Talibã pendura corpos de supostos sequestradores em público no Afeganistão

Foto: AFP/
Grupo fundamentalista afirmou que restauraria punições como execuções para deter criminosos

Membros do Talibã mataram quatro supostos sequestradores e penduraram seus corpos em público para dissuadir outros possíveis criminosos, na cidade de Herat, no oeste do Afeganistão, informou um funcionário do governo local neste sábado (25).

De acordo com essa autoridade, os homens haviam sequestrado um empresário local e seu filho e pretendiam tirá-los da cidade, quando foram vistos por patrulhas em postos de controle.

Seguiu-se uma troca de tiros em que os quatro foram mortos e um soldado do Talibã acabou ferido.

“Seus corpos foram levados para a praça principal e pendurados na cidade como uma lição para outros sequestradores”, disse o vice-governador de Herat, Sher Ahmad Ammar, acrescentando que as duas vítimas do sequestro foram libertadas ilesas.

Morador da cidade, Mohammad Nazir comprava comida perto da praça Mostofiat quando ouviu um anúncio em um alto-falante chamando a atenção das pessoas. “Quando dei um passo à frente, vi que eles trouxeram um corpo em uma caminhonete, depois o penduraram em um guindaste”, relatou à agência Reuters.

Em uma entrevista à agência Associated Press nesta semana, uma alta autoridade talibã, o mulá Nooruddin Turabi, afirmou que o grupo fundamentalista restauraria punições como amputações e execuções para deter criminosos.

Sua visão é tirada de uma leitura literal da sharia, a lei islâmica tradicional. Esse tipo de punição foi um dos símbolos do primeiro governo dos talibãs no país, de 1996 a 2001.

O anúncio vem pouco mais de um mês após o grupo retomar o poder no Afeganistão, até então sob domínio americano, prometendo moderação.

“Todos nos criticavam pelas punições no estádio [Nacional de Futebol, em Cabul], e nós nunca dissemos nada sobre as leis dos outros e suas punições. Nós vamos fazer nossas leis a partir do Alcorão”, afirmou Turabi. “Cortar mãos é muito necessário para a segurança.”

O mulá é hoje chefe do sistema prisional do país. Na primeira passagem do grupo pelo poder, Turabi era ministro da Justiça e chefe do temido Ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício, que administrava aos afegãos a versão peculiar de mundo do grupo.

Mulheres não podiam sair na rua sem a burca, túnica típica da etnia pasthun, que cobre todo o corpo, nem trabalhar, estudar ou ter acesso livre a serviços públicos. Homens eram obrigados a deixar a barba crescer.

Os crimes eram punidos no referido Estádio Nacional ou junto à mesquita Eid Gah, no centro de Cabul. Ladrões perdiam a mão direita e também um pé se tivessem atacado comboios em estradas. Condenados por assassinato eram mortos por um parente da vítima, com um tiro na cabeça, podendo ser perdoados se a família aceitasse “dinheiro de sangue” como compensação.

O anúncio da volta da repressão ao modo islâmico medieval, que ocorre também em locais como Arábia Saudita e Irã, em diferentes medidas, é um balde de água fria para aqueles que ainda acreditam que o Talibã pode ser mais moderado em sua busca por reconhecimento e recursos externos.

O grupo retomou o controle do Afeganistão em 15 de agosto, quando entrou sem resistência em Cabul após duas semanas de uma campanha-relâmpago, feita na esteira da retirada das forças ocidentais que ficaram 20 anos no país.
Folha de S. Paulo

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