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Alcolumbre diz a amigos que mostrará a Lula o que é não ter o presidente do Senado como aliado
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), disse a interlocutores que, a partir de agora, será um “novo Davi” para o Palácio do Planalto. Mais do que contrariedade, Alcolumbre manifestou revolta com a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de indicar o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Vou mostrar ao governo o que é não ter o presidente do Senado como aliado”, afirmou Alcolumbre na quinta-feira, 20, a portas fechadas, depois de saber que Lula confirmara a escolha de Messias.
Dois dias antes, ele já havia sido duro com o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que é amigo do advogado-geral da União e, no seu diagnóstico, foi desleal com seus pares.
“Não me procure mais”, avisou Alcolumbre, irritado com o resultado da conversa entre Lula e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na noite anterior. O presidente tentou convencer Pacheco a ser candidato ao governo de Minas, mas o convidado foi categórico: disse que vai encerrar sua carreira política em janeiro de 2027.
Wagner amenizou o mal-estar, sob argumento de que tudo era “boato”. Alcolumbre, porém, confirmou o rompimento. Logo depois do anúncio de Messias, o presidente do Senado começou a desengavetar projetos que aumentam os gastos públicos, além de propostas que incomodam Lula.
A pauta-bomba prevê mudanças no Orçamento para estabelecer um calendário obrigatório de pagamento das emendas parlamentares no primeiro semestre de 2026, ano eleitoral. Alcolumbre também vai criar dificuldades para o governo na CPI do INSS e já tirou da prateleira o projeto de lei complementar que regulamenta a aposentadoria especial dos agentes comunitários de saúde e de combate às endemias.
A proposta foi aprovada pela Câmara em outubro, mas repousava no Senado, a pedido da equipe econômica, porque seu impacto fiscal ultrapassa os R$ 20 bilhões em 10 anos. Agora, Alcolumbre afirmou que vai pautar a votação para terça-feira, 25.
Quarenta e oito horas depois está marcada uma sessão do Congresso para apreciar mais de 50 vetos de Lula a projetos que passaram pelo crivo do Legislativo, entre eles o que afrouxa normas do licenciamento ambiental.
O governo já espera derrotas nos dois casos, mas pretende recorrer ao STF quando o texto aprovado trouxer impacto fiscal, a exemplo do que fez em julho, após o Congresso derrubar o decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
A outra estratégia consiste em investir na disputa política pelas redes sociais para carimbar o Congresso como “inimigo do povo”. A mesma ofensiva ocorreu em setembro, quando a Câmara aprovou uma proposta de emenda à Constituição que protegia políticos de investigações criminais, chamada de PEC da Blindagem. Diante dos protestos, o Senado barrou a iniciativa.
Na avaliação do Planalto, Alcolumbre está agora usando a insatisfação com a escolha de Messias como “pretexto” para obter vantagens, embora defenda Pacheco, ex-presidente do Senado e nome que gostaria de ver na Corte.
Dois ministros disseram ao Estadão, sob reserva, que o escândalo do Banco Master envolve expoentes do Centrão e integrantes do grupo político de Alcolumbre. A operação da Polícia Federal que prendeu o banqueiro Daniel Vorcaro, na esteira da liquidação do Master, acendeu um sinal de alerta no Congresso.
O fundo de pensão Amapá Previdência (Amprev), por exemplo, investiu R$ 400 milhões no Master. Como mostrou o Estadão, foram quatro aportes em letras financeiras do banco e, embora a instituição afirme que os pagamentos aos servidores e aposentados estão assegurados, esse tipo de investimento não tem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito.
O diretor-presidente da Amprev, Jocildo Lemos, foi indicado por Alcolumbre para o cargo. O advogado Alberto Alcolumbre, por sua vez, é irmão do presidente do Senado e conselheiro fiscal da entidade.
Em conversas com aliados, o senador disse que os fatos foram divulgados de forma “distorcida”, com o objetivo de desgastar sua imagem e associá-lo à corrupção. Alcolumbre alega que o Banco Central avalizou o investimento da Amapá Previdência no Master.
A rota de colisão entre o Senado e o Planalto ganha novos capítulos justamente no momento em que o governo enfrenta cada vez mais crises no relacionamento com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O estopim da briga ocorreu com as mudanças feitas no projeto antifacção, batizado como Marco Legal de Combate ao Crime Organizado.
Nesta sexta-feira, Motta rebateu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para quem o texto aprovado, sob a relatoria do deputado Guilherme Derrite (PP-SP), asfixia financeiramente a Polícia Federal. Haddad observou que o projeto, da forma como saiu da Câmara, prejudica operações da Receita ao mudar o destino dos bens apreendidos de facções criminosas, redistribuindo os recursos de acordo com a atuação de cada força de segurança.
O Planalto espera que o Senado corrija “erros” da Câmara e retome a proposta original, enviada pelo Ministério da Justiça. Após a rebelião anunciada por Alcolumbre, no entanto, nenhum ministro arrisca um palpite sobre o que vem por aí. Para Motta, o governo promove uma “narrativa falsa” e faz “tempestade em copo d’água”.
Na prática, a votação do projeto provocou uma divisão na equipe de Lula. Enquanto o presidente, Haddad e a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, classificaram a proposta que recebeu sinal verde da Câmara como um texto sob medida para enfraquecer o combate ao crime organizado, integrantes do Ministério da Justiça preferiram comemorar os recuos de Derrite.
O deputado comanda a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e é braço direito do governador Tarcísio de Freitas, cotado para desafiar Lula nas eleições de 2026.
Derrite não conseguiu emplacar no projeto apresentado pelo governo a equiparação de facções criminosas a organizações terroristas. Além disso, teve de apagar o trecho que condicionava a ação da Polícia Federal à concordância dos governadores.
Com o ambiente político conturbado no Senado, aliados de Alcolumbre sustentam, no entanto, que “caprichos e intransigências do governo” não terão mais espaço depois da “ingratidão” de Lula ao não indicar Pacheco para o STF.
Questionado sobre quando despachará a indicação de Messias para análise da Comissão de Constituição e Justiça (CJJ), Alcolumbre faz mistério. “Agora é cada um dentro das suas próprias prerrogativas. É assim que vamos analisar os próximos passos”, respondeu.
Foi uma estocada na direção de ministros e líderes do PT, que passaram os últimos dias lembrando que a escolha de ministro do STF é uma prerrogativa do presidente da República.
Messias ainda precisa ter o nome aprovado em uma sabatina da CCJ e, depois, passar pelo plenário do Senado. Pela planilha em mãos de Alcolumbre, se a votação fosse hoje, ele não conseguiria mais do que 31 votos, quando necessita do apoio de, no mínimo, 41 dos 81 senadores.
Diante das resistências, o advogado-geral da União quer conversar primeiro com senadores do Centrão e do PL de Jair Bolsonaro. Diácono da Igreja Batista, Messias tem como cabos eleitorais o ministro do STF André Mendonça e a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), também evangélicos.
Mendonça foi indicado por Bolsonaro em 2021 e ficou quase cinco meses esperando Alcolumbre – que era presidente da CCJ – marcar sua sabatina no colegiado.
À época, o senador pressionava o presidente a mudar a escolha e ungir o então procurador-geral da República, Augusto Aras, como ministro da Corte. Não conseguiu.
Quatro anos depois, Alcolumbre quer novamente enquadrar o governo. Agora, porém, não se sabe se ele pretende atrasar o relógio ou obrigar Messias a correr contra o tempo.
Por Vera Rosa/Estadão Conteúdo
Malafaia critica Alcolumbre por vetar Messias: 'Tenta escolher ministro do STF no lugar de Lula, como fez com Bolsonaro'
O pastor Silas Malafaia afirma que não vai "entrar no jogo do [presidente do Senado, Davi] Alcolumbre", que tenta vetar o nome de Jorge Messias, indicado por Lula para o STF (Supremo Tribunal Federal).
