão pagos.

Procurada, a Controladoria Geral da União (CGU) afirmou que disponibiliza as informações de autoria até 2024. "A conclusão do Plano de Trabalho ocorrerá em breve e vai permitir a integração do Portal da Transparência [com] os dados de apoiamentos e solicitações de Emendas de Comissão do exercício de 2025 e dos anos seguintes", disse a pasta.

Por Raphael Di Cunto e João Gabriel/Folhapress

Defesa de Bolsonaro pede a Moraes autorização urgente para cirurgia

A defesa de Jair Bolsonaro (PL) voltou a pedir, nesta segunda-feira (15), ao ministro do Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorização para que o ex-presidente seja submetido a uma cirurgia de urgência.

Segundo os advogados, ele precisa de procedimento cirúrgico de herniorrafia inguinal bilateral, além de intervenções complementares.

O ex-presidente está preso na superintendência da Polícia Federal desde 22 de novembro. Ele foi condenado pelo STF no processo da trama golpista.

Moraes autorizou na sexta-feira (12) que Bolsonaro recebesse um médico para fazer um exame de ultrassonografia. Ele também determinou à Polícia Federal, um dia antes, a realização de uma perícia médica em 15 dias para avaliar a necessidade de intervenção cirúrgica.

"Ocorre que, desde a última manifestação da defesa, houve evolução objetiva e comprovada do quadro clínico, agora amparada por exame de imagem recentemente realizado e por novo relatório médico conclusivo, que impõem atuação imediata", disseram os advogados.

O relatório apresentado pela equipe afirma ainda que os sintomas de dor e desconforto na região inguinal se intensificaram em razão das frequentes crises de soluço.

Essas crises também "provocam aumento intermitente da pressão abdominal, elevando significativamente o risco de encarceramento ou estrangulamento intestinal – hipóteses que, se concretizadas, demandariam cirurgia de emergência, com riscos exponecialmente maiores".

"Diante desse cenário, não se está diante de hipótese remota ou preventiva abstrata, mas de necessidade médica atual, objetiva e comprovada, cuja postergação expõe o Peticionário a risco real de agravamento súbito, internação emergencial e possíveis complicações cirúrgicas evitáveis", afirmaram.

Os advogados Celso Vilardi, Paulo Cunha Bueno e e Daniel Tesser disseram ainda que a realização do procedimento de forma planejada, em ambiente hospitalar adequado, com acompanhamento pósoperatório e fisioterapia motora é indispensável.

A defesa do ex-presidente pediu na terça-feira (9) autorização para que ele deixasse superintendência e afirmou que Bolsonaro precisa passar por procedimento "tanto para tratamento do quadro de soluços, sequela das cirurgias já registrada nos presente autos, como em razão da piora do diagnóstico de hernia inguinal unilateral, que também indica a necessidade de intervenção cirúrgica".

A defesa reiterou ainda o pedido de concessão de prisão domiciliar humanitária.

Antes do episódio, a defesa já havia acrescentado ao processo vários documentos e exames listando os problemas de saúde de Bolsonaro e falado em "risco à vida" do ex-presidente. Eles pediram que o político fosse mantido em casa, onde cumpria prisão domiciliar desde 4 de agosto.

De acordo com relatórios médicos acrescentados ao pedido pela defesa, essas intervenções cirúrgicas demandariam a internação imediata com duração de 5 a 7 dias.

Antes do episódio, a defesa já havia acrescentado ao processo vários documentos e exames listando os problemas de saúde de Bolsonaro e falado em "risco à vida" do ex-presidente. Eles pediram que o político fosse mantido em casa, onde cumpria prisão domiciliar desde 4 de agosto.

No pedido feito ao Supremo, os advogados dizem que a saúde de Bolsonaro, que sofre crises de soluço, está "profundamente debilitada" e mencionam que ele foi ao hospital três vezes desde que foi determinada sua prisão domiciliar.

Eles dizem que o ex-presidente têm doenças graves de múltiplas naturezas: cardiológica, pulmonar, gastrointestinal, neurológica e oncológica —foi diagnosticado com câncer de pele. Por isso, afirmam, precisa de monitoramento o tempo todo, algo que o sistema prisional não poderia proporcionar.

Por Ana Pompeu/Folhapress

Gilmar e Dino votam no STF por derrubada de marco temporal e por conclusão de demarcações

          Ministros votaram de forma virtual em julgamento que acontece até quinta
Dois ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) votaram nesta segunda-feira (15) pela inconstitucionalidade de trecho da lei que instituiu um marco temporal para a demarcação das terras indígenas.

Um deles foi o relator do caso, ministro, Gilmar Mendes, que devolveu o julgamento para o plenário virtual do Supremo para a acelerar a conclusão desse tema. Na última terça (9), a Casa aprovou a proposta que institui o marco temporal para demarcação, numa deliberação em dois turnos de forma expressa.

Em sua manifestação, Gilmar apresentou a proposta de eventual projeto de lei sobre a matéria.

Em voto de 228 páginas, o ministro também tratou de vários pontos sobre o tema que foram discutidos em uma conciliação iniciada no ano passado. Ele ainda propôs que os ministros fixem um prazo de dez anos para que a União conclua todos os processos de demarcação pendentes no país.

No início da tarde, ele foi acompanhado por Flávio Dino, com ressalvas. O julgamento vai até quinta-feira (18).

