Mostrando postagens com marcador Entrevista. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Entrevista. Mostrar todas as postagens

Lira aponta excessos aflorando na PF e critica delações como a de Cid

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), diz em entrevista à Folha que o governo precisa ter “cuidado” com excessos que têm aflorado em investigações da Polícia Federal. Para ele, “tem policiais indo além” do que deveriam.

O deputado ainda critica o instrumento de delações premiadas de presos, como ocorreu com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). “Emitir juízo de valor sobre a questão de mérito, não vou fazer, não conheço o conteúdo da delação. Agora ponto pacífico é que delação de réu preso é impossível.”

O presidente da Câmara também afirma que, após o governo ceder dois ministérios e estatais ao PP e Republicanos, o seu partido faz parte da base de apoio ao petista na Casa. Segundo o deputado, Lula terá cerca de 350 votos na Câmara, o suficiente para aprovação de PECs (propostas de emenda à Constituição).

Lira admite que a Caixa estará sob seu comando e que o banco terá indicações políticas, que passarão pelo seu crivo.

Lula nomeou André Fufuca, que era líder do PP, como ministro do Esporte. Isso significa a entrada do seu partido de vez no governo?
Há uma aproximação de partidos de centro que não faziam parte da base do governo para essa adesão. É claro que, quando um partido indica um ministro que era líder de um partido na Câmara, a tendência natural é que esse partido passe a ser base de apoio ao governo na Câmara dos Deputados, como Republicanos, como outros partidos.

Isso significa que todos os 49 votos do PP serão pró-governo?
Não, porque nenhum partido dá todos os votos. Mas eu acredito em uma base tranquila.

Quantos votos o governo tem hoje?
A gente cristaliza a oposição hoje em torno de 120, 130 votos cristalizados. Então, 350, 340 votos, o governo deve estar numa base resolvida, eu penso. O acordo foi mais amplo, envolve outros partidos, tem parte do PL que quer fazer parte e já vota com o governo.

Qual é a situação da Caixa Econômica?
A Caixa faz parte do acordo com os partidos.

Porteira fechada [com as 12 vice-presidências incluídas]?
Esse foi o acordo.

Quando as trocas serão efetivadas?
Eu tenho uma conversa com o presidente Lula por esses dias. Ainda vou ter que conversar internamente no meu partido. Os nomes serão colocados à disposição do presidente, que fará a escolha.

Essa parte do acordo é tratada diretamente com o sr.?
Ali as coisas têm que ser tratadas com muita transparência e vão ser tratadas com muita clareza. E vão ter, claro, indicações políticas que não serão criminalizadas por isso. A turma terá responsabilidade. A exoneração é o primeiro convite para quem não andar corretamente. A conversa inicial era que ou na cota do PP ou na minha cota isso fosse indicado, mas isso será bem ampliado para todos os partidos que fizeram parte do acordo.

Mas essas indicações vão passar pelo sr.?
Penso que sim.

E a Funasa (Fundação Nacional de Saúde)?
Funasa faz parte do acordo com o Republicanos.

Como ficou a relação com o ministro Fernando Haddad (Fazenda) após a declaração de que a Câmara está com muito poder?
Depois ele mesmo consertou. Isso está ultrapassado. [A relação] Sempre foi boa e vai continuar boa.

O plano de déficit zero é factível?
Se tomarmos as medidas, sim. Tem várias oportunidades de se elevar o caixa do governo sem elevar impostos. O governo, o Ministério da Economia e o Congresso terão de trabalhar juntos na busca de uma alternativa. Porque a [medida] que não terá não é aumento de imposto.

Para 2024, acredita em alguma mudança no modelo das emendas parlamentares, já que o governo ficou com parte da verba e isso tem gerado reclamação?
Penso que nós temos que evoluir, seja com emendas de bancada obrigatórias, emendas de comissão obrigatórias ou as individuais para que a política pública siga para o que ela se destina. Eu sempre defendi emenda parlamentar e continuarei defendendo, porque ninguém conhece mais o Brasil do que o parlamentar.

No passado, investigações mostravam que o loteamento político, muitas vezes, era onde aconteciam casos de corrupção. Por que agora pode ser diferente?
Você não pode criminalizar a política. A indicação política é perigosa por causa disso. Você indica uma pessoa, mas não convive com uma pessoa 24 horas, 48 horas, 72 horas. O que tiver de errado na administração pública tem que ser corrigido.

O repasse das emendas também é alvo de investigações por supostos desvios.
Qualquer recurso tem problema. Ao malfeitor tudo: a CGU (Controladoria-Geral da União), AGU (Advocacia Geral da União), a Polícia Federal, Polícia Civil. A gente só não pode criminalizar a emenda parlamentar. É um erro. É ela que diminui as distorções regionais que nós vivemos.

Um ex-assessor do sr. [Luciano Cavalcante] foi investigado pela PF por conta de supostas fraudes na transferência de emendas para a compra de kit robótica.
Isso é uma alegação. Mais um abuso, um excesso. Não tem nada que foi provado com relação a isso, inclusive toda essa operação foi anulada [pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal] e vocês sabem o porquê. Ao final e ao cabo, quando ela tiver o seu desfecho, as pessoas que fizeram serão todas responsabilizadas.

Eu não estou aqui julgando ninguém, estou dizendo por mim, que fui massacrado durante dois meses: aliados de Lira, parentes de Lira, assessor de Lira. Então, tudo a seu cabo, essa operação que aconteceu, que trata de um assunto depois que foi totalmente desvirtuado, ela foi anulada pelo STF, por vício de iniciativa, perseguição de alvos, direcionamento de investigação. Não teve sorteio de procurador para atuar no caso. Então, ela é eivada de irregularidades. E, ao final, todos serão responsabilizados.

Ela foi anulada a pedido da sua defesa. Havia preocupação de onde a investigação podia chegar?
Não. Foi porque um delegado não pode pegar uma matéria de jornal falsa ou verdadeira e se dirigir para investigar o presidente da Câmara usando terceiros alvos para isso. Então, com muita tranquilidade, eu rebati o tempo todo e disse o tempo todo: o meu CPF não. Não tem nada nas minhas contas, não tem nada na minha vida pessoal, não tem nada nas minhas prefeituras que me desabone ao longo da minha vida. Quem defende a emenda como eu defendo não seria louco de estar na posição que estou e fazer qualquer tipo de coisa errada com relação a isso. Quando a gente perde o limite dos excessos, quando a polícia vira política, a gente tem dificuldades no país.

