Otto responsabiliza Bolsonaro por crise na pandemia, garante que PSD está satisfeito no governo Rui Costa e dá ‘conselho’ a Neto e Roma

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Membro da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o senador Otto Alencar (PSD) responsabiliza o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelo atual quadro brasileiro na pandemia, citando o negacionismo e atitudes inadequadas do chefe do Palácio do Planalto durante a crise sanitária como responsáveis pela crise em que o país está mergulhado.

Ele culpa Bolsonaro por, segundo ele, ter rejeitado a oferta feita no ano passado por representantes da Pfizer, que ofereceram prioridade da vacina contra a Covid-19 ao governo brasileiro. “A Pfizer mandou uma carta assinada pelo doutor Albert Bourla, que é o executivo-chefe, para oferecer vacina e o governo não quis. O presidente rejeitou”, afirmou.

“A CPI começou agora, nós tivemos ontem [quarta] a quinta reunião, e quem está nas cordas é o governo, que toda hora busca uma maneira de obstruir os trabalhos, como fez o filho do presidente quando agrediu o relator, o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Nós não queremos dificultar a ação do governo. Quem dificulta a ação do governo é o próprio presidente da República”.

Segundo o senador baiano, “todas as crises pelo Brasil foram estimuladas, fomentadas e gestadas pelo presidente da República e por aqueles que transitam em torno dele”. “Não pode ser um governo equilibrado quando em dois anos e quatro meses troca 19 ministros de Estado, inclusive ministros militares”, lembrou.

Apesar de optar pela cautela, o presidente do PSD na Bahia falou um pouco a respeito do cenário local da política. No entanto, não mostrou as cartas quanto a uma possível tentativa de reeleição em 2022. “Eu não tomo decisão fora da hora porque tem que esperar os fatos acontecerem”, resumiu.

A este Política Livre, Otto garantiu que o seu partido está completamente satisfeito com os espaços que tem no governo Rui Costa. Indiretamente, ele de certa forma cutucou o Democratas e o Republicanos, de ACM Neto e João Roma, respectivamente.

“O que adianta ter ministério no Governo Bolsonaro e o governo ter 24% de aprovação?”, questionou. “Não adianta nada”, completou. Hoje, o DEM possui dois ministros no governo federal: Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral) e Tereza Cristina (Agricultura). Já o Republicanos é representado por João Roma, nomeado em fevereiro deste ano na Cidadania.

Inclusive, esta última indicação de Bolsonaro provocou um conflito entre Roma e o presidente nacional do DEM, ACM Neto. Questionado se uma eventual candidatura do republicano ao Governo da Bahia dividiria o grupo de Neto, Otto não entrou em detalhes, mas aconselhou nas entrelinhas: “Se não se entenderem vão ter uma diáspora e cada um fica responsável por aquilo que faz”.

Confira a entrevista na íntegra:

Política Livre – Muitos têm dito que a CPI da Covid não traz nada de que todos já não saibam sobre o comportamento do presidente Jair Bolsonaro na pandemia. Como mostrar que isso não é verdade, senador?

Otto Alencar – Já está mostrando. Ontem mesmo [quarta] foi mostrado que a Pfizer mandou uma carta assinada pelo doutor Albert Bourla, que é o executivo-chefe da Pfizer, para oferecer vacina e o governo não quis. O presidente rejeitou. Quantas vezes o presidente disse que não queria vacina, inclusive, a vacina CoronaVac do Doria? Já ficou provado que quiseram alterar a bula da hidroxicloroquina, o que seria um crime contra o povo brasileiro, já que a hidroxicloroquina não tem efeito nenhum na cura da doença. Também está claro, como ficou ontem, como mentiu o ex-secretário de Comunicação a respeito da falta de conhecimento e de trabalho para evitar a expansão da doença. A CPI começou agora, nós tivemos ontem a quinta reunião, e quem está nas cordas é o governo, que toda hora busca uma maneira de obstruir os trabalhos, como ontem fez o filho do presidente quando agrediu o relator, o senador Renan Calheiros. Nós não queremos dificultar a ação do governo. Quem dificulta a ação do governo é o próprio presidente da República. Todas as crises pelo Brasil, todas elas foram estimuladas, fomentadas e gestadas pelo presidente da República e por aqueles que transitam em torno dele. Não pode ser um governo equilibrado quando em dois anos e quatro meses troca 19 ministros de Estado. Em dois anos e quatro meses o governo já substituiu 19 ministros de Estado, inclusive ministros militares. O General Fernando Azevedo, o General Santos Cruz… Então não existe meta, existe um presidente perdido que não estava preparado para governar o Brasil.

Quem o senhor acha que pode ter orientado Bolsonaro contra as recomendações de Mandetta, por exemplo?

Ele mesmo. A cabeça dele. Ele que defendeu a hidroxicloroquina. Ele que disse que não tinha que usar máscara. Ele que promoveu aglomerações. O próprio pessoal da família dele estimulava que ele não cumprisse as regras sanitárias, o que é lamentável. O deputado Osmar Terra que falava – um absurdo isso – que poderia ter imunidade de rebanho. Imunidade de rebanho em um país com 215 milhões de brasileiros? Imunidade de rebanho, que deu a crise lá em Manaus, que se enterrou gente em vala comum. Imunidade de rebanho. Hidroxicloroquina em Manaus, que resultou a morte de tantas pessoas.
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Falando um pouco aqui da Bahia, o senhor já se decidiu a concorrer ao Senado na chapa que Wagner deve liderar ao governo em 2022?

Não. Eu só vou tomar essa decisão em março de 2022. Eu não tomo decisão fora da hora porque tem que esperar os fatos acontecerem.

Como o senhor viu a iniciativa do governador Rui Costa de entregar mais duas secretarias importantes ao PP?

Normal. O governador é quem define quem serão os auxiliares dele. Eu acho que ele escolheu dois nomes bons. O vice-governador já estava em uma secretaria e o ex-presidente da Assembleia, Nelson Leal, é um bom nome, ele é experiente, tem capacidade de trabalho e conhece bem a Bahia, então pode ajudar muito nesse setor do Desenvolvimento Econômico.

Seria uma compensação para o fato de que João Leão não assumirá mais o governo nem poderá ser ou indicar o filho à vice?

Ninguém sabe. Eu não sei o que vou ser em 2022. Só vou resolver em março. O João Leão é um homem que tem todas as condições de alcançar e galgar outros cargos importantes.

E o PSD, está satisfeito com o espaço que tem hoje no governo ou, a partir dos ajustes que Rui está fazendo, vai exigir mais espaço?

Não. 

O PSD está muito satisfeito com Rui porque ele está com uma ótima aprovação. É um ótimo governador. Essa questão de espaço, quando o governo funciona para todos, como tem funcionado o governo de Rui, tanto funcionou para todos que fez a maior bancada de deputados estaduais e federais em 2018. Não precisa ter busca de espaço para interesses de ordens partidárias. O que interessa é que o governo funcione bem. O que adianta um partido ter muito espaço e ter um governador mal avaliado? O que adianta ter ministério no Governo Bolsonaro e o governo ter 24% de aprovação? Não adianta nada.

O senhor acredita que Wagner pode superar ACM Neto em favoritismo para a eleição de 2022?

Não sei. Quando começar a eleição que nós vamos ver. Wagner foi um ótimo governador. Ele