O marco temporal é a tese segundo a qual os territórios indígenas devem ser reconhecidos de acordo com a ocupação deles no ano de 1988, quando a Constituição Federal foi promulgada.

Em 2023, o Supremo derrubou a tese do marco temporal, também em um momento de tensão entre Legislativo e Judiciário. Na época, o julgamento ficou em 9 a 2, sob a relatoria de Edson Fachin.

Em reação, o Congresso votou e aprovou um projeto de lei que voltou a instituir o marco. O texto aprovado no Legislativo foi questionado no STF, que voltou a debater o assunto. Sob a relatoria de Gilmar, o processo teve 23 reuniões entre partes e interessados.

Em seu voto desta segunda, Gilmar afirma que a lei aprovada pelo Congresso é desproporcional e não traz segurança jurídica ao impor o marco temporal de forma retroativa, e atinge comunidades que não têm documentação formal de ocupação.

"Nossa sociedade não pode conviver com chagas abertas séculos atrás que ainda dependem de solução nos dias de hoje, demandando espírito público, republicano e humano de todos os cidadãos brasileiros (indígenas e não indígenas) e principalmente de todos os Poderes para compreender que precisamos escolher outras salvaguardas mínimas para conduzir o debate sobre o conflito no campo, sem que haja a necessidade de fixação de marco temporal", diz o voto.

Ele também tratou de outros aspectos, como o exercício de atividades econômicas nas terras indígenas, previstos na lei de 2023.

A lei "autoriza o exercício de atividades econômicas em terras indígenas pela própria comunidade, inclusive turismo, desde que os benefícios alcancem toda a coletividade e que a posse da terra seja preservada".

No voto, Gilmar diz que as atividades podem ser exercidas pelos próprios indígenas, de acordo com seus usos, costumes e tradições, "sendo admitida a celebração de contratos com não indígenas, desde que respeitada a autodeterminação das comunidades".

A votação virtual do marco temporal no STF foi marcada após o Senado aprovar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que institui o modelo do marco temporal para demarcações, um acirramento da crise entre os Poderes. O texto ainda precisa passar pela Câmara dos Deputados.

Flávio Dino afirmou que a proposta de projeto de lei, nascida da comissão especial criada por Gilmar, deve ser enviada às presidências da Câmara e do Senado.

"Com efeito, não há dúvida quanto à legitimidade da instituição e do funcionamento da Comissão Especial, no âmbito de um processo estrutural em tramitação no STF, posto que, se uma ou outra entidade resolve não atender ao convite do Poder Judiciário, tal recusa não macula a ampla representatividade do debate", disse.

A respeito da votação do Senado, sem citar diretamente a sessão da última semana na Casa, Dino afirmou que nem mesmo uma proposta de emenda poderia fragilizar direitos indígenas como os apontados pela tese definida pelo Supremo no julgamento de 2023.

"Neste passo, inclusive propostas de emenda constitucional que pretendam introduzir tal limitação são materialmente inconstitucionais, pois atingem o núcleo essencial dos direitos fundamentais, o que é vedado pelo constituinte originário. O Poder Legislativo não pode, sob qualquer pretexto, suprimir ou reduzir direitos assegurados aos povos indígenas, sob pena de ofensa aos princípios estruturantes do Estado Democrático de Direito", disse.

Mas o ministro entende que há mais pontos de inconstitucionalidade do que a análise do relator. Em um deles, o ministro afirma que a previsão de que o órgão gestor da unidade de conservação é quem tem responsabilidade e resolver questões sobre o uso das terras. Para Dino, cabe à comunidade dar a palavra final sobre seus interesses e sobre a normatização da presença de visitantes e pesquisadores, por exemplo.

Segundo ele, é possível a implementação de atividades econômicas nos territórios indígenas, mas com os direitos desses povos garantidos e preservados.

"Apenas é imprescindível a observância das regras, conforme apontado, e respeitar os direitos indígenas. Entre estes se inclui o de participar ou não das atividades econômicas. O que não se admite é que os povos indígenas sejam ignorados no processo decisório, em uma espécie de 'atropelo' via fatos consumados ou que sejam participantes subalternos de projetos privados em seus territórios", afirmou.

Dino disse que há mais de 30 anos se espera para a efetivação das demarcações. Além de manter uma situação de insegurança a essas populações, avaliou o ministro, produz efeitos ainda mais graves.

"Tal omissão compromete a segurança jurídica, além de fragilizar a proteção de direitos fundamentais. Tem o potencial de inviabilizar a própria existência das comunidades indígenas, pois estas são indissociavelmente ligadas ao território", disse.
Por José Marques/Ana Pompeu/Folhapress

Presidente do SBT rebate crítica por receber Lula e Alexandre de Moraes em festa de novo canal

Somos imparciais e isentos. Cabe a nós mostrarmos os fatos e, ao público, julgá-los', diz Daniela Beyruti em carta aberta

A presidente do SBT, Daniela Beyruti, uma das filhas de Silvio Santos, publicou uma carta aberta para rebater as críticas feitas à emissora por ter recebido o presidente Lula (PT) e o ministro do STF Alexandre de Moraes no lançamento do SBT News, na sexta (12).

"Nos últimos dias, minha família tem sido alvo de críticas, antes mesmo de apresentarmos a nossa proposta para o SBT News. Isso é exatamente o que queremos combater: a falta de diálogo entre um povo que tem muitas virtudes e que amamos tanto", afirma ela.

