Laudo encomendado pela Precisa contradiz Miranda e governo; leia a íntegra

Bharat Biotech/
A Precisa Medicamentos é a representante da vacina indiana Covaxin no Brasil
À CPI, os irmãos Miranda afirmaram que a nota fiscal teria chegado à pasta em 18 de março, a tempo de levá-la a um encontro com Bolsonaro no Palácio do Planalto em 20 de março. Senadores governistas contestam essa versão usando a mesma cronologia indicada pelo laudo pericial, mas não tinham apresentado o documento.

Em 25 de fevereiro, o governo federal firmou contrato com a Precisa Medicamentos, representante do laboratório indiano Bharat Biotech no Brasil, para comprar 20 milhões de doses da Covaxin por R$ 1,61 bilhão. O prazo para a entrega das primeiras remessas se encerrou em 27 de março. O último lote deveria ter chegado até 6 de maio. O contrato foi suspenso por recomendação da CGU (Controladoria Geral da União).

O deputado federal Luis Miranda fez uma apresentação de slides para a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado com registros de e-mails, notas fiscais internacionais (as chamadas invoices) e capturas de tela de conversas de WhatsApp. Ele afirma que levou para o presidente Jair Bolsonaro as suspeitas levantadas por seu irmão, um servidor do Ministério da Saúde, sobre irregularidades nas tratativas pela vacina.

Nesses prints, o congressista expôs mensagens recebidas pelo seu irmão do ex-coordenador-geral de Aquisições de Insumos Estratégicos para Saúde do Ministério, Alex Lial Marinho, e do diretor do Departamento de Logística da pasta, Roberto Ferreira Dias, nos dias 19 e 20 de março.

De acordo com o laudo, entretanto, a diretora da Precisa, Emanuela Medrades, recebeu a fatura com erros em 19 de março, data em que Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado Luis Miranda, diz ter recebido o documento. Esse invoice, no entanto, não foi disponibilizado ou copiado da pasta de Dropbox na qual foi enviado e nem compartilhado com os e-mails “dlog@saude.gov.br” e “lenice.araujo@saude.gov.br”.

Luis Miranda disse ao Poder360 que todos os documentos, inclusive a nota fiscal da Madison, empresa que não era citada no contrato e que deveria receber U$45 milhões adiantados, estavam acessíveis no Dropbox por meio de link enviado pela Precisa em 18 de março.

Teriam, também, sido entregues em 20 de março no Ministério da Saúde armazenados em um pen drive, portanto a tempo de, junto com seu irmão, levá-los a Bolsonaro.

No pronunciamento a jornalistas em 24 de junho, Onyx Lorenzoni e Elcio Franco alegaram que a 1ª nota fiscal –a mesma que o laudo para a Precisa mostra ter partido do e-mail corporativo da empresa– seria falsa. A versão do governo e a da empresa não batem.

Já a líder da bancada feminina no Senado, Simone Tebet (MDB-MS), disse na 3ª feira (6.jul) à CPI que acredita que houve “fraude” e “erros graves” no documento utilizado pelo governo para rebater as acusações do deputado Luis Miranda sobre irregularidades nas negociações da vacina indiana contra a covid-19.

A análise foi feita sobre as diferentes versões da nota fiscal da Madison Biotech –operadora logística da Bharat Biotech, que produz a vacina.

Tebet destacou a presença de erros de digitação em inglês, idioma em que está redigido o documento, e a ausência de marcas de escaneamento, além de supostas marcas de montagem, como deslocamento do logo da empresa.

De acordo com a senadora, existem inconsistências como uma mistura de “portinglês”, como “prince” [príncipe] no lugar de “price” [preço], Brasil com “z” e aeroporto em português, além de diferenças no número de doses que o Brasil receberia.

A afirmação que havia indícios de alteração digital na nota fiscal que Onyx e Franco apresentaram como a correta foi feita com base no site fotoforensics.com e na ajuda de um professor de inglês.

“O documento ‘verdadeiro’ que é esse, tem clara comprovação de falsidade de documento privado, nós estamos falando de falsidade ideológica, formulada por alguém”, disse.

O perito judicial Lorenzo Parodi confirmou ao Poder360 ter produzido o laudo para a Precisa. Procurados, senadores oposicionistas demonstraram ceticismo. Alegaram que seria possível a empresa encomendar o resultado da perícia de antemão.

A defesa da Precisa Medicamentos disse em nota que não houve fraude no trâmite da compra da Covaxin. Diz que os fatos “enterram” a tese de que Luis Miranda e seu irmão falaram com Bolsonaro sobre as notas fiscais irregulares.

“Há uma confusão no discurso da Senadora com relação à cronologia e à dinâmica dos fatos que envolvem a questão da invoice. Não houve fraude. Todas as invoices só foram enviadas ao Ministério da Saúde após o dia 22, conforme os inúmeros documentos apresentados pela defesa técnica à CPI. Além disso, a prova mais clara é a própria mensagem de WhatsApp apresentada por Luís Miranda à CPI, que também é do 22, na qual ele recebe a invoice e um áudio do irmão e, em seguida encaminha ao ajudante de ordens do presidente da República.”
Print apresentado por Luis Miranda à PCI e citado pela defesa da Precisa

“A primeira versão é enviada às 10h21 do dia 22/03/21. Uma segunda versão é enviada ao MS às 21h29 do dia 23/03/21 após pedidos de correções apontados pelo MS. Uma terceira versão é enviada às 22h54 do mesmo dia 23/03/21, após último pedido de correção. Lamenta-se, portanto, os factoides criados pelo deputado Luís Miranda e repercutidos pela CPI. O deputado mentiu ao maliciosamente afirmar que levou ao presidente da República a invoice no dia 20, quando o Ministério da Saúde e seu irmão nem sequer tinham o invoice. É ele que tem que se explicar à CPI.”
ENTENDA O CASO

O Poder360 preparou infográficos com as controvérsias cercando a compra da vacina indiana Covaxin. Entenda aqui o caso da Covaxin com mais detalhes.
Por: POrder360






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