Quando o sr. fala em responsabilizar, está falando de investigadores?
Eu já entrei com representação no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), vou entrar com representação no CNJ (Conselho Nacional de Justiça), e tomarei as providências com relação a quem fez as investigações de maneira dirigida.

Há desconfiança e reclamações em relação à atuação do ministro Flávio Dino (Justiça), principalmente em relação à PF?
A questão do ministro Flávio Dino, comigo, a relação é muito boa. No Parlamento, ele tem lá suas dificuldades com a oposição, é normal do processo. O que não deve ter é uma polícia política, para nada. Isso é o pior dos mundos. Nem um polícia com autonomia para fazer o que quer. Nós não temos isso. Polícia é órgão de estado para cumprir determinações legais.

Mas as críticas à atuação política da PF existem há vários governos. Há uma atuação mais política neste governo?
O governo tem que ter esse cuidado. O atual governo, eu tenho dito, tem que ter esse cuidado com alguns excessos que estão aflorando. Eles tinham sido resolvidos e estão aflorando de novo com muita particularidade.

Tem exemplo?
Tem vários. Tem o [general Walter] Braga Netto, tem outros aí. Polícia Federal não trabalha nem como promotor de Justiça, nem como juiz. Ela tem que ir até a investigação. Acabou a investigação, acabou o papel. Ela não pode ir além disso. Tem policiais indo além disso.

O que o sr. acha de a PF fechar acordo de delação sem o MPF [Ministério Público Federal?
Ruim. Tem que ter o aval [do MPF]. De qualquer maneira, o Ministério Público é o dono da ação. Se ele não participa, se ele não vê, se ele não discute, na frente, como é que vai andar? Então, acho que quando você começa a extrapolar os seus limites, você começa a desvirtuar o sistema institucional brasileiro.

Bolsonaro e aliados têm sido alvo de investigações. O tenente-coronel Mauro Cid [ex-assessor de Bolsonaro] acabou de fechar uma delação premiada que, especula-se, deve mirar no ex-presidente. O sr. vê excessos de investigadores nesse caso?
Eu sempre condenei, ontem e hoje, delação de réu preso. Todo mundo era contra a delação de réu preso lá atrás. Nós estamos tratando de delação de réu preso hoje de novo, feita pela Polícia Federal. Emitir juízo de valor sobre a questão de mérito, não vou fazer, não conheço o conteúdo da delação. Agora ponto pacífico é que delação de réu preso é impossível.

Como está a sua relação com o ex-presidente Bolsonaro?
Falei com ele na reforma tributária, pedindo o apoio do PL. Não haveria porque aquele posicionamento [contra a reforma].

Ele está morto politicamente?
Nem de longe. Não sou eu que vou averiguar e verificar uma pergunta dessa. Ele foi julgado inelegível, politicamente é muito amplo, ele pode funcionar como cabo eleitoral, ele pode apoiar outro candidato, ele pode reverter uma decisão dessa no Supremo. A gente já viu tantas dificuldades. O presidente Lula é um exemplo vivo disso.

Quem vai herdar os votos do Bolsonaro?
Não tenho a menor ideia. Não falo sobre conjecturas. Ninguém se colocou para isso ainda.

Mas o sr. e o PP veem mais provável uma aliança no futuro com Lula ou com a oposição?
Você não vai querer resolver 2026 em 2023. Então, ninguém na vida até a morte está morto para nada.

E qual o seu futuro? Se um ministério for oferecido, o sr. considera?
Não falo sobre conjecturas.

RAIO-X | ARTHUR LIRA, 54
Deputado federal por Alagoas, está no quarto mandato. Foi eleito presidente da Câmara em fevereiro de 2021 e reeleito em 2023. Antes, foi vereador em Maceió por duas legislaturas e deputado estadual por três. Filiado ao PP desde 2009, passou antes por PFL, PSDB, PTB e PMN.

Julia Chaib, Thiago Resende e Camila Mattoso/Folhapress

O melhor que a esquerda faz por Lula é criticá-lo, diz João Santana à Folha

O marqueteiro João Santana, 70, preferiu a discrição enquanto cuidava da campanha de Ciro Gomes (PDT) à Presidência em 2022, destoando da exposição que tinha quando trabalhou com os petistas Lula e Dilma Rousseff, até cair na infâmia ao ser preso pela Operação Lava Jato.

Santana, geralmente avesso a entrevistas, recebeu a Folha em seu escritório, em Salvador, na quarta-feira (17), para fazer um balanço da eleição do ano passado —que lhe rendeu uma amizade íntima com Ciro— e dar opiniões sobre a comunicação do atual governo e o legado de Jair Bolsonaro (PL).

“O melhor que a esquerda pode fazer por Lula é criticá-lo”, afirma o baiano, que se identifica com esse campo ideológico e diz que é um erro deixar o bolsonarismo monopolizar a crítica ao presidente.

Condenados por lavagem de dinheiro de caixa dois, Santana e sua esposa e sócia, Mônica Moura, fecharam acordo de delação premiada em 2017. Devolveram cerca de R$ 80 milhões, cumpriram penas nos regimes fechado e semiaberto, usaram tornozeleira e ainda prestam serviços comunitários.

O marqueteiro se recusa a citar nomes por não ter provas, mas diz suspeitar da prática de caixa dois por outras campanhas em 2022. “Você desenvolve o olfato e percebe algumas movimentações.”

Após tanto tempo recluso, por que resolveu falar agora? Há uma mudança de estilo de acordo com o tempo de vida e maturidade. Eu realmente queria ter o mínimo protagonismo possível. E porque acho que tem algumas coisas em que posso contribuir levemente para a reflexão política e de comunicação.

A derrota de Ciro foi também uma derrota do sr., antes acostumado a vitórias. O que aconteceu? São vários fatores. Na vida, como na política, algumas derrotas são inevitáveis. O importante é a forma de encará-las.

Sem demérito de ninguém, nunca tive um candidato no nível de Ciro, mas ao mesmo tempo nunca vivi uma campanha com tantos impedimentos políticos, técnicos e conjunturais, escassez de meios e tantas dificuldades estratégicas e táticas.

Quais? A eleição de 2022 é definida, com razão, como a eleição do ódio e do medo, mas acho que foi principalmente a eleição da covardia. Para muitas camadas da população, e infelizmente grande parte delas propensas a votar no Ciro, predominou do ponto de vista psicológico uma covardia.

Existia a polarização, mas mesmo aqueles eleitores com um voto cristalizado tinham sempre uma segunda opção, que era Ciro. Mas havia a covardia de votar e ele perder e a da mudança, pelo conforto que eles imaginavam ter adquirido debaixo daquela asa protetora da primeira opção eleitoral.