Uma das principais críticas veio do cantor Zezé Di Camargo. Em vídeo publicado em suas redes, ele disse que vai romper com a emissora por causa da presença de Lula e de Moraes no evento. Para ele, as filhas de Silvio Santos estão agindo de forma diferente do pai.

"Diante da situação que eu vi no SBT, das pessoas mudando totalmente a maneira de pensar, principalmente das filhas do Silvio Santos pensando totalmente diferente do que o pai pensava... Uma coisa eu sempre disse na minha vida: filho que não honra pai e mãe, para mim, não existe [...] Amo vocês, amo o SBT, tenho o maior carinho, mas acho que vocês estão... Desculpem, prostituindo. Não faço parte disso", afirmou ele.

O sertanejo pediu também que a emissora não coloque no ar o especial de Natal que ele já tinha gravado para o canal e que estava programado para ir ao ar na próxima quarta (17).

"Só queria dizer uma coisa para vocês, SBT: vamos tocar o caminho, tenho serviço, tudo. Mas, se puderem, não precisam por no ar o meu especiaL", disse.

Na carta, Daniela afirma, nos últimos cinco anos, o "SBT foi reconhecido pelas pesquisas realizadas pelo Instituto Reuters como o jornalismo de maior confiança e credibilidade".

"Nosso jornalismo segue uma carta com princípios do meu pai e fundador. Foi justamente por conta dessas pesquisas e dessa carta com esses princípios que tomamos coragem para abrir um canal de notícias com a proposta de entregarmos mais do que somos e temos", segue Daniela.

"Somos imparciais e isentos. Cabe a nós mostrarmos os fatos e, ao público, julgá-los", diz ainda a presidente da emissora.

A presidente do SBT afirma também lamentar a forma como a família tem sido "mal interpretada".

"Antes de as pessoas verem nosso trabalho, decidiram julgá-lo. Queremos entregar ao Brasil um jornalismo confiável, sem partido, sem lado. Um jornalismo que não terá viés, não terá algoritmo, não provocará divisão e raiva entre as partes, não será nutrido por inteligência artificial e dará ao público apenas a notícia e a verdade dos fatos", escreveu.

"Amamos nosso país, torcemos por ele, amamos nosso povo, trabalhamos para ele e convidamos a todos a embarcarem nesse projeto que deseja amenizar os ânimos. A todos os que têm dúvidas ou receios, faço um convite: assistam ao SBT News. Vocês verão, na prática, o jornalismo de qualidade e independente, que é a nossa marca", concluiu.

Por Mônica Bergamo/Karina Matias/Folhapress

Funcionários da Petrobras entram em greve por tempo indeterminado

Os trabalhadores da Petrobras estão em greve desde a 0h desta segunda-feira (15), por tempo indeterminado. A paralisação, que atinge todo o país, foi aprovada na última sexta-feira (12), após a contraproposta apresentada pela companhia nas negociações do acordo coletivo de trabalho (ACT) ter sido rejeita.

Segundo Sérgio Borges, coordenador-geral do Sindipetro-NF, estão mobilizados os 14 sindicatos da FUP (Federação Única dos Petroleiros), que representa em torno de 25 mil empregados e opera 61% das unidades da Petrobras, e os da FNP (Federação Nacional dos Petroleiros), que representa mais de 50 mil trabalhadores e maneja 80% da extração de petróleo do país.

Procurada pela Folha, a Petrobras não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Na prática, as operações da Petrobras não chegam a ser totalmente interrompidas durante a greve. As unidades continuam funcionando com equipes mínimas, responsáveis por manter a segurança e a produção essencial, de acordo com os sindicalistas.

O que deixa de ocorrer são as trocas de turno e a atuação das chamadas equipes de redundância —formadas para substituir trabalhadores em folga ou reforçar operações—, o que reduz a flexibilidade do sistema e pode pressionar a rotina das unidades, sobretudo se a paralisação se estender por vários dias.

A greve ocorre após mais de três meses de negociações sem acordo. Para a FUP, a proposta da estatal não contempla os principais pontos aprovados pela categoria: a retomada de direitos retirados em gestões anteriores, uma distribuição considerada mais justa dos resultados da empresa e o fim dos planos de equacionamento de déficit da Petros, o fundo de pensão dos funcionários.

No campo salarial, os sindicatos criticam o reajuste oferecido: reposição da inflação do período mais ganho real de 0,5%, somando 5,66%. Os trabalhadores reivindicam 9,8%, como forma de recompor perdas acumuladas em anos sem aumento real.

Também pesa para os sindicalistas a situação de aposentados e pensionistas, que organizaram vigílias em frente à sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, em protesto contra os descontos relacionados ao equacionamento do fundo de pensão da companhia.

A FNP diz que a postura da empresa alinhada ao discurso de "aperto dos cintos" contrasta com a divulgação recente de lucros recordes de R$ 32,7 bilhões destinados aos acionistas. "Para a categoria, a Petrobras apresenta um ACT [Acordo Coletivo de Trabalho] rebaixado. Para os acionistas, privilégios e lucros recordes", afirma o sindicato, em nota.

Entre os principais pontos de rejeição está a manobra da empresa ao propor alterações em cláusulas que atualmente estão sob análise judicial e que podem resultar em ganhos para os trabalhadores. A tentativa de modificar esses itens durante a negociação do ACT é vista como uma estratégia para minar direitos já consolidados e impedir avanços.

