Discurso de inocência de Lula é como o criado por Goebbels, diz Delcídio do Amaral

Foto: André Dusek/Estadão
Derrubado pela Lava Jato, o ex-senador Delcídio do Amaral, 64, diz que a operação deixa um legado positivo, sobre a necessidade de boas práticas em estatais e no setor privado, mas falhou ao sufocar financeiramente as empresas investigadas.

“A gente não pode dizer que a Lava Jato foi comandada por heróis, por deuses. O Brasil não precisa de heróis, e Deus só tem um”, afirmou à Folha

Outrora um dos principais líderes do PT, ele criticou o partido e o ex-presidente Lula, solto na sexta-feira (8) depois da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que barrou a permanência na prisão de condenados em segunda instância.

Delcídio comparou o discurso de inocência de Lula à tática atribuída a Joseph Goebbels, que foi ministro da propaganda de Adolf Hitler. “Ele montou esse discurso. É a história do Goebbels na Alemanha nazista, de contar uma mentira várias vezes e ela acabar virando verdade.”

Senador por Mato Grosso do Sul de 2003 a 2016, Delcídio parou atrás das grades em 2015 (foi o primeiro senador a ser preso no exercício do mandato) sob a acusação de tentar atrapalhar as investigações da Lava Jato.

Acabou absolvido pela Justiça Federal em Brasília no ano passado e agora, filiado ao PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), é cotado para disputar a Prefeitura de Campo Grande em 2020 —plano sobre o qual ele desconversa.

Ele dependeria de aval judicial para concorrer, já que teve os direitos políticos cassados quando perdeu o mandato, em maio de 2016. O fato é explorado por adversários locais, mas Delcídio diz que reúne todas as condições para se candidatar, porque foi absolvido.

O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, quer que o sr. dispute a Prefeitura de Campo Grande em 2020. É seu plano? Evidente que ser candidato a prefeito é uma honra. Mas o momento agora é de organização do partido, de agir na base do low profile, fazer a coisa com tranquilidade.

O sr. cogita voltar à política justamente num momento em que o eleitor, de forma geral, rechaça políticos tradicionais e apresenta um forte sentimento anticorrupção. Esses fatores seriam impeditivos? Nunca fui da velha política. Sempre fui um político diferente. Não tenho família de políticos, trabalhei na iniciativa privada, nunca estive envolvido com corrupção, com desvio de dinheiro, com nada. O meu processo [na Lava Jato] foi por obstrução de Justiça. Fui inocentado e as provas, anuladas.

Mas os eleitores têm essa percepção? É comum que a acusação tenha para a opinião pública o peso de condenação. Muitas pessoas não sabem. Eu sou diferente de várias pessoas que se envolveram nesses crimes que a Operação Lava Jato desvendou.

Adversários colocam em dúvida sua candidatura, por impedimentos jurídicos, e desde já buscam descredenciá-lo. Como o sr. lida com isso? Quando começam esses ataques, é sinal de que eu estou dando trabalho mesmo sem falar nada que sou candidato. No estado, as pessoas já entendem o que aconteceu comigo, que eu fui injustiçado, fui vítima.

O sr. se considera injustiçado por que ou por quem? Por um processo no qual eu fui preso por supostamente obstruir a Justiça, com base em uma gravação ilegal, em um flagrante forjado. Nem tive chance de me defender, de me explicar. Foi um atropelo, uma execução sumária, um fuzilamento.

Como o sr. conecta o seu caso a este momento em que a Lava Jato é amplamente questionada, com acusações de abusos e excessos? Meu processo foi basicamente conduzido pela Procuradoria-Geral da República, e o mentor intelectual do meu caso se chama Marcello Miller, [ex-procurador] que era braço direito do então procurador-geral Rodrigo Janot. O flagrante forjado foi ele que estruturou.

Como o meu caso foi “exitoso”, entre aspas, eles repetiram isso. E aí o grand finale foi a gravação do ex-presidente Michel Temer. A condução adotada pela então PGR estava eivada de vícios.

Numa operação desse tamanho, há problemas. Ninguém tira o mérito da Lava Jato, mas, que foram cometidos equívocos, foram. As mensagens [obtidas pelo The Intercept Brasil] demonstram isso.

E qual é o mérito, o legado da Lava Jato? Ela introduziu premissas para nomear gestores públicos nas estatais e evidenciou a necessidade de compliance nas empresas. Uma diferença, por exemplo, é que na CPI dos Correios, que eu presidi, tínhamos a preocupação de não prejudicar o andamento da economia. Tanto é que havia uma crise política, mas não econômica. A Lava Jato trouxe as duas crises. É gravíssimo. Tem que preservar as empresas e os empregos.

O então procurador-geral da República Rodrigo Janot se referiu ao sr. nos autos como “agente criminoso”. Como o sr. responde à afirmação? Quem respondeu foi a própria Justiça, de forma isenta, rigorosa, incontestável. O Janot… Você viu o que ele fez recentemente, né?

A revelação de que ele planejou matar o ministro Gilmar Mendes e entrou no STF armado. Essa atitude demonstra uma vulnerabilidade preocupante de quem comandou a PGR, de alguém que tinha uma responsabilidade tão grande.

Na CPI dos Correios o sr. investigou Roberto Jefferson, que hoje é seu aliado político, presidente do seu partido. Isso cria algum constrangimento? Indica alguma contradição no seu modo de agir? Olha, eu acho que o Roberto Jefferson prestou um serviço extraordinário para o país, ao assumir o que ele assumiu, ao relatar os acordos, a composição montada no governo Lula. Temos uma relação respeitosa.

Folha de S.Paulo

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