4 em cada 10 pessoas com diabetes morreram após internação por Covid no Brasil

Risco de óbito por coronavírus desses pacientes é 15% maior do que o de não diabéticos, aponta estudo de pesquisadores do Ceará que analisaram hospitalizados em 2020
Uma pesquisa feita no Brasil apontou que 4 de cada 10 pacientes internados com Covid que tinham diabetes morreram pela doença causada pelo coronavírus em 2020.

De acordo com o estudo, ser portador de diabetes mellitus, doença que acomete cerca de 9% da população adulta do país, estava relacionado com uma prevalência de 2,5 a cada 10 internados por Covid no Brasil.

Porém, ao considerar os pacientes internados por Covid que foram a óbito no período estudado, que foi o primeiro ano da pandemia, a prevalência de diabetes subia para 40,8%, ou 4 em cada 10 vítimas.

O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará, foi publicado nesta segunda (30) na revista Epidemiologia e Serviços de Saúde.

Para avaliar qual o impacto da diabetes na mortalidade de pacientes hospitalizados com Covid, os cientistas analisaram os dados do Sivep-Gripe, do Ministério da Saúde, que reúne notificações de internações e óbitos por Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave) de fevereiro a agosto de 2020 e compararam o desfecho entre pacientes com e sem a doença.

Foram excluídos pacientes que não tiveram o resultado do teste de RT-PCR confirmado para o coronavírus e aqueles que não tinham informações sobre período de internação ou que não foram hospitalizados. Ao final, o conjunto possuía dados de 397.600 pessoas internadas com Covid.

Do total de internados no período analisado, 32% (127.231) morreram. Entre os pacientes com diabetes, a prevalência de mortalidade era de 40,8% (41.766), embora cerca de 25% do total de pacientes (102.389) tivessem o diagnóstico para a doença.

Após ajustar os dados de internação para outros fatores como idade, sexo e a presença de outras comorbidades, os pesquisadores viram um risco 15% maior de morte em indivíduos com diabetes mellitus em comparação aos não diabéticos, o que equivale dizer que a cada 20 mortes, 3 são por pacientes com diabetes.

Assim, pelo menos no primeiro ano da pandemia, o estudo encontrou uma maior prevalência de mortes por Covid em pessoas com diabetes mesmo quando descartados outros fatores que podem também contribuir para a mortalidade, como idade.

De acordo com o enfermeiro e pesquisador da Uece, Thiago Garces, a análise dos dados corroborou o que diversos outros estudos já haviam visto sobre maior impacto da Covid em pessoas com outras doenças crônicas não transmissíveis (NCDs, na sigla em inglês), apesar de possuir um recorte para pacientes hospitalizados somente.

“Ao avaliar os dados de pacientes hospitalizados, que já possuem um quadro acima de moderado com a doença, não estamos avaliando a prevalência de mortalidade geral (ou mundial, como chamamos), então já era esperado que o risco fosse maior”, explica.

Alguns fatores que podem contribuir para isso, segundo ele, são o quadro inflamatório elevado de pacientes internados, que precisam de medicamentos anti-inflamatórios como dexametasona, que podem elevar ainda mais o nível glicêmico no sangue, prejudicando o quadro de pacientes diabéticos.

Outro fator que pode contribuir para isso é a carga viral do vírus que infecta esses indivíduos e os danos causados a alguns órgãos gastrointestinais, como o pâncreas.

Porém, Garces reforça que hoje, com as vacinas, o risco é menor do que o do primeiro ano da pandemia. “Hoje eu diria a um paciente diabético que mesmo com o que encontramos no estudo ele possui um risco diminuído, pois já temos a vacinação, inclusive com as doses de reforço para pessoas acima de 60 anos”, afirma.

É importante, contudo, que os cuidados no público mais vulnerável continuem justamente para evitar uma infecção, mesmo em pessoas vacinadas. “As pessoas com outras NCDs já possuem limitações da própria condição, então não sabemos quais consequências uma infecção viral pode causar nesses pacientes”, diz.

Diversos estudos buscam entender quais são os efeitos de Covid longa e como ela se desenvolve, especialmente quais são as pessoas mais suscetíveis a ter sintomas da doença mesmo após meses da infecção inicial. Ter diabetes tipo 2, de acordo com um estudo feito nos Estados Unidos e divulgado em janeiro, é um dos fatores que podem levar à Covid longa.

“O que temos visto é que pessoas com diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca e outras doenças crônicas têm tido sintomas da Covid por mais tempo. Não sabemos qual o papel que uma Covid longa pode ter em um quadro já existente no futuro, por isso é importante manter a prevenção”, completa.
Ana Bottallo / Folha de São Paulo

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