A greve afeta unidades administrativas, plataformas e refinarias, a depender de sua duração.

O QUE OS TRABALHADORES REIVINDICAMACT 
  • (Acordo Coletivo de Trabalho) de um ano (2025-2026) e ultratividade
  • Solução para a pauta do offshore e o fim do ataque inacreditável na questão dos ‘desimplantes’
  • Reajuste na tabela da Hora Extra Troca de Turno (HETT) e a criação de uma tabela salarial única para toda a categoria, holding, subsidiárias, ativos e aposentados
  • Avanço na pauta do teletrabalho, aumento dos ‘dias coringas’ e inclusão de setores excluídos.
  • Pagamento das dívidas da Petrobras com a Petros
  • Retorno do Programa Jovem Universitário (PJU), com reembolso de 80% do valor da mensalidade, bem como benefício educacional superior extensivo aos empregados
  • O fim dos problemas constantes referentes aos embarques e a implementação do 14×21 para todos os embarcados (próprios e terceirizados)
  • Destravamento da discussão sobre o novo Plano de Cargos, Carreiras e Salários, congelada desde o início do ano
  • Reversão da mudança na área de SMS que levará a uma escala de 6×1 de médicos e dentistas, contrariando inclusive a retórica do governo federal
  • Combate ao avanço da terceirização, fim da contratação de empresas caloteiras
  • Fim do processo de privatização da PBIO
  • Isonomia alimentar, já! Concessão de vale alimentação para as unidades que têm alimentação e natura (industrial e offshore) nos termos da lei 5811/72
Segundo a FUP, 100% da operação das plataformas do Espírito Santo e do norte Fluminense aderiu à greve e entregou às equipes de contingência da empresa, assim como do Terminal Aquaviário de Coari, no Amazonas.

O sindicato afirma que os trabalhadores de seis refinarias das bases da FUP também aderiram e não realizaram o revezamento de turno nesta manhã. Até o momento, estão sem troca nos grupos de turno as refinarias Regap (Betim - MG), Reduc (Duque de Caxias - RJ), Replan (Paulínia - SP), Recap (Mauá - SP), Revap (São José dos Campos - SP) e Repar (Araucária - PR).

A FUP diz ainda que, em Duque de Caxias (RJ), a Petrobrás chamou a Polícia Militar para tentar coibir a greve, com diretores do Sindipetro Caxias sendo detidos pelos policiais.

A FNP afirma que estão previstos protestos em plataformas, no Aeroporto de Maricá, nos Terminais Aquaviários da Baía de Guanabara, no Terminal de Angra dos Reis, no Complexo de Energias Boaventura e em unidades administrativas, como o Edisen.

A última paralisação da categoria ocorreu em março deste ano, com duração de 24 horas. Os trabalhadores criticavam a redução dos dias em home office e diminuição da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e cobravam a contratação de funcionários, criação de plano integrado de carreiras e melhores condições para prestadores de serviços.

Antes, em 26 de fevereiro deste ano, os petroleiros administrativos fizeram uma paralisação de 24 horas contra a proposta de reduzir o trabalho remoto. A greve envolveu funcionários filiados à FUP e à FNP e teve adesão de escritórios do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia.

Em 2020, a categoria ficou parada 20 dias em protestos contra demissões. Os sindicatos reclamaram que o fechamento da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados, no Paraná, poderia resultar em cerca de mil demissões. A greve envolveu refinarias e plataformas e durou 20 dias.

Na época, a estatal era comandada pelo economista Roberto Castello Branco. Atualmente, a presidente é Magda Chambriard.
Por Ana Paula Branco e Matheus dos Santos/Folhapress

Líderes de esquerda se dividem sobre embate com Congresso e ofensas a Motta na Paulista

Líderes de esquerda presentes ao ato na avenida Paulista se dividiram sobre a estratégia de embate frontal com o Congresso e os presidentes das duas Casas, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e o senador Davi Alcolumbre (União-AP).

Para a maior parte dos deputados e ministros, generalizar com o slogan "Congresso inimigo do povo" é um tiro no pé, por jogar o centrão nas mãos da oposição a Lula e estimular Motta a se distanciar mais ainda no Planalto. As críticas mais pesadas, assim, ficaram a cargo de ativistas e pessoas sem cargos públicos.

O casal Boulos simbolizou essa divisão. Enquanto o ministro da Secretaria Geral economizou nas ofensas a Motta e ao Congresso, sua mulher, Natalia Szermeta, ligada ao MTST e candidata a deputada federal no ano que vem, puxou vaia ao presidente da Câmara.

Por Fábio Zanini/Folhapress

Filho de empresário de garimpo é preso por suspeita de envolvimento em fuga de Ramagem

A Polícia Federal (PF) cumpriu, neste sábado (13), um mandado de prisão em Manaus (AM) contra Celso Rodrigo de Mello, filho do empresário do setor de garimpo Rodrigo Martins Mello, conhecido como "Rodrigo Cataratas". A prisão foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito de uma investigação que apura o suposto envolvimento de Celso na fuga do deputado federal Alexandre Ramagem.

Em nota de esclarecimento, a assessoria de Rodrigo Cataratas confirmou a prisão, destacando que o caso tramita em sigilo. A defesa de Celso Rodrigo de Mello informou que ele é inocente e que a decisão de prisão está sendo recorrida, ressaltando a importância do respeito ao devido processo legal e à presunção de inocência.

