‘Só o PT pode ter candidato a governador e os aliados não?’, questiona Marcelo Nilo

Foto: Live Política Livre / Arquivo
Prestes a deixar a base que deu sustentação ao ex-governador Jaques Wagner (PT) e apóia atualmente o governo de Rui Costa (PT), o deputado federal Marcelo Nilo (PSB) diz que só não anunciou ainda sua saída do grupo por questões circunstanciais.

Nesta conversa com este Política Livre, o deputado federal descarta o ingresso no PSDB e salienta que a primeira pessoa a quem deverá fazer uma comunicação sobre sua saída do grupo é à deputada federal e presidente do PSB na Bahia, Lídice da Mata.

O parlamentar diz que a divergência política que tem atualmente é com o PT que, segundo declarou, não abre a cabeça da chapa para os partidos aliados. “Tudo tem limite”, afirma. Ele declara ainda que, se permanecer no grupo, não vê perspectiva para crescer politicamente.

“Estou convencido: se eu ficar do lado do atual sistema que comanda a Bahia, eu serei apenas deputado federal”, afirma. Nilo diz ainda que não tem dívida de gratidão que seria convertida em subserviência ao PT ou a Jaques Wagner (candidato do PT ao governo) pelo fato de ter presidido a Assembleia Legislativa por cinco mandatos.

Ele salienta que só teve o apoio dos petistas nas duas primeiras vezes que disputou a presidência da Casa. O deputado federal admite que vem conversando com o ex-prefeito e pré-candidato do DEM ao governo, ACM Neto – o que motivou as discussões públicas entre ele e Jaques Wagner – e enaltece o democrata.

Nilo aponta que Neto alia as figuras do bom político com as do bom gestor.

Confira a entrevista abaixo:

Política Livre – Nesta semana, houve uma discussão pública do senhora com o senador Jaques Wagner. O senhor acabou respondendo a ele, chamando-o inclusive de deselegante nas palavras dirigidas contra ti. Isso de alguma forma define o rumo do senhor na política baiana? O senhor fica mais próximo do grupo do ex-prefeito ACM Neto?

Marcelo Nilo – Primeiro, eu tenho uma relação respeitosa com Jaques Wagner há 32 anos. Vi com surpresa a entrevista que ele concedeu na semana passada me atacando e dizendo que eu teria um fim triste na política se por acaso mudar de lado. E, hoje, mais uma vez ele volta a me atacar, dizendo que eu sou deselegante, que estou levando para a imprensa uma discussão política interna. Esse não é o Wagner que eu conheci: elegante, carismático e respeitoso. O que ele diz que eu faço na realidade é ele que faz. Há mais de 60 dias ele vem falando pela imprensa que vai me telefonar. Nunca me telefonou. Eu continuo com o mesmo telefone. Não quero fazer da política inimizade, mas fazer da política relações sempre positivas. Eu conheci o Wagner carismático, educado, respeitoso e agora estou vendo o Jaques Wagner ofensivo, atacando um parlamentar apenas porque sempre disse e, repito, nunca fui convidado pra ser senador de ACM Neto. O que eu disse e venho dizendo desde junho é que, se eu for convidado para ser senador, eu vou consultar família, vou consultar o deputado Marcelinho Veiga, consultar meu grupo político e vou tomar uma decisão que for melhor para a Bahia. Na primeira vez [que tratei desse assunto], eu passei uma mensagem pra ele [Jaques Wagner], que está registrada no celular dele e no meu, dizendo que ia conversar com ACM Neto. Eu sou um político independente, sou um político que gosto de fazer relações, mas fiquei muito triste com a maneira como Wagner está me tratando. Não esse o Wagner que eu conheci, um Wagner agressivo, sempre procurando me atacar através da imprensa.

O senhor era oposição ao ex-senador Antônio Carlos Magalhães, que tinha uma maneira de lidar com a oposição apontada em certos pontos como truculenta. O senhor acha que o senador Jaques Wagner, nesse episódio, se aproxima desse estilo?

