Ultradireita se reúne em Madri para criar grupo de pressão sobre União Europeia

Figuras como Marine Le Pen e Viktor Orbán querem atuação conjunta em pautas conservadoras no Parlamento Europeu
Foto: Vincent West/Reuters
Lideranças de ultradireita se reuniram em Madri, capital espanhola, neste sábado (29) com um objetivo comum: consolidar um bloco de atuação no Parlamento Europeu, o braço legislativo da União Europeia (UE), que lhes permita atuar em defesa de pautas que consideram importantes para o bloco, como políticas anti-imigração.

Estiveram presentes, entre outros, Viktor Orbán e Mateusz Morawiecki, premiês da Hungria e da Polônia, respectivamente; Santiago Abascal, líder da sigla nacionalista espanhola Vox, anfitrião do encontro; e a francesa Marine Le Pen, do Reunião Nacional, que concorre à cadeira presidencial de seu país nas eleições de abril.

Da forma como estão organizados hoje, os eurodeputados que se alinham a políticas conservadoras e de ultradireita encontram-se dispersos em meio aos 705 membros do Legislativo da UE. O objetivo da reunião é avançar na costura de um grupo que atue de forma coesa em áreas como industrialização, imigração —em especial de muçulmanos— e aquilo que muitos dos líderes alegam ser um poder excessivo da UE em assuntos domésticos dos 27 Estados-membros.

A Polônia talvez tenha sido o maior exemplo do último tópico. O país do Leste Europeu travou diferentes disputas com a UE ao longo do último ano após questionar a primazia do direito europeu —ou, em outras palavras, dizer que tratados do bloco ferem a soberania nacional e são incompatíveis com a legislação polonesa. O episódio gerou temores de que o país deixasse o bloco, como fez o Reino Unido, ainda que especialistas digam que isso é pouco provável.

O assunto, como esperado, foi abordado na reunião. Ao referir-se ao premiê polonês Mateusz Morawiecki, o Vox, da ultradireita espanhola, disse em uma rede social: “Mostramos-lhe todo o nosso apoio e solidariedade perante as escandalosas ameaças de Bruxelas ao seu governo e os ataques que a Polônia recebe na sua fronteira.”

A ultradireita europeia já havia feito encontro semelhante em dezembro. A reunião foi sediada em Varsóvia, capital polonesa, e teve como anfitrião o partido nacionalista conservador Lei e Justiça (PiS), que está no poder. A aliança de atuação no Parlamento Europeu começou a ser forjada ali e ganha mais detalhes no encontro de Madri.

“Juntos, devolveremos às nações sua soberania e suas liberdades”, escreveu a francesa Marine Le Pen no Twitter. “A menor decisão nacional que não corresponda aos desejos das instituições europeias é agora alvo de chantagem, e não é isso que deve ser a Europa.”

Além da articulação internacional, para figuras como Le Pen o encontro deste sábado tem também contornos domésticos. Principal figura da direita francesa, ela aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para as presidenciáveis, que têm à frente o atual chefe de Estado, Emmanuel Macron.

Mostrar-se protagonista de uma aliança regional desse espectro político é uma esperança para que Le Pen acene à sua base e a mantenha em um momento em que a campanha da presidenciável assiste a uma série de deserções, sendo a mais recente a de sua sobrinha Marion Marechal, figura popular entre os conservadores.

Le Pen viu sua área de influência ser disputada por Eric Zemmour, um polemista sem trajetória política que se apresentou como candidato à Presidência em fins de novembro e aparece em quarto lugar nas pesquisas nacionais. Recentemente, ele foi condenado a uma multa de 10 mil euros (R$ 62,9 mil) por incitar o ódio contra migrantes.

Ainda que atrás de Le Pen na corrida presidencial, Zemmour ajudou a expor fissuras na base de apoio da tradicional candidata da ultradireita francesa. “Aqueles que querem sair podem fazê-lo, mas façam isso agora”, disse Le Pen a repórteres nos bastidores da reunião em Madri, segundo relato da agência de notícias Reuters.

Ainda no encontro, o principal assunto da geopolítica nas últimas semanas também foi tema de declaração dos ultradireitistas. Os presentes disseram, em nota conjunta, que a movimentação de tropas russas na fronteira da Ucrânia colocou o mundo “à beira de uma guerra”. “A solidariedade, a determinação e a cooperação em termos de defesa entre as nações da Europa são necessárias diante de tais ameaças.”

Outras figuras, ainda que ausentes no encontro, também participam da articulação, como, por exemplo, as lideranças da ultradireita italiana Matteo Salvini, da Liga,—também ausente em Varsóvia— e Giorgia Meloni, dos Irmãos da Itália.

Folha de S. Paulo

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