A prisão de Celso ocorre após o empresário Rodrigo Martins Mello (que atua com garimpo em Roraima e na Guiana) ter sido publicamente associado à suposta ajuda na saída do país do deputado Alexandre Ramagem.

Na semana passada, Mello publicou um vídeo em suas redes sociais defendendo-se das acusações. Ele alegou estar sofrendo perseguição política devido às suas posições ideológicas:

“(Ramagem) tem vários amigos em Roraima, e eu também sou amigo dele, certo? Ele é deputado federal, pessoal. Quando ele esteve em Roraima pela última vez não existia nenhuma condenação contra ele. Então, essa narrativa de fuga, isso é uma narrativa falaciosa, justamente para manter uma perseguição. Todos aqui somos de direita e somos perseguidos.”

O empresário, que já havia sido alvo de matérias na imprensa de Roraima sobre o tema no final de novembro, reforça que a prisão do filho é uma medida preliminar e que a defesa trabalha para reverter a decisão.

"Bolsonaro pode morrer de um dia para o outro", diz Mourão

Ao defender prisão domiciliar para o general Augusto Heleno e o ex-presidente Jair Bolsonaro, o também general Hamilton Mourão, senador pelo Republicanos-RS e ex-vice presidente, afirmou que a situação de saúde do seu companheiro de chapa em 2018 é grave a ponto de justificar a concessão pelo Supremo Tribunal Federal.

"O general Heleno apresenta problemas de saúde há algum tempo, como qualquer pessoa que chegou aos 78 anos submetida às tensões normais da vida militar e depois às enfrentadas em outros momentos. Óbvio que isso causa sequelas, e foi mostrado ao Alexandre de Moraes que seria necessária a prisão domiciliar dele, assim como a do Bolsonaro. É outro que, qualquer coisa… O Bolsonaro é aquele cara que anda no fio da navalha, pode morrer de um dia pro outro", disse Mourão ao Painel.

A fragilidade da saúde de Bolsonaro é mencionada por seus aliados há tempos, e mais recentemente foi usada por sua defesa num pedido de autorização para que ele passe por cirurgia e para reiterar o pleito por concessão de prisão domiciliar.

Mourão integra o mesmo campo político de Bolsonaro, mas há tempos se afastou do capitão, por quem foi escanteado durante a gestão. Antes mesmo da metade do mandato, o presidente deixou clara a insatisfação com seu vice. Numa entrevista em 2021, explicitou a ruptura. "O Mourão faz o seu trabalho, tem uma independência muito grande. Por vezes atrapalha um pouco a gente, mas o vice é igual cunhado, né. Você casa e tem que aturar o cunhado do teu lado, não pode mandar o cunhado embora."

Mourão admitiu que travou durante o mandato uma guerra fria com Bolsonaro e se queixou, em 2022, de nunca ter sido procurado para lavar a roupa suja. "É óbvio que eu teria tido uma conversa com ele mais detalhada a respeito do meu papel, para evitar os choques que ocorreram e que não precisavam ter ocorrido."

Numa entrevista à Folha em julho passado, Mourão disse que, caso não tivesse sido preterido por Walter Braga Netto na chapa governista na eleição de 2022, Bolsonaro teria sido reeleito.
Por Fabio Victor, Folhapress

Protestos contra Enel se espalham em SP; 350 mil imóveis seguem sem luz

Problema com fornecimento de energia afeta a população há quatro dias na Grande São Paulo após ventania recorde; falta de eletricidade afetou abastecimento de água

Moradores de diversas regiões da Grande São Paulo realizam protestos contra a Enel, concessionária de energia elétrica, entre a última sexta-feira (12) e sábado (13).

Imagens mostram cidadãos do Bixiga, na região central da capital paulista, em passeata pelo bairro. No vídeo o grupo anda pelas ruas da região, que está tomada pela falta de energia.

Até a publicação desta reportagem, mais de 350 mil imóveis seguem sem energia.

Veja:
A CNN Brasil conversou com Jonathan Souza Biano dos Santos, de 28 anos, morador do bairro, que diz estar sem luz desde a última terça-feira (9).

Ele relata que tentou contato com a Enel desde o primeiro instante e que todos os dias a empresa passava sempre novos prazos para solução, mas que até a noite de hoje ainda estava sem energia elétrica.

O morador lamenta ter perdido tudo da geladeira: "eu já havia feito as compras de Natal e fim de ano, perdi pelo menos 900 reais".

Jonathan conta, ainda, que as ruas estão estão completamente apagadas e que já há relatos de roubos e furtos pelo bairro, por conta da falta de enrgia elétrica.


Além disso, ele relata que também está sem abastecimento de água. Por morar em apartamento, é necessário que a bomba distribua água para os andares, o que não é possível sem eletricidade. Ele diz estar comprando galões de água para suprir suas necessidades.


Outro ponto de protestos foi registrado em Mauá, no ABC Paulista. Nas imagens é possível observa uma fila de penus e de madeiras incendiados por munícipes sem energia. O morador diz estar há quatro dias sem luz. Acompanhe:
                                       
Na tarde de ontem, a Avenida Dona Belmira Marin, no Grajaú, zona sul de São Paulo, também foi alvo das manifestações. Fortes nuvens de fumaça preta e chamas na via foram registradas por motoristas que passavam pela avenida.
Na rua Professor José Lourenço, na Vila Zatt, zona norte da cidade, moradores protestram por estarem há cerca de quatro dias sem energia elétrica. Mesmo após realizarem solicitações, o problema não havia sido resolvido até a tarde de sexta.

