Dalva Sele e os fantasmas de eleições passadas

Foto: Osmar Martins/Correio
O final de semana foi marcado por um retorno de uma fantasma da eleição de 2014 para o PT da Bahia. Dalva Sele Paiva, citada como operadora de um esquema de desvio de recursos da Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia durante a administração de Jaques Wagner, sumiu do noticiário após fugir do Brasil em meio às denúncias de que teria sido beneficiária de vantagens indevidas. E, mesmo que não tenha inviabilizado a eleição de ninguém naquele ano, Dalva Sele arranhou a imagem de reputação ilibada cultivada até então pelo petismo local.

Eis que começou a circular a informação de que Dalva Sele firmou um acordo de colaboração premiada já homologado pelo Supremo Tribunal Federal. A delação estaria na gaveta da Procuradoria-Geral da República no aguardo de transformação em ações penais e processos. Nada disso foi confirmado, apesar da especulação ter efeito prático para assustar alguns dos envolvidos no processo. O que terá falado a empresária?

Não é a primeira vez que Dalva Sele volta a assombrar políticos baianos. Em outubro de 2017, três anos após ter debutado como pivô de um escândalo – ainda que reportagens do jornal A Tarde tenham sinalizado os desvios antes disso -, o Instituto Brasil foi alvo de denúncia no Tribunal de Contas do Estado (TCE) justamente pelas irregularidades que geraram as matérias, consideradas bombas em um período eleitoral. Todavia, não houve nenhum dano claro nas urnas, fora o tiroteio entre adversários que usaram e abusaram das informações divulgadas por ela.

À época da denúncia, o deputado federal Afonso Florence era o principal atingido, apesar de respingar em outros integrantes do governo, a exemplo do então candidato a governador, Rui Costa, e no próprio Wagner. Florence, inclusive, foi condenado nesse julgamento do TCE, em outubro de 2017, a devolver R$ 8 milhões aos cofres públicos, em solidariedade com Dalva Sele e outras seis pessoas. Ainda assim, a presidente da ONG Instituto Brasil seguia esquecida, em meio a esqueletos no armário do passado.

Se confirmada a homologação da colaboração, é lógico que o conteúdo pode ter impacto para o petismo baiano, ainda que todos corram para classificar a empresária como “criminosa”. Afinal, desqualificar um acusador é o mínimo esperado de quem quer que esteja como alvo de uma denúncia. Porém é importante lembrar que acordos não são firmados apenas por depoimentos e sempre são acompanhados por algum tipo de comprovação das falas. Ou seja, não deve ser meramente retórica para a imprensa, como foram avaliadas as declarações em 2014.

Talvez agora seja o momento em que o fantasma de Dalva Sele se torne mais assustador para os petistas da Bahia. Remoer o passado quase nunca é uma vantagem. E, nesse caso, pode ser que, afinal, saibamos se o que quase abalou a eleição de cinco anos atrás era verdade ou apenas o prenúncio de que notícias falsas circulam livremente com fins políticos. Ao que parece, a primeira opção parece ser próxima da realidade.

Este texto integra o comentário desta terça-feira (9) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio Excelsior.
Por: Bahia noticias