Orações, intervenção e ‘radicalização’: o que pediam bolsonaristas no 7 de Setembro

Foto: Felipe Rau/Arquivo/Estadão/
Ato bolsonarista na Avenida Paulista

A manifestação em apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro na manhã desta terça-feira, 7, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, embora ostentasse as pautas antidemocráticas suscitadas de forma recorrente pela militância bolsonarista, também foi marcada por novas demandas como a defesa do agronegócio, o combate à corrupção e o repúdio às prisões de influenciadores governistas.

A manifestante Adriana Lemos disse ter ido às ruas pedir por reformas que elevem a qualidade da educação no País. Ela afirma que a principal motivação para sair de casa no feriado foi o desejo por um “país mais digno e justo” para seus filhos. “Não quero tantos roubos e corrupção”, afirmou. “Precisamos de uma ruptura do modelo político e criar um novo modelo”.

“Nosso país vive um clima de instabilidade política, onde Poderes invadem competências de outros Poderes. O judiciário não permite que o governo federal, eleito democraticamente, governe o país”, afirmou Juciane Cunha, organizadora de caravanas no interior de São Paulo rumo à capital paulista. “Além disso, prisões arbitrárias, por crimes de opinião, estão acontecendo sem que o julgado tenha chance de defesa”.

Um dos nomes mais defendidos pelos bolsonaristas como fruto de uma prisão arbitrária era o de Roberto Jefferson, cujo rosto estampava cartazes e adesivos. Jefferson foi preso a mando do ministro Alexandre de Moraes, do STF, no âmbito do inquérito das milícias digitais por disseminar mentiras e ataques contra as instituições nas redes sociais.

Entre as longas filas de caminhões e seus motoristas estacionados na Esplanada, estavam famílias com crianças e idosos, evangélicos, produtores rurais e sindicalistas da área, motoqueiros, homens encapuzados, e até militares fardados conduzindo as tradicionais fanfarras do feriado da Independência. Durante a manhã, houve círculos de oração conduzidos por carro de som, com homens ajoelhados, clamando aos policiais que permitissem sua passagem em direção à Praça dos Três Poderes.

A ausência de máscara predominou entre os apoiadores do presidente, que diziam ter ido às ruas para demonstrar seu patriotismo, pedir a criminalização do comunismo que creem reger a Constituição e promover uma “faxina” ou “sanitização” no Judiciário e Legislativo, com foco no Supremo Tribunal Federal (STF). Em inglês, uma faixa estendida em frente ao Congresso pedia a “detenção dos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso” e dizia que “o STF é o câncer do Brasil”.

Os idiomas escolhidos para veicular os discursos também esboçam os contornos das manifestações, pois, como enfatizou Bolsonaro em seu discurso, os atos deste dia 7 de setembro são retratos para o mundo. Os cartazes carregados por manifestantes eram escritos também em francês. Um mulher levava uma placa escrita “monsieur le présidente, utilisez l`arméé” (senhor presidente, use o Exército), já um casal empunhava sorridente uma cartolina branca com a mensagem “game over STF” (fim de jogo STF).

As novas demandas dos apoiadores do presidente, porém, não conseguiram rivalizar com o tradicional discurso golpista. Palavras de ordem como ‘eu autorizo’, em alusão à uma intervenção militar, foram repetidas vezes pelos manifestantes durante o discurso de Bolsonaro e estavam expressas nos cartazes.

“Queremos Bolsonaro no poder, intervenção militar, faxina no Judiciário e Legislativo, nova Constituição anticomunista e crimininalização do comunismo no Brasil”, dizia uma faixa do grupo Quartel do Bolsonaro. Em outro cartaz, o apelo pela ruptura institucional se repetia: “Bolsonaro acione as Forças Armadas. O povo ordena”.

O que muitos manifestantes desejavam era justamente a ordem do presidente para que pudessem atacar os outros Poderes. Em frente ao Palácio do Itamaraty, prédio mais próximo da sede do STF, um grupo insuflou a multidão para avançar contra a barricada da Tropa de Choque da Polícia Militar do DF e chegar à Suprema Corte.

“É hoje, ou nunca mais. É tudo ou nada e quem ficar na frente do povo, vamos passar por cima”, dizia um manifestante vestido com roupas camufladas. No centro da multidão, um grupo de homens fardados usava máscara de assalto e indicava o posicionamento tático que os militantes mais aguerridos deveriam seguir.

Uma fila de caminhões estava posicionada antes do cordão da PM-DF, alguns homens tentavam convencer caminhoneiros a avançar contra a barreira policial, e assim abrir espaço para os demais apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

“Vamos aguardar até 10h. Depois que o presidente falar, vamos entrar”, disse um manifestante com um megafone. A tão esperada ordem não foi emitida. Durante o discurso, Bolsonaro voltou a dizer, sem provas, que integrantes dos outros Poderes têm adotado medidas inconstitucionais e que, portanto, os presidentes das instituições deveriam controlar seus integrantes para que não fosse necessário intervenção externa. A mensagem cifrada foi destinada ao presidente do Supremo, Luiz Fux, em relação ao ministro Alexandre de Moraes. As falas antidemocráticas, sem um comando claro para o confronto, frustrou parte dos manifestantes.

“Vamos descer de joelhos lá no Supremo, até essa situação do Brasil ser resolvida de fato. Ficar nessa conversinha não vai resolver nada, ele está de palhaçada”, disse um manifestante que tentava convencer policiais a facilitar o acesso à Praça dos Três Poderes. “Ele (Bolsonaro) falou de coisas inconstitucionais, isso a gente já ouviu demais”, completou outro manifestante em conversa com caminhoneiro para que avançasse contra a barreira de contenção.

“Nós temos que fazer nossa parte, se ele não faz a dele (…) Vou entrar nessa porra nem que seja sozinho”, disse um manifestante decepcionado com o teor do discurso do presidente.

Weslley Galzo/Estadão Conteúdo

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