Fã de Hugo Chávez, Glauber Braga ganhou cargo da mãe e teve atrito com Romário
Em um dos inúmeros embates da ex-prefeita de Nova Friburgo (RJ) Saudade Braga (PSB) com vereadores, seu filho, Glauber Braga, decidiu gravar os pedidos feitos pelos adversários que dificultavam o mandato da mãe.
A exposição pública de rivais gerou investigação e burburinho na cidade e mostra, para Fábio Gripp, assessor do deputado federal do PSOL, como Glauber atua em situações de enfrentamento, expondo o que considera erros de adversários.
Nos últimos anos, Glauber ganhou projeção ao fazer embates públicos com Sergio Moro (União Brasil), Eduardo Cunha (MDB) e Arthur Lira (PP). O estilo se tornou motivo incômodo na Câmara dos Deputados, onde enfrenta processo de cassação por agredir um militante do MBL (Movimento Brasil Livre).
Na última quinta (17), Glauber encerrou greve de fome que durava oito dias contra a abertura do processo de cassação. A decisão foi tomada após o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), suspender o caso por dois meses.
Os enfrentamentos marcaram a nacionalização do perfil de atuação política do deputado, antes mais vinculada à sua origem na Região Serrana fluminense.
Filho de um casal de médicos brizolistas, Glauber acompanhava na juventude a mãe na Câmara Municipal. Assim que foi eleita prefeita, em 2000, Saudade nomeou o filho, aos 18 anos, como assessor em uma subprefeitura da cidade.
“Ele assistia à articulação política e vivia o brizolismo dentro de casa. Foi uma liderança que surgiu domesticamente, mas tão logo iniciou o governo, propiciou essa afirmação trabalhando nos bairros”, disse Gripp, que o acompanha desde os primeiros passos na política.
A primeira candidatura de Glauber para a Câmara, pelo PSB em 2006, foi durante o mandato da mãe. Atraiu quase 40% dos votos da cidade, mas os 51 mil recebidos o deixaram na suplência. Ele assumiu uma cadeira em 2009, após a nomeação do ex-deputado Jorge Bittar (PT) para uma secretaria no Rio de Janeiro.
Assim que chegou ao Congresso, comentou sobre a trajetória ligada à mãe e os cargos na prefeitura, onde foi secretário de Governo entre 2007 e 2008. A prática do nepotismo foi proibida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em agosto de 2008, após as nomeações de Glauber, mas sempre foi criticada pela esquerda.
“Se você considerar que nepotismo é empregar parente, foi um caso. Mas se a definição for dar emprego a pessoas que não têm condições de exercer a tarefa, não é nepotismo. Não sou a favor de tirar a possibilidade de pessoas com vocação para fazer essas tarefas”, respondeu ao jornal O Globo, em 2009.
Foi reeleito em 2010, ainda com votação concentrada em Nova Friburgo, e focou o segundo mandato no acompanhamento dos investimentos na Região Serrana após o desastre climático de 2011. Ele foi um dos que tiveram a casa destruída na tragédia que matou mais de mil pessoas.
No segundo mandato, começou a galgar posições dentro do PSB. Foi um dos artífices da intervenção do Diretório Nacional da sigla no Rio de Janeiro. Acusou o então presidente regional, Alexandre Cardoso, de agir “como um laranja” do ex-governador Sérgio Cabral, por indicar nomes para filiação ao PMDB em vez da própria agremiação.
“Glauber sempre foi muito impulsivo”, disse Cardoso.
O deputado assumiu o comando do partido ao lado do então deputado Romário. Atuou na campanha de Eduardo Campos à Presidência e coordenou o desembarque da gestão Cabral. Glauber foi reeleito em 2014 com sua maior votação já registrada (82 mil votos). Em Nova Friburgo, teve mais de 60% dos votos.
No ano seguinte, rompeu com Romário e o PSB. Ficou na sigla até setembro de 2015, quando foi para o PSOL em razão da adesão do antigo partido ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Neste período, ganhou notoriedade ao integrar um grupo contra a atuação de Eduardo Cunha no comando da Câmara. Durante a votação do impeachment, em 2016, o chamou de “gângster”.
O ano de 2016 marcou a virada no perfil político de Glauber. Com visibilidade nacional, o deputado tentou, sem sucesso, a Prefeitura de Nova Friburgo.
“A ida para o PSOL não repercutiu bem no interior, onde a entrada do partido ainda é muito difícil”, afirma Gripp.
Em 2018, seu mapa eleitoral deu os primeiros sinais de mudança. Um terço dos 40 mil votos (metade da eleição anterior) veio da capital fluminense, superando os 10 mil registrados em Nova Friburgo (10% da cidade).
Durante a gestão Jair Bolsonaro (PL), manteve em evidência a verve contra o senador Sergio Moro, a quem chamou de “juiz ladrão” por sua atuação como magistrado na Operação Lava Jato.
Nas eleições de 2022, criticou o PSOL pela aliança com o presidente Lula. Defendeu uma candidatura própria à Presidência e se colocou à disposição para a disputa. Derrotado na sigla, quase dobrou os votos para a Câmara (78 mil), tendo quase metade de sua votação na capital fluminense. Manteve o patamar de 10% do pleito anterior em Nova Friburgo.
Foi no fim da legislatura passada que teve o principal embate com Lira. O ex-presidente da Câmara ameaçou expulsar Glauber do plenário após um bate-boca sobre a privatização da Petrobras. Desde então, os dois se viram como rivais.
O deputado do PSOL chamou Lira de “bandido” ao atribuir a ele o avanço de seu pedido de cassação, o que o ex-presidente da Câmara nega.
A vida pessoal de Glauber no período também sofreu baques. Casado com a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), teve o cunhado morto num quiosque da Barra ao ser confundido com um miliciano, em 2023. O mal de Alzheimer que acometia a mãe se agravou até sua morte, em maio de 2024.
Um mês antes da morte da mãe, Glauber agrediu Gabriel Costenaro, militante do MBL, após ouvir dele que Saudade era corrupta. Assessores do deputado afirmam que o youtuber o perseguia há meses em agendas no Rio e atribuem os chutes e empurrões à ofensa à ex-prefeita, em estado grave da doença.
Nesta legislatura, Glauber também viu crescer o filho Hugo. O nome foi, por parte do pai, uma homenagem a Hugo Chávez, ditador venezuelano morto em 2013. Por parte da mãe, Sâmia Bomfim, uma referência a Hugo Moreno, conhecido como Nahuel Moreno, revolucionário argentino.
Italo Nogueira, Folhapress
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