O que o PT tem a aprender com a atual crise sucessória governista, por Raul Monteiro*

Foto: Política Livre/Arquivo
Na política, não existem lideranças puramente administrativas. Ou elas se assumem como políticas, respeitam e se devotam a seus constrangimentos e a renovam nas faixas em que estes a delimitam ou lamentavelmente a destróem e a tudo à sua volta, se auto-destruindo. O desfecho atabalhoado – e talvez precoce, sob o prisma da avaliação que a sociedade faz da atual gestão – que o PT está impondo à sua própria história no poder na Bahia é exemplar. Sua até então principal liderança – o hoje senador Jaques Wagner – confiou na viabilidade política da sucessão baseada na escolha de um aliado sem estofo político e está dando no que está dando.

Repetiu a mesma estratégia que Lula aplicou para a Presidência ao ter escolhido Dilma Rousseff para sucedê-lo e todo o país, além do próprio PT, viu no que deu. Quando chegou a hora de escolher o sucessor, na expectativa legítima de prolongar a experiência do grupo que alçou ao poder, Wagner tinha à sua disposição várias opções de quadros na própria sigla, todos forjados nas interessantes lutas internas e externas travadas pelo partido no Estado, algumas, inclusive, testadas administrativamente e preparadas intelectualmente. Optou, no entanto, por um correligionário sem luz política própria tirado do bolso do colete.

Tinha a esperança, tal qual Lula, de exercer sobre o ente sucessório um controle naturalmente absoluto. Como Dilma, que ajudou a quase destruir Lula e, neste caso específico, também o país, com suas exóticas ideias sobre gestão e economia, e o impediu de voltar quatro anos depois, o governador Rui Costa (PT) partiu feroz para cima de Wagner com desprezo ao partido e ao grupo cuja condução lhe havia sido confiada por ele. O encontro de contas demorou mas se deu exatamente agora porque Rui não foi capaz de absorver que, com sua escolha para administrar o Estado, havia lhe sido atribuída também uma outra missão estratégica.

Era esperado dele, no mínimo, como chefe do governo, posição que o projetara como líder mais empoderado do PT na Bahia, que tentasse dar sobrevida ao grupo, planejando a própria sucessão. Pior: o governador sequer acatou a decisão de Wagner de, antevendo a lacuna que sua inação provocara, assumir a tarefa, ainda que a contragosto inicial, sob alegado sacrifício pessoal. De Rui, ele só exigira que não atrapalhasse, evitando criar dificuldades para a organização do jogo, como a imposição de sua candidatura ao Senado provocou. Ao jogar-se em campo, o governador atropelou e abateu Wagner quando ele ainda se preparava para vestir a camisa do time.

E, sem pestanejar, promoveu o enterro do ciclo petista no Estado. Por força da sua decisão de renunciar para concorrer, o governo será entregue em um mês ao PP, um dos pilares nacionais do governo Jair Bolsonaro (PL), em meio a uma confusão fratricida em praça pública para a escolha do candidato ao governo que, tudo indica, será de outro partido. É um espetáculo ao qual o eleitorado assiste assombrado sob a crescente expectativa de que tudo pode acontecer, menos a vitória. Quase oito anos depois, parece claro que Rui não precisa de uma vaga no Senado para representar a Bahia, mas para refugiar-se de inadequações que não conseguiu superar governando o Estado.

Raul Monteiro*

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente esta matéria.