De acordo com a última atualização divulgada pela Enel, às 18h36, mais de 331 mil pessoas ainda estão sem fornecimento de enrgia. Apenas na cidade de São Paulo são 235 mil.

A CNN Brasil solicitou nova nota à companhia a respeito do prazo de restabelecimento total da luz na Grande SP e aguarda retorno.
Khauan Wood, da CNN Brasil*, Thomaz Coelho e Thiago Félix, da CNN Brasil, em São Paulo

Operações da PF incomodam Congresso e ampliam atrito com governo e STF

A deflagração de operações da Polícia Federal sobre desvio de recursos públicos tem azedado ainda mais a já conturbada relação entre Congresso, governo e STF (Supremo Tribunal Federal). Expoentes do centrão responsabilizam o governo Lula, por exemplo, pelo avanço de investigações sobre o direcionamento das emendas parlamentares e ameaçam revidar nas votações de fim de ano.

Nesta sexta-feira (12), a PF cumpriu mandados de busca e apreensão tendo como alvo assessora ligada ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL). A operação, chamada de Transparência, foi autorizada pelo ministro Flávio Dino, do STF, que tem vivido embates com deputados e senadores em torno da transparência e execução das emendas parlamentares ao Orçamento.

As queixas não se restringem às investigações diretamente ligadas à execução orçamentária. Incluem ainda as apurações sobre o Banco Master e o Grupo Fit (antiga Refit), cujos donos mantêm relações com dirigentes do centrão e que se tornaram alvos de algumas das principais operações da PF recentemente.

As acusações sobre direcionamento das investigações e uso político delas em campanhas nas redes sociais levaram PP e União Brasil a anteciparem a decisão de deixar o governo.

Em setembro, os dois partidos determinaram que filiados com mandato entregassem os cargos, após o presidente do Progressistas (PP), senador Ciro Nogueira, responsabilizar, em conversas reservadas, auxiliares de Lula pela disseminação de suspeitas de que empresários envolvidos com o PCC (Primeiro Comando da Capital) teriam pagado propina a ele.

Nogueira negou e acusou o "gabinete do ódio de Lula" de estar por trás das informações.

Apontando participação do governo nessas ações, parlamentares fizeram chegar ao Palácio do Planalto suas suspeitas e reclamações sobre suposto direcionamento político nas investigações. Afirmam que Lula teria sido alvo do mesmo procedimento nos tempos da operação Lava Jato, quando Ministério Público e o então juiz Sergio Moro foram acusados de direcionar apurações contra o governo e combinar entre eles a linha de atuação –o que levou o STF a anular as condenações.

Em resposta, colaboradores do presidente alegam não ter ascendência sobre o curso das operações a cargo da PF. Esses aliados também costumam argumentar que o governo não exerce qualquer influência sobre Dino ou qualquer outro ministro do STF, e lembram que Moraes sequer foi indicado pelo presidente Lula –a escolha foi do ex-presidente Michel Temer (MDB), com aval do PSDB.

Um dos que tornaram pública a crítica ao vazamento de informações sobre operações recentemente foi o líder do PP na Câmara, deputado dr Luizinho Teixeira (RJ). Em entrevista à Folha nesta semana, ele afirmou que há ações para minar a imagem dos parlamentares e desgastá-los eleitoralmente. "As pessoas aprenderam a usar o Judiciário para intimidar o Parlamento. A gente está sendo intimidado diariamente", disse.

Relator da indicação de Jorge Messias para ministro do STF, o senador Weverton Rocha (PDT-MA) também afirmou que um dos motivos das resistências ao ministro da AGU (Advocacia-Geral da União) para a vaga é a preocupação com investigações que têm atingido políticos.

"Há um clima mais quente na classe política por conta de reclamações sobre excessos em investigações. Estamos às vésperas de uma eleição que, infelizmente, será de novo polarizada. E todos usam os instrumentos que podem para esticar a corda", disse o pedetista, em entrevista ao jornal O Globo.

Já o vice-líder do governo no Senado, Otto Alencar (PSD-BA), defende a investigação sobre desvios com as emendas parlamentares e refuta a acusação de que o governo esteja criminalizando as emendas. Para ele, a generalização prejudica a imagem do Legislativo. "Quem errou, usou recursos públicos em benefício próprio, tem que ser punido. Zero queixa", diz.

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, de declarar inconstitucional a sessão da Câmara que manteve o mandato da deputada Carla Zambelli (PL-SP) e determinar que ela seja cassada pela condenação no tribunal, foi outro fato que elevou a tensão entre os Poderes.

No entendimento de deputados, isso fragiliza os mandatos e abre caminho para que, nos próximos processos, o procedimento também seja a perda automática do cargo. A Primeira Turma do STF deve julgar, em março, o suposto desvio de recursos de emendas parlamentares por deputados do PL do Maranhão, no primeiro julgamento de grande repercussão desde que as emendas entraram no centro do debate da política.

Além disso, Dino disse na semana passada que concluiu a tramitação das ADIs (Ações Diretas de Inconstitucionalidade) que questionam a existência das emendas parlamentares impositivas e que pedirá que o presidente da Corte, Edson Fachin, abra espaço na pauta para julgamento pelo plenário. Esse dispositivo obriga o governo a pagar os recursos direcionados pelos congressistas.