"Eu tenho divergências grandes com o Messias. Ele é esquerdopata gospel, e eu não sou. Eu tenho mil diferenças com o Lula. Mas todo mundo sabe que é prerrogativa do presidente da República indicar ministros do STF. E Alcolumbre agora tenta escolher ministro do STF no lugar de Lula, como fez com Bolsonaro", afirma Malafaia.
"Eu tenho memória", segue o pastor. "Eu me lembro quando Alcolumbre jogou pesadíssimo para tentar derrubar a indicação de André Mendonça ao Supremo [feita pelo então presidente Jair Bolsonaro, e que acabou sendo aprovada]. Fez isso porque tinha um candidato dele [para a vaga]."
"Foi uma guerra", relembra Malafaia. "E eu não vou participar desse jogo de Alcolumbre, porque ele também não é confiável. Quando interessa a ele, ele faz o jogo. É só ver o que está fazendo aí com a questão da anistia [o presidente do Senado é contra a votação de um projeto que beneficia Bolsonaro]. E agora a direita vai fazer graça para o Alcolumbre?", questiona. "Eu não vou participar desse joguinho por algum interesse que ele tem."
Malafaia diz ainda que "eu só me levanto contra a indicação de alguém para o STF quando a pessoa cometeu crimes comprovados. Ou quando é comunista, como o Flávio Dino, porque o comunismo foi a revolução que mais massacrou cristão e matou evangélicos", afirma.
Ele afirma ainda que, quando o ministro Cristiano Zanin foi indicado por Lula, não fez oposição. Questionado, ele relembra que respondeu: "Qual é o problema de ele ter sido advogado de Lula? Qual é o crime do Zanin? Advogado é crime? Não, eu não vou ser contra".
"Fora isso, não é prerrogativa do presidente do Senado indicar ministros da Corte", diz. "Quer dizer então que é o Alcolumbre que é o confiável para indicar quem ele quer? Ele está repetindo agora o mesmo jogo que fez com o Bolsonaro. Só porque o Lula é meu inimigo político, então que se lasque? Não, tenha paciência. Minha consciência e meu caráter não permitem que eu faça isso."
Por Mônica Bergamo/Folhapress
Senadores relatam que nunca viram Alcolumbre com "tanto ódio" de Lula com indicação ao STF
| Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado/Arquivo |
Senadores e deputados que conversaram com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) afirmam que nunca viram ele com tanto "ódio" de Lula como agora, depois que o petista indicou Jorge Messias para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).
Alcolumbre tinha outro candidato, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que acabou preterido na escolha.
"Ele está virado no Satanás, nunca vi ele tão bravo", afirma um parlamentar que conversou com Alcolumbre nesta sexta (21).
Um senador de oposição relata que nunca viu "esse cara com tanto ódio, irado", e descreve que "a veia dele até saltava do pescoço" ao falar da indicação de Lula, de tão "possesso" que Alcolumbre está.
De acordo com relatos, Alcolumbre passou a mão no telefone e ligou para diversos senadores e deputados da oposição a Lula para dizer que está disposto até mesmo a "romper totalmente com o governo" caso Lula "pressione muito" a favor de Messias.
O placar, até agora, não está definido, dizem os mesmos parlamentares. Por isso, Alcolumbre estaria "jogando tudo" na tentativa de derrotar o presidente.
A bolsonaristas, ele afirmou que só perde para o governo "se vocês me traírem", ou seja, se integrantes da oposição votarem a favor de Messias. É comum que indicados para o Supremo consigam votos entre senadores de todos os partidos.Alcolumbre também tem afirmado aos parlamentares que eles têm uma chance histórica de impor uma derrota ao Executivo.
Se Messias não for aprovado, será a primeira vez em 131 anos que um indicado pelo governo para a Suprema Corte será derrotado _em 1894, cinco indicações do governo de Floriano Peixoto foram rechaçadas.
As movimentações de Alcolumbre estão sendo acompanhadas de perto pelo governo Lula.
Interlocutores do presidente e de Messias afirmam que o senador, que poderia ser parte da solução e do diálogo, está indo para um confronto bruto e terá que ser enfrentado caso se coloque como o principal problema para a aprovação da indicação.
O placar de uma disputa direta de Lula contra Alcolumbre seria apertado.
De acordo com cálculos de parlamentares que conversaram com o presidente do Senado, ele teria o voto de oito a dez senadores completamente alinhados a seus desejos. E poderia contar com 32 da oposição _caso, como insiste com parlamentares bolsonaristas, não seja traído por eles.
Com isso, chegaria aos 41 votos necessários para derrotar o governo.
A votação no Senado para indicações ao STF é secreta.
Por Mônica Bergamo, Folhapress
Quem votou contra o projeto do PL Antifacção tem de se explicar, diz Hugo Motta
O presidente da Câmara dos deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), criticou nesta quarta-feira (19) os colegas que votaram contra o Projeto de Lei Antifacção e disse que eles têm de se explicar. Motta defendeu a escolha de Guilherme Derrite (PP-SP) para a relatoria e criticou a atuação do governo Lula no tema.
Motta disse, em entrevista à Rádio CBN, que a Câmara fez alterações que deixaram a proposta mais dura contra o crime organizado —como pena mínima de 20 aos de detenção, exigência de cumprimento de no mínimo 70% da pena para progressão, sem direito à visita íntima e gravação de todas as conversas com os advogados, entre outras medidas.
Ele chamou de narrativas as avaliações de deputados da base governistas de que as alterações na proposta beneficiariam chefes de organizações criminosas.
"Quem cria essa narrativa é quem não teve coragem de votar a favor ontem dessa proposta que é um anseio da sociedade brasileira. Aqueles que não tiveram coragem de votar a favor da proposta têm que se justificar hoje pela manhã porque ficaram contra aquilo que o povo brasileiro quer", afirmou.
"E quem votou contra tem que hoje dar a sua cara a tapa para dizer por que ficou contra a matéria e não ficar criando narrativas inverídicas. Porque o que nós fizemos foi endurecer o enfrentamento ao crime e nós vamos seguir assim", reforçou.
Motta ainda defendeu a escolha de Derrite para a relatoria da proposta. Segundo ele, era necessário alguém com experiência no tema da segurança pública.
"O deputado Derritte é secretário de segurança do maior estado do Brasil, que é o estado de São Paulo, tem já mais de 20 anos de experiência nesse enfrentamento e fez um trabalho eminentemente técnico. Não houve um debate político. Nem muito menos a construção de uma narrativa visando as eleições do ano que vem, que eu penso que seria a principal preocupação dos integrantes do Poder Executivo", avaliou.
Motta disse também que as "narrativas sobre o papel da Polícia Federal" caíram por terra e que o governo fez uso eleitoral da votação.
"O governo ter ficado contra [o PL], na minha avaliação, foi meramente por narrativa, foi meramente pensando na questão eleitoral. Eu penso que o governo erra quando opta por seguir por esse caminho porque está indo contra aquilo que a sociedade espera", afirmou.
O presidente da Câmara admitiu que a proposta pode ser alterada no Senado, mas evitou adiantar quais pontos ele acredita serem sensíveis.
"Se o Senado trouxer alterações, nós vamos analisar com imparcialidade, com moderação, procurando tratar de maneira técnica o tema, sem apego a nenhuma narrativa. Não há vitória da direita, vitória da esquerda. Há uma vitória da sociedade, que quer morar num país mais seguro, e que cobra das suas autoridades a condição de poder avançar nessa pauta que é tão cara para nós cidadãos brasileiros e eu penso que é isso que a Câmara dos Deputados fez no dia de ontem", disse.
Na terça-feira (18), a Câmara aprovou o projeto de Lei Antifacção por 370 votos a favor e 110 contra, num revés ao Palácio do Planalto, que viu seu projeto ser alterado e tentou adiar a apreciação da matéria após discordar de mudanças feitas. Partidos com representantes na Esplanada dos Ministérios entregaram 60% dos votos favoráveis, em mais um sinal da fragilidade da base aliada no Congresso.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), afirmou que a votação do projeto gera uma "crise de confiança" do governo Lula com o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
"É claro que tem uma crise aqui de confiança, é claro que todo mundo sabe que o presidente [Lula] reclamou muito, é um projeto de autoria do Poder Executivo", afirmou Lindbergh à imprensa após a votação do projeto.
