Jerônimo e o poder de transferência de Lula na Bahia, por Raul Monteiro

A despeito dos esforços em terra firme, a campanha de Jerônimo Rodrigues está nas mãos de Deus, ou melhor, de Lula. Assim quiseram desde o princípio os articuladores do candidato petista ao governo. Jerônimo nunca foi apenas Jerônimo, como é, por exemplo, o candidato do União Brasil ao governo, ACM Neto. Mas o candidato de Lula. Aliás, foi por este motivo que, apesar de desconhecido, ele se tornou o nome nas mãos de quem a cúpula petista depositou todas as esperanças para dar continuidade ao projeto do PT, que começou a ser executado com a surpreendente eleição do então deputado federal Jaques Wagner ao governo da Bahia, há quase 16 anos.

A perspectiva de Lula se transformar na grande alavanca da candidatura de Jerônimo é o que moveu e move o PT baiano. Ela se baseia em premissas registradas em um passado de vitórias que tiveram como guia o ex-presidente petista. Foi assim com o próprio Wagner, em 2006, que abriu para o PT as até então inimagináveis portas do cobiçado Palácio de Ondina. Repetiu-se na sua reeleição e, depois, em 2014, no sucesso eleitoral do nome que ungiu – contra boa parte do partido e sob relativa desconfiança das demais forças políticas – para sucedê-lo, tudo sob as bençãos da máxima segundo a qual estavam todos ali juntos no mesmo time de Lula.

Mas há uma diferença entre as experiências anteriores, representadas pelo sucesso eleitoral obtido por Wagner e, na sequência, pelo governador Rui Costa (PT), e a que o PT deseja colocar em marcha agora. Tanto o primeiro quanto o segundo não registravam, na época em que conseguiram ser eleitos, um nível de desconhecimento tão grande no eleitorado baiano quanto o que Jerônimo demonstra a dia de hoje. Além de deputado federal de alguns mandatos, com votos espalhados pelo Estado, Wagner já havia liderado uma campanha ao governo. Rui também fora vereador em Salvador, deputado federal e seu secretário de Relações Institucionais.

Portanto, tornar-se conhecido, até para poder efetivamente beneficiar-se das estratégias de vinculação com o nome de Lula, é, neste momento, o principal desafio de Jerônimo e daqueles que tocarão a comunicação de sua campanha, num prazo que já não é grande para tarefa tão crucial. Mas ainda que a meta de tornar-se uma personalidade com CPF político próprio seja atingida por Jerônimo e sua equipe em tempo recorde, nada garante que a inclusão de seu nome no time de Lula será suficiente para alavancar seu nome entre os eleitores baianos, aos quais se apresenta com vigor uma alternativa ao ciclo administrativo petista.

O que ele precisa de fato para se tornar um quadro competitivo e a ameaçar o favoritismo de ACM Neto apontado pelas pesquisas é que o grau de transferência de votos de Lula para seus apadrinhados na campanha atual seja tão forte e efetivo quanto foi no passado. Que Lula é uma liderança fortíssima na Bahia é fato inconteste. Se sua eleição dependesse apenas do eleitor do Estado, já podia se considerar empossado. O que não se sabe é se, mesmo na Bahia, depois de tudo porque passou e do crescimento do sentimento antipetista, mantém o poder de atribuir votos a terceiros que fez absolutamente toda a diferença para aqueles que apadrinhou no passado.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*

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