E qual era a estratégia? Ciro tinha duas batalhas: uma interna, no partido, e outra externa. Para vencê-las, tinha que fazer barulho, uma coisa combativa. O caminho era uma campanha com discurso contundente, político, moral e administrativo, com propostas ousadas, mas sedutoras, e ao mesmo tempo de combate permanente aos dois lados. Não me arrependo.

Os ataques a Lula eram fruto da soma das mágoas do sr. e de Ciro, como se dizia? Quando eu ouvia isso, a vontade que tinha era de dar risada. O Ciro pode ter mágoas por ele, mas o sentimento político era mais forte do que qualquer mágoa de natureza pessoal.

Não tenho mágoa do Lula. Tenho admiração e carinho pela Dilma, mas, que ela poderia ter atuado de forma mais carinhosa pessoalmente, não anti-institucional, durante a tragédia que eu e Mônica vivemos, isso poderia.

Ciro foi criticado, inclusive por aliados, pelo tom contra a Lula. O sr. o aconselhou a moderar, como se noticiou? Não exatamente dessa maneira. O calor de uma campanha e de uma personalidade como a de Ciro às vezes pode provocar esse tipo de reação. Era uma campanha emocional, mas vigorosa e verdadeira. É difícil estabelecer certo ponto de equilíbrio quando você está num combate pleno.

O lulismo semeou a visão equivocada de que, ao fazer isso, Ciro estaria concorrendo para a vitória do Bolsonaro. Isso é errado porque tínhamos potencialmente condições de arrancar voto de um lado e do outro. E ninguém tinha condições de ganhar em primeiro turno. Era um raciocínio para justificar a necessidade de preservar a democracia. E esse tortíssimo argumento predomina hoje com outro formato.

Qual? É o de dizer: “Olha, minha gente, não vamos criticar o Lula porque isso é fortalecer o Bolsonaro, é correr um risco”. Isso é um absurdo e um mal sem tamanho para o Lula e para a democracia.

Vincular a sobrevivência do sistema democrático ao bom desempenho de um indivíduo é já de antemão apregoar sua fragilidade. Para quem quer ajudar o Lula a fazer um bom governo —e estou entre eles, jamais quero que o Lula fracasse e que ocorra um retrocesso—, a coisa melhor a fazer é criticá-lo.

Deixar o monopólio da crítica com Bolsonaro é um erro por causa de uma lógica mecânica: se um elemento [Bolsonaro] tem esse poder, e o outro [Lula] fracassa, isso vai levar o movimento em direção ao primeiro. Não se pode deixar o Lula livre, leve e solto para cometer os erros sem advertência, sem críticas.

E quais as suas críticas? Há muitas coisas elogiáveis. O governo não está mal, está começando, driblando algumas dificuldades, cometendo alguns erros e esquecendo algumas coisas.

O próprio Lula acho que disse que o governo dele era de transição. Para onde? Precisa apontar. As grandes discussões nacionais continuam sem ocorrer. Não ocorreram na campanha. A única voz que se levantava era a de Ciro.

Agora, a coisa mais importante a se fazer é melhorar Lula, não piorar Bolsonaro. Piorar o péssimo? Não. [Precisamos] melhorar aquilo que já é bom. O Lula tem coisas boas, mas é uma pessoa naturalmente comodista e conciliadora em excesso.

Como avalia a comunicação do governo? Fala-se muito que o governo tem problema de comunicação, mas acho que, na verdade, a comunicação sofre problemas de governo. Raramente um governo com um projeto de nação concreto e um plano de ação claro tem problema de comunicação.

O protagonismo excessivo de um líder quase narcísico e a repetição retórica monótona não são suficientes, como também não é suficiente vender doses de empatia e de institucionalidade. O Lula precisa tomar cuidado para que o discurso da miséria não vire a miséria do discurso. Só que as dificuldades de governo são grandes também. Não se pode culpar a comunicação por tudo.

Mas quais são as falhas? Precisa ter uma comunicação mais mobilizadora e linhas definidas para algumas áreas sensíveis, como: economia, Amazônia, evangélicos, questão militar, agro. Hoje, no mundo ambientado nas redes, boa parte da comunicação tem que ser segmentada, com núcleos digitais. Não é essa história de gabinete do ódio, para passar campanha negativa, mas para disseminar conteúdos.

Como vê a estratégia da guerra contra o Banco Central? É duplamente acertada. Do ponto de vista filosófico, é correta porque autonomia do BC num país como o Brasil não tem muito sentido da forma como foi implantada. E, do ponto de vista tático, ele criou um ponto de combate interessante. Essa tática de criar inimigos para dispersar algumas atenções é importante. Qualquer governo faz isso. O que pode é também, de vez em quando, dosar a ação retórica e produzir ações mais concretas.

Sua atuação com Ciro, que apontava corrupção em Lula e no PT, não era um ponto frágil da campanha? Não diria frágil eleitoralmente. Era mais constrangedor para mim do que para o Ciro, porque me associar de uma forma injusta à corrupção, o que nem o próprio [Sergio] Moro fez, não tem sentido.

Com erro de caixa dois, sim, como 99,9% dos marqueteiros brasileiros. Não há nenhum que eu conheça que não tenha recebido. Depois dessa cruzada [da Lava Jato], de absurdos que foram cometidos contra mim, eu imaginava que fosse melhorar essa situação. Não é o que me parece que aconteceu.

O sr. se refere a caixa dois? Posso dizer que houve uma campanha em 2022 que o marketing não recebeu um tostão de caixa dois, que foi a nossa, mas não posso dizer que isso aconteceu em todas. Não estou acusando nem denunciando ninguém, mas os indícios, os rumores, as conversas [existem].

Possui provas? Não, mas você desenvolve o olfato e percebe algumas movimentações. Não me pergunte quem, quando, como, que não vou falar, nem sob tortura. Aliás, falando em tortura, sei o que é isso [referência ao período da prisão e delação].

A Lava Jato é uma história que ainda não acabou, não em relação a mim, mas em tudo —tanto para os supostos transgressores da lei como para aqueles que usaram a lei para transgredir.

Sua presença na campanha de Ciro dificultou o apoio de Marina Silva, que chama o sr. de inventor das fake news no Brasil por causa dos ataques da campanha de Dilma a ela em 2014? No fundo, ela já sabia a quem iria apoiar [Lula], que ela tinha mais convicção da chance de vitória. Ela queria um barco seguro.

