Bolsonaro volta ao centrão com filiação ao PL e mira centro-sul para 2022

Foto: Pedro Ladeira/Arquivo/Folhapress

O presidente Jair Bolsonaro filia-se nesta terça-feira (30) ao PL de Valdemar Costa Neto, oficializando sua volta ao centrão após ter sido eleito em 2018 com discurso crítico a esses partidos e hoje se apoiar neles para garantir governabilidade.

O mandatário se afastou dos pilares de combate ao que chamava de “fisiologismo político” que o levaram ao Palácio do Planalto há três anos —assim como seus aliados mais ideológicos e militares.

Todos perderam espaço com a chegada de caciques do centrão ao Palácio do Planalto.

A contragosto dos apoiadores de primeira hora Bolsonaro se filiará ao partido de Valdemar, ex-aliado do PT, condenado e preso no mensalão. O presidente agora volta ao centrão, ao qual pertenceu por décadas, quando foi deputado federal.

A legenda espera filiar, além dos filhos do presidente, ao menos quatro ministros: Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência), Tereza Cristina (Agricultura), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Gilson Machado (Turismo).

O evento no PL deve ser pequeno, segundo o entorno de Valdemar. E, a depender do Bolsonaro, discreto.

O presidente não fez convocatória, como de costume, aos seus ministros, ainda que muitos tenham confirmado presença, como Onyx, Marinho, Marcelo Queiroga (Saúde) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral).

Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), candidato dos sonhos de Bolsonaro para o Governo de São Paulo, também participará da cerimônia.

O evento ocorrerá na manhã desta terça, na sede do partido em Brasília.

A aliança de Bolsonaro com PL, PP e Republicanos é pragmática. O presidente busca sobrevivência, com garantia de suporte para disputar contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em uma eleição que ele sabe que será bem diferente da anterior.

Ao assinar a ficha do PL, o chefe do Executivo encerra novela partidária de idas e vindas, “casamentos”, como costuma dizer, entre o partido de Valdemar e o PP de Ciro Nogueira (Casa Civil) e Arthur Lira, presidente da Câmara. Ele chegou a dizer que estava 99% fechado com o PL, depois adiou a filiação, que ocorreria no último dia 22.

Agora, o mandatário decidiu migrar para o partido de Valdemar por acreditar que, sem isso, o PL teria mais chances de desembarcar no ano que vem e bandear para a campanha petista. Bolsonaro está há mais de dois anos sem partido, desde que deixou o PSL, pelo qual foi eleito.

De acordo com auxiliares palacianos, a estratégia do presidente é reeditar, ao menos em parte, o mapa de votação da última disputa, garantindo vitória no eixo Sul-Sudeste e no Centro-Oeste.

A leitura no entorno de Bolsonaro é a de que não é possível ganhar no Nordeste contra Lula, mas que o Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família, e outros programas sociais, como o vale-gás, podem ajudar a diminuir a rejeição. De acordo com um aliado, a ideia é diminuir o placar de 7 a 1 para 2 a 1.

Para acertar a negociação com o PL, Bolsonaro demandou a prerrogativa de escolher candidatos em estados-chave e de vetar alianças com partidos de esquerda.

As principais divergências se deram a respeito de São Paulo, onde o partido estava apalavrado com o PSDB para apoiar Rodrigo Garcia, vice-governador.

Auxiliares do presidente chegaram a fazer um movimento para que Garcia pudesse ser candidato de Bolsonaro no estado, mas isso só seria possível se João Doria não tivesse ganhado as prévias do partido. De toda forma, a negociação não foi adiante.

A principal aposta do presidente para São Paulo é uma chapa com Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) para governador e o ex-ministro Ricardo Salles para o Senado.

O acordo ainda não está selado, porque depende de uma decisão final do ministro, mas, segundo interlocutores, ele já teria aceitado que terá de cumprir essa missão, jargão bolsonarista, para o presidente: garantir palanque nos 645 municípios paulistas.

Tarcísio tem poucas chances de se eleger para o governo do estado, comandado há décadas pelo PSDB. O que ele deseja é ser candidato ao Senado, mas sabe que dificilmente poderá dizer não ao pedido do presidente.

De acordo com interlocutores, o ministro tenta alinhar agora com o mandatário as condições de sua campanha. Quer garantir que não será deixado de lado, e que Bolsonaro se fará muito presente na disputa.

Aliados do ministro dizem que, ainda que Valdemar tenha cedido e deixado oficialmente de apoiar Garcia, toda a máquina do partido no estado apoiará o vice-governador de Doria na disputa. Valdemar apenas garantiu a legenda ao presidente.

Assim, se Tarcísio tem alguma chance, será com Bolsonaro fazendo campanha nos municípios ao seu lado.

Em São Paulo, na sexta-feira (26), o ministro tinha dito que a decisão não estava tomada.

“Tenho conversado com o presidente, sim, ele me pediu para pensar. A gente aceitou discutir o assunto. Não tem nenhuma decisão tomada, é uma coisa que ainda vou tratar com o presidente. Ele não está impondo nada, a conversa com ele é muito bacana”, afirmou a jornalistas.

Ainda que resista em já declarar ter aceitado a missão, Tarcísio sofre pressão de apoiadores e auxiliares do presidente. No fim de semana, nas redes bolsonaristas, circulou a notícia de que ele já teria topado a empreitada.

Ciro Nogueira, inclusive, chegou a curtir uma publicação de uma apoiadora celebrando a candidatura do colega da Esplanada.

Ao mesmo tempo em que recebe apoio de governistas na corrida ao governo paulista, o ministro da Infraestrutura foi criticado por apoiadores do presidente por defender o “passaporte da vacina” de quem entra no Brasil.

A medida, proposta pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), fere as bandeiras negacionistas de Bolsonaro.

“Dei apenas uma sugestão para não fechar a fronteira. Estrangeiros vacinados poderiam entrar sem restrição, não vacinados deveriam se submeter a teste ou a outra medida sanitária”, escreveu Tarcísio, no Twitter, a um dos apoiadores do presidente.

Ele fez mais de 60 publicações no Twitter desde sábado (28) para negar que seja a favor do “lockdown e da obrigatoriedade de vacinação” após as cobranças.

Outro estado definido como prioritário por Bolsonaro é Goiás. Lá, ele quer lançar o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), líder do PSL na Câmara, como candidato ao governo.

Também houve resistência, a princípio do comando do PL no estado, que já tinha acordado apoiar prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha. O acordo, assim como em outras regiões, teve de ser revisto.

O motivo para Valdemar ter cedido de todas as formas para garantir a filiação de Bolsonaro é que ele deseja aumentar sua bancada no Congresso, em especial na Câmara dos Deputados. Hoje o partido tem 43 deputados e espera saltar para 65 em 2023, com o presidente filiado.
Marianna Holanda, Julia Chaib e Mateus Vargas/Folhapress

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