Taiwan acusa China de simular ataques à ilha em meio a crise

O Ministério da Defesa de Taiwan acusou a China de promover simulações de ataque, por meio aéreo e naval, à ilha principal neste sábado (6). O comunicado, divulgado no início da madrugada pelo horário do Brasil, acrescenta que diversas aeronaves de Pequim foram detectadas no espaço aéreo taiwanês, sendo que algumas cruzaram a chamada Linha Meridiana, fronteira extraoficial que divide o estreito de Taiwan.

Ainda segundo a pasta, citada pela agência Reuters, o Exército local emitiu um alerta e acionou forças de reconhecimento aéreo, navios e lançadores de mísseis em terra para lidar com a situação. A situação na região teve uma escalada de tensões nesta semana, desde a visita da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taipé.

Pequim, que havia feito ameaças para que os americanos “não brincassem com fogo” e indicando retaliações caso a viagem fosse realizada, desde então começou de fato a agir. Na quinta (4), disparou mísseis balísticos em direção a Taiwan. Na sexta (5), promoveu a maior mobilização aérea de sua história no estreito.

No contexto desses movimentos, na quarta-feira (3), ainda antes do início dos exercícios, ao menos 22 aviões chineses haviam cruzado a fronteira aérea. Ao mesmo tempo, manobras navais com uso de munição real foram executadas a norte, sudoeste e leste da ilha, efetivamente bloqueando o tráfego marítimo —com 13 embarcações navegando perto da Linha Mediana.

Até a publicação deste texto, não estava claro o quanto os exercícios de sábado haviam avançado em relação aos anteriores. A China considera Taiwan uma província rebelde e promete integrá-la a seu território. Por isso, vê qualquer mínimo sinal de legitimidade ao território, como o feito por Pelosi, um reconhecimento às forças separatistas.

A presidente da Câmara dos EUA se encontrou com autoridades da ilha e reiterou o apoio americano à democracia local, na primeira visita do gênero em 25 anos. ​​Pequim havia alertado que considerava a ida de Pelosi uma violação de sua soberania, lembrando que, apesar de apoiar militarmente Taiwan, Washington reconhece os direitos chineses sobre a ilha, já que mantém relações diplomáticas com a ditadura comunista desde 1979.

Tal ambiguidade está colocada à prova, com Pequim tendo anunciado nesta sexta sanções à deputada democrata e cortado alguns itens da pauta de cooperação bilateral. Trata-se da mais aguda crise entre as duas maiores potências do mundo desde a Terceira Crise do Estreito de Taiwan, ocorrida na esteira da viagem do então líder da ilha para os EUA em 1995.

Nesta sexta, nas redes sociais, a presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, pediu que os moradores mantenham a calma e disse que o governo “certamente pode garantir a segurança”. “Preparamos uma resposta completa, e os militares estão fazendo o possível para responder aos ataques.”

Os exercícios em torno de Taiwan são uma espécie de ensaio geral de um bloqueio aeronaval que poderia ser feito sem o custo humano de uma invasão territorial, subjugando Taipé. É uma das hipóteses na mesa de Pequim, que tem na incorporação da ilha uma prioridade nacional. Para o líder Xi Jinping, a crise serve de escada para asseverar poder no momento em que se prepara para ser reconduzido a um novo mandato, em novembro.

A crise em Taiwan ocorre ainda em paralelo à Guerra da Ucrânia, na qual a China apoia politicamente seu aliado Vladimir Putin contra Kiev e o Ocidente. Os exercícios militares estão programados para acabar às 12h do domingo (1h em Brasília). Taiwan está em alerta militar máximo, e os EUA mantêm navios, inclusive um porta-aviões, na região, além de terem deslocado bombardeiros furtivos ao radar B-2 para a Austrália.
Folhapress

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