Maia afirma que Paes beneficia candidato de Bolsonaro

O presidente do PSDB-RJ, Rodrigo Maia, afirmou que a insistência do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), em manter a pré-candidatura de Felipe Santa Cruz (PSD) ao governo estadual beneficia a reeleição de Cláudio Castro (PL), nome do presidente Jair Bolsonaro na disputa.

Maia também defendeu a provável aliança do PSDB com o deputado federal Marcelo Freixo (PSB) durante o Brazil Forum UK, em Oxford, na Inglaterra. O pai do secretário de Projetos e Ações Especiais de São Paulo, o vereador César Maia (PSDB-RJ), é cotado para assumir a vice na chapa.

“Se a candidatura do Felipe for viável, ótimo. Mas, nesse momento, tudo que ela tem de voto, ela só tira do Marcelo e não tira do Cláudio. Então é uma candidatura que está a serviço do governador. Querendo ele ou não, é isso que está acontecendo”, afirmou Maia no domingo (26).

A fala do tucano expõe, de forma velada, comentários feitos nos bastidores da política fluminense, de que Paes deseja a reeleição de Castro sem se vincular à sua candidatura. O prefeito estaria de olho na eleição ao governo de 2026, na qual o governador não poderia tentar nova reeleição pelas leis eleitorais.

Paes vem resistindo a uma aliança com Freixo. Ele também esfriou um acordo firmado em fevereiro com o PDT, por decidir manter a pré-candidatura de Santa Cruz em vez de apoiar o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT), atualmente mais bem colocado nas pesquisas eleitorais.

Maia afirmou que o ex-presidente da OAB poderia ser uma opção caso apresentasse viabilidade eleitoral. Na última pesquisa do Datafolha, divulgada em abril, ele aparece com 3%. Freixo e Castro lideram com 22% e 18%, respectivamente, no cenário mais provável.

“O Felipe está fazendo comerciais. Quem sabe na pesquisa do Datafolha que vai sair no final do mês se ele não aparece numa situação melhor e a gente fala: ‘Pode ser um caminho que jogue o Freixo mais para a esquerda, na origem dele, e a gente consiga ocupar'”, disse o tucano.

Santa Cruz afirmou que acredita ser o único a poder impedir a reeleição de Cláudio Castro.

“Queremos o apoio do PSDB e vamos demonstrar ao deputado Rodrigo Maia que a nossa campanha é a única capaz de impedir a reeleição de Claudio Castro. Aliás, todos sabem que o Palácio Guanabara busca polarizar com Freixo para reeditar o segundo turno de 2016, em que Crivella se elegeu para a infelicidade do povo carioca”, disse o pré-candidato do PSD.

Maia explicou a aliança com Freixo como uma forma de quebrar um ciclo, segundo ele, iniciado em 1998 com a eleição de Anthony Garotinho (hoje na União Brasil) ao governo estadual.

“Nós temos um ciclo no Rio de Janeiro que vem desde 1998 com Garotinho, que é esse ciclo que estamos vendo. Como rompe com esse ciclo? César Maia tentou em 1998 e não conseguiu. Eduardo Paes tentou em 2018 e não conseguiu. O governador Wilson [Witzel] que parecia ser uma renovação, era mais desse ciclo do que todos nós imaginávamos”, disse ele.

“Não é questão de quero, gosto, admiro todas as ideias do deputado Marcelo Freixo. Mas ele é um bom cara do diálogo. Está tentando caminhar para ampliar a base dele. Ele sabe que, na base dele, tem muita dificuldade de ganhar a eleição.”

Maia não explicou de que forma caracterizaria esse ciclo, cujo período inclui Rosinha Garotinho (2003-2006), Sérgio Cabral (2007-2014) e Luiz Fernando Pezão (2014-2018). Ele mencionou a atuação de milícias no estado como um dos pontos a serem atacados.

“Eu não posso olhar o meu estado onde as milícias estão tomando conta das instituições todas. Como muda esse ciclo no Rio de Janeiro? Todo mundo que ganhou dinheiro e investiu no Rio saiu. Só ficou petróleo e serviço público. Não sobrou muita coisa no Rio de Janeiro por questões óbvias. Como reorganiza? Precisa primeiro quebrar esse ciclo que começa em 1998”, afirmou ele.

Secretário da gestão do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), pré-candidato à reeleição, Maia diferenciou o cenário eleitoral fluminense do paulista.

“Diferente de São Paulo, onde tem um governador que está fora da polarização, então tem um espaço para que ele organize o processo eleitoral, no Rio, o governador é do bolsonarismo. Então só vai ter uma outra oportunidade aqui que é a vaga do Freixo. Por isso acho que essas alianças são possíveis.”

O tucano também comentou as dificuldades para a terceira via se viabilizar eleitoralmente. Para ele, falta clareza em relação ao projeto que ela busca representar.

“Lula tem 15% dos votos que é nosso [da centro-direita]. A nossa chance era empurrar o Bolsonaro para a extrema direita e entrar nesse eleitor com um projeto. O que ainda falta para a Simone [Tebet], faltou para o Doria, e falta para todos nós, é compreender o que nós somos e o que queremos representar para o futuro. Porque não ser Lula nem Bolsonaro, não é nada. Só isso é pouco”, afirmou ele.

“Temos que ajudar nesse debate com a Simone a propor algo, mesmo que a gente não vá para o segundo turno, para que o presidente Lula possa agregar nossas propostas”.

Italo Nogueira/Folhapress

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