Por Francisco Lima Neto/Folhapress
Segurança pública une novamente centrão e bolsonarismo na Câmara contra Lula
A Câmara aprovou o projeto de Lei Antifacção por 370 votos a favor e 110 contra
O bloco de centro-direita e de direita na Câmara se uniu novamente nesta terça-feira (18) contra a esquerda em um tema que tem se mostrado, por ora, a principal dor de cabeça de Lula na sua tentativa de se reeleger em 2026.A Câmara aprovou o projeto de Lei Antifacção por 370 votos a favor e 110 contra, num revés ao Palácio do Planalto, que viu seu projeto ser alterado e tentou adiar a apreciação da matéria após discordar de mudanças feitas. Partidos com representantes na Esplanada dos Ministérios entregaram 60% dos votos favoráveis, em mais um sinal da fragilidade da base aliada no Congresso.
A ação ocorre após a aliança centrão-bolsonarismo ter sido abalada pela reação do governo Lula nas redes e junto à opinião pública com o discurso em defesa da justiça tributária e da soberania nacional.
Pesquisa Genial/Quaest divulgada no dia 12 mostrou interrupção da recuperação da popularidade de Lula, números colhidos na esteira da repercussão da operação policial que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro.
O tema da segurança pública passou a dominar o debate político e tem sido tratado pelo bolsonarismo e pelo centrão como uma injeção de ânimo na corrida para derrotar o PT no ano que vem. Já aliados de Lula defendem que o governo retome a discussão da agenda da justiça tributária, além de focar os programas sociais da gestão petista, para evitar maiores desgastes.
Diante da repercussão, o governo federal e aliados petistas tentam disputar espaço nesse campo, historicamente associado à direita.
O PL Antifacção era considerado prioritário pelo Executivo, além de principal aposta do presidente da República para responder à megaoperação no Rio.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), afirmou que a votação do projeto gera uma "crise de confiança" do governo Lula com o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
"É claro que tem uma crise aqui de confiança, é claro que todo mundo sabe que o presidente [Lula] reclamou muito, é um projeto de autoria do Poder Executivo", afirmou Lindbergh à imprensa após a votação do projeto.
A sessão desta terça da Câmara foi marcada por embates entre governistas e oposicionistas.
"Hoje é o dia da coragem. O pai dessa lei é cada um dos senhores e senhoras que tinham medo, mas que vão poder sair de casa mais tranquilos, seguros. Não contem com este governo federal, não contem com este presidente, não contem com estes partidos da esquerda porque a esquerda é negacionista na pauta da segurança pública", discursou o deputado Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara.
"O relatório do Derrite e da direita favorece o crime organizado", afirmou Maria do Rosário (PT-RS).
Além da disputa pela paternidade da proposta entre o governo Lula e o relator, Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de Segurança Pública de Tarcísio de Freitas (Republicanos), a votação do projeto renovou o sentimento de desconfiança do Palácio do Planalto com Motta.
Na Casa, o vaivém de relatórios apresentados por Derrite fez com que a votação, originalmente prevista na semana passada, fosse adiada, diante de críticas que o texto recebeu de governistas, oposicionistas e até mesmo do centrão.
Com minoria na Casa, aliados de Lula passaram a associar a proposta ao objetivo de enfraquecer a atuação da Polícia Federal e de blindar investigações feitas pela corporação, numa tentativa de mobilizar a opinião pública contra os textos de Derrite —resgatando estratégia usada na defesa da agenda de justiça tributária, estimulando o discurso "nós contra eles", com críticas ao Congresso.
Já Motta e lideranças da Câmara criticaram essa postura dos parlamentares da base e classificaram como narrativas qualquer tentativa de desidratar as competências da PF.
O presidente da Câmara intensificou a participação em programas jornalísticos e escalou aliados para defender publicamente o texto, numa tentativa de frear desgastes a sua imagem e diluir as críticas que vinha recebendo.
Motta e os parlamentares insistiram em suas falas ao longo do dia que o projeto representava a "mais dura resposta da história da Câmara" no combate ao crime organizado, dando protagonismo ao Legislativo nesse processo, em detrimento do Executivo. O líder do PP, Doutor Luizinho (RJ), aliado de primeira hora de Motta, por exemplo, afirmou que a Câmara e o Congresso estavam dando a maior contribuição na história do país nesse tema.
Após divulgação do sexto relatório de Derrite, enquanto a sessão do plenário já estava acontecendo, o governo defendeu adiar a votação do projeto, por considerar que o texto descaracterizou a proposta original enviada pelo Executivo. Mas foi derrotado.
Integrantes do Planalto e parlamentares classificaram o vaivém dos pareceres como "lambança legislativa" e defenderam a retomada do texto original enviado ao Congresso. A aposta de aliados de Lula é que o Senado poderá rever pontos considerados problemáticos e que foram chancelados pelos deputados.
Eles também criticaram a condução de Motta nesse processo, desde a designação de Derrite até o que consideraram um açodamento na votação e falta de abertura ao diálogo, renovando sentimento de desconfiança com o deputado.
Há uma avaliação de que o parlamentar é oscilante, dando sinalizações dúbias. Motta foi eleito presidente da Câmara com apoio do PT ao PL e, desde o começo de sua gestão, tem feito gestos de um lado a outro, tornando-se alvo de críticas. Governistas afirmam, no entanto, que em momentos cruciais neste ano, ele esteve mais alinhado com a oposição do que com o governo.
Após a votação, Motta fez um discurso no qual afirmou que a função do Parlamento "não é carimbar um projeto e passar adiante", numa indireta ao Executivo. "O compromisso do Parlamento é debater as matérias e entregar a melhor versão possível. Estou seguro que o texto aprovado hoje é a melhor versão para enfrentar o crime organizado", disse.
Por Ranier Bragon , Victoria Azevedo , Carolina Linhares e Raquel Lopes/Folhapress
Alcolumbre demonstra frustração após Lula escolher Messias para o STF: 'Fazer o quê?'
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), demonstrou publicamente nesta terça-feira (18), pela primeira vez, seu descontentamento com a iminente indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal). Ele queria que o escolhido fosse o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), um de seus principais aliados.
A preferência do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por Messias é conhecida do mundo político há semanas. Na noite de segunda (17), porém, o petista teve uma última conversa decisiva com Pacheco e o avisou de que o indicado seria o advogado-geral da União. A reunião foi revelada pela colunista Mônica Bergamo, da Folha.
Alcolumbre foi abordado por jornalistas duas vezes nesta terça com perguntas sobre o tema. Na primeira, evitou dar declarações. Na segunda, disse inicialmente que só teria respostas para matérias que já tramitam no Senado.
O senador, porém, disse o seguinte após ser questionado se esperaria a indicação de Messias chegar oficialmente à Casa: "Tem que esperar, fazer o quê? Se eu pudesse, eu fazia a indicação."
Lula gostaria que Pacheco fosse candidato ao governo de Minas Gerais e o apoiasse em sua campanha de reeleição. O ex-presidente do Senado, porém, indicou que deverá abandonar sua carreira política e voltar a ser advogado.
A perspectiva do fim da carreira política de Pacheco deixou Alcolumbre especialmente chateado, segundo aliados do senador amapaense. Os dois são aliados próximos há anos.
Alcolumbre era presidente do Senado em 2021 e articulou a primeira eleição de Pacheco para o cargo. Depois, Pacheco o manteve em posições de poder que facilitaram sua volta ao comando da Casa, em 2025.
A análise no entorno do presidente do Senado é que a relação entre Alcolumbre e Lula fica abalada com a escolha do chefe do Planalto por Messias. O senador foi, ao menos até o momento, um dos principais aliados do governo petista.
