Chapa governista ou companhia baiana de patifaria?, por Raul Monteiro*

Foto: Divulgação/Arquivo

Poucas vezes um grupo político deve ter se desconstituído de forma tão rápida e arrasadora como o que representa as forças governistas baianas atuais, lideradas pelo PT. Tudo isso depois de ter governado, com razoáveis índices de aprovação, segundo as pesquisas, o Estado por quase 16 anos. A provável saída do vice-governador João Leão (PP) do time em que jogou por quase 11 destes 15 anos é a confirmação que faltava do desmantê-lo tanto de relações pessoais quanto políticas com que, pelo visto, petistas e aliados vão acabar se despedindo da experiência no governo.

Não, não deve haver precedente, mesmo em se tratando de Bahia. Depois de planejar renunciar para tentar adquirir o chamado foro privilegiado dentre os privilégios que um mandato de senador concede, prometendo passar o governo ao vice, o governador Rui Costa (PT) foi surpreendido com um anúncio do senador Jaques Wagner (PT), pela imprensa, de que ficaria até o último dia no governo, descumprindo o compromisso que firmara com Leão (PP). Revoltado, com toda a razão, afinal garante que nunca pleiteara o cargo até Rui e Wagner terem lhe oferecido ele, Leão afasta-se, silente por três dias, do grupo.

Reaparece somente ontem, depois de conversas alvissareiras com a cúpula nacional de seu partido, que o acolheu no momento de decepção e, porque não dizer, humilhação pública, e de uma negociação “muito boa” com o grupo adversário do candidato do DEM ao governo, ACM Neto, que lhe oferece a vice ou o Senado, dentre outros regalos políticos suficientes para abrir-lhe novos horizontes e mostrar a todos que, ao contrário do que o PT avalia, ele vale. E vale muito. Além disso, alternativamente, Leão vira opção de candidato ao governo para Jair Bolsonaro (PL), que sonha em ter um palanque na Bahia.

Transformado de dois dias para uma noite de vilão perigoso e inconfiável, a quem o PT baiano não poderia jamais entregar o governo – pelo menos conforme se deduz da manobra midiática de Wagner -, em novo astro da cena política baiana, Leão continua sob a mira de todas as mesuras do governador, que lhe garante que, independentemente do que o senador disse, vai honrar a promessa e lhe passar o bastão. Sob o confuso andamento da definição do que um dia seria a chapa governista, não é nem preciso dizer que Leão culpa Wagner, que culpa Rui por atiçar o desejo do vice de virar governador por causa de sua ambição de conquistar o Senado.

Para completar, o senador Otto Alencar (PSD), chamado até de coronel, passa a ser acusado pelo grupo de Leão de ter criado todo o embaraço ao insistir na candidatura à reeleição, apesar de saber que o vice, por causa da legislação, não poderia mais concorrer ao cargo. Até aqui, ninguém suspeita que Otto pode ter assumido a ‘intransigência’ em jogo combinado com Wagner, não para bloquear Leão, mas impedir Rui de disputar o Senado. Sob a animada patifaria, não espanta que, descrentes de um entendimento ou da montagem de uma nova chapa competitiva, prefeitos e apoiadores do grupo já pensem em debandar para Neto. Só chamando Fanta Maria!

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*

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