EUA planejam criar força-tarefa no Departamento de Estado para monitorar a China

Foto: Aly Song/Reuters/
Prédios residenciais da Evergrande em construção na província de Jiangsu

Nesta semana, uma empresa até então desconhecida da maioria dos brasileiros entrou no léxico midiático mundial: Evergrande. O empreendimento foi fundado em 1996 em Guangzhou, no sul da China, e o fundador, Xu Jiayin, chegou a figurar na lista dos dez homens mais ricos da China por anos. A atuação da Evergrande consistia em mapear e adquirir terrenos, desenvolver grandes projetos de construção civil e usar os próprios prédios como forma de pagamento aos proprietários do lote, enquanto as unidades restantes eram comercializadas para financiar a continuidade da obra.

A megalomania tornou-se aparente conforme a empresa se afundava em dívidas. Ela começou a ter problemas para vender as unidades adicionais que construía. Assim, gerava letras de crédito com promessas de juros muito acima do mercado, levantava cada vez mais prédios para sanar débitos antigos (deixando mais prejuízo para o próximo projeto) e acumulava passivos que, estima-se, chegam hoje a US$ 300 bilhões, o equivalente a quase 25% de todo o PIB brasileiro no ano passado.

De acordo com a revista Caixin (em inglês), a empresa desenvolveu vários métodos para esconder os rombos. Ela disfarçava dívidas como aquisições e ações ainda não liquidadas, manipulava balanços e firmava contratos de empréstimos com altas taxas de juros no exterior para maquiar o fluxo de caixa anual.

Governo chinês tateia para medir o tamanho do problema

O aviso da incorporadora chinesa de que não teria como pagar as dívidas acendeu o sinal de alerta para risco de calote. Os mercados se desesperaram com a posssibilidade de um efeito cascata na economia mundial semelhante à queda do banco Lehman Brothers nos Estados Unidos em 2008. Na China, reguladores mantiveram um silêncio cauteloso.

Analistas locais especulam que o governo não tem ideia da extensão do problema e tateia em busca de possíveis soluções que protejam o mercado, mas enviem um sinal de austeridade e de baixa tolerância à repetição dos erros cometidos pela Evergrande.

Uma resposta parcial veio na quarta (22). O Banco Central chinês anunciou uma injeção de ¥120 bi (cerca de R$ 98,4 bi) no sistema bancário em acordos de recompra reversa (quando a autoridade monetária emite títulos vinculados a um acordo para comprá-los novamente no futuro a um preço pré-fixado).

A empresa também anunciou o pagamento de juros de um título a vencer, no valor de US$ 35,9 milhões (R$ 189 milhões). As medidas parecem ter acalmado os ânimos nas bolsas de valores e especula-se até a possibilidade de estatização da empresa. No entanto, o risco de falência permanece, e o governo chinês pediu aos governos locais que se preparem para o colapso da incorporadora.

Igor Patrick / Folha de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente esta matéria.