A indicação de nomes para vagas no STF cabe à Presidência da República, mas os indicados precisam ser aprovados pelo Senado. Alcolumbre tem indicado nos bastidores que não ajudará o advogado-geral da União a obter o mínimo de 41 votos favoráveis necessário para ter o aval da Casa.
Na última semana, a votação apertada que os senadores deram a favor da recondução de Paulo Gonet como procurador-geral da República foi um recado a Lula sobre a indicação de Messias. Ele teve 45 votos, só 4 a mais do que precisava. Foi o placar mais apertado para um procurador-geral desde a redemocratização, nos anos 1980.
A avaliação no Senado é que Gonet correu risco de ser rejeitado, apesar de ser benquisto pela maioria dos senadores. Ele foi aprovado depois de uma mobilização de alguns dos senadores mais influentes. Alcolumbre foi decisivo para garantir o mínimo de votos necessários para Gonet ganhar mais dois anos de mandato –o que ele não deve fazer por Messias.
Depois da votação de Gonet, aliados do governo que também gostariam de ver Pacheco no STF procuraram ministros próximos a Lula para aumentar a pressão contra a indicação de Messias. Lula, porém, entende que a indicação de nomes para o STF cabe ao presidente da República, sem sujeição a pressões externas.
A vaga no STF foi aberta depois de o agora ex-ministro Luís Roberto Barroso antecipar sua aposentadoria. Ele poderia ficar no tribunal até os 75 anos, mas decidiu deixar o posto com 67, depois de concluir seu mandato como presidente da Corte.
Por Caio Spechoto, Folhapress
Câmara aprova texto-base de PL Antifacção em derrota para o governo Lula
A Câmara dos Deputados aprovou, nesta terça-feira (18), o texto-base do projeto de lei Antifacção, que foi enviado pelo governo Lula (PT) em 31 de outubro e modificado em seis versões apresentadas pelo relator, Guilherme Derrite (PP-SP). A votação representou um revés ao Palácio do Planalto, que tentou adiar a apreciação da proposta por discordar das mudanças feitas ao texto.
O projeto teve 370 votos favoráveis e 110 contrários, além de 3 abstenções, após negociações políticas, polêmica com a escolha do relator, vaivém no texto e embates entre governo e a oposição acerca da segurança pública. Agora, os deputados analisarão os destaques feitos ao texto.
O projeto enviado pelo governo tinha como finalidade modernizar e fortalecer o ordenamento jurídico brasileiro, atualizando normas para um enfrentamento mais eficaz ao crime organizado, especialmente às facções.
Durante a tramitação, porém, Derrite promoveu alterações e optou por criar uma lei autônoma sobre organizações criminosas ultraviolentas, afastando-se da proposta original de apenas atualizar a legislação vigente.
Apesar da falta de consenso sobre as versões, a intenção em ambos os casos é criar mecanismos mais eficientes para enfrentar a crise de segurança pública causada pelas organizações criminosas, especialmente as facções.
A sessão desta terça foi marcada por um embate entre governistas e oposcionistas acerca do conteúdo do projeto. O líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), disse que essa versão apreciada pelos deputados favorece organizações criminosas.
"É vergonhoso. Vamos lutar para modificar no Senado para recuperar o propósito original do governo de combate à facção criminosa. O tipo penal não é esse, o que ele está criando é tão frágil o texto que estamos abrindo espaço para várias nulidades processuais", disse.
Já o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), celebrou a votação, afirmando que a Câmara dá uma resposta "ao Brasil que tanto se desespera pelo pior problema que aflige os brasileiros: a segurança pública". "Tenho hoje como parlamentar a alegria de votar uma matéria que a sociedade clama, que é o endurecimento de uma legislação contra o crime organizado", disse.
Deputados governistas, acusando Derrite de ter descaracterizado o texto do Executivo, chegaram a trabalhar em plenário para adiar a votação, mas foram derrotados. Originalmente, o projeto seria votado na semana passada, mas uma série de divergências do governo e da oposição atrasaram a análise.
No texto de Derrite, organização criminosa ultraviolenta, chamada de facção criminosa, é definida como um grupo formado por três ou mais pessoas que utiliza violência, grave ameaça ou coação para exercer domínio territorial ou social, intimidar moradores ou autoridades, ou atacar serviços, estruturas e equipamentos essenciais.
Após a apresentação da quinta e sexta versões do parecer de Derrite, nesta terça-feira, o governo ainda apontava problemas no texto, principalmente pela manutenção da divisão dos recursos provenientes de bens apreendidos do crime entre os fundos estaduais de segurança e a Polícia Federal, o que diminui a fonte de financiamento da PF.
Desde a primeira versão, contudo, Derrite voltou atrás em uma série de pontos após pressão governista e também abriu mão de medidas caras para a direita bolsonarista, como equiparar facções criminosas a terroristas. O PL apresentou um destaque para incluir essa equiparação ao texto, mas Hugo Motta (Republicanos-PB) barrou a iniciativa de ofício.
A vontade de integrantes da gestão petista era que o texto original fosse retomado por completo, o que não ocorreu. Eles apostam, agora, na possibilidade de rever pontos considerados problemáticos quando a matéria tramitar no Senado.
Alvo de uma série de críticas, o primeiro texto previa que a Polícia Federal só poderia agir contra organizações criminosas nos estados com aval expresso do governador, o que deu munição para que a esquerda e o governo acusassem o relator de tirar atribuições da Polícia Federal e tornar algo técnico em político.
Responsável pela escolha de Derrite como relator, Motta teve que sair em defesa da PF e atuou para que o deputado recuasse em medidas que afetassem a corporação, que tem credibilidade na opinião pública.
A escolha de Derrite para relatar a matéria foi criticada por integrantes do Palácio do Planalto, que enxergaram uma politização do tema, tendo como pano de fundo as eleições de 2026. Derrite é secretário de Segurança do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), potencial adversário de Lula no pleito do próximo ano.
Motta, por sua vez, atribui a politização do tema a opositores de Derrite e tem dito que o relator fez um trabalho técnico. O presidente da Casa também tem repetido que as várias alterações no texto são naturais do processo legislativo.
Para deputados de variados campos ideológicos, no entanto, a avaliação é a de que o processo de tramitação expôs erros de Derrite e acabou trazendo prejuízos políticos e de imagem tanto para Motta quanto para o relator.
Aliados de ambos, por sua vez, afirmam que, uma vez aprovado, o saldo político do projeto passa a ser positivo para Motta e Derrite, que incorporam a entrega da lei ao seu legado.
Por Carolina Linhares, Raquel Lopes e Victoria Azevedo, Folhapress
Filha de Otto, Isadora Alencar estreia em palanque político, mas nega planos eleitorais "no momento"
A empresária Isadora Alencar, filha do senador Otto Alencar (PSD), foi a estrela de um evento político realizado no final de semana no extremo-sul da Bahia. Acompanhada do namorado, o deputado federal Neto Carletto (PP), ela discursou pela primeira vez em cima de um palanque durante o aniversário do prefeito de Santa Cruz Cabrália, Girlei Lage (PDT), no último sábado (15).
Isadora é cotada como possível candidata a deputada federal no lugar do irmão, Otto Filho (PSD), que deve assumir a cadeira do conselheiro aposentado Antônio Honorado no Tribunal de Contas do Estado (TCE), como revelou em janeiro, com exclusividade, este Política Livre (clique aqui para ler). Em entrevista ao site, no entanto, ela negou que tenha pretensão de disputar uma eleição "neste momento".
"O meu federal é meu irmão (Otto Filho). Estou apenas acompanhando meu namorado e atendi a um pedido gentil (para subir ao palanque) do deputado federal Félix Mendonça (PDT), que é meu primo e um brincalhão”, disse Isadora. Félix também participou do evento em Cabrália, e convidou a empresária, sobre quem disse ter "vocação política", a subir no palanque, onde também estavam outras lideranças, a exemplo do prefeito de Porto Seguro, Jânio Natal (PL).
