Governadores de direita criam 'Consórcio da Paz' e atacam Lula após operação letal no RJ

Participando por videoconferência, Tarcísio elogia ação policial que deixou 121 mortos e diz que governo do RJ 'agiu muito bem'

Presidenciáveis, Zema e Caiado criticam esquerda e PT sobre atuação na segurança
Rio de Janeiro

Governadores de direita se reuniram no Rio de Janeiro nesta quinta-feira (30) para demonstrar apoio ao governador Cláudio Castro (PL), após a operação policial mais letal da história do Brasil, que deixou 121 mortos até o momento. Eles anunciaram a criação de um grupo que chamaram de "Consórcio da Paz" e vai reunir os chefes dos Executivos estaduais para articular ações de combate ao crime organizado.

O governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), participou da reunião por meio de videoconferência e disse que o Rio de Janeiro "deu uma grande demonstração". "O estado do Rio de Janeiro agiu muito bem, fez a diferença", afirmou.

Em tom de campanha eleitoral antecipada, os governadores fizeram ataques ao governo Lula (PT). Além de Tarcísio e do governador fluminense, participaram nomes cotados como presidenciáveis como Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás.

"Nós estamos aqui com uma resposta clara no âmbito dos estados, que será, segundo [batizou] o nosso marqueteiro Jorginho o 'Consórcio da Paz'. Vai ser no modelos de consórcios que já existem para que possamos dividir experiências e ações de combate ao crime e conseguir a libertação do nosso povo", anunciou Castro, em entrevista coletiva conjunta no Palácio Guanabara que durou cerca de uma hora.

Zema elogiou a operação policial que, em sua visão, foi "extremamente bem-sucedida" e enfatizou que ela foi feita sem o apoio do governo federal.

"Temos um presidente que vai lá fora organizar a paz na Ucrânia, mas deixa o povo morrendo aqui", afirmou o governador mineiro.

Na mesma linha, Caiado destacou que a Bahia, estado governado há anos pelo PT, é atualmente o campeão de índices de violência policial. Ele associou governos de esquerda a posturas lenientes com o crime organizado.

"O divisor é moral. Quem quer, seriedade, cumprimento da lei e ordem está aqui, fique conosco. Se quer Lula, Maduro, fique com eles".

Também participaram Jorginho Mello (PL), governador de Santa Catarina; Eduardo Riedel (PP), governador de Mato Grosso do Sul, e Celina Leão (PP), vice-governadora de Brasília.

O grupo fez críticas à tentativa do Palácio do Planalto de acelerar a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública no Congresso. Caiado classificou a pauta como um assunto "fake".

"Tudo aquilo que está na PEC já está em lei ordinária. O único objetivo do governo federal era tirar dos governadores as diretrizes gerais da segurança pública, que é uma determinação da Constituição de 1988", declarou.

Castro voltou a defender a operação policial e afirmou esperar que o Rio seja um laboratório para a retomada de territórios ocupados pelo crime e para o controle da proliferação de armas de guerra.

"Sobretudo no combate dessas armas que não pode proliferar em nenhuma cidade do país. Eu desafio qualquer um a portar um fuzil numa cidade com Paris, Londres, Barcelona ou Frankfurt, e que fique com vida por mais de 20, 30 segundos", disse o governador fluminense.

Articulador do encontro, Jorginho Mello fez elogios a Castro e classificou a operação policial como "histórica". Segundo o governador de Santa Catarina, ela deve servir de modelo para outras no Brasil. Mello afirmou que espera que todas as 27 unidades da federação se unam ao Consórcio da Paz.

"Vamos trocar material humano, comprar equipamento de forma consorciada para jogar o preço para baixo, trocar informação e inteligência policial".

O encontro reuniu governadores que vem se movimentando para herdar o espolio eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível. Antecipando a disputa eleitoral de 2026, a pauta da segurança pública serviu para engajar os governadores num contraponto a governo Lula.

A reunião ocorre após Castro travar uma queda de braço com Lula visando capitalizar as repercussões políticas do planejamento e execução da operação. Após troca de farpas com o governo federal, na quarta-feira Castro selou um acordo com o ministro Ricardo Lewandowski para criação de um escritório emergencial contra o crime.

Na reunião, Castro foi aplaudido ao dizer que não vai retroceder. Disse que as operações não vão parar. "Onde houver barricada, haverá operação." Pediu aos governadores ajuda com agentes e equipamentos.

De uma sala com um grande monitor no Palácio dos Bandeirantes, o governador lamentou as mortes de quatro policiais na operação. "Meus sentimentos aos policiais perdidos, às polícias Civil e Militar pelas perdas na operação. Toda morte acaba sendo uma derrota para nós, mas não agir, seria covardia, rendição. E o estado do Rio de Janeiro agiu muito bem, fez a diferença", declarou.

Em um vídeo editado de pouco mais de três minutos, publicado em suas redes sociais, Tarcísio citou ações de seu governo, como "enfrentamento da cracolândia e contra o crime organizado". Disse ainda que mudanças na legislação, como a que vai classificar facções como terroristas, são fundamentais para edurecer penas e aumentar o custo do crime.

Colaboraram Fábio Pescarini e Marianna Holanda, de São Paulo

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