Foi nesse ambiente que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), levou a voto projeto de redução de pena dos condenados por atos contra a democracia, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Coordenador do grupo Prerrogativas e amigo do presidente, o advogado Marco Aurélio Carvalho diz que Lula deve vetar integralmente a proposta –o que pode causar novos conflitos com o Congresso. "É um projeto meramente casuístico. Foi feito sob encomenda, com o único e exclusivo interesse de beneficiar aqueles que agiram para comprometer o nosso sistema eleitoral vigente, para comprometer a democracia e a rigidez das nossas instituições para beneficiar golpistas", disse.

Por Catia Seabra e Raphael Di Cunto, Folhapress

Datafolha: Atrás de saúde, segurança supera economia e vira principal problema do país para 16% da população

O percentual de brasileiros que veem na segurança pública o principal problema do país chegou a 16%, mostra o mais recente levantamento do instituto Datafolha.

O setor está atrás de saúde, área reconhecida como o maior gargalo nacional para 20% da população, mas à frente da economia –o principal problema para 11% dos entrevistados.

É um cenário que se inverteu na comparação com o último Datafolha, de abril deste ano, quando economia era o principal problema para 22% dos brasileiros e a violência, para 11%. O nível de confiança é de 95%.

Mas não é um patamar inédito: a segurança também era o maior problema do país para a população em setembro de 2023, quando o Datafolha apontou que o setor empatava com saúde, ambos em 17%.

A pesquisa ouviu 2.002 pessoas entre os dias 2 e 4 de dezembro de forma presencial em 113 municípios. A margem de erro da amostragem principal é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

A violência é mais citada entre os homens —18% deles enxergam-na como o maior problema do país— e a saúde lidera entre as mulheres, com 26%. As respostas são espontâneas e cada pessoa só podia escolher uma opção.

A mudança na percepção, dizem especialistas, acompanha a avaliação de que o Brasil vem se tornando um país mais violento. Segundo eles, relatos de alguém que tenha sido vítima de algum delito são cada vez mais frequentes em círculos de amizade ou ambientes de trabalho.

Mas isso se deve também ao maior debate sobre o tema capitaneado por grandes operações recentes que mostraram o poderio tanto bélico quanto econômico de organizações criminosas.

A começar pela Carbono Oculto, ação deflagrada em agosto em São Paulo que mirou a infiltração do PCC (Primeiro Comando da Capital) em postos de gasolina e fintechs. O esquema movimentou R$ 52 bilhões de 2020 a 2024, segundo a investigação.

Dela surgiram outros desdobramentos, a exemplo da Operação Spare, no final de setembro, que mirou 267 postos de combustível e revelou a atuação do PCC também no setor de motéis.

Mais tarde, em 28 de outubro, uma megaoperação contra o Comando Vermelho em favelas do Rio de Janeiro reforçou que a organização criminosa possui fuzis, granadas e usam mesmo drones bomba para conter o avanço policial. A operação terminou com 122 mortes, a mais letal da história do país.

São ocorrências que mostraram "uma coisa que não vinha sendo dita: a irradiação do crime organizado pelo país", afirma o coronel reformado da PM de São Paulo e ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho, membro do Instituto Brasileiro de Segurança Pública.

"Estava debaixo do tapete. De repente, você puxa o tapete e fala 'caramba, tem o Comando Vermelho, o PCC, eles estão dominando o crime no país'. Isso acabou assustando", afirma Vicente.

Essa percepção gerou reações. No âmbito do Congresso, por exemplo, a Câmara aprovou o projeto de lei Antifacção a partir de relatório que fala numa "sociedade refém do medo, em que o cidadão comum vive encurralado entre o domínio de grupos infratores e a limitação operacional do Estado".

O texto institui o chamado Marco Legal no Combate ao Crime Organizado e cria novos tipos penais com penas que ultrapassam 40 anos. O texto foi aprovado com mudanças pelo Senado e agora retorna à Câmara.

Outras iniciativas fazem frente ao problema da violência no âmbito federal, a exemplo da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Segurança Pública, cuja última versão prevê um referendo sobre a redução da maioridade penal.

Mas investidas ocorrem também em níveis locais, com a criação e fortalecimento de guardas municipais e, no caso de São Paulo, com o sistema Smart Sampa —bandeira do prefeito Ricardo Nunes (MDB) que cruza o rosto de pessoas filmadas em locais públicos com banco de dados do Poder Judiciário para identificar foragidos.

Segundo o Anuário Brasileiro do setor, o número de mortes violentas chegou à mínima histórica no Brasil em 2024. Ao mesmo tempo, os registros de feminicídios cresceram 0,7% e tentativas de feminicídio, 19%. O ano passado registrou também o maior número de estupros e estupros de vulnerável da história, com 87.545 vítimas no total.

"Temos queda nos índices de homicídios, por exemplo, mas não nos crimes como violências contra a mulher, sexual ou contra crianças e adolescentes, que vêm aumentando", diz Renato Sérgio de Lima, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (que organiza o Anuário).

Há também a explosão de golpes digitais, que inundaram o país nos últimos anos. Levantamento do Datafolha publicado em agosto em parceria com o Fórum mostra que um em cada três brasileiros sofreu algum tipo de golpe financeiro digital nos últimos 12 meses.