Questionada se pensa em entrar para a política caso o irmão assuma a cadeira no TCE, ela foi categórica. "Não penso nisso neste momento. Vou votar em meu irmão", ressaltou.
Em rápido discurso, Isadora se limitou a parabenizar Girlei pelo aniversário. Ela percorreu outros municípios da região ao lado de Neto Carletto, que é sobrinho de outro político tradicional da Bahia: o ex-deputado Ronaldo Carletto, presidente do Avante no Estado.
Publicamente, Otto tem negado o movimento de emplacar o filho deputado no TCE, assim como o de lançar a filha, que é CEO da empresa Ecoari, que atua na área de reciclagem. Quem também tem o nome ventilado para "substituir" Otto Filho é Daniel Alencar, outro filho do senador, este médico.
Como já revelou o Política Livre em abril, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) decidiu adiar o anúncio do substituto de Antônio Honorato por conta das negociações sobre a composição da chapa majoritária (clique aqui para ler). Dentro da base aliada, já há quem aposte que essa decisão deve ficar para o ano que vem.
Veja vídeo abaixo:
Isadora é cotada como possível candidata a deputada federal no lugar do irmão, Otto Filho (PSD), que deve assumir a cadeira do conselheiro aposentado Antônio Honorado no Tribunal de Contas do Estado (TCE), como revelou em janeiro, com exclusividade, este Política Livre (clique aqui para ler). Em entrevista ao site, no entanto, ela negou que tenha pretensão de disputar uma eleição "neste momento".
"O meu federal é meu irmão (Otto Filho). Estou apenas acompanhando meu namorado e atendi a um pedido gentil (para subir ao palanque) do deputado federal Félix Mendonça (PDT), que é meu primo e um brincalhão”, disse Isadora. Félix também participou do evento em Cabrália, e convidou a empresária, sobre quem disse ter "vocação política", a subir no palanque, onde também estavam outras lideranças, a exemplo do prefeito de Porto Seguro, Jânio Natal (PL).
Questionada se pensa em entrar para a política caso o irmão assuma a cadeira no TCE, ela foi categórica. "Não penso nisso neste momento. Vou votar em meu irmão", ressaltou.
Em rápido discurso, Isadora se limitou a parabenizar Girlei pelo aniversário. Ela percorreu outros municípios da região ao lado de Neto Carletto, que é sobrinho de outro político tradicional da Bahia: o ex-deputado Ronaldo Carletto, presidente do Avante no Estado.
Publicamente, Otto tem negado o movimento de emplacar o filho deputado no TCE, assim como o de lançar a filha, que é CEO da empresa Ecoari, que atua na área de reciclagem. Quem também tem o nome ventilado para "substituir" Otto Filho é Daniel Alencar, outro filho do senador, este médico.
Como já revelou o Política Livre em abril, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) decidiu adiar o anúncio do substituto de Antônio Honorato por conta das negociações sobre a composição da chapa majoritária (clique aqui para ler). Dentro da base aliada, já há quem aposte que essa decisão deve ficar para o ano que vem.
Veja vídeo abaixo:
Cotado para chapa presidencial, ACM Neto participa de jantar em São Paulo com Tarcísio de Freitas e Ciro Nogueira
O ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União) embarcou para São Paulo, onde participa, na noite desta segunda-feira (17), de um jantar com o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) e com o presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI). O encontro ocorre em meio às negociações finais da federação entre União Brasil e PP, que aguarda decisão da Justiça Eleitoral para ser oficializada.
Tarcísio é hoje o presidenciável preferido das principais lideranças tanto do PP quanto do União Brasil, e se tornou uma espécie de fiador do "casamento" das duas legendas, que enfrenta resistências internas. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), outro pré-candidato ao Palácio do Planalto, é um dos opositores da federação.
No jantar desta noite, o nome de ACM Neto deve entrar na roda não apenas como líder de peso dentro do União Brasil, mas como possível vice em uma chapa encabeçada por Tarcísio, caso o paulista seja escolhido para disputar a Presidência da República.
Interlocutores do ex-prefeito acreditam que a sondagem sobre a vice-presidência será feita, mas garantem que ACM Neto não tem planos nacionais para 2026. Aliás, o próprio já deixou isso claro. O objetivo é disputar o governo da Bahia. Além do baiano, Ciro Nogueira é outro cotado para ser companheiro de chapa de Tarcísio.
Por Política Livre
Bolsonarismo sofre 2ª tentativa de debandada, e filhos de ex-presidente reagem
A primeira leva de dissidentes trombou com Bolsonaro no poder e com boa perspectiva de reeleição
A menos de 11 meses das eleições de 2026, o bolsonarismo vive uma tentativa velada de sucessão em que parte dos atores busca assumir o protagonismo na direita sem repetir o confronto direto que marcou a primeira geração de dissidentes —quase todos politicamente anulados após romperem e baterem de frente com Jair Bolsonaro.
Se de 2019 a 2022 figuras como Joice Hasselmann e Janaina Paschoal desabaram da casa dos milhões de votos para a insignificância eleitoral após colidirem abertamente com o clã Bolsonaro, agora o novo movimento toma o cuidado de manter a reverência ao ex-presidente ao mesmo tempo em que se vende publicamente com um figurino mais ao centro.
A união do centrão —grupo de centro-direita e de direta que controla o Congresso— e de boa parte do empresariado e do mundo financeiro em torno do nome de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), somada à articulação de colegas governadores de direita correndo por fora, compõem a face mais visível desse redesenho.
A primeira leva de dissidentes trombou com Bolsonaro no poder e com boa perspectiva de reeleição. A segunda tem a seu favor a vantagem de vê-lo condenado e preso.
O atual modelo que busca suceder a liderança do ex-presidente no campo da direita teve a semente plantada na eleição para a Prefeitura de São Paulo, em 2024, quando Pablo Marçal quase desbancou o nome oficial do bolsonarismo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Ali constatou-se que, a depender do perfil e do jeito em que a dissidência se dá, não há necessariamente a morte eleitoral ao se descumprir ordens de Bolsonaro.
Em meio a esse xadrez e com o ex-presidente preso, os seus filhos mais velhos, o senador Flávio, o deputado federal Eduardo e o vereador Carlos, todos do PL, tentam manter o bastão da direita nas mãos da família.
Além de tentar passar a imagem de que o bolsonarismo tem dono e hierarquia e não está aberto a sucessão, cobram publicamente não só apoio como ação em prol do pai.
Como mostrou a colunista da Folha Mônica Bergamo nesta sexta-feira (14), Flávio Bolsonaro avançou em seus movimentos para se lançar candidato à Presidência da República, cenário de pesadelo para o centrão e seu plano de unificar a direita em torno de Tarcísio.
Em entrevista na véspera à Jovem Pan, Eduardo voltou a manifestar que vê muita gente na direita tentando se passar pelo que não é.
"Ao se retirar o Jair Bolsonaro da equação, não encontra-se um outro líder que aglutine todo mundo", afirmou, frisando que vai estar no campo oposto ao de Lula em 2026, mas que o que não quer "é que as pessoas levem gato por lebre".
A cobrança tem endereço: Tarcísio em especial, mas também os demais governadores da direita (que foram acusados pelos filhos do ex-presidente de agirem como "ratos") e outras figuras como o ex-ministro Ricardo Salles (Novo) e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL).
Na visão do entorno da família, por exemplo, Nikolas não usa seu prestígio para pressionar pela reversão da situação de Bolsonaro. O deputado foi o campeão de votos à Câmara dos Deputados em 2022 e tem grande presença nas redes sociais.
"Nikolas quer se livrar do Bolsonaro de vez. Ele está liderando uma dissidência, e vários políticos mais jovens estão com ele. O problema? O de sempre: 'Temos que nos descolar do Bozo sem perder o eleitor'.
