PP e União selam aliança com palmas a Bolsonaro, fala de Tarcísio e pressão por saída do governo

Foto: Renato Araújo/Câmara dos Deputados
Com quatro ministérios no governo Lula (PT), a federação entre PP e União Brasil foi homologada em convenção nesta terça-feira (19) em Brasília com discurso de oposição, aplausos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e cobrança de uma parte dos dirigentes para que sejam entregues os cargos na gestão petista.

O evento contou com dez governadores, entre eles Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, que é o favorito entre os dirigentes da federação para substituir Bolsonaro nas urnas. O ex-ministro Ciro Gomes, hoje no PDT, disse que estuda uma filiação e pediu união da “centro-esquerda e centro-direita”.

O discurso mais longo e mais aplaudido, no entanto, foi do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União). Ele afirmou que um partido com essa musculatura “não pode ficar acanhado”, precisa apresentar um projeto para o país e retirar seus filiados do governo.

“Não podemos mais ficar sendo entrevistados e as pessoas perguntam: você tem ministros na base do governo? Você é da base ou da oposição?”, disse Caiado, que acusou Lula de “roubar os aposentados” e “entregar o país ao narcotráfico”. “O partido tem que ter lado. Tem que ter posição clara”, defendeu.

Caiado se lançou pré-candidato à Presidência, mas não encontra apoio entre os principais líderes das duas siglas. Ele defendeu, no evento, que cada partido lance seu candidato para disputar contra Lula e que a união da direita ocorra apenas no segundo turno. Unificar as candidaturas, disse, só ajudará o petista.

O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), rebateu a estratégia ao discursar. “Temos grandes nomes, mas talvez não seja a hora de sermos a cabeça”, disse. “Não seremos também os braços, condenados a estar num extremo ou de outro. A União Progressista nasceu para ser a espinha dorsal”.

A fala de Caiado a favor de um rompimento foi aplaudida por quase todos os políticos no palco, com exceção dos ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esporte) e do vice-governador da Paraíba, Lucas Ribeiro (PP), que quer ser candidato com apoio de Lula. Eles não foram convidados a discursar.

Os ministros das Comunicações, Frederico Siqueira Filho, e do Desenvolvimento e Integração Nacional, Waldez Góes, não participaram do ato. Eles não são filiados ao União Brasil, mas são indicados pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), com apoio da bancada de senadores do partido.

Outro que cobrou a saída dos filiados do governo foi o secretário-executivo do União Brasil, ACM Neto, que é pré-candidato ao governo da Bahia numa chapa contra o PT. A aliança entre os dois partidos, afirmou, “nos impõe assumir uma posição”. “Se queremos que nosso lado seja o lado do povo brasileiro, temos que ter a consciência que o nosso lado é o lado contra o PT, o lado contra o governo que aí está”, declarou.

Apesar da defesa do desembarque, Ciro Nogueira e o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, evitaram o tema no palco e seguiram apenas com as crítica a Lula.

Após o evento, em entrevista à imprensa, ambos disseram que a proibição para que filiados continuem no governo petista ocorrerá “o mais rápido possível”, mas sem definirem uma data, e defenderam dialogar com os ministros para convencê-los a saírem por conta própria, sem precisar de uma expulsão.

Favorito da cúpula da federação para assumir a candidatura presidencial, Tarcísio de Freitas afirmou que a aliança entre PP e União Brasil é um “passo muito esperado” do amadurecimento do sistema político brasileiro.

“Tenho certeza que o Brasil aguardava muito esse passo, aguardava com esperança. Esperança de contar com mais uma força para discutir temas relevantes, [como] a reforma política, o envelhecimento da população, o financiamento do Sistema Único de Saúde, o processo de escalada da crise fiscal”, disse.

Já Ciro Gomes citou números sobre a economia do país e afirmou que conversas com suas bases sobre uma filiação a um dos partidos da federação. O objetivo seria disputar o governo do Ceará contra o grupo do PT e do seu irmão, o senador Cid Gomes (PSB).

“Façam desse gesto, dessa iniciativa, um ato de gravitação universal. Ou seja, chame tudo o que o brasileiro pode oferecer, da centro-esquerda à centro-direita, para nós tirarmos o Brasil deste desastre”, afirmou o ex-presidenciável.

Alcolumbre, que é da ala governista do União Brasil, fez a primeira fala do evento e saiu, mas pregou uma conciliação contra os extremos e afirmou que a federação não nasce como governo ou oposição. “Não aguentamos mais a divisão da sociedade”, declarou. “Temos muitos problemas, e a gente tem que compreender que a política foi feita para resolver os problemas e não para criar problemas”.

O evento teve até aplausos a Bolsonaro, que está em prisão domiciliar e não participou. O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), pediu aplausos ao ex-presidente e foi atendido. “Santa Catarina é um estado que vai bem porque o PT nunca governou o estado de Santa Catarina”, disse.

O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, foi o único dirigente de outro partido no evento, mas evitou o palco e não quis dar entrevista à imprensa. Nenhum representante do PT participou do ato.

PESO NO CENÁRIO POLÍTICO

A federação terá que durar quatro anos e passar por duas eleições (2026, nacional, e 2028, municipal), com os dois partidos atuando juntos em todos os estados e municípios.

Por outro lado, os votos para a Câmara dos Deputados e assembleias legislativas serão somados, o que aumenta as chances de que façam bancadas maiores no Legislativo.

Além disso, a federação terá a maior parcela dos fundos partidário e eleitoral e o maior tempo de propaganda eleitoral na TV e rádio, o que a tornou um dos principais atores das eleições estaduais.

Nesta terça, o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, deixou o PSDB e se filiou ao PP. Ele será o terceiro governador da sigla, que já comanda os governos de Roraima e do Acre. Já o União Brasil chefia o Executivo de Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Amazonas.

A filiação da senadora Margareth Buzetti (MT), programada para quinta-feira (21), também dará à agremiação a maior bancada no Senado. Serão 15 senadores da federação, contra 14 do PL e 13 do PSD (sigla a qual Margareth era filiada).

Na Câmara, o grupo será de longe a maior bancada, com 109 deputados federais, bem à frente do PL (88) e da federação PT/PV/PCdoB (80).

Raphael Di Cunto/Ranier Bragon/Folhapress

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