Ondas de choque se alastram pela Europa com crise energética



(Bloomberg) -- Duas semanas após a Rússia iniciar o maior conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, as empresas em todo o continente já estão em vários estágios de desespero.

A crise humanitária na Ucrânia, cujo impacto econômico mais amplo levou o Banco Central Europeu a acelerar a retirada do estímulo monetário esta semana, está afetando a prosperidade desde as terras agrícolas da Espanha até o pólo industrial da zona do euro na Alemanha e na França.

O aumento dos custos de energia é a principal queixa, mas cadeias de suprimentos interrompidas, sanções e preocupações com uma queda de demanda iminente também pesam. O choque abrupto de uma guerra nas vizinhanças, combinado com efeitos amplos e duração incerta, aumentará a pressão sobre os governos para amortecer o golpe, além de testar a determinação em enfrentar a Rússia.

“Não sei o que fazer se a guerra na Ucrânia continuar por muito mais tempo”, disse o suinocultor espanhol Lorenzo Rivera em entrevista esta semana. “Ou tenho que interromper a produção – ou fechar os negócios para sempre.”

Rivera, cujas 200 leitoas superam o número de pessoas em Peleas de Arriba, o vilarejo no norte da Espanha onde mora, já vem sofrendo com o aumento de custos há algum tempo - primeiro eletricidade, depois combustível e depois ração animal. Era tudo administrável até que a guerra estourou do outro lado do continente.

A raiz da dificuldade é que a União Europeia depende da Ucrânia para mais da metade de seu fornecimento de milho, uma fonte fundamental de ração para suínos. Com os agricultores ucranianos incapazes de acessar os campos, os analistas estão reduzindo as perspectivas de colheita e exportações em até um terço, e os preços atingiram o mais alto nível em cerca de uma década.

Outras rupturas econômicas estão sendo infligidas pela geografia da crise. Na Alemanha, o coração industrial da economia da zona do euro, a Porsche interrompeu a produção de seu carro elétrico Taycan em Stuttgart porque faltam cabos fabricados na Ucrânia. Enquanto isso, sua controladora, a Volkswagen, interrompeu as exportações para a Rússia e a produção em uma fábrica de automóveis em Kaluga, nos arredores de Moscou.

O mais oneroso é o impacto energético. Se os preços atuais persistirem, o custo extra de importação de gás e petróleo equivalerá a um choque de renda de 550 bilhões de euros (US$ 605 bilhões) ou 4,5% do produto interno bruto anual, segundo economista do JPMorgan Greg Fuzesi. O Goldman Sachs agora calcula que a inflação chegará a 8% e a zona do euro sofrerá uma contração no segundo trimestre.
© via BloombergCarlo Lista, a fishmonger in Rome's Monteverde neighborhood
Ao sul, ao longo da costa da Itália, o custo crescente do combustível também deixou muitos barcos pesqueiros incapazes de sair para o mar e provocou um semana de greve. Carlo Lista, dono de uma peixaria no distrito de Monteverde, em Roma, diz que o efeito foi dramático.

“Cerca de 80% dos barcos de pesca pararam devido ao aumento dos preços dos combustíveis”, disse. “Você vai lá, e talvez tenha um barco, e um cara dá um lance e depois outro, e o preço só sobe – quem der mais, leva o peixe. Os preços estão só subindo e subindo.”

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