Eles querem continuar sendo eleitos pelos bolsonaristas, mas não querem mais prestar contas ao Bolsonaro", diz postagem compartilhada por Eduardo Bolsonaro em suas redes sociais no início do mês.
As críticas dizem respeito à decisão do clã de despachar Carlos Bolsonaro para disputar o Senado por Santa Catarina, o que rachou o bolsonarismo no estado, tendo como porta-voz contrária à mudança a deputada estadual Ana Campagnolo (PL).
Nikolas, que já havia sido criticado antes pelo filho do ex-presidente, não respondeu. Em sua conta no Instagram, postou uma junção de vídeos ao lado de Jair Bolsonaro. A postagem tinha mais de 15 milhões de visualizações até esta sexta.
"Se ficar carimbado de traidor, os votos evaporam", diz Fabio Wajngarten, que foi secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, sem citar nomes específicos. "Nesses três anos e meio de perseguição ao presidente, fica evidente quem esteve ao lado dele e quem não esteve."
Tanto Nikolas como Tarcísio foram autorizados por Alexandre de Moraes a visitar Bolsonaro nas próximas semanas.
"Creio que eles vão ter um dilema, que vai persistir até o final. Se eles passam o bastão para alguém antes, para o Tarcísio, eles colocam o Bolsonaro no ostracismo total, isso dificulta a eleição de uma bancada de deputados de extrema-direita. Então acho que eles vão ficar com esses fantasmas", diz o líder da bancada do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).
"Eu conversei com alguns deles, que dizem: 'O nosso medo é a gente ser engolido pelo centrão'. Você está vendo uma tentativa de desgarramento de parte desse grupo aí do Bolsonaro. E eu acho que turma do Bolsonaro vai dizer não."
Alguns focos atuais de dissidência ou instabilidade no bolsonarismo
Governadores de direita
Grupo é composto por nomes que tentam se viabilizar para a sucessão de Lula evitando trombar de frente com Bolsonaro e perder capital eleitoral na direita. Apesar disso, foram acusados por Carlos e Eduardo Bolsonaro de agirem como "ratos" buscando herdar na inércia o capital político do pai
É formado por Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Ratinho Jr. (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG).
Na última ida a Brasília, grupo teve companhia de Claudio Castro (PL-RJ), que viu popularidade melhorar após a megaoperação policial contra o Comando Vermelho, no Rio
Tarcísio de Freitas
Desse grupo, o governador de São Paulo é há meses o nome preferido do centrão e da elite financeira e empresarial para enfrentar Lula
Também enfrentou forte artilharia da família Bolsonaro sob a acusação de pretender virar as costas ao padrinho político ao mesmo tempo que tenta herdar seu espólio eleitoral. Eduardo chegou a dizer em mensagem ao pai: "Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo você se foder e se aquecendo para 2026"
Carlos Bolsonaro em Santa Catarina
A decisão de Bolsonaro de despachar o vereador do Rio para disputar o Senado em Santa Catarina abriu um racha no bolsonarismo local
Sem confrontar diretamente o ex-presidente, figuras como a deputada estadual Ana Campagnolo (PL) resistem frontalmente à ideia e são atacadas pelos três filhos de Bolsonaro, para quem o bolsonarismo tem comando e quem não concordar deve romper abertamente
Nikolas Ferreira
Deputado federal de Minas, o mais votado do país em 2022 e fenômeno nas redes sociais, frequentemente é acusado por bolsonaristas de não usar todo seu prestígio e alcance para defender o ex-presidente
Em recente post compartilhado por Eduardo Bolsonaro, por exemplo, ele é acusado de querer se livrar de Bolsonaro
10 nomes da primeira debandada, antes e depois
Joice Hasselmann (líder do governo no Congresso)
ANTES: Eleita deputada na onda de 2018, foi alçada a líder do governo no Congresso em 2019
DEPOIS: Virou uma das principais críticas do governo, chegou a assinar o chamado superpedido de impeachment contra Bolsonaro em 2021. Atacada como traidora pelo bolsonarismo nas redes, a ex-aliada viu minguar seus votos de 1 milhão em 2018 para apenas 13.679 em 2022. Em 2024 teve menos de 2.000 votos e não conseguiu se eleger vereadora em São Paulo
Alexandre Frota (deputado federal)
ANTES: Ator eleito com votação expressiva em 2018 na onda bolsonarista
DEPOIS: Rompeu em 2019, migrou para o PSDB, passou a se desculpar publicamente por ter ajudado a eleger Bolsonaro e apoiou Lula em 2022. Não conseguiu se eleger deputado estadual em 2022 e, dois anos depois, acabou eleito vereador em Cotia. Teve o mandato cassado em 2025
Janaína Paschoal (deputada estadual em SP)
ANTES: Coautora do impeachment de Dilma, foi eleita deputada estadual mais votada da história em 2018, na onda bolsonarista
DEPOIS: Assumiu depois postura independente e às vezes crítica. Em 2022 disputou o Senado e não conseguiu se eleger, ficando apenas em 4º com 2% dos votos válidos. Em 2024 foi eleita vereadora em São Paulo
João Doria (governador de SP)
ANTES: Em 2018 colou sua candidatura ao slogan "BolsoDoria", pedindo voto casado com Bolsonaro em SP
DEPOIS: Rompeu com o bolsonarismo após ser uma dos principais nomes contrários à política federal negacionista durante a pandemia. Fracassou na tentativa de se candidatar à Presidência pelo PSDB em 2022 e hoje está fora da política partidária
Wilson Witzel (governador do RJ)
ANTES: Eleito em 2018 na onda bolsonarista, com apoio do grupo de Flávio Bolsonaro
DEPOIS: Rompeu depois de se colocar como potencial presidenciável e de ser visto como insuflador de suspeitas de ligação dos Bolsonaros com o caso Marielle Franco. Foi afastado do cargo em 2021, mesmo ano em que sofreu impeachment
Gustavo Bebianno (ministro da Secretaria-Geral)
ANTES: Um dos principais articuladores da campanha de 2018 e homem forte do PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu
DEPOIS: Demitido logo no início do governo em meio ao escândalo das candidaturas laranjas do PSL e por trombar publicamente com Carlos Bolsonaro. Morreu em março de 2020
Carlos Alberto Santos Cruz (ministro da Secretaria de Governo)
ANTES: General da reserva, ocupava um dos principais cargos da "cozinha" do Palácio do Planalto
DEPOIS: Também demitido em 2019 após conflitos com a família Bolsonaro. Virou crítico do governo e chegou a ter o nome cotado para disputar a Presidência e outros cargos em 2022, mas isso nunca se concretizou
Luiz Henrique Mandetta (ministro da Saúde)
ANTES: Deputado do DEM (hoje União Brasil) e ministro da Saúde desde o início do governo Bolsonaro
DEPOIS: Foi demitido em abril de 2020 após discordâncias com a postura negacionista do bolsonarismo na pandemia e também virou presidenciável, mas acabou concorrendo ao Senado, sendo derrotado com folga pela bolsonarista Tereza Cristina (PP-MS)
Sergio Moro (ministro da Justiça e Segurança Pública)
ANTES: Chegou ao governo Bolsonaro como "superministro", símbolo do combate à corrupção
DEPOIS: Rompeu em abril de 2020 e saiu acusando o presidente de interferência política na PF. Tentou se viabilizar para a Presidência em 2022, mas fracassou e voltou a se alinhar ao bolsonarismo no segundo semestre de 2022, quando se elegeu senador pelo Paraná
Abraham Weintraub (ministro da Educação)
ANTES: Foi um dos mais visíveis símbolos da ideologia bolsonarista no primeiro escalão do governo
DEPOIS: Saiu em 2020 e, mais tarde, rompeu com o núcleo bolsonarista tradicional. Em 2022 não conseguiu se eleger deputado federal, tendo apenas 4.000 votos. Em 2024 anunciou a pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo, mas a empreitada não foi adiante
Por Ranier Bragon/Folhapress
Votação do PL Antifacção expõe estratégia do PT e governo para barrar propostas no Congresso
A tramitação do PL Antifacção na Câmara dos Deputados expôs mais uma vez a estratégia da esquerda, do PT e do governo Lula (PT) de incentivar uma campanha em discursos e redes sociais para enfrentar o Congresso e repetir a mobilização que barrou a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Blindagem.
