Trump deve vincular uso de Tylenol a risco de autismo, dizem autoridades

O governo Donald Trump deve fazer nesta segunda-feira (22) um anúncio em que associa o autismo ao uso de paracetamol, de acordo com quatro pessoas envolvidas na discussão, que falaram em condição de anonimato.

Autoridades federais de saúde devem levantar preocupações a respeito do uso, por mulheres grávidas, de paracetamol, princípio ativo do Tylenol e um dos medicamentos mais utilizados no mundo. Essas autoridades têm revisado pesquisas que sugerem uma possível ligação entre o uso de Tylenol no início da gravidez e um risco aumentado de autismo em crianças. A ideia, segundo as quatro pessoas ouvidas, é recomendar que no início da gravidez o medicamento só seja usado em casos de febre.

Representantes do Tylenol se reuniram com o governo nas últimas semanas para expressar suas dúvidas em relação ao movimento e discutir os próximos passos. A empresa não respondeu aos pedidos do Washington Post para comentar o possível anúncio.

O presidente dos EUA, Donald Trump, fala com jornalistas após o funeral de Charlie Kirk, neste domingo (21) – Brian Snyder/Reuters
No mesmo anúncio, o governo Trump planeja promover um medicamento pouco conhecido, chamado leucovorina, como possível tratamento para o autismo. A leucovorina é normalmente prescrita para neutralizar os efeitos colaterais de alguns medicamentos e para tratar a deficiência de vitamina B9. Os primeiros ensaios clínicos com administração de leucovorina para crianças com autismo mostraram o que alguns cientistas descrevem como melhorias notáveis em sua capacidade de falar e compreender outras pessoas.

Tais resultados repercutiram na comunidade científica, reacendendo o complexo debate sobre as causas do autismo, uma condição que alguns especialistas consideravam predominantemente genética e, portanto, amplamente intratável.

O tema tem sido uma das prioridades do presidente Donald Trump, que há muito tempo expressa preocupações com o aumento das taxas de autismo nos EUA e incumbiu seus assessores de encontrar respostas. A iniciativa atraiu o secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr., e outros altos funcionários.

Neste domingo (21), durante o funeral de Charlie Kirk, Trump deu uma prévia de seu anúncio, que deve ser feito em entrevista coletiva na Casa Branca.

“Amanhã teremos um dos maiores anúncios… em termos médicos, eu acho, da história do nosso país”, disse ele. “Acho que vocês vão achar incrível. Acho que encontramos uma resposta para o autismo”, afirmou o presidente dos EUA.

A Casa Branca também divulgou neste domingo suas próximas iniciativas sobre autismo.

“O presidente Trump prometeu abordar a crescente taxa de autismo nos Estados Unidos e vai fazer isso com a ciência padrão ouro”, disse o porta-voz, Kush Desai, em um comunicado.

O Wall Street Journal já havia noticiado que o governo estaria investigando o Tylenol e a leucovorina. Diretrizes das principais sociedades médicas sobre paracetamol tratam o medicamento como um analgésico seguro para uso durante a gravidez, embora aconselhem as gestantes a consultarem seus médicos antes de tomá-lo —como ocorre com qualquer medicamento a ser administrado durante esse período delicado.

Kennedy fez do autismo um dos principais temas de sua agenda. “Lançamos um enorme esforço de testes e pesquisas que envolverá centenas de cientistas de todo o mundo”, disse Kennedy em abril, durante uma reunião televisionada. “Até setembro saberemos o que causou a ‘epidemia de autismo’.”

As declarações alarmaram pesquisadores, que afirmam que conduzir esse tipo de pesquisa com precisão requer um longo processo.

O transtorno do espectro autista é uma condição caracterizada por dificuldades nas habilidades sociais e de comunicação, além de comportamentos repetitivos, que tem sido diagnosticada com taxas mais altas entre crianças nos EUA nas últimas décadas. De acordo com o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças), 1 em cada 31 crianças de 8 anos tem autismo, enquanto em 2000 os dados indicavam que 1 em cada 150 crianças tinha a condição.

As razões por trás desse aumento acentuado permanecem obscuras. O aumento dos testes e da conscientização têm papel importante, mas muitos pesquisadores apontam fatores adicionais em jogo, provavelmente relacionados ao ambiente e ao estilo de vida dos americanos.

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