Kamala Harris diz querer se afastar da vida pública para ‘ouvir as pessoas e conversar’

A ex-vice-presidente dos Estados Unidos Kamala Harris disse nesta quinta-feira (31) que está dando uma pausa em seus cargos políticos após décadas, afirmando a Stephen Colbert, apresentador do programa televisivo “The Late Show”, que o sistema político americano está quebrado.

Kamala disse a Colbert que quer viajar pelo país para conversar com os americanos como cidadã. Foi sua primeira entrevista desde que deixou o cargo em 20 de janeiro, após perder a eleição presidencial para Donald Trump.

A entrevista ocorreu dias depois de ela anunciar que não concorreria ao governo da Califórnia no ano que vem. Kamala, que foi procuradora-geral da Califórnia e também representou o estado no Senado dos EUA, vinha cogitando concorrer ao cargo mais alto do estado após retornar para casa, em Los Angeles, em janeiro.

Ela também discutiu o que estaria em “107 Days”, seu próximo livro de memórias sobre sua experiência como candidata à Presidência no ano passado, anunciado horas antes. Ela disse que o livro fala sobre o quão intensa e curta foi a campanha depois que o então presidente Joe Biden renunciou abruptamente à indicação democrata no verão passado, deixando-a com menos de quatro meses para fazer campanha.

Colbert perguntou se o motivo de ela não se candidatar na Califórnia era porque iria concorrer a um cargo diferente. Ela disse que não. “Por enquanto, não quero voltar ao sistema”, disse ela. “Quero viajar pelo país, quero ouvir as pessoas, quero conversar com elas e não quero que seja uma transação, onde eu esteja pedindo o voto delas.”

Colbert disse que é angustiante ouvir de Kamala que o sistema americano está falido. “Bem, mas também é evidente, não é?”, perguntou. “Mas isso não significa que desistimos.”

Kamala disse que ela e o marido, Doug Emhoff, ignoraram as notícias por meses depois que ela deixou o cargo, brincando que ela “simplesmente não gostava de automutilação”. Ela disse que, em vez disso, assistia a programas de culinária.

Para as pessoas que se sentem desanimadas, ela disse que é importante que gente como ela “as lembrem de seu poder e de sua importância em fazer a diferença”. Kamala também disse que espera que seu livro, com lançamento previsto para 23 de setembro, inspire os leitores a se enxergarem no processo político e a reconhecerem seu potencial.

“Espero que, ao escrever este livro, uma das coisas que eu faça seja ajudar as pessoas a enxergarem por dentro o que é, de forma que possam enxergar algo sobre si mesmas que lhes diga: ‘Ei, eu conseguiria fazer isso’”, disse ela.

Ela também disse que o livro de memórias discute os desafios de se diferenciar de Biden, recusando-se a falar longamente sobre ele na entrevista. Ela também disse que gostaria de ter feito algumas coisas de forma diferente na campanha, sem detalhar como.

Ela mencionou algumas anedotas que estão incluídas no livro de memórias, incluindo um momento em que Emhoff “deixou a peteca cair” em seu aniversário, um mês antes da eleição. Ela também relembrou o dia em que Biden desistiu da corrida presidencial, apoiando-a.

Colbert mostrou uma fotografia dela daquele dia que não havia sido exibida publicamente antes e que está incluída no livro. A foto a mostra na sala de jantar da residência do vice-presidente, disse ela, logo após um brunch com a família que a havia visitado, incluindo os filhos da sobrinha.

“E eu recebo a ligação do Joe”, disse ela. Então, ela e sua equipe “transformaram tudo em uma sala de guerra”, fazendo mais de 100 ligações naquele dia, acrescentou.

Quando Colbert perguntou se ela gostaria de dizer aos americanos “Eu avisei” sobre o que Trump faria no cargo, ela respondeu que “Eu previ muita coisa” e acrescentou: “O que eu não previ foi a rendição”.

Antes de concluir a entrevista, Colbert perguntou a Kamala quem liderava o Partido Democrata. O partido está profundamente dividido enquanto analisa novas táticas após as derrotas em 2024. “Acho que é um erro da nossa parte, que queremos descobrir como sair dessa situação e superar isso”, disse ela, “colocar a responsabilidade nos ombros de uma única pessoa: na verdade, a responsabilidade é de todos nós”.

John Yoon, Folhapress

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