Com minoria no plenário em relação ao centrão e à oposição bolsonarista, a esquerda passou a apostar na pressão social para tentar influenciar o debate público e as votações no Legislativo.
Na opinião de opositores, os embates têm a eleição de 2026 como pano de fundo. Eles alertam que fomentar o discurso contra o Congresso pode ter ganhos para o governo a curto prazo, mas traz o risco de, ao mesmo tempo, inviabilizar a relação entre Executivo e Legislativo.
Com ou sem sucesso, a tática foi adotada neste ano na PEC da Blindagem, no tarifaço de Donald Trump, na anistia aos condenados do 8 de Janeiro, na isenção do Imposto de Renda, na MP (medida provisória) do aumento de impostos e agora no PL Antifacção, em uma virada do governo após derrotas no decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e no licenciamento ambiental.
Em todos os casos, o Congresso, por vezes chamado de "inimigo do povo", foi alvo das críticas. As campanhas se baseiam em um alinhamento dos discursos das autoridades do governo e de aliados e uma ação coordenada nas redes, com foco em vídeos.
Deputados de diferentes campos viram efeito no argumento do PT e do governo de que o relator Guilherme Derrite (PP-SP) pretendia limitar a ação da Polícia Federal e, assim, proteger parlamentares investigados. O PL Antifacção passou a ser chamado de nova PEC da Blindagem.
Como resultado, o secretário de Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) acabou recuando sobre a PF e desistindo de medidas caras para a direita, como equiparar facções a terroristas. Além disso, a votação foi adiada, e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), teve que sair em defesa da PF pessoalmente.
Como a Folha mostrou, grupos ligados ao PT em aplicativos de mensagens intensificaram a ofensiva contra o relatório afirmando que ele fortalece o crime organizado e mirando o centrão.
Na sexta-feira (14), Motta minimizou os efeitos da repercussão. "O debate sobre o Marco Legal de Combate ao Crime Organizado tomou conta do Brasil. Está nas rodas de conversa, nas redes e na imprensa e isso é ótimo. É o sinal de uma democracia viva! Os partidos podem brigar por narrativas, a direita ou a esquerda podem dizer que venceram a disputa das redes. Essa disputa não me move", escreveu no X.
Parte dos deputados, por outro lado, diz que a campanha atual não furou a bolha da esquerda e não se compara à PEC da Blindagem, que ensejou até protestos de rua. No tema da segurança, dizem, a opinião pública respalda a linha-dura da direita.
Um deputado do PT afirma que o governo acertou a fórmula ao encampar a retórica da luta entre ricos contra pobres e da "taxação BBB" (bilionários, bets e bancos), que tem respaldo na sociedade. A tendência é usá-la em qualquer matéria impopular apoiada pela direita e pelo centrão.
Segundo deputados da base, assim como os motes de soberania e justiça tributária serviram para que governo saísse das cordas, o embate com Derrite ajudou a recompor a gestão petista em um terreno de fragilidade, a segurança pública.
Até então, o Planalto acumulava uma série de reveses no contexto da operação policial que deixou 121 mortos no Rio, com declarações polêmicas de Lula, a união de governadores da direita e, finalmente, a escolha por Motta de Derrite como relator do projeto do Executivo.
Oposicionistas reconhecem que o vaivém de Derrite no texto e a questão da PF ajudaram a frear críticas antes direcionadas ao governo.
A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, por exemplo, divulgou vídeos explicando o texto de Derrite ponto a ponto. O Palácio do Planalto também escalou ministros para falarem com a imprensa, reforçando o discurso de que Derrite propôs fragilizar a PF.
Integrantes do governo apontam que o alinhamento político prévio de vários ministérios na construção do PL Antifacção permitiu que a mensagem também fosse unificada.
A brecha para a ofensiva da esquerda, afirmam aliados e detratores de Derrite, foi aberta pelo erro político do relator, descrito como açodado e inexperiente.
Um deputado do centrão diz que Derrite, ao contrário do governo, não se preparou do ponto de vista da comunicação, e prevaleceu a percepção de que ele queria tutelar a PF, instituição com credibilidade na população. Outro parlamentar do mesmo campo afirma que o adiamento da votação passa a imagem de um Congresso atrapalhado ou covarde.
Um cardeal do grupo aponta ainda que a imagem de Motta também saiu desgastada —junto à opinião pública e também internamente, ao demonstrar fragilidade.
Do outro lado, houve reação por parte do presidente da Câmara, que escalou líderes aliados para defenderem a escolha de Derrite e sua competência. Motta e representantes de sete partidos chegaram a participar ao lado do relator de uma entrevista à imprensa.
A defesa da PF por parte de Motta e o recuo de Derrite, segundo aliados do presidente da Casa, serviu para frear o efeito pretendido pelo PT na opinião pública.
Um interlocutor de Motta afirma que o movimento de ataque ao Congresso vai cobrar um preço. Ele diz enxergar uma postura do Executivo de que a eleição de 2026 já está ganha e, por isso, houve descuido na relação com o Parlamento. O deputado diz que, no fim do dia, o governo precisará mais da Câmara do que a Câmara do governo.
Por Carolina Linhares e Victoria Azevedo, Folhaapress
MBL expulsa vereador Sandro Filho após investigação interna
O Movimento Brasil Livre (MBL) anunciou, por meio de nota oficial, o desligamento definitivo do vereador Sandro Filho de seus quadros (PP). A decisão foi tomada após um procedimento interno de apuração, que investigou recentes acusações envolvendo o parlamentar.
De acordo com o MBL, durante a investigação foram colhidos depoimentos e analisados documentos, inclusive fornecidos pelo próprio vereador. Embora não tenham sido encontradas provas conclusivas de ilícitos, a equipe identificou indícios suficientes para justificar a expulsão.
Entre os elementos apurados, o movimento destacou a constituição de uma sociedade empresarial pela esposa do vereador para a abertura de um restaurante em parceria com João Paulo Andrade Lisboa de Britto, ex-chefe de gabinete de dois ex-vereadores atualmente investigados por supostas “rachadinhas” e compra de votos.
O MBL também informou que a análise das movimentações financeiras de Sandro Filho indicou gastos incompatíveis com a remuneração do cargo público, o que reforçou as suspeitas iniciais.
“Diante dos fatos e em observância aos valores éticos e morais que norteiam o MBL, foi deliberada a expulsão definitiva do vereador Sandro Filho”, conclui o comunicado.
Por Política Livre
Centrão usa discurso antifacções para tentar aprovar voto distrital misto e ampliar poder
A defesa da aprovação do modelo distrital misto foi feita pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB)
Partidos de centro e de direita hoje majoritários no Congresso Nacional articulam novamente uma mudança no sistema eleitoral que tem objetivos não coincidentes nos bastidores e no discurso público.
Nos microfones, defensores da adoção do chamado "distrital misto" afirmam buscar uma maior sintonia entre eleitor e parlamentar e barrar o ingresso de criminosos na política, discurso que ganhou força após a megaoperação contra o Comando Vermelho, no Rio.
Atrás das cortinas, porém, parlamentares ouvidos pela Folha dizem não ver impacto desse sistema contra a penetração de facções criminosas na política alguns afirmam, inclusive, que a mudança facilitaria o ingresso.
Para esses congressistas, entre os objetivos do centrão estão ampliar o poder das direções partidárias e as perspectivas de crescimento do grupo, além de reduzir drasticamente o impacto dos "puxadores de voto", vários deles influenciadores digitais e com discurso antissistema.
A defesa da aprovação do modelo distrital misto foi feita pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que escolheu como relator da proposta o deputado Domingos Neto (PSD-CE), em movimentação que recebeu elogios públicos do presidente do PSD, Gilberto Kassab.
