Bolsonaro diz que bloqueios atrapalham economia e pede a caminhoneiros que liberem vias

Foto: Lucas Baptista/Estadão/Arquivo

O presidente Jair Bolsonaro pediu a aliados que façam contato com caminhoneiros alinhados ao governo para liberar as rodovias bloqueadas depois dos protestos de raiz golpista do dia 7 de setembro.
Em uma mensagem de áudio gravada nesta quarta-feira (8), o presidente diz que a interrupção do trânsito prejudica a economia.

“Fala para os caminhoneiros aí que [eles] são nossos aliados, mas esses bloqueios aí atrapalham a nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em especial os mais pobres. Então, dá um toque nos caras aí, se for possível, para liberar, tá ok? Para a gente seguir a normalidade”, diz Bolsonaro.

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, gravou vídeo em que confirma a veracidade do áudio e afirma que a paralisação pode agravar efeitos na economia, como a inflação. “Uma paralisação vai trazer desabastecimento, vai acabar impactando os mais pobres, os mais vulneráveis”, disse Tarcísio.

Aliados do presidente temem que as manifestações de caminhoneiros nas estradas em apoio a Bolsonaro prejudiquem o governo caso os efeitos econômicos da paralisação se espalhem. Em algumas cidades, já há relatos de falta de combustíveis.

Caminhoneiros realizaram nesta quarta paralisações em trechos de rodovias em ao menos 15 estados. Sem apoio formal de entidades da categoria, os motoristas são alinhados politicamente ao governo ou ligados ao agronegócio.

Parte dos manifestantes segue a pauta dos protestos liderados por Bolsonaro na última terça-feira (7), com ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal) e pressões pela destituição de ministros da corte.

Na gravação, o presidente pede que as discussões políticas sejam feitas pelas autoridades em Brasília.

“Deixa com a gente em Brasília aqui agora. Não é fácil negociar, conversar por aqui com outras autoridades, não é fácil. Mas a gente vai fazer a nossa parte aqui, vamos fazer a nossa parte aqui, tá ok?”, diz Bolsonaro.

Na noite desta quarta, um grupo bloqueou o quilômetro 148 da rodovia Anhanguera, no sentido da capital paulista, em Limeira (SP). A concessionária que administra a pista, a CCR Autoban, orientava os motoristas a usar a rodovia dos Bandeirantes.

Também houve bloqueios no Rio de Janeiro e em Roraima, onde um grupo de caminhoneiros autônomos interrompeu o tráfego na BR-174, estrada que é a única ligação do estado com o resto do país. Caminhoneiros interditaram as duas vias por volta de 16h, na altura do quilômetro 482.

Em Santa Catarina, a PRF comunicou no fim da tarde desta quarta bloqueio em 22 pontos, atingindo praticamente todas as regiões do estado. A situação já começou a afetar a distribuição de combustíveis.

Até as 17h, cerca de 30 postos da região norte de Santa Catarina, onde fica Joinville, a cidade mais populosa do estado, relataram falta de gasolina e diesel nas bombas, segundo levantamento do Sindipetro-SC (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Santa Catarina).

A região é abastecida por distribuidoras em Guaramirim e Itajaí, cidades com pontos de paralisação de caminhoneiros, e os postos estavam sem receber combustíveis desde a manhã desta quarta.

Pontos da BR-163, principal rodovia para escoamento de grãos do Centro-Oeste, também concentravam caminhoneiros no fim do dia, o que deixou em alerta empresas ligadas à exportação.

A Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais) disse à Reuters que os protestos não afetaram o escoamento. A administração portuária de Paranaguá (PR) afirmou que não havia sinais de caminhoneiros atrapalhando o fluxo de cargas para o porto durante a tarde. O IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás) disse que acompanha os “bloqueios pontuais”.

Paranaguá foi uma das cidades do Paraná com registro de bloqueios, que também ocorreram em Maringá e em Paranavaí, nas regiões norte e nordeste do estado.

Segundo o Ministério da Infraestrutura, os protestos “não se limitam às demandas ligadas à categoria”.

As principais pautas dos caminhoneiros hoje são preço do combustível e piso mínimo do frete. “Não há coordenação de qualquer entidade setorial do transporte rodoviário de cargas”, afirmou a pasta. Entidades de caminhoneiros corroboram essa posição.
Julia Chaib/Bruno Boghossian/Folhapress

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