Em crise econômica, Bolívia define nas urnas se encerra ciclo de vitórias da esquerda

País tem eleições neste domingo, com a direita liderando pesquisas e o ex-presidente Evo Morales defendendo voto nulo
“Não sei quem vai para o segundo turno, mas acho que os próximos dias não vão ser tranquilos, há muita insatisfação”, avalia o motorista Simón Vega, 55. “A direita não enxerga o povo e a esquerda está em crise, a sociedade não se vê representada nos candidatos e o único consenso é que a economia está mal e que precisamos melhorar.”

A crise econômica que a Bolívia enfrenta permeia as discussões eleitorais. É comum ouvir reclamações sobre a alta do dólar e dos preços dos alimentos, a falta de combustíveis e as filas em postos.

Segundo a pesquisa Ipsos-Ciesmori, feita a pedido da emissora Unitel de 2 a 6 de agosto, o empresário Samuel Doria Medina (Aliança Unidade) tem 21% das intenções de voto, enquanto o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga (Aliança Livre) aparece com 20%. Os demais candidatos têm menos de 10%. O esquerdista Andrónico Rodríguez aparece com 5,5%. A margem de erro é de dois pontos, para mais ou menos.

Se essa tendência se confirmar, as eleições podem encerrar o ciclo de vitórias nas urnas nas últimas duas décadas do MAS (Movimento ao Socialismo), que teve no ex-presidente Evo Morales (2006-2019) sua principal figura.

O MAS dominou a política boliviana nas últimas duas décadas, geralmente vencendo com folga, exceto em 2019, quando Evo buscou um quarto mandato em um processo com alegações de fraude.

Ele acabou renunciando, e o país foi governado interinamente por Jeanine Áñez até 2020, quando o ex-ministro de Evo Luis Arce venceu as eleições com 55,1% dos votos. A relação entre os dois, no entanto, se deteriorou rapidamente.

Em 2025, Evo foi impedido de concorrer e passou a defender o voto nulo. Impopular, Arce desistiu de tentar a reeleição este ano e indicou seu ex-ministro Eduardo del Castillo (MAS),que aparece em sétimo lugar na última pesquisa.

A favor da esquerda, a oposição também chega dividida ao pleito. No ano passado, os candidatos se encontraram para construir uma candidatura única, mas o apoio à unidade se desfez rapidamente.

O novo presidente, independentemente de quem vença, terá que lidar com um país em crise, com inflação de 25% em um período de 12 meses até julho, e uma drástica redução nas exportações de gás, com uma deterioração das reservas internacionais.

“Acho que o mais importante é não nos tornarmos uma sociedade partida, como ocorreu em outros países da região. Os bolivianos precisam se unir e construir planos em comum para que o país siga adiante”, diz a professora Nathália Durán, 32, enquanto espera por um ônibus em El Alto. “Temos 200 anos de história, diversos golpes no passado e precisamos fortalecer a nossa democracia.”

Doria Medina é um economista, multimilionário e ex-ministro que concorre à Presidência pela quarta vez. Ele promete tirar o país andino da crise econômica em cem dias e já se descreveu como “o capitalista mais importante da Bolívia”.

Quiroga presidiu o país de 2001 a 2002, após a renúncia por motivos de saúde de Hugo Banzer, de quem era vice. Ele é um crítico de Evo desde o fim dos anos 1990, quando o indígena ainda era deputado. Defende uma reforma liberal para o país.

Rodríguez, jovem líder cocaleiro e presidente do Senado, é o único candidato da esquerda competitivo. Seus apoiadores apostam que há um voto oculto não captado pelas pesquisas, sobretudo em regiões amazônicas, e que ele pode ser favorecido pelo alto número de indecisos. Em 2020, as pesquisas falharam ao não mostrar a vitória de Arce em primeiro turno.

Além deles três e de Del Castillo, mais quatro candidatos disputam a Presidência: o prefeito da cidade de Cochabamba, Manfred Reyes (Autonomia para a Bolívia); Rodrigo Paz Pereira (Partido Democrata Cristão), filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993); o prefeito de Santa Cruz de la Sierra, Jhonny Fernández (Aliança Força do Povo); e o engenheiro Pavel Aracena (Aliança Liberdade e Progresso).