O ponto de partida será o PL 9.212, de autoria de José Serra (PSDB-SP), aprovado no Senado em 2017 e desde então parado na gaveta da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Se aprovado, o novo modelo não valeria nas eleições de 2026 (devido ao princípio da anualidade), mas sim a partir da disputa municipal de 2028 (para cidades acima de 200 mil habitantes) e na geral de 2030.
Domingos Neto, designado por Motta relator em abril, diz ter um texto já pronto, aguardando apenas ser marcada a data de votação.
Hoje, a escolha de deputados federais, estaduais e de vereadores segue o sistema proporcional de lista aberta. O eleitor vota em um candidato ou em um partido e os votos de todos os nomes da mesma legenda são somados. Esse total define a quantas cadeiras o partido ou federação terá direito.
Se uma sigla alcançar, por exemplo, três vagas, os três candidatos mais votados dentro dela são eleitos, ainda que outros, de fora do partido, tenham obtido mais votos individuais.
No modelo distrital misto aprovado pelo Senado em 2017, a distribuição das vagas ocorre em duas etapas. Primeiro, o estado é dividido em distritos eleitorais, cada um elegendo um representante o candidato mais votado na região. Essa fase corresponde à metade das cadeiras disponíveis.
A outra metade é preenchida conforme o voto dado aos partidos. Cada legenda define uma lista pré-ordenada de candidatos (chamada de lista fechada), e as vagas são distribuídas de forma proporcional à votação recebida pela sigla em todo o estado. Assim, o eleitor teria dois votos: um no candidato do seu distrito e outro no partido.
Na prática, o sistema reduz o peso de "puxadores de voto". Hoje eles levam para o Legislativo vários colegas menos votados. Nikolas Ferreira (PL-MG) e Guilherme Boulos (PSOL-SP), por exemplo, ajudaram a eleger 6 e 2 deputados de seus partidos, respectivamente, com suas votações.
No novo modelo, elegeriam apenas a si mesmos. Minorias, políticos e partidos beneficiários dos chamados "voto de opinião", mais pulverizados, também tenderiam a perder espaço.
Domingos Neto afirma que seu relatório irá estabelecer que o voto no candidato (na disputa pela primeira metade das cadeiras) conte automaticamente como voto no partido dessa pessoa (a segunda metade), excluindo a necessidade de o eleitor votar duas vezes.
O relator afirma que o principal objetivo do projeto é aproximar o eleitor de seu representante. "Onde se colocou o voto distrital, a motivação é o accountability [prestação de contas]. É você poder cobrar do seu parlamentar. Hoje quase 90% dos eleitores não lembram em quem votou. Isso se altera. O eleitor vai precisar ter uma relação com o seu deputado federal, mais ou menos como tem com o prefeito", afirma.
Ele diz ter convicção de que o modelo dificultará muito a entrada do crime organizado na política.
"Você conseguiria um mapeamento, entre 2.000 candidatos em São Paulo, quais têm ligação ou não com o crime? Você não vai conseguir. Agora, se no seu distrito tiver dez candidatos, a imprensa, o Ministério Público e os adversários políticos jogarão holofote sobre a disputa. É muito mais complexo que as facções criminosas consigam participar de um processo eleitoral sob holofote, que é uma coisa que ela não gosta."
Críticos da medida discordam. "O argumento sugere que a geografia do voto seria suficiente para barrar organizações criminosas, como se facções que controlam territórios pudessem ser 'afastadas' por redesenho eleitoral. A lógica ignora a realidade brasileira: o crime já infiltra aparelhos públicos, financia candidaturas e controla áreas justamente pela ausência do Estado", diz análise do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) publicada na última segunda-feira (3).
Juliana Sakai, diretora-executiva da ONG Transparência Brasil, afirma que a simples troca do atual sistema eleitoral proporcional por um sistema distrital ou distrital misto não tem a capacidade de impedir o avanço do crime organizado na política. "Tivemos casos de eleição de prefeitos em 2024 ligados ao crime organizado, e não foi o sistema majoritário que impediu essas eleições", comenta.
Segundo ela, em um sistema distrital existe o risco de haver distritos eleitorais em que uma organização criminosa tenha representatividade o suficiente para eleger seus candidatos ou coagir e cooptar lideranças políticas.
"Se o intuito real do Congresso é evitar o financiamento da política pelo crime, deveríamos priorizar o fortalecimento da Justiça Eleitoral e do sistema de prestações de contas de eleições e de partidos."
Tanto críticos como congressistas apontam ainda a possibilidade de uma definição de distritos que beneficie os grupos que hoje comandam o Congresso, abrindo espaço para uma queda de braço similar à hoje vista nos Estados Unidos, onde republicanos e democratas patrocinam redesenho de distritos com o objetivo de aumentar suas forças no Capitólio.
Além das críticas, a atual tentativa de mudar o modelo eleitoral esbarra em um amplo retrospecto de derrotas no próprio Congresso, que nos últimos anos rejeitou várias outras propostas de mudança, entre elas o próprio distrital misto e o "distritão" (que elege os mais votados, sem contar o peso dos partidos).
ENTENDA OS MODELOS
ELEIÇÕES PROPORCIONAIS (ATUAL)
Cargos: deputados federais, estaduais/distritais e vereadores
O eleitor vota:
- Em um candidato ou
- Diretamente em um partido/federação
1. Somam-se os votos de todos os candidatos e do partido
2. Calcula-se o quociente eleitoral (votos válidos dividido pelo número de vagas)
3. Cada partido/federação recebe um número de cadeiras proporcional à sua votação total
4. São eleitos os mais votados dentro de cada partido até completar o número de vagas conquistadas
Exemplo:
- Estado tem 10 cadeiras
- Partido A faz votos suficientes para 3 cadeiras
- Os 3 candidatos mais votados do Partido A ficam com as vagas
Efeitos:
- Candidatos "puxadores de voto" podem eleger colegas com votação baixa
- Campanhas tendem a ser mais caras, feitas em todo o estado
- O eleitor muitas vezes não sabe quem é o seu representante direto
- O poder de decisão fica mais centrado no desempenho individual do candidato
DISTRITAL MISTO
Cada estado (ou município) seria dividido em distritos eleitorais, equivalentes à metade das cadeiras disponíveis.
Exemplo: 70 deputados federais (São Paulo) → 35 distritos.
- O eleitor vota em candidato do seu distrito (voto nominal)
- Esse voto conta para o partido, que tem uma lista pré-ordenada de candidatos
Metade das cadeiras vai para:
- Os candidatos mais votados em cada distrito (sistema majoritário)
A outra metade é distribuída:
- Entre os partidos, conforme o total de votos partidários no estado
- As vagas são preenchidas na ordem da lista apresentada por cada legenda
Exemplo:
- Estado tem 10 cadeiras → 5 distritos + 5 vagas partidárias
- 5 candidatos eleitos diretamente nos distritos
- Os outros 5 vêm da lista do partido, conforme o total de votos partidários no estado
PRÓS E CONTRAS DO DISTRITAL MISTO
Prós:
- Aproxima eleitor e representante (cada distrito tem um deputado conhecido)
- Reduz o custo das campanhas (área menor de atuação)
- Fortalece os partidos e diminui o peso dos "puxadores de voto"
- Pode reduzir a fragmentação partidária
- Defensores dizem que modelo dificulta penetração do crime organizado por jogar holofote nas disputas
Contras:
- Tira peso do voto de opinião e de candidatos que representam minorias
- Risco de oligarquização local (distritos dominados por famílias ou grupos regionais)
- Menor liberdade de escolha individual, já que parte das vagas vem de listas partidárias
- Fortalecimento de feudos partidários e 'vereadorização' de deputados estaduais e federais
- Críticos afirmam que não trava a penetração do crime, que já tem eleito prefeitos suspeitos de ligação com facções
Por Ranier Bragon / Folhapress
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