E veja ao lado de quem ela está hoje em dia: o Lula, o PT, todos que fizeram essa campanha contra ela. O João Santana foi um artífice, um finalizador. Alguns dos provedores de informações que deram o argumento do supervalorizado comercial do Banco Central hoje almoçam e jantam com ela. Não vou dizer os nomes.

E ela não sabe que esse João Santana, que ela diz ser esse personagem maléfico, segurou uma série de argumentos que chegaram com ataques pessoais terríveis contra ela e a família dela.

O sr. reconhece que, após a vitória de Dilma em 2014, houve estelionato eleitoral ou ao menos uma mudança de rumos em relação ao que foi apresentado na campanha? Na época, foi surpreendente para mim. Com a intimidade que eu tinha com a presidente Dilma e com a cúpula do governo, não fui suficientemente informado da situação econômica durante a campanha, ao contrário.

Se eu tivesse sido, não que fosse mudar radicalmente a linha da campanha, mas a dosagem poderia ter sido menos ufanista, menos “poliana”, menos otimista. Às vezes, acho que a própria Dilma não tinha consciência plena da situação ou pelo menos de um agravamento.

E para 2026, o que prevê? É uma incógnita. Antes de 2024, não dá para prever nada. Vamos ter as eleições municipais mais importantes desde 1985. Contrariando a tradição, elas serão extremamente nacionalizadas e essa coisa da bipolaridade vai estar muito presente.

Pretende trabalhar em outras campanhas? Não é que eu não queira, mas não sei nem o formato em que eu possa voltar a atuar. Estou hoje vendo algumas coisas muito mais do ponto de vista teórico. E estudando, escrevendo, fazendo música e cuidando dos meus netos.

RAIO-X | JOÃO CERQUEIRA DE SANTANA FILHO, 70

Jornalista de formação, foi marqueteiro político das campanhas presidenciais de Lula (2006) e de Dilma Rousseff (2010 e 2014) e do PT. Atuou em 11 eleições presidenciais, com 8 vitórias em 7 países. É casado com a jornalista Mônica Moura, sua sócia. Foram presos pela Operação Lava Jato em 2016 e condenados por lavagem de dinheiro de caixa dois de campanhas. Fizeram delação premiada e hoje ainda cumprem serviços comunitários. Ambos cuidaram da campanha de Ciro Gomes (PDT) à Presidência em 2022. Também músico, Santana lançou em 2020 o álbum “Suave Distopia”, com Jorge Alfredo.

Joelmir Tavares, Folhapress

Arcabouço fiscal de Haddad lembra tentativa de pacto com diabo, diz Lindbergh, do PT

O deputado federal Lindbergh Farias

Crítico da proposta de déficit primário zero para o ano que vem, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) compara a proposta de nova regra fiscal apresentada pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) à tentativa de pacto demoníaco descrita na obra-prima de Guimarães Rosa “Grande Sertão: Veredas”.

O petista afirma que o anúncio do arcabouço gerou no governo uma expectativa de redução das taxas de juros projetadas pelo mercado neste ano que não se concretizou.

“Eu me lembro do ‘Grande Sertão: Veredas’, em que Riobaldo tenta vender a alma ao diabo e o diabo nem responde. É mais ou menos o que está acontecendo com o arcabouço.”

Na opinião de Lindbergh, a proposta de Haddad para conter gastos desconsidera o atual cenário de baixo crescimento do país –visto como desastroso pelo deputado. “Você conhece esse Congresso Nacional. Se aumenta desemprego, se tem esse cenário de estagnação, consequentemente, vai ter queda de popularidade e crise política”, afirma.

Ele diz que vai discutir alterações via emendas no projeto do governo e que, se puder, vai falar com Lula sobre o tema. “Talvez esteja havendo uma subestimação da gravidade do cenário econômico. Algumas pessoas podem estar achando que não está essa coisa tão ruim. Para mim é muito ruim”.

PERGUNTA – Por que expor ressalvas à regra fiscal agora?
LINDBERGH FARIAS – A grande força do Lula é muito ancorada no que foram seus governos. Houve crescimento econômico, geração de emprego, distribuição de renda… Estamos muito preocupados com a desaceleração da economia. Bolsonaro deixou uma armadilha. Entregou uma economia ladeira abaixo. É claro que isso é agravado pela política monetária do [presidente do Banco Central] Roberto Campos Neto. É a maior taxa de juros do mundo. Está quebrando empresas. Foram 103 casos de recuperação judicial só em fevereiro.

Mas, para integrantes da esquerda, o arcabouço é melhor que o teto.
L. F. – Sim. Mas insuficiente. O boletim Focus trouxe nova estimativa de crescimento do PIB. A previsão deles [mercado] para o PIB é 0,9% este ano e 1,48% no outro ano. Politicamente é desastroso para a gente. Você conhece esse Congresso Nacional. Se aumenta desemprego, se tem esse cenário de estagnação, consequentemente, vai ter queda de popularidade e crise política.

Como o PT pode atuar?
L. F. – Colocar agenda do crescimento e da geração de empregos como prioridade. Já não temos a política monetária. Em um momento como este, qualquer política fiscal que signifique restrição de investimentos e gastos sociais pode aprofundar a crise e derrubar mais a economia. Juntar o aperto monetário a um aperto fiscal é uma tempestade perfeita. A gente quer contribuir, ajudar a melhorar. Saiu essa proposta do governo. Vamos ver quando chegar escrita. É tentar fazer alterações, emendas, para melhorar o projeto e para atenuar riscos de cometer um erro de fazer ajuste fiscal no cenário de desaceleração econômica.

Mas a proposta prevê crescimento contínuo de gastos.
L. F. – Pode não ser real. Essa coisa do déficit primário zero no próximo ano, achamos um equívoco. Vou tentar influenciar no debate aqui no Parlamento e internamente no PT. O Haddad fala em aumentar receitas em R$ 150 bilhões. Mas são muitas variáveis. Se a economia desacelera muito, fica difícil aumentar a receita. Muitas dessas propostas têm que passar pelo Congresso. A gente sabe como funcionam os lobbies na hora de acabar isenções. Caso ele não consiga ter essa arrecadação, ao se comprometer com esse déficit, o que é que vai ter que acontecer? Corte de gastos, programas sociais.