Caso nenhum deles alcance mais de 50% dos votos ou 40% com uma diferença de 10 pontos percentuais para o segundo colocado, haverá segundo turno em 19 de outubro. Os quase 8 milhões de bolivianos habilitados para votar também vão eleger 130 deputados e 36 senadores.

Douglas Gavras / Folhapress

Senadores têm mais verbas em emendas do que 44% das cidades brasileiras

Cada um dos 81 senadores tem neste ano R$ 68,5 milhões para indicar onde o governo federal deve gastar
Um único senador controla, por meio de emendas parlamentares, um valor maior do que o orçamento de 44% dos municípios brasileiros. Cada deputado, por sua vez, tem verbas superiores a 14% das cidades, aponta levantamento feito pela Folha com os orçamentos projetados para 2025.

Os números ilustram o nível de poder e influência que os congressistas podem concentrar no âmbito local, após a disparada do volume das emendas promovida pelo Legislativo na última década.

Cada um dos 81 senadores tem neste ano R$ 68,5 milhões para indicar onde o governo federal deve gastar (valor superior ao de 2.291 cidades), e cada um dos 513 deputados, ao menos R$ 37,1 milhões (acima de 712 cidades). A execução dessas verbas pelo Executivo é obrigatória, e ao menos metade precisa ir para a saúde.

No caso dos deputados, esse valor deve ser ainda maior. Em julho, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), decidiu distribuir mais R$ 11 milhões “por cabeça” em emendas de comissão, que em tese deveriam ser decididas em grupo, para tentar reforçar sua base na Casa.

Somando essa quantia, cada deputado poderá ter nas mãos neste ano R$ 48,1 milhões, mais do que o orçamento de 27% dos municípios —essa última modalidade, no entanto, é de pagamento opcional pelo governo.

A conta não inclui ainda as emendas de bancada, que também continuam sendo “rachadas” individualmente entre os congressistas, descumprindo uma determinação do STF (Supremo Tribunal Federal).

As emendas são uma forma de parlamentares direcionarem recursos para investimentos e custeios em suas bases eleitorais, o que pode render votos tanto para quem os envia quanto para quem os recebe. A Folha mostrou, por exemplo, que 98% dos prefeitos mais turbinados com verbas se reelegeram em 2024.

“É, de certo modo, como se cada parlamentar tivesse um feudo fiscal para chamar de seu”, afirma Élida Graziane, professora de administração da FGV e procuradora do Ministério Público de Contas de São Paulo. Para ela, os legisladores assumiram funções do Executivo em todos os níveis de governo.

“Congressistas se tornaram ordenadores de despesas mais poderosos do que muitos ministros, governadores e prefeitos. Eles gozam do melhor dos mundos: têm os bônus de poderem liberar despesas em meio a tantas restrições fiscais sem serem obrigados aos ônus de prestar contas ou licitar”, diz.

A análise por estado indica que o valor disponível para cada senador é maior, por exemplo, que o orçamento de 80% dos municípios do Tocantins e na casa dos 60% no Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Piauí. Os deputados também controlam mais dinheiro que 22% das cidades de Santa Catarina e 33% das do Amapá.

São, naturalmente, municípios pequenos. Quase todos eles têm menos que 20 mil habitantes, exceto Piraí do Sul (PR), Marialva (PR) e Pirenópolis (GO), que estão na faixa de 20 mil a 50 mil moradores.

A disparada das emendas aconteceu de forma rápida. Até 2022, os valores ficavam na casa dos R$ 15 milhões a R$ 17 milhões por parlamentar. Naquele ano, porém, o Congresso decidiu ampliar o limite das emendas individuais no Orçamento e acabar com a divisão igualitária entre as duas Casas.

O dinheiro em poder de um único senador, então, triplicou no ano seguinte (para R$ 59 milhões), enquanto o dos deputados duplicou (para R$ 32 milhões), até chegarem às cifras atuais. Repentinamente, os gabinetes legislativos foram inundados com verbas, invertendo a lógica dos acordos políticos.

Se antes eram os parlamentares que batiam na porta do Executivo para liberar os recursos, nos últimos anos os ministérios é que passaram a ir até o Congresso e distribuir cartilhas —uma espécie de cardápio com os programas que precisam de emendas— aos deputados e senadores.

