Bolsonaro diz que oposição vista nas ruas é ‘digna de dó’ e ironiza ‘presidenciáveis aglomerados’

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil/Arquivo/Presidente Jair Bolsonaro (sem partido)

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira, 13, que as pessoas que foram às ruas no domingo protestar contra seu governo são uma minoria “digna de dó” e não fazem parte da maioria da população, formada por “pessoas de bem”. A apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, o chefe do Executivo ainda ironizou a presença de cinco pré-candidatos à Presidência nos atos de São Paulo.

“A maioria da população é de bem. Essa minoria que é contra, que muitos foram às ruas ontem, são dignos de dó, de pena”, afirmou. “Viram em São Paulo, ontem, cinco presidenciáveis aglomerados?”, questionou Bolsonaro.

Entre os cotados para disputar o Planalto em 2022, estiveram presentes na Avenida Paulista o governador de São Paulo, João Doria (PSDB); o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM); o ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes (PDT); o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS).

“Citaram questões pessoais. Não vão me tirar daqui com isso de jeito nenhum”, declarou Bolsonaro.

Foram registradas ontem manifestações contrárias ao governo em todo o País, mas com adesão em número menor em comparação com 7 de Setembro, como destacou mais cedo o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB). Os atos reuniram setores da direita que abandonaram o presidente, como o Movimento Brasil Livre (MBL), e algumas figuras da esquerda, mas parte desse campo resistiu a ir às ruas com ex-bolsonaristas.

Em outro descumprimento às recomendações de especialistas em saúde, o presidente ainda reforçou a apoiadores que não se vacinou contra a covid-19. “Eu não tomei a vacina e estou com 991 [de nível de imunoglobulina G, o IgG, um marcador de anticorpos]. Eu acho que peguei [covid] de novo e nem fiquei sabendo”, acrescentou aos presentes.

Interferência – Questionado por uma apoiadora sobre a dificuldade do exame Revalida, prova do Conselho Federal de Medicina (CFM) para autorizar o exercício da profissão no País por médicos formados no exterior, Bolsonaro respondeu que não tem interferência no órgão. “Zero, zero interferência. É igual [às] agências aqui no governo. Pessoal pensa que eu mando, mas não mando em agências, não”.

Constituição – Bolsonaro ainda leu aos apoiadores presentes o artigo 1º da Carta Magna. “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”, frisou o chefe do Planalto, pedindo aos presentes intensificação de estudos sobre a realidade País. “Alguns idiotas não aprendem nunca, mas temos de dar conhecimento às pessoas que não têm ainda”.

Discurso – De olho nas eleições de 2022, o presidente também resgatou alguns aspectos do discurso conservador que o alçou ao comando do País em 2018. Contrário ao politicamente correto, contou a apoiadores nesta segunda-feira “piadas” de cunho machista. “Todas as mulheres são torcedoras do Botafogo, não vou falar por quê”, afirmou, arrancado risos de simpatizantes. “O Brasil está chato. Você não pode contar uma piada. Eu só conto piada em círculo reduzindo e sabendo que ninguém está gravando”.

Bolsonaro ainda insistiu em sua retórica de que a inflação dos alimentos é culpa da política do “fique em casa” adotada por Estados e municípios durante a pandemia, desprezando, mais uma vez, o efeito cambial do fenômeno e o impacto de questões políticas na alta do dólar.

“As coisas ruins não acontecem de uma hora para outra, a não ser um raio. O Estado é bonzinho, vai dar comida para você, tome isso, tome aquilo. Quando você ver, a água ferveu de mais. É assim que começam os regimes de exceção e terminam da forma mais trágica possível, como da Venezuela”, declarou o chefe do Executivo, voltando a forçar comparações com o país vizinho. “Se o Brasil tiver aqui um caos, convulsão social, não vai ser diferente de Venezuela”.

Eduardo Gayer, Estadão

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