O déficit é primeiro ponto?
L. F. – Rever a meta de déficit primário zero é fundamental. Essa discussão do arcabouço, o que se achava? Se apresentarmos arcabouço, poderemos gerar uma situação no mercado em relação a juros e tudo mais. O boletim Focus, que mede a opinião do mercado, saiu hoje. É um absurdo total: [previsão é que o BC vai] manter a taxa de 13,75% até o final do ano. Eu me lembro do “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, em que Riobaldo tenta vender a alma ao diabo e o diabo nem responde. É mais ou menos o que está acontecendo com arcabouço. O arcabouço entra e o diabo nem respondeu. O mercado manteve os mesmos 13,75% [de previsão]. Minha preocupação é com o sucesso do governo do Lula.

Isso foi debatido com o presidente. Lula está equivocado?
L. F. – Não chegou na bancada. O PT não se reuniu para discutir esse tema. Vai ter muito debate no Congresso. Vai ter líder de partidos aliados que vai querer emendar por um lado. É natural que o PT também apresente sugestões e emendas. Queremos melhorar o projeto do governo.

Por exemplo, quais seriam essas emendas?
L. F. – A punição tem que ser revista. Digamos que a economia desacelere muito e a gente não atinja a meta no próximo ano, por exemplo, do déficit primário zero com a banda de 0,25 para cima e 0,25 para baixo. Se não atingir a meta é porque a economia está muito fraca. Justifica você reduzir mais as despesas de 2025, em vez de 70% para 50% das receitas apenas?

E a banda?
L. F. – Acho que essa banda de 0,6% a 2,5% poderia ser mais flexível. Se a gente tiver uma recessão e a economia cair três pontos, a gente só vai aumentar a despesa em 0,6%. É uma ação anticíclica muito tímida. Por outro lado, se as receitas aumentarem muito, como foram no período do governo Lula 1 e 2 ali, se você limita só a 2,5%, estamos fazendo uma trava muito grande.

Quando falou em pacto do diabo…
L. F. – Nesse caso, é o mercado de Roberto Campos Neto. A gente apresentou o arcabouço e eles nem se moveram. Mantiveram a projeção de juros.

Mas isso não é porque ainda não foi detalhado? Tem o cenário internacional.
L. F. – Veja a última ata do Copom. Esses caras estão endurecendo muito. Uma tese que é clássica na esquerda é a seguinte: no momento que a economia está crescendo, você faz superávit. No momento que a economia desacelera, o investimento tem um multiplicador muito grande. Estamos amarrando as mãos do nosso próprio governo para no momento desaceleração, a gente não ter o único instrumento disponível. Porque tem um outro instrumento que é a política de juros, monetária. Mas eles não vão dar colher de chá para a gente.

A sinalização do BC é essa, clara?
L. F. – Sinalização clara.

Um argumento é que o Copom não captou ainda o efeito do arcabouço.
L. F. – Na nossa avaliação, isso é um erro. Temos um presidente do Banco Central indicado pelo Bolsonaro. Tem a discussão sobre autonomia. Campos Neto é o maior inimigo do sucesso do governo Lula. Ele está jogando economia lá embaixo. Essas quebradeiras da empresas é gente que pegou empréstimo a 2% e está em 13,75%. Acho que o governo devia pensar em atitudes mais duras como no Conselho Monetário Nacional, que pode pedir a troca. Se nós errarmos na dosagem desse arcabouço, vai virar uma política monetária restritiva ao crescimento com uma política fiscal também restritiva. Aí é um cenário que infelizmente vejo dois anos de muita crise. Isso não é justo com a própria história do Lula.

O sr fala na primeira pessoa do plural? Fala com outros petistas que dividem a mesma preocupação?
L. F. – Muita gente preocupada. Todo mundo querendo ajudar. A gente quer que dê certo. A gente quer que Haddad dê certo. Por isso que a gente quer melhorar essa regra fiscal.

Mas não é só o Haddad. O Lula aprovou essa proposta.
L. F. – É uma proposta do Haddad. É uma proposta do Lula. Se eu tiver oportunidade de falar com o Lula, vou falar dos riscos desse cenário. Talvez esteja havendo uma subestimação da gravidade do cenário econômico. Algumas pessoas podem estar achando que não está essa coisa tão ruim. Para mim é muito ruim.

Mas o próprio Lula falou que está mais otimista do que o mercado.
L. F. – O Lula sempre foi um otimista. Ele tem que falar isso. Mas ele tem que entender os riscos embutidos nesse cenário. Temos enfrentamento, polarização na sociedade com a extrema-direita. Isso aqui é importante para o sucesso do governo Lula, mas [também] para a democracia. Não podemos aceitar que o mercado imponha um cenário de estagnação. Isso é devastador. Vivi aquele ano 2015 de forma muito intensa.

A economia pesou para o afastamento de Dilma.
L. F. – Ali a gente viu o desemprego crescendo em 2015. Aquilo foi o combustível para todo o processo depois contra a presidenta Dilma. Então eu acho que a gente não pode aceitar esse cenário que estão querendo nos impor. Eu dormiria. Durmo, mas acho que o Lula tem que pensar em duas coisas: crescimento e geração de empregos. A gente está se auto impondo regras fiscais muito rígidas. Para ganhar a confiança de quem, de Campos Neto, desse mercado aí?

Isso o surpreendeu com Haddad? Dizia-se que a escolha de Haddad seria a garantia de que Lula seria ouvido sobre política fiscal. Isso o surpreendeu negativamente?
L. F. – Acho que sim, porque estão vendendo um discurso que o Lula está comprando. É um discurso que é o seguinte: “vamos fazer tudo isso pelo lado da receita”. Até aí tudo bem. Ok. E se não der certo? Ao se comprometer com déficit primário zero, vamos ter que cortar no meio da crise.

Por estar contando com uma arrecadação que não se sabe se vai concretizar?
L. F. – Acho que na cabeça do Lula está muito isso: “é pela receita; não vou cortar despesa”. Mas o projeto, essa meta de déficit primário zero, impõe isso. Porque se você não conseguir a receita, vai ter que cortar. Se não corta, no outro ano, de 2025, só vai poder gastar 50%. Isso é trabalhar com cenário incerto. É prometer muito. Isso pode custar um preço muito alto.

O governo deveria comprar uma briga e pedir a saída do Campos Neto?
L. F. – Isso já devia estar sendo articulado no Senado. A tirada do Campos Neto hoje é fundamental. Ele foi colocado pelo Bolsonaro. Participava de um grupo “ministro do Bolsonaro” agora em janeiro. Ele não quer que o governo dê certo.

