Faroeste: “Subserviente”, Ediene livrou mulher de Rui Costa de depoimento em caso de roubo, acusa MPF

Foto: Alberto Coutinho/GOVBA/Arquivo/
Ediene Lousado recebia ingressos para festas badaladas e viagens intermediadas por Gabriela Macedo

A denúncia apresentada pela subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, no âmbito da Operação Faroeste, no dia 2 de julho, demonstra que a relação de intimidade entre a ex-procuradora-geral de Justiça, Ediene Lousado, e a ex-chefe de gabinete da Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA), Gabriela Macedo, era tamanha que até serviu para liberar a primeira-dama do Estado, Aline Peixoto, de um depoimento em processo no qual ela figurava como vítima de roubo.

“A relação criminosa entre Gabriela Macedo e Ediene Lousado vai ao ponto daquela buscar designar Promotores em Plantão, conseguindo, até mesmo, a dispensa da oitiva de Aline Peixoto, esposa do Governador Rui Costa, em processo criminal, com a atuação de ambas”, escreve Lindôra Araújo na denúncia. “O processo seria o de número 0408402-36.2013.805.0001, no qual Aline Peixoto teria sido vítima de roubo tentado”, diz trecho da denúncia.

Segundo o documento, numa troca de mensagens, Gabriela questiona quem estaria no plantão no dia 29 de novembro de 2015, um domingo à noite. Ediene responde que seria a promotora Luciana Maria Batista Cardoso Neves Almeida. Gabriela, em seguida, questiona se ela seria de confiança, ao que a ex-procuradora-geral diz que se trata de cunhada da promotora Rita Tourinho. A chefe de gabinete do ex-secretário Maurício Teles Barbosa (SSP) faz com que Ediene entre em contato com o plantonista que estaria durante o dia, Francisco Rabelo Patury.

As mensagens, no entendimento de Lindôra Araújo, demonstram que havia subserviência de Ediene a Gabriela Macedo. “Mais grave é a ação perpetrada pela promotora acatando a solicitação. “Foi observada […] que a necessária e esperada independência entre as instituições, inclusive pelo fato de o Ministério Público ser o responsável pelo controle externo da atividade policial, efetivamente estava maculada pela relação de amizade estreita entre as interlocutoras”, escreveu Lindôra, que pontuou que tal relação pode ter prejudicado ações em defesa da ordem jurídica e interesses da sociedade, “em benefício de demandas pontuais nada republicanas”.

Sobre o caso em que a primeira-dama foi vítima de roubo, prossegue a denúncia: “atendendo a mais uma solicitação da amiga, dispensou a oitiva em uma audiência da primeira dama do Estado da Bahia, Aline Fernanda Almeida Peixoto, que havia sido solicitada por uma promotora do MP/BA”. Ainda é narrado sobre o fato que “pelo fato de [Aline Peixoto] não ter comparecido, um promotor substituto solicitou condução coercitiva, que só não teria sido efetivada, segundo Gabriela, pela interferência de um juiz amigo dela”.

Em seguida, Ediene diz a Gabriela que já havia retirado a promotora do caso, colocando um amigo. “O que está lá é meu amigo, Francisco Espinheira”. Segundo a denúncia, trata-se do promotor Francisco Sergio D´Andrea Espinheira. “Sem juízo de valores acerca da conduta da promotoria, a atitude da Procuradora visou a atender interesse direto de autoridades constituídas, em detrimento da independência funcional da titular da denúncia”, apontou Lindôra Araújo.

A subprocuradora-geral da República ainda aponta que Ediene Lousado recebia mimos da chefe de gabinete de Maurício Barbosa, como convites para festas badaladas na capital baiana e viagem para o litoral. Segundo Lindôra, essa era uma forma encontrada pelo empresário Adailton Maturino – protegido, segundo ela, na Secretaria de Segurança Pública – para fidelizar seus comparsas mediante pagamento de vantagens indevidas. Em mensagem de 22 de agosto de 2016, Ediene Lousado agradece à amiga: “Oi, Gabi, obrigada por ter contribuído para descansar a cabeça. Foi tudo maravilhoso”. A procuradora-geral de Justiça agradecia por uma viagem a Trancoso, entre os dias 18 e 21 do mesmo mês.
Davi Lemos

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