Witzel sinaliza trégua com Bolsonaro e pede diálogo após operação da PF

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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Duas semanas após chamar Jair Bolsonaro de fascista e ver uma ameaça de ditadura no país, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), disse que espera retomar o diálogo com o presidente da República.

Dependendo de negociações com a União para viabilizar seu governo, Witzel disse que quer ser recebido pelo presidente e até elogiou o envio de respiradores ao estado pelo governo federal.


"Tenho vários problemas a serem resolvidos, como o Regime de Recuperação Fiscal, a queda do royalty de petróleo. Nós temos muitos problemas e soluções para apresentar ao presidente. Continuarei crítico de forma respeitosa como sempre fui. E espero que o presidente possa me receber para que a gente converse e encontre as soluções", disse Witzel em entrevista à rádio Bandnews.

A fala do governador foi feita após ser questionado sobre notas da colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, apontando o fato de ter recuado das críticas ao presidente após ser alvo de operação da Polícia Federal.

Desde o dia da operação, Witzel nunca mais criticou Bolsonaro no Twitter. Na sexta (5), ele fez uma referência negativa ao presidente em uma entrevista –mas respondendo à insinuação feita por Bolsonaro de que "brevemente" poderá ser preso.

"Eu tenho minhas diferenças com o presidente e continuo tendo. Todas as vezes que fiz as críticas ao presidente Bolsonaro foram no sentido a melhorar o nosso desenvolvimento econômico, e as propostas feitas na campanha com as quais conto que sejam realizadas. Especialmente o combate ao tráfico de armas e drogas", disse o governador.

O tom é distinto do pronunciamento feito logo após a Operação Favorito, que investiga sua participação em supostas fraudes na montagem e gestão de hospitais de campanha, bem como a relação sua relação e de seu entorno próximo com o empresário Mário Peixoto. Na ocasião, Witzel vinculou o presidente ao fascismo de viu ameaça de que ele se tornasse um ditador.

"Não abaixarei minha cabeça, não desistirei do estado do Rio, e continuarei trabalhando para uma democracia melhor. Continuarei lutando contra esse fascismo que está se instalando em nosso país, contra essa nova ditadura de perseguição. Até o último dos meus dias, não permitirei que, infelizmente, esse presidente que eu ajudei a eleger se torne mais um ditador na América Latina", completou.

Além do temor da continuidade das investigações, pesou para a decisão de Witzel a necessidade de negociar com o governo federal apoio financeiro para enfrentar os efeitos econômicos da pandemia.

O mais urgente é a renovação do regime de renovação fiscal, previsto para o fim deste ano. O estado depende da ampliação do prazo por mais três anos do pagamento das dívidas com a União para que consiga tentar se recuperar. Witzel também pleiteava mudanças em alguns pontos, que dependem de negociação com o governo federal.

O governador fluminense atravessa uma crise política desde que foi alvo da Operação Placebo. Seis secretários já deixaram o governo em mudanças que visavam tentar retomar o diálogo com a Assembleia Legislativa, onde há dez pedidos de impeachment.

Um dos pivôs da crise é o ex-secretário Lucas Tristão, também alvo da Placebo. Ex-braço-direito do governador, o advogado tinha péssima relação com os deputados estaduais e chegou a ganhar força na administração após a operação.

Após a nomeação de indicados por Tristão, Witzel perdeu seu líder na Assembleia e viu crescer as chances dos pedidos de impeachment prosseguirem. Ele, então, demitiu o ex-aliado, a fim de amainar o clima.

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