Catia Seabra/Folhapress

Há muita gente boa presa após o 8/1, diz novo presidente da bancada evangélica

O deputado federal Eli Borges (PL-TO)
Para o novo líder da bancada evangélica, há “muita gente boa” que foi presa após os ataques antidemocráticos em Brasília no dia 8 de janeiro. Segundo o deputado federal Eli Borges (PL-TO), os baderneiros existiram, mas seriam uma “minoria infiltrada” que nada tinha a ver com a “imensa maioria, de boa-fé, na frente dos quartéis cantando o hino nacional”.

O primeiro presidente a assumir o bloco religioso neste terceiro mandato de Lula (PT) faz uma interpretação equivocada da Constituição ao defender que as Forças Armadas “exercem um papel de atender ao clamor popular”. A partir disso, ele diz não ter visto “nada de errado” em pessoas que pediam intervenção militar após a derrota de Jair Bolsonaro (PL).

Borges vai se revezar com Silas Câmara (Republicanos-AM) nos próximos dois anos no comando de um dos grupos mais representativos do Legislativo e que ampliou seu poder no mandato de Bolsonaro.

Em entrevista à Folha, o deputado defendeu remover o direito ao aborto em casos de estupro e criticou a escola de samba paulistana Gaviões da Fiel por causa de seu enredo neste Carnaval, “Em Nome do Pai, dos Filhos, dos Espíritos e dos Santos”, que alarga o conceito da Santíssima Trindade cristã. “Precisamos entender o seguinte: liberdade [de expressão] não é libertinagem.”

O sr. será o primeiro presidente da bancada evangélica no governo Lula 3. Serão oposição? A bancada tem postura de defender bandeiras como a família, luta contra ideologia de gênero, luta pela defesa da vida e contra aborto, contra jogo de azar. Não vamos amenizar nenhuma das pautas que nós defendemos em Brasília. Isso não tem nenhuma correlação com os outros Poderes, nem Supremo [Tribunal Federal], nem Lula.

Vê o governo Lula como oposto a esses valores que o bloco defende? Não sou eu que vejo, ele [Lula] que verbalizou muitas vezes um pensamento diferente daquilo que mais de 80% da população conservadora prega e defende.

Mas a eleição do Lula não valida um apoio da população às pautas que ele defende? De alguma forma, o Lula teve apoio, sim. A igreja não é política nem tem partido político. Dentro do segmento evangélico, naturalmente o Lula teve um percentual significativo de pessoas que sempre acreditaram que ele não faria exatamente aquilo que ele estava pregando.

Por exemplo, o aborto. Ele disse que o aborto é uma questão ligada à saúde da mulher. Nós temos uma visão diferente disso.

O sr. trocou em 2022 o Solidariedade pelo PL e disse que o país precisava de Bolsonaro. Considera-se um bolsonarista? Eu me considero um deputado federal que tem afinidade com as bandeiras que Bolsonaro defende. Até porque tenho uma postura política muito interessante. Se você analisar as minhas votações, elas são votações que estão muito ligadas à minha consciência. O Solidariedade foi para o PT, e eu tinha que ficar onde eu estava inserido nas bandeiras que eu defendo. Nesse momento que passou, esse lado era o do Bolsonaro.

Alguns pastores se disseram decepcionados com o comportamento de Bolsonaro após a derrota eleitoral. E o sr.? Entendi que ele apenas exercitou a prudência que deveria ter e não se envolveu em função de estarmos vivendo, entre aspas, uma ditadura da toga no Brasil. E isso com certeza levou o Bolsonaro a exercitar o espírito prudente nesse tempo de início do governo Lula. Ele é um ser humano, e nós temos que respeitar.

O que é a “ditadura da toga” e como ela afetaria o Bolsonaro? Venho falando que nós vivemos um ativismo judicial. Por exemplo, este 8 de janeiro: quero compreender que tem uma pequena minoria de baderneiros infiltrados e, às vezes, algumas pessoas na sua simplicidade, mas eles não representam o pensamento da maioria dos brasileiros. Tem muita gente boa que está buscando a sua liberdade e está presa.

Esse ativismo antecede [o 8 de janeiro]. Nós tivemos interferência do Supremo em muitos assuntos, como ideologia de gênero, aborto. Acho que não são matérias do Supremo. Judiciário tem que julgar leis, e quem faz as leis é o Parlamento.

Concorda com a definição de que o 8 de janeiro foi um ato antidemocrático? Concordo que uma pequena minoria de baderneiros infiltrados praticaram atos antidemocráticos. Porém a imensa maioria, de boa-fé, na frente dos quartéis cantando o hino nacional com a bandeira nacional, estava a serviço da consolidação da democracia brasileira. Esse é o meu pensamento.

Houve participação evangélica forte nesses atos. Vi todos os segmentos religiosos que defendem as cores da nossa bandeira, a nossa brasilidade, vi todos na porta dos quartéis. Evangélicos, católicos e espíritas na luta pela democracia.

Na porta dos quartéis havia pedidos de intervenção das Forças Armadas diante de um resultado das urnas que, segundo eles, não seria confiável. Considera que isso também faz parte da consolidação da democracia? Se você abrir a Constituição está muito claro: as Forças Armadas exercem um papel de atender ao clamor popular, e essa população foi fazer um clamor que a Constituição define como um direito constitucional. Não vi nada de errado na sociedade fazer o seu clamor.

A bancada terá um trio de parlamentares novatos sob investigação por supostamente incentivar os atos em Brasília: Clarissa Tércio (PP-PE), Sílvia Waiãpi (PL-AP) e André Fernandes (PL-CE). Conversou com eles? Não conversei. Como disse, aqueles que exercitaram a sua liberdade de manifestação, dentro da visão democrática, excetuando aqueles que fizeram baderna e se infiltraram para criar uma situação, exerceram direitos democráticos.

A bancada vai realizar o tradicional culto, com ceia, em que são chamados os chefes dos Poderes. Gostaria que Lula fosse a esse culto? Se ele for com uma alma buscar os valores, todos estão convidados.

Nas últimas eleições, tem-se discutido sobre um suposto abuso do poder religioso, transformando púlpito em palanque. Qual sua visão sobre a defesa de candidatos em igrejas na campanha? Nos sindicatos, eles têm os seus candidatos. No segmento bancário eles têm os seus candidatos. Qual é o problema de a igreja também ter os seus?

O poder que pastores têm sobre a igreja, como liderança religiosa, não é diferente dos outros setores que o sr. citou? Não quero comparar igrejas a sindicatos, só disse que cada segmento tem o seu candidato.

O que vi foi muita atuação de líderes importantes do Brasil num nível de orientação. E, se eles exercem uma influência em sua membresia, entendo que isso é fruto da liberdade democrática, já que a igreja é composta por cidadãos.