Em números, isso representa 56 milhões de pessoas atingidas e um prejuízo de R$ 111,9 bilhões.

Em 2024 o país teve 2.166.552 casos de estelionato. Isso indica um aumento de 407% na comparação com 2018, quando foram 426.799.

A região em que a violência é mais citada como o principal problema do país é a Sudeste, onde 19% dos moradores têm essa avaliação. A menor está no Sul, com 10%. A região Nordeste, que concentra os estados mais violentos do Brasil, empata com Centro-Oeste/Norte, com 14%.

A segurança está numericamente à frente como o principal problema do país também entre aqueles com mais de 60 anos (21%).

O tema tem menor importância aos mais jovens, de 16 a 24 anos, para os quais saúde (16%) e economia (14%) são os principais problemas do Brasil —para esses, a violência fica em 5%. No recorte por idade, a margem é de seis pontos para público de 16 a 24 anos e de cinco pontos para as outras faixas

O setor também é o maior problema do Brasil entre aqueles que se consideram bolsonaristas (18%), superando a saúde (17%). Entre os declaradamente petistas a situação se inverte: 24% deles veem na saúde o maior gargalo e 17%, na segurança.
Desempenho

Se a economia é o terceiro maior problema do país para os brasileiros, segundo pesquisa Datafolha, o setor é a área de pior desempenho do governo Lula 3 segundo a maior parte dos entrevistados: 14% pensam dessa forma. Segurança e saúde aparecem empatados, com 12%, seguidos por educação (7%) e corrupção (3%).

São pontos ainda sensíveis ao governo federal —especialmente no caso da segurança, tema historicamente visto como um calcanhar de aquiles de governos de esquerda no Brasil. "Estão completamente perdidos", diz Vicente.

Some-se a isso declarações do presidente e de seus aliados que reverberaram mal. O ministro Ricardo Lewandowski já disse, por exemplo, que "a polícia prende mal e o Judiciário é obrigado a soltar" —ele alega que a frase foi retirada de contexto.

Lula, enquanto isso, se retratou após afirmar que traficantes são vítimas de usuários.

A avaliação de que a economia é a pior área do governo é maior entre jovens e adultos até 44 anos, faixa etária a partir da qual os percentuais caem a números abaixo de 10%.

Com a segurança é o contrário: aumenta de 7% da primeira faixa etária para 14% na última —num empate dentro da margem de erro para 16 anos, de seis pontos percentuais para mais ou para menos.

Neste caso, eleitores declarados de Lula e de Bolsonaro em 2022 empatam tecnicamente quando dizem que a segurança é a pior área da gestão petista: são 14% e 12%, considerando uma margem de erro de três pontos entre quem votou em Lula e de quatro entre quem votou em Bolsonaro.

A educação é avaliada como a área de melhor desempenho, vista assim por 10% dos brasileiros. Em seguida vem o combate à desigualdade social (8%), saúde (6%) e economia (5%). Além disso, 28% consideram que o governo não vai bem em nenhuma área, e 2% dizem que ele vai bem em todas.
Por André Fleury Moraes, Folhapress

'Nunca será Reagan', 'Só queria negociar': bolsonaristas atacam Trump

Políticos e influenciadores aliados do ex-presidente reclamaram da postura dos EUA nas redes sociais

Após o governo Donald Trump retirar o ministro Alexandre de Moraes da lista dos sancionados pela Lei Magnitsky, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se voltaram contra o presidente norte-americano. A decisão dos EUA também incluiu a remoção da advogada Viviane Barci, esposa do magistrado, e do Instituo Lex, empresa mantida pelo casal. Nas rede sociais, deputados e influenciadores ligados a Bolsonaro reagiram com críticas a Trump.

“Quem nasce para Trump jamais será Reagan”, disse o jornalista Rodrigo Constantino na rede social X.

Na mesma plataforma, o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) também criticou e disse que Trump só queria negociar.

“A lei Magnitsky foi banalizada por Trump. Não existe ‘ex-violador de direitos humanos’. Infelizmente colocamos esperanças em alguém que só queria negociar. Uma grande decepção com o Presidente americano e uma enorme lição para nós: não terceirizemos nossa responsabilidade”, reclamou.

O senador Jorge Seif Junior (PL-SC) seguiu linha semelhante. “Não existe amizade nem diplomacia entre países. Existem interesses econômicos. “As sanções começaram a cair quando pesquisas mostraram queda na popularidade de Trump e itens básicos da mesa do americano (café, suco de laranja e carne) dispararam de preço. Agora, minerais estratégicos, terras raras e pragmatismo geopolítico falam mais alto”, disse ele, completando:

“Ou Moraes virou um pacifista e guerreiro dos direitos humanos? Será que o Brasil virou exemplo de democracia pujante? Ou houve perdão dos presos políticos de 08/01?”Moral da história: o Brasil só se resolve por dentro, com mais senadores firmes e um novo presidente".

O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) foi outro a reclamar. “O presente de Natal do governo dos EUA para o Brasil foi devolver o país à força política mais bem organizada daqui: corruptos e corruptores”, acusou.

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ) foi em linha diferente, agradecendo ao governo americano. “Obrigado @realDonaldTrump a guerra pra tirar a SUPREMA ESQUERDA do poder no Brasil será nossa, dos brasileiros, mas obrigado por toda ajuda!“, disse.

Por Estadão
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