Troca de mensagens imprudente, diz Mourão após demitir assessor que conspirou contra Bolsonaro

Foto: Alan Santos/PR/Hamilton Mourão

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) exonerou o chefe de sua assessoria parlamentar, Ricardo Roesch Morato Filho, depois que uma conversa em que ele abordava o chefe de gabinete de um deputado federal para discutir a hipótese de impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi revelada pelo site O Antagonista.
A exoneração foi publicada em edição extra do “Diário Oficial da União” de quinta-feira (29). O site divulgou as mensagens sem dar o nome do interlocutor de Morato Filho.

“Tudo bem irmão?”, inicia o assessor de Mourão.

“Fala Ricardo, tudo excelente!”, reage o chefe de gabinete não identificado.

“Quando deputado quiser agendar com Mourão só avisar”, diz Morato Filho.

“Opa! Obrigado. Possivelmente ele vai querer sim”, responde o chefe de gabinete.

“Muito trabalho aí?”, prossegue o auxiliar do deputado.

“Sempre tem”, responde o assessor de Mourão. “Precisamos tomar um café mais reservadamente.”

“Bora ué”, reage o chefe de gabinete.

“Eu tenho conversado com os assessores de deputados mais próximos é bom sempre estarmos preparados”, diz Morato Filho.

“Putz, preparados para que?”, indaga o funcionário da gabinete do deputado.

O assessor de Mourão continua: “Nada demais articulação normal mesmo”; “Sabe que Mourão dividiu a ala militar”; “Antes, Heleno dominava agora estão divididos -capitão está errando muito na pandemia. General Mourão é mais preparado e político. Você sabe disso”.

“Cara – não posso ter esse tipo de conversa – chefe não iria gostar”, reage o chefe de gabinete. “Mas vamos nos falando”, diz na mensagem seguinte.

“Relaxa”, encerra o assessor de Mourão, segundo o trecho divulgado.

Inicialmente, a Vice-Presidência atacou a publicação, chamando-a de “inverdade”.

“Esta assessoria de comunicação social tem a informar que o senhor vice-presidente da República repudia a inverdade de toda a narrava e afirma que ninguém de sua equipe teve, tem ou terá este tipo de comportamento”, dizia nota divulgada no final da manhã de quinta-feira.

Depois, o próprio vice-presidente admitiu que a informação era verdadeira.

“A conversa houve. É algo que me deixou extremamente -vamos dizer assim- chateado porque o único patrimônio que eu tenho é a minha honra. E a minha honra está ligada à lealdade. São valores que eu não abro mão.”

“Posso algumas vezes discordar de algumas coisas do presidente Bolsonaro, mas jamais vou trabalhar contra ele. E esse meu assessor avançou um sinal totalmente fora do foco, fora daquilo que são as minhas orientações”, completou Mourão no fim da tarde de quinta-feira.

Nesta sexta-feira (29), Mourão classificou a situação como lamentável.

“Primeiro lugar porque eu não concordo com processo de impeachment, não apoio isso aí, acabou. Segundo lugar porque não é a forma como eu trabalho, então, uma troca de mensagens imprudente gera um ruído totalmente desnecessário em um momento que a gente está vivendo.”

“A partir daí, a pessoa que tinha um cargo de confiança perde a confiança para exercer esse cargo. Lamento isso aí”, disse Mourão a jornalistas ao chegar à Vice-Presidência no início da manhã.

O vice disse que não conversou com Bolsonaro sobre o assunto por ser um problema de sua “cozinha interna” e afirmou que o assunto está encerrado.

Mourão disse que não falou com Bolsonaro sobre o assunto. “É um problema da minha cozinha interna. Resolvido”. “Assunto encerrado”.

“Não é a forma, mais uma vez eu repito, como eu atuo. Eu prezo por demais o princípio da lealdade. A lealdade é uma estrada de mão dupla, ela é minha com os meus subordinados e deles comigo. Momento que isso é rompido se rompe um elo que não dá mais para você trabalhar junto”, disse Hamilton Mourão.
Daniel Carvalho/Folhapress

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