Quero deixar claro que não concordo com excessos, que a igreja exerça uma ditadura sacerdotal em cima da membresia. Temos que respeitar o direito do voto, o foro íntimo da liberdade dos eleitores, mas devo dizer que a igreja tem que ter os seus candidatos.

Bolsonaro continuará contando com o apoio maciço que teve dos evangélicos em 2018 e 2022, se quiser e puder disputar eleições no futuro? Não posso ser vidente para daqui a quatro anos. Entendo que, se ele continuar defendendo o que as igrejas defendem, vai conseguir esse apoio. Se o Lula se converter e começar a defender o que defendemos… A igreja não tem partido.

A Câmara discute o Estatuto do Nascituro, que propõe impedir o aborto em casos de estupro, o que hoje a legislação aceita. O que o sr. acha da proposta? Neste jogo que fazem, esquerda contra direita, prefiro colocar a mãe que foi violentada. Tem omissões aí, que é esta criança. Será que ela também deveria falar no processo, dizendo: “Olha, não tenho culpa de nada, sou uma vida, tenho direito de nascer”? É importante pensarmos que tem essa figurinha lá, que a mãe emprestou sua barriga para que ela nasça.

Só para deixar claro, o sr. é favorável a remover esse direito específico ao aborto da legislação? Não concordo que tenha aborto no Brasil. Defendo a vida desde o nascituro. Defendo a vida, e o dono da vida é Deus.

A bancada se posicionou contra o que viu como profanação de símbolos cristãos no Carnaval da Gaviões da Fiel. Por quê? Vejo no Brasil uma cristofobia forte. Temos que oferecer uma reação. Queremos respeito ao nosso culto. Isso inclusive é uma garantia constitucional.

Essa questão da cristofobia é real em vários países, onde vemos perseguição e até morte de cristãos —o que não acontece no Brasil. Já a intolerância religiosa afeta sobretudo crenças de matriz africana e é praticada por evangélicos em muitos casos. Não tenho direito, como cristão, de questionar a liberdade religiosa dos cultos afros. Não posso aqui dizer que concordo com a forma que eles têm, claro que não vou concordar. Mas compreender que são um povo num Estado laico. Agora, grupos sobretudo de ativistas se levantando contra a visão da igreja, aí sim vejo uma certa intolerância religiosa, e temos que começar a reagir. Precisamos entender o seguinte: liberdade não é libertinagem.

No mesmo fim de semana, um pastor americano disse num congresso da Assembleia de Deus, não muito longe do Congresso, que homossexuais, trans e até quem usa calça apertada têm reserva no inferno. O sr. acha que falas como essa têm respaldo constitucional? Olha, deixa eu ser claro. Uma coisa é uma escola de samba, devidamente organizada, com a clara visão de afrontar mesmo a fé brasileira. Outra coisa é uma preleção de um pastor que, dentro do regramento de sua fé, com a Bíblia aberta, se posicionou. Tenho o direito de verbalizar minha visão de sociedade desde que eu esteja enquadrado no meu manual, que é a Bíblia.

Um pastor pode ter liberdade, essa liberdade de pregar, e uma escola de samba de fazer alusões à Santíssima Trindade que serão encaradas como desrespeitosas por uma parcela da sociedade. É uma visão que você passa, a de que uma liberdade de expressão pode ocorrer de forma excessiva. Discordo. O pastor estaria errado? Ele pregou dentro da visão da Bíblia. O problema é que a igreja é muito serena, não está reagindo. Estamos vivendo uma cultura em que um segmento da sociedade pode tudo, questiona tudo, fala tudo, mas é muito sensível quando tem um contraponto.

Mas, dentro dessa visão, a Gaviões não poderia se posicionar? Aí você tem que fazer uma pergunta para o artigo 208 do Código Penal. Numa sociedade ordeira, decente, democrática, as instituições religiosas precisam ser respeitadas.

RAIO-X | ELI BORGES, 62
Deputado federal pelo PL de Tocantins, conquistou o primeiro mandato na Câmara em 2018. Foi antes deputado estadual. Pastor da Assembleia de Deus Madureira, define-se como “o pastor da família e do agronegócio”. Assumiu a presidência da bancada evangélica em 2023.

Anna Virginia Balloussier e Cézar Feitoza, Folhapress

Neto diz que eleição na Bahia será plebiscitária e Roma será votado por um nicho

Pré-candidato a governador da Bahia, ACM Neto (União Brasil) não acredita que haja espaço para uma terceira via na eleição estadual. Para ele, o pleito será uma disputa entre ele e o candidato da situação, Jerônimo Rodrigues (PT). “É uma eleição totalmente plebiscitária. Eu tenho uma pesquisa interna, que eu fechei essa semana, que mostra claramente. Hoje, a gente, graças a Deus, em uma posição muito a frente, muito vantajosa. Imagino que o pré-candidato do PT ainda tem algum espaço de crescimento, natural. Tem a máquina, né, tem a história do PT na Bahia, mas não vejo o espaço para qualquer alternativa”, disse ACM Neto, em entrevista ao jornal Tribuna.

O ex-prefeito de Salvador afirmou ainda que o candidato bolsonarista João Roma (PL) ao governo da Bahia deve ser votado por um nicho apenas. Neto negou que atue para retirar a candidatura de João Roma. “A candidatura de João Roma pertence a um nicho, na minha visão, bastante limitado do espectro político. Mas ela é legítima e deve ser respeitada. E, da minha parte, jamais houve nem haverá qualquer desejo de retirar a candidatura dele, até porque eu não tenho nenhum entendimento nem com o PL nem com as forças que ele representa”, declarou.

Ainda na entrevista, ACM Neto fala sobre a definição do seu candidato a vice-governador, da participação em debates eleitorais, e faz uma análise do cenário nacional. O ex-prefeito não descartou a possibilidade de apoiar Lula (PT) em um eventual segundo turno entre o ex-presidente e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL). “Eu não descarto nada agora. Não descarto nenhuma hipótese”, disse ele.

Tribuna – O senhor acha que a eleição na Bahia será plebiscitária?

ACM Neto – Ah, eu acho que já está. Claro que é, né? Nunca duvidei disso. É uma eleição totalmente plebiscitária. Eu tenho uma pesquisa interna, que eu fechei essa semana, que mostra claramente. Hoje, a gente, graças a Deus, em uma posição muito a frente, muito vantajosa. Imagino que o pré-candidato do PT ainda tem algum espaço de crescimento, natural. Tem a máquina, né, tem a história do PT na Bahia, mas não vejo o espaço para qualquer alternativa. Então, está claro, e até pela polarização dos debates, das declarações, eu não tenho dúvida que é uma eleição de dois lados.