A disparada dos valores não se traduziu em maiores critérios para a sua distribuição. Em 2023, a Folha identificou apenas 16 congressistas (3% de um total de 594), que adotaram algum tipo de regra pública, como editais ou consultas populares, o que, segundo assessores parlamentares, continua sendo exceção.

“Sou uma grande defensora das emendas individuais como elo de representação entre o parlamentar e o eleitor, mas o montante atual e o poder que o Congresso está se dando desde 2014 tem que ser regulado”, diz a pesquisadora Beatriz Any, que estuda o fortalecimento do Legislativo em pós-doutorado na USP.

Ela defende acabar com as emendas coletivas, limitar valores e rever a obrigatoriedade do pagamento, tema em análise no STF. Também lamenta que o controle tenha ficado a cargo do Judiciário, lembrando que o Congresso já se autorregulou no passado, como no escândalo dos anões do Orçamento, esquema de desvio de emendas revelado em 1993.

A reportagem procurou o relator do Orçamento de 2025, o senador Angelo Coronel (PSD-BA), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), mas eles não responderam.

A análise da Folha usou os orçamentos aprovados pelas Leis Orçamentárias Anuais de 5.245 municípios (94% do total), com dados enviados ao Tesouro Nacional no primeiro bimestre de 2025, por meio dos “relatórios resumidos de execução orçamentária”.

O orçamento é o valor máximo que cada cidade está autorizada a gastar ao longo deste ano. Na prática, portanto, eles podem gastar menos, o que aumentaria ainda mais, proporcionalmente, o peso das emendas.
Júlia Barbon, Natália Santos e Nicholas Pretto / Folhapress

EUA não vão cobrar novas tarifas da China por comprar petróleo da Rússia


O presidente dos EUA, Donald Trump, informou que não vai cobra tarifas extras da China por comprar petróleo russo Segundo o republicano, a trégua seria resultado dos avanços das negociações entre americanos e russos para encerrar a guerra da Ucrânia.

No começo do mês, Trump havia ameaçado novas tarifas para países que comprassem óleo e gás russos, em uma estratégia de pressionar Vladimir Putin a chegar um acordo pelo fim do conflito no Leste Europeu. A Índia é um dos países que recebeu uma taxa extra e agora será taxada em 50%, atingindo a cota mais alta entre países juntamente com o Brasil – as tarifas começam a valer em 27 de agosto.

“Devido ao que aconteceu hoje, acho que não preciso pensar nisso”, disse Trump ontem, ao canal Fox News. Uma nova tarifa na China poderia esquentar novamente a disputa entre os países, que passa por uma pausa na alta de tarifas com duração até 10 de novembro.

Depois de dizer que um acordo para o fim da guerra poderia ser atingido durante a cúpula com Putin nesta sexta, Trump minimizou as expectativas para a reunião e disse que o encontro serviria para preparar o terreno para mais reuniões, que envolveriam o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski.

No fim, o histórico encontro terminou sem qualquer acordo sobre o futuro da Ucrânia, como queria o republicano, além de dar ao russo a imagem diplomática que queria mostrar ao mundo.

Se esperava que ao menos um cessar-fogo fosse discutido e alívio de sanções a Moscou. O presidente americano disse que ainda vai comunicar Zelenski e demais líderes europeus sobre o teor da reunião.

Estado de S. Paulo

Mortes por chuvas no Paquistão sobem para 344

Temporada de monções anual na região causou fortes enchentes no país e também na vizinha Índia. Paquistão é atualmente um dos países do mundo mais atingidos pelos efeitos das mudanças climáticas.
O número de mortos por conta de chuvas torrenciais e enchentes que atingem o Paquistão subiu para 344 pessoas, segundo afirmaram neste sábado (16) autoridades do país.

As chuvas são causadas pela temporada de monções, que ocorre anualmente no Sudeste Asiático, mas que, neste ano, está causando efeitos e destruição acima da média dos últimos anos. Só no Paquistão, as mortes registraram ocorreram em apenas 48 horas.

