Triste daquele que não lidera a própria candidatura, por Raul Monteiro*

Pelo visto, bem fez mesmo o senador Jaques Wagner (PT), que conseguiu se desvencilhar a tempo da cilada que poderia ter sido concorrer ao governo dentro das condições atuais de temperatura e pressão. E, pelo visto, bem também fez o quase-companheiro Otto Alencar (PSD), que, na mesma toada, picou a mula para fora do redondel em que só vislumbrou risco de volta, derrota e humilhação. Sem demérito algum para o companheiro Jerônimo Rodrigues (PT), aquele que terá que fazer um imenso esforço para provar que na Bahia não existe apenas o genial Gerônimo cantor e compositor de ‘É D’Oxum’.

Mas o trabalho desenfreado que o governo realiza para achar um vice para o Jerônimo com ‘J’ denota as dificuldades que a operação montada para fazê-lo emergir como a grande opção do PT para governador da Bahia não são pequenas nem desprezíveis. É claro que o quadro não seria o mesmo caso Wagner tivesse se disposto a concorrer, mesmo sabendo que enfrentaria dificuldades para fazer a máquina trabalhar em seu favor tendo um governador ao seu lado contrariado com o fato de não ter podido largar o governo para disputar o Senado exatamente por sua causa. Nem, provavelmente, se Otto tivesse assumido a frente da batalha.

Raposas políticas conhecidas em toda a Bahia, governadores em momentos e conjunturas diferentes, os dois se tornariam, naturalmente, articuladores de suas eventuais candidaturas por serem lideranças autênticas e fortes, donos de suas histórias e, em seus respectivos campos, vencedores de muitas batalhas pessoais e políticas. Não é o caso de Jerônimo, que ninguém conhece, emergiu de uma hora para outra como um nome que o PT conseguiu finalmente apresentar diante da confusão que se armou pela definição da chapa govenista e precisa que trabalhem por ele Lula, Rui, Wagner, Otto, Coronel e quantos mais puderem se somar ao projeto de elegê-lo.

Neste particular, não há como deixar de correlacionar seu surgimento para a candidatura governista como o da Major Denice para a política, lá em 2018, quando o mesmo governo decidiu de uma hora para outra transformar uma militar em candidata à Prefeitura de Salvador. É claro que Denice participou de uma campanha divorciada do pleito presidencial, onde não pode contar com o ex-presidente Lula dizendo a todos vote nela porque é do meu time e a taça é nossa, mote que catapultou vitoriosamente tanto Wagner quanto Rui nas eleições majoritárias de que participaram desde 2006, dando ao PT um espaço que ele não sonhou que fosse capaz de conquistar.

Por este motivo, arranjar para Jerônimo com Jota um vice cujo horizonte frontal seja apenas o de uma esperança vaga de que tudo pode acontecer, inclusive a vitória, a despeito de o jogo de probabilidades dizer o contrário, não tem sido tarefa fácil. Já tentaram por ele no PP e em outros partidos do campo adversário e até junto ao ex-prefeito de Feira José Ronaldo, que foi candidato a governador do DEM em 2018, e o êxito não foi logrado. Por que será que é o oposto do que acontece com ACM Neto, cujo esforço hoje é não perder ninguém diante da frustração que vai brotar quando tiver que escolher um entre os cinco que disputam a vaga em sua chapa?

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro

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