Tribuna – O deputado federal Elmar Nascimento, do União Brasil, declarou que era melhor o ex-ministro João Roma retirar a candidatura ao governo da Bahia. Disse ele que até conversou com o governo federal. O senhor acha que Roma tira votos seus?

ACM Neto – Eu não concordo com a declaração do deputado Elmar, com todo carinho e amizade que temos. E com o respeito que eu tenho a ele. Ele é líder do meu partido e tem o direito de dizer o que ele pensa. Mas, eu em nenhum momento articulei, trabalhei para retirar a candidatura do deputado João Roma. O deputado, tendo o título eleitoral aqui na Bahia, e tendo o partido que tem, obviamente tem o direito de ser candidato a governador do Estado. E eu nunca guiei o meu caminho pelo que os meus adversários fazem ou deixam de fazer, e sim pela minha estratégia e pela minha visão. Então, a candidatura de João Roma pertence a um nicho, na minha visão, bastante limitado do espectro político. Mas ela é legítima e deve ser respeitada. E, da minha parte, jamais houve nem haverá qualquer desejo de retirar a candidatura dele, até porque eu não tenho nenhum entendimento nem com o PL nem com as forças que ele representa.

Tribuna – O governador Rui Costa disse que o senhor pediu ao PT a retirada da candidatura de Jerônimo Rodrigues ao governo da Bahia. Em troca, o União Brasil desistiria da candidatura de Luciano Bivar à Presidência, segundo a imprensa nacional. Rui disse que o senhor está “desesperado” com medo de perder. Como viu essa fala do governador?

ACM Neto – Quero que o governador diga quem pediu a quem. Esse tipo de especulação é bem próprio de quem quer criar factoides para dar holofote a quem não tem.


Rodrigo Daniel Silva e Paulo Roberto Sampaio/Tribuna da Bahia

Lula atinge 44% e Bolsonaro fica em 30% na nova pesquisa Ipespe

Nova pesquisa XP Ipespe divulgada nesta quarta-feira (6) pelo blog “Radar”, da “Veja”, traz Lula tem 44% das intenções de voto no primeiro turno, contra 30% de Jair Bolsonaro.

Foram realizadas 1 mil entrevistas de abrangência nacional, nos dias 2 a 5 de abril, com margem de erro máxima é de 3,2 pontos percentuais para mais ou menos. A pesquisa está registrada no TSE sob o número BR-03874/2022. A

Ciro Gomes tem 9%, João Doria, 3%, Simone Tebet, 2%. André Janones ficou com 1%.

Brasileiro: Fluminense e Flamengo disputam clássico no Maracanã

📸: Lucas Merçon/FFC
Fluminense e Flamengo se enfrentam, no estádio do Maracanã a partir das 19h (horário de Brasília) deste sábado (23), em partida válida pela 28ª rodada do Campeonato Brasileiro. E o Tricolor e o Rubro-Negro chegam ao confronto em situações bem diferentes.

O time da Gávea, que ocupa a vice-liderança da competição com 46 pontos, chega à partida em meio a dois jogos decisivos contra o Athletico-PR pela Copa do Brasil (o Flamengo empatou em 2 a 2 com o Furacão na última quarta-feira na Arena da Baixada no confronto de ida).

Neste contexto o técnico Renato Gaúcho tem que montar uma equipe forte o suficiente para retomar o caminho das vitórias no Brasileiro, após o empate sem gols com o Cuiabá, mas sem correr riscos de perder mais peças importantes em momento tão delicado da temporada.
📸: Lucas Merçon/FFC
O Rubro-Negro tem ausências importantes para esta partida: o meia uruguaio De Arrascaeta, com lesão na coxa direita, o atacante Bruno Henrique, que está com um problema muscular na coxa esquerda, e o artilheiro Gabriel Barbosa, que sofreu uma lesão no pé direito na partida contra o Furacão.

O Fluminense chega ao clássico em um momento distinto. Desclassificado da Copa do Brasil e da Libertadores, a equipe das Laranjeiras tem apenas o Brasileiro para disputar. E, na competição nacional, o objetivo é obter uma vaga na próxima edição da competição continental.
📸: Lucas Merçon/FFC
Para isto a equipe comandada pelo técnico Marcão tenta engatar uma sequência de vitórias para subir na classificação (onde o Tricolor é o 8º colocado com 36 pontos). O Fluminense até chega animado após o triunfo sobre o Athletico-PR, mas sabe que terá que apresentar um futebol bem melhor do que o visto na Arena da Baixada no último final de semana para superar o Rubro-Negro.

Assim como o Flamengo, o Fluminense também tem problemas no ataque. O principal é a ausência de Fred, que vem tratando uma fissura no dedinho do pé esquerdo. Assim, o artilheiro é ausência certa para o clássico.

Presença da torcida

Uma novidade na partida é a presença de tricolores e flamenguistas no Maracanã, o que foi possível após a Confederação Brasileira do Futebol (CBF) divulgar uma atualização do Protocolo de Recomendações para Retorno do Público aos Estádios, cuja principal novidade foi a permissão da presença de torcedores visitantes.
Transmissão da Rádio Nacional

A Rádio Nacional transmite Fluminense e Flamengo com a narração de Rodrigo Campos, comentários de Waldir Luiz, reportagem de Maurício Costa e plantão de Astrid Nick. Você acompanha o Show de Bola Nacional aqui:

Edição: Fábio Lisboa
Por Agência Brasil - Rio de Janeiro

Por motivo de força Maior o Programa Alerta Cidade não realizará a entrevista anunciada com o Deputado Capitão Alden Nesta Terça-Feira.


Infelizmente fui informado pela a assessoria do Deputado Capitão Alden que o mesmo passou por desconforto na manhã desta terça, sendo encaminhado para um atendimento medico e aconselhado ao repouso até sair o resultado dos enxames; por este motivo a entrevista agendada para o Programa Alerta Cidade desta terça-feira (23) fica cancelada. Desejamos um pronto restabelecimento ao Deputado e em breve agendaremos novamente a entrevista.

Foto: Ascom/Deputado Estadual Capitão Alden (PSL)

Verificado

Quando o corpo não aguenta, é a moral e a fé que sustenta. Sendo medicado...estresse, refluxo e ansiedade. Combinação explosiva. Já já retorno pro combate. Até aqui Deus tem me guardado. Bom dia!"

Destaques