Neste sábado, mais de 2.000 soldados, além de outras equipes de resgate, tentavam recuperar os corpos soterrados sob os escombros no norte do Paquistão, além de desaparecidos.
As chuvas torrenciais atingiram diferentes distritos da província montanhosa de Khyber-Pakhtunkhwa, na fronteira com o Afeganistão. A província é a mais atingida pelas tempestades.

A maioria das vítimas foi arrastada por enchentes repentinas ou morreu quando suas casas desabaram, eletrocutadas ou atingidas por raios.

O porta-voz afirmou que os socorristas tentam retirar os sobreviventes, mas poucos estão dispostos a sair "porque perderam entes queridos, ainda presos sob os escombros".

'Orações fúnebres'

"Parece que toda a montanha desabou; a área está coberta de lama e pedras enormes", disse Muhammad Khan, morador do distrito de Buner, onde 91 pessoas morreram.

"Os moradores estão recuperando corpos e realizando orações fúnebres, mas ainda não sabemos quem está vivo ou morto", afirmou Saifullah Khan, um professor de 32 anos.

A autoridade provincial de gestão de desastres de Khyber-Pakhtunkhwa declarou vários distritos como "zonas de desastre", onde "equipes de resgate foram mobilizadas como reforço" para tentar alcançar vilarejos localizados em terrenos acidentados.

Outras nove pessoas morreram na Caxemira paquistanesa. Na região administrada pela Índia, pelo menos 60 vítimas foram registradas em um vilarejo no Himalaia, e outras 80 ainda estão desaparecidas.

Cinco pessoas morreram na região turística de Gilgit-Baltistan, no extremo norte do Paquistão, um destino de verão popular para alpinistas de todo o mundo, mas que as autoridades agora recomendam evitar.

Na sexta-feira, um helicóptero de resgate caiu, matando cinco pessoas. Para Syed Muhamad Tayab Shah, da Autoridade Nacional de Gestão de Desastres, "mais da metade das vítimas morreu devido à má qualidade das estruturas".

Em julho, a província de Punjab, lar de quase metade da população do Paquistão, registrou um aumento de 73% nas chuvas em relação ao ano anterior.

O Paquistão, o quinto país mais populoso do mundo, é um dos mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.

Boa parte dos 255 milhões de paquistaneses já sofreram enchentes massivas e mortais, rompimentos de lagos glaciais e secas sem precedentes nos últimos anos, fenômenos que se multiplicarão sob o impacto do aquecimento global, segundo relatórios científicos.

                                        
Por France Presse

Chefe de gabinete de Motta recebeu procuração de caseiro para movimentar salários

O caseiro contratado como assessor do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e mais nove funcionários do escritório do parlamentar assinaram documentos para autorizar a chefe de gabinete dele a abrir contas bancárias, movimentar dinheiro, emitir cartões e sacar os salários em nome deles.

Os documentos, registrados em cartórios da Paraíba, foram revelados pelo site Metrópoles e confirmados pela reportagem. O presidente da Câmara foi procurado pela reportagem por meio de sua assessoria, mas não se manifestou.

Ivanadja Velloso Meira Lima, que exerce a função de chefe no gabinete de Motta, já responde a uma ação de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal por supostamente ficar com o salário de um ex-funcionário de outro gabinete em que trabalhava, o do deputado Wilson Santiago (Republicanos-PB), aliado de Motta.

A reportagem não conseguiu contato com ela.

De acordo com a reportagem do Metrópoles, os dez assessores e ex-assessores receberam R$ 4 milhões da Câmara no período em que estiveram contratados pelo gabinete de Motta. Dois seguem empregados pela Casa como funcionários dele.

Um desses assessores é Ary Gustavo Soares, que, como revelou a Folha, é contratado como assessor do gabinete do parlamentar desde 2011, mas que atua como caseiro da fazenda de Motta em Serraria (PB), cidade de 6.000 habitantes a 131 km de João Pessoa e a 225 km de Patos (PB), base eleitoral do presidente da Câmara. Ele recebe R$ 7.200 em salários e auxílios pagos pela Câmara.

Ele assinou, seis dias após ser contratado pelo gabinete, em 2 de fevereiro de 2011, uma procuração que “concede poderes [a Ivanadja para] para representá-lo perante quaisquer estabelecimentos bancários e instituições financeiras”, “podendo a procuradora receber quantias, ordens de pagamento, emitir, endossar e sacar cheques”, abrir conta bancária, receber salários, fazer retiradas e uma série de outras movimentações bancárias.

