Cocaína que circula pelo Centro leva analgésico, talco e até cal em Campo Grande

Segundo delegado da , cocaína é misturada com cal, talco e analgésico. (Foto: Henrique Arakaki)

Após um morador de rua, que foi assassinado na última quarta-feira (26), ter sido encontrado com duas embalagens plásticas de pó branco, o laudo da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico) constatou que não se tratava de cocaína. Na região central, outros usuários de drogas também perceberam que a comercialização de “cocaína falsa” não é rara.

Conforme um dos usuários que fica na região onde o corpo foi encontrado, de 48 anos e que não quis ter a identidade revelada, a venda de outras substâncias com o nome da cocaína é comum, mas não imperceptível. “É impossível que [quem use] não perceba, você cheira e sente que é cocaína ou outro pó velho (sic)”, afirma.

Segundo ele, o acusado de matar o morador de rua era conhecido na região e “vivia discutindo com todo mundo”. Alexandre Rodrigues de Matos foi preso ao se entregar em um posto da Guarda Civil Metropolitana, logo após o crime.

Comerciante da rua 7 de setembro, que preferiu não ser identificada, afirma que pouco antes do crime havia escutado, ainda na tarde de quarta-feira, briga entre duas mulheres e um homem. “Uma delas agrediu a outra com vassouradas nas costas. Apesar de todas as noites eles ficarem deitados na esquina do Mercadão, na noite que aconteceu não tinha ninguém no cruzamento”, afirma.

Próximo a Paróquia São José, o grupo de quatro homens que se identificaram apenas como “cuidadores de carros”, explicaram ao Jornal Midiamax que o conflito é frequente na região, e são feitas divisões por grupos. “A gente que fica aqui não se mistura com o povo lá de baixo não. Lá eles usam droga e aqui a gente é mais da pinga. É a lei da sobrevivência, eu sei porque já fui de lá (sic) “, diz um dos rapazes, em referência à Rua 7 de setembro, local do crime.

O homem ainda afirma que, entre quem circula e faz da região sua casa, é consenso de que a cocaína vendida não é pura. “Não é que é falsa, só não é pura. Isso já ouvimos falar sim, todo mundo sabe”, afirma.

A ‘impureza’ é consequência do alto preço da droga, trazida da Bolívia, que é misturada a outras substâncias para aumentar o lucro de traficantes, conforme explica o delegado Hoffman D’ávilla, da Denar. “A cocaína é oriunda da Bolívia e o preço de custo é cerca de R$ 20 mil o quilo. Quando chegam a outras unidades da federação, já no lado do Brasil, eles a misturam com outros componentes para ‘fazer render’, como talco, gesso, comprimido de analgésico branco e bicarbonato”, explica.

Ainda segundo o delegado, existem dois tipos de usuários de drogas: o social e o diário. “O usuário da região do centro da cidade é aquele que consome a droga todos os dias, a qualquer hora. Muitas vezes, tamanho é o vício que ele não percebe se a cocaína é verídica ou não”.

O delegado explica que a coloração da cocaína a faz ser mais suscetível a ser “batizada” – termo usado para a mistura feita com as outras substâncias. “A maconha é mais difícil de falsificar, e devido à cocaína ser uma droga cara, ela é misturada para ser comercializada mais facilmente”.

Entre as três linhas de atuação da Denar, uma é a repressão ao tráfico de drogas, o que inclui prisões, apreensões e pesagem do material recebido, que chegam até a delegacia por meio de todas as polícias de Campo Grande – seja Civil, Militar ou Guarda Municipal. O delegado lembra que todas as apreensões são passadas pela identificação na Denar e seguem para o IALF (Instituto de Análises Laboratoriais Forenses) para perícia.
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