Não quero comparar o senador Jaques Wagner com a figura que infelizmente já nos deixou. Eu tive divergências com o senador Antônio Carlos Magalhães na política, mas eu não posso transferir essa divergência para Neto. Eu sempre me dei bem com ACM Neto, tanto é que, quando eu fui receber o título de cidadão soteropolitano, ele ficou duas horas sentado na Câmara de Vereadores, do início ao fim da solenidade. Em 2014, ele me convidou para ser candidato a senador e eu respondi imediatamente que não. Dessa vez, eu faço diferente. Se eu for convidado eu vou pensar. Isso levou Jaques Wagner a me atacar pela segunda vez na imprensa. E quem me conhece sabe que eu não sou homem de ficar calado. Primeiramente fiquei calado, mas, nessa segunda, eu respondi. Ele, pra mim, foi presunçoso e deselegante.

Como é que o senhor avalia, ainda na condição de membro, o grupo que governa o Estado e que vai completar 16 anos no poder após suceder o carlismo?

Jaques Wagner foi um grande governador. Rui Costa é um bom governador. Agora são 16 anos de poder, são 16 anos apenas uma gestão e eu sempre disse: ‘só o PT pode ter candidato a governador e os aliados não?’. O PSD de Otto, o PP de João Leão, o PSB de Lídice, o Podemos de Bacelar, o Avante de Isidório. Ninguém pode ser candidato, só o PT? Tudo tem limite. Está na hora de passar o bastão para o aliado. E eu estou convencido: se eu ficar do lado do atual sistema que comanda a Bahia, eu serei apenas deputado federal. Não serei candidato a governador, não serei candidato a vice, não serei candidato a senador. Agora minha posição política será o que for melhor para a Bahia, não será pessoal. Decidirei baseado no que for melhor para o meu estado.

Quais são as principais convergências que o senhor tem com o ex-prefeito ACM Neto, baseado nas conversas que o senhor tem? Pode exemplificar?

O ACM Neto foi um grande prefeito, tanto é que foi considerado o melhor prefeito do Brasil, foi reeleito e fez o sucessor. Ele está mostrando que é um grande gestor e um grande político. Eu acho que pra você ser um político próximo de uma nota dez, você tem que ser um grande político e um grande gestor. Não adianta ser gestor e não ser político ou também não adianta você só ser político e não ser gestor. Tem que ser ambos. E ACM Neto tem mostrado essas duas características. É fruto disso que eu fui convidado pra conversar com ele. Agora eu acho realmente um exagero apenas porque eu conversei com ACM Neto toda essa polêmica. Não tem nada acertado, nunca fui convidado, mas eu sou político, converso com todos. Na última sexta-feira, eu conversei de manhã com ACM Neto, depois com [o secretário de Relações Institucionais] Luiz Caetano e à tarde conversei com [o deputado federal pelo PP] Cacá Leão. Eu procuro fazer política conversando com todos, acabou esse tempo que o político adversário é inimigo. Não existe inimizade na política, existe divergência, e eu tenho divergência com o PT hoje.

Por quê?

Eu lembro que eu fui presidente cinco vezes [da Assembleia Legislativa da Bahia] e que o PT saiu do plenário pra não me apoiar. Eram 14 partidos. Eu tive o apoio de 13, e o PT saiu do plenário pra não me apoiar. Todas essas coisas vão somando, vão colocando no coração de cada um. Mas eu me dou bem com todos no PT: sou amigo de Valmir Assunção e Joseildo Ramos, de Afonso Florence, de Waldenor Pereira, de Nelson Pelegrino, eu sou amigo de todos, gosto de todos. Agora cada um tem que fazer o que é melhor para o seu grupo, para o seu pensamento político e principalmente para a Bahia.

Sobre a questão do tempo que o senhor foi presidente da assembleia, a gente tem visto o próprio Wagner citar isso e fica nas entrelinhas a cobrança de uma gratidão.

Primeiro que eu fui presidente cinco vezes, e tive o apoio do governo duas vezes. A terceira, quarta e quinta vezes eu recebi apoio da oposição. Quando o governo veio me apoiar, a base do governo, não o governador, eu já estava eleito. Então três vezes consecutivas eu fui eleito com apoio da oposição. Como eu me dava bem com todo mundo eu recebi o apoio por unanimidade. Agora o PT sempre apresentava candidato contra mim, mas não conseguia criar as condições objetivas e consequentemente retirava, mas nunca me apoiou de primeira. Pelo contrário, o PT sempre procurou criar obstáculos à minha eleição. Modéstia à parte, pela experiência no Parlamento e as relações que eu tive, eu tinha o apoio da oposição e só depois eu tinha apoio do governo. A última vez que eu recebi o apoio do PT eu perdi para o deputado Angelo Coronel, porque eu fiquei isolado com apoio do PT.

Como fica a questão do senhor no PSB? Havia já há algum tempo muitas especulações sobre a saída do senhor, inclusive anteriores às discussões sobre a formação da federação partidária, de que não seria possível eleger o senhor junto com a deputada Lídice da Mata.

Eu tenho respeito e admiração muito grande pela deputada Lídice da Mata. Pra mim o PSB é o melhor partido do Brasil, tem os melhores quadros do Brasil. Se eu fosse fazer política nacional, eu ficaria no PSB. Se eu fizer política estadual, eu teria que sair do PSB. Agora, eu tenho um respeito muito grande por Lídice e, na hora que eu decidir o que vou fazer, a primeira pessoa a saber será a deputada Lídice da Mata. Eu entrei pela porta da frente, quero sair pela porta da frente. Enfim, tenho respeito muito grande por Lídice, por ter me recebido. É uma excelente parlamentar, uma das melhores deputadas do Brasil. Agora infelizmente eu não tomei ainda a decisão porque o homem é fruto das circunstâncias.

O senhor conversou recentemente com ex-deputado Jutahy Júnior. Isso é um indicativo de que esse partido para o qual o senhor pode ir é o PSDB?

Jutahy Magalhães é meu compadre quatro vezes. Todas as vezes que ele vem à Bahia, eu janto com ele, geralmente no Soho. Dessa vez, nós jantamos e botamos no Instagram e deu essa celeuma toda. A minha amizade com Jutahy é fora da política. Repito, ele é meu compadre quatro vezes, foi meu líder durante 40 anos. Infelizmente nós nos separamos pela circunstância porque [politicamente] o que era bom para mim era ruim pra ele, o que era bom para ele, era ruim para mim. Então nós nos separamos, mas continuamos mantendo a relação de amizade. Mas ir para o PSDB não está em cogitação, até porque o PSDB tem um candidato à majoritária, que é o prefeito João Gualberto.

A pesquisa recente do Instituto Opnus, que foi publicada pelo grupo Metrópole, mostra ACM Neto na liderança quando aparece sozinho. Mas quando Wagner é associado a Lula consegue uma boa margem à frente. Como o senhor avalia essas pesquisas?

Eu respeito muito o instituto, mas você tem que fazer uma pesquisa dentro da realidade, com Wagner apoiado por Lula e ACM Neto sozinho. Quando você põe ACM Neto apoiando Ciro Gomes ou apoiando Sérgio Moro, os dois puxam Neto para baixo. Ciro na Bahia está com 3%, então puxa Neto para baixo. A realidade é diferente. Se colocar Wagner com apoio de Lula e ACM Neto sem apoio de ninguém, você pode ter certeza que ACM Neto está lá na frente e muito na frente. Não estou dizendo que é mentira [a pesquisa], mas o questionário é equivocado. Você acha que Neto, que tem em torno de 50%, vai apoiar um candidato com 2%? Ele não é ingênuo a esse ponto. Pelo que eu conheço, pelo que eu sinto dele, ele não é criança.

Davi Lemos

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