O caseiro e motorista ocupa o cargo de secretário parlamentar, com jornada de trabalho de 40 horas semanais. No entanto, ele passa a semana cuidando da fazenda de Motta, de acordo com relatos de funcionários atuais e antigos da fazenda, vizinhos e técnicos agrícolas que trabalham na região.

O anexo do ato da Mesa 58, de 2010, estabelece que, na condição de assistente ou auxiliar, os secretários parlamentares podem conduzir veículos e prestar outros tipos de apoio. Qualquer função, no entanto, permanece submetida à exigência de “atendimento das atividades parlamentares”, sem permissão de atender a questões particulares do deputado.

Outra funcionária que continua contratada é Jane Costa Gorgônio. Ela assinou e registrou em cartório, em março de 2012, um documento que dá aval à chefe de gabinete de Motta para movimentar suas contas bancárias e sacar o salário.

Desde 2013, ela é contratada pela Câmara. Atualmente, ela recebe R$ 3.368,52 por mês em salário e auxílios. A reportagem não conseguiu contato com ela.

Em julho, a Folha de S.Paulo revelou que Motta mantinha em seu gabinete na Câmara dos Deputados três funcionárias fantasma: a fisioterapeuta Gabriela Pagidis, a assistente social Monique Magno e a estudante de medicina Louise Lacerda.

Depois que a reportagem procurou o presidente da Câmara para ouvi-lo sobre o caso, Pagidis e Magno foram demitidas.

Lacerda continua trabalhando no gabinete. Ela é filha e sobrinha de dois aliados do presidente da Câmara no seu estado natal.

Na ocasião, Motta afirmou que “preza pelo cumprimento rigoroso das obrigações dos funcionários de seu gabinete, incluindo os que atuam de forma remota e são dispensados do ponto dentro das regras estabelecidas pela Câmara”.

Raphael Di Cunto / Folhapress

Instituto de Saúde alvo de Operação da Polícia Federal recebeu em três anos quase R$ 700 milhões de governo da Bahia, que avalia rompimento de contrato

O governo da Bahia avalia internamente a possibilidade de romper contratos firmados com o Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS). A medida, conforme fontes da administração estadual, passou a ser discutida depois que a organização social entrou na mira da Controladoria-Geral da União (CGU) e foi alvo da Operação Dia Zero, deflagrada pela Polícia Federal em junho deste ano por suspeita de desvios em contratos de verbas do Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo as investigações, o esquema tinha participação dos gestores da entidade. Entre 2022 e agosto deste ano, o INTS já recebeu 176 pagamentos do governo estadual que somam R$ 661 milhões. Os vínculos, segundo o portal de transparência pública da Bahia, são com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) – responsável pelo pagamento de R$ 537 milhões – e com a Secretaria Estadual de Administração (Saeb) – com R$ 124 milhões.

Na Sesab, os pagamentos partiram do Fundo Estadual de Saúde, e na Saeb, do Fundo de Custeio do Planserv, que mantém parcialmente o plano de saúde dos servidores estaduais – a outra parte da receita do plano vem do desconto mensal em folha. O INTS gere, a propósito, o Hospital de Brotas, antigo Hospital Evangélico, que foi reformado pelo governo baiano e é dedicado exclusivamente ao atendimento do Planserv.

O Instituto também já administrou outras unidades de saúde da rede estadual, como o Hospital Metropolitano, o Hospital Manoel Victorino e o Hospital Espanhol – hoje rebatizado como Hospital 2 de Julho.

Neste último, profissionais de saúde denunciaram na imprensa que a organização social reteve parte dos pagamentos destinados a eles durante a pandemia de Covid-19. Na época, a Sesab esclareceu em nota que “todos os direitos trabalhistas são de responsabilidade do INTS”.

O Instituto também foi alvo de operação da Polícia Federal em municípios do Estado de São Paulo sob a acusação de subcontratar empresas de políticos, agentes públicos e até de pessoas condenadas por corrupção. Este Política Livre procurou representantes da INTS, mas não houve resposta. O espaço continua aberto para a manifestação da entidade.

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