Cercado de militares, presidente da Fiesp tem conversado sobre o tema e se dado bem com o presidente do Brasil

O PRESIDENTE DA FIESP, PAULO SKAF (FOTO: EBC)
Em 16 de março de 2016, com protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff a mil, despontou em frente ao prédio da federação das indústrias paulistas, a Fiesp, um acampamento “Fora Dilma”. O acampamento foi identificado como marco da consolidação do bolsonarismo e da extrema-direita no País, em pesquisas da antropóloga social Isabela Oliveira Kalil.

Natural, portanto, que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, cogite aderir ao Aliança pelo Brasil, o partido da bala, de Deus, da propriedade privada e do anticomunismo bolado por Jair Bolsonaro, dono de uma política econômica pró-empresários e antitrabalhista. Uma política em linha com aquela do regime militar inaugurado em 1964, com o qual a Fiesp colaborou desde o início.

Skaf tem tido conversas sobre a filiação ao partido linha-dura bolsonarista. Uma opção para, quem sabe, concorrer em 2022 pela quarta vez ao governo de São Paulo ou como vice na chapa do ex-capitão – se o presidente sobreviver até lá -, embora sua assessoria de imprensa diga que uma candidatura “não está na pauta”.

Em uma palestra em 22 de novembro, no Rio, na Escola de Comando e Estado Maior do Exército, Bolsonaro disse: “Eu estava numa reunião o ano passado, com a nata do empresariado de São Paulo, São Paulo se não me engano é responsável por 40% do PIB no Brasil, onde ali entre o Skaf e os presentes foi me oferecido recurso para a campanha”.

Skaf apoiou o ex-capitão no segundo turno da eleição de 2018. É do MDB e o candidato de seu partido, Henrique Meirelles, hoje secretário da Fazenda do governo paulista, havia ficado pelo caminho, com 1,2% dos votos, apesar dos 54 milhões de reais que pusera do bolso na campanha.

Com o ex-capitão já no poder, Skaf tem mantido boas relações com ele.

Em agosto, abriu as portas da Fiesp para Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, fazer campanha a embaixador nos Estados Unidos e elogiou o “rapaz novo, preparado e dinâmico”. O deputado seria o canal de contato de Skaf com o Aliança pelo Brasil, além do próprio ex-capitão.

Skaf integrou a comitiva presidencial que em outubro foi à China, onde organizou reunião de Bolsonaro com empresários locais. Em novembro, participou do almoço do presidente com o líder chinês, Xi Jinping, que estava em Brasília para uma reunião de cúpula dos Brics.

Skaf costuma frequentar eventos no Palácio do Planalto. Esteve por lá em 11 de novembro, dia de lançamento de uma minirreforma trabalhista e depois da solenidade subiu ao andar do gabinete presidencial acompanhado do secretário de Governo, o general Luiz Eduardo Ramos.

O fator militar ajuda na bolsonarização de Skaf. O empresário foi do Exército. Na Fiesp, tem colaboradores fardados. Seu chefe de gabinete é um brigadeiro, Aprigio Azevedo. Seu diretor-executivo de gestão é um general, Antonio Esper. Seu coordenador-executivo dos conselhos e departamentos, também, Adalmir Domingos, amigo de Ramos.

Em 2006, dois anos depois de Skaf assumir a entidade, a Fiesp fechou uma parceria com a Escola Superior de Guerra (ESG) para levar adiante cursos anuais de formação de civis e militares na área de defesa.

A biblioteca da ESG possui material a mostrar a participação da Fiesp na preparação do golpe de 1964 a no regime militar que durou até 1985, inclusive com grana, conforme descoberto em 2014 pelo repórter Ricardo Mendonça.

Em depoimento em fevereiro daquele ano à Comissão da Verdade da Câmara de Vereadores paulistana, um coronel reformado, Erimá Pinheiro Moreira, então com 89 anos, contou que a Fiesp subornou o general Amaury Kruel para que ele, que era próximo do presidente deposto João Goulart, aderisse ao golpe de 1964. Preço do suborno: 1,2 milhão de dólares.

A Comissão da Verdade criada na Assembleia Legislativa paulista obteve em 2013 documentos a indicar que um empresário da Fiesp frequentava um órgão de tortura, o famigerado Dops.

Um membro da Fiesp, o dinamarquês naturalizado brasileiro Hening Boilesen, pregava financiar repressão, era entusiasta da Operação Bandeirantes (Oban), de caça a opositores do regime, e acabou assassinado em 1971 por esses opositores. Uma história contada em um documentário de 2009, Cidadão Boilesen.

Às vésperas do golpe contra Jango, o 1% mais rico do Brasil tinha de 17% a 19% das riquezas anuais geradas aqui (PIB), nível menor do que o padrão histórico nacional. Em 1971, já com sete anos de ditadura, o índice era de 26%. Dados da tese de sociologia vencedora em 2015 do prêmio de a melhor do ramo, intitulada “A Desigualdade Vista do Topo: A Concentração de Renda Entre os Ricos no Brasil, 1926-2013”, de Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza, do Ipea.

Explicado por que não se ouve um pio do empresariado diante das ideias de Eduardo Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, de invocar um novo AI-5 contra protestos de rua. Nem contra a lei de licença para matar manifestantes enviada pelo presidente ao Congresso em 21 de novembro, o chamado excludente de ilicitude.

Uma pessoa frequentadora da Fiesp diz que, para ela, a entidade não teria dificuldade de apoiar uma ruptura institucional eventualmente levada adiante pelo governo Bolsonaro.

Será?

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