“Acabar com o teto de gastos seria temerário”, diz nova diretora da IFI

A economista Vilma Pinto é a 1ª mulher negra no posto e defende a ampliação dos gastos sociais
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado/
Vilma Pinto, em sabatina na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado
Vilma Pinto, nova diretora da IFI (Instituição Fiscal Independente), diz que ampliar os programas sociais sem o fim do teto de gastos será o maior desafio do Brasil pós-pandemia. Para ela, acabar com o teto seria temerário.

“O teto é um instrumento. Se é bom ou ruim, depende de como se usa. Acabar com o teto seria temerário, no sentido de que é uma regra de política fiscal e uma âncora”, afirmou.

A economista de 31 anos será a 1ª mulher negra a ocupar uma diretoria da IFI. Foi indicada ao cargo pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), com apoio do diretor-executivo da IFI, Felipe Salto, e teve o nome aprovado pelo Senado em 7 de julho. Agora, pretende trabalhar para dar transparência às contas públicas e aperfeiçoar a medição do resultado fiscal estrutural.

Vilma Pinto foi a entrevistada do Poder360 Entrevista da última 4ª feira (14.jul.2021). Assista (32min22s):
Para a economista, é preciso pensar de forma abrangente e entender a aplicação de regras fiscais como o teto de gastos antes de falar em extingui-las. O fim do teto de gastos foi defendido recentemente pelo ex-presidente Lula (PT) e pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Seguindo as projeções da IFI, Vilma Pinto não vê risco de descumprimento do teto de gastos no curto prazo. O instrumento terá uma correção de 8,53% em 2022 –é o maior reajuste desde que o teto foi criado, em 2016, para limitar o crescimento dos gastos públicos. “Isso confere um aumento nominal da margem que o governo pode gastar”, diz.

Vilma Pinto afirma, no entanto, que é preciso avaliar a qualidade das despesas públicas e priorizar as mais eficientes para bancar programas como o novo Bolsa Família. Cita, por exemplo, os gastos tributários, que representam 4% do PIB (Produto Interno Bruto). Porém, diz que reduzir benefícios fiscais é uma agenda difícil, que tem apresentado “resultados pouco efetivos”.

“O governo pode criar um novo Bolsa Família e conceder reajuste salarial de forma continuada, desde que indique a fonte de financiamento. Sem uma fonte de compensação, pode comprometer o teto e piorar a situação das contas públicas”, afirma.

Para Vilma Pinto, ampliar os programas sociais será o maior desafio do Brasil pós-pandemia, já que a covid-19 acentuou as desigualdades sociais e o país ainda apresenta um quadro de “desequilíbrio fiscal”.
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
Para a economista, a melhora recente das projeções fiscais é temporária. “Há uma melhora nas estatísticas de curto prazo, muito por conta do ciclo das commodities e da variação de preços. Mas é uma melhora conjuntural, que vai durar pouco tempo”, disse.

A diretora da IFI disse que a relação dívida/PIB deve cair neste ano, mas deve voltar a subir logo depois e se estabilizar só daqui a 4 anos. “É preciso pensar na trajetória. A dívida deve estabilizar em torno de 2025 ou 2026, em um nível ainda elevado, algo como 87% do PIB”.

Vilma diz, então, que é preciso continuar buscando formas de reduzir o deficit do governo. “Com as contas públicas desequilibradas, o governo não consegue avançar em algumas agendas para promover o crescimento econômico. É preciso avançar na agenda de investimentos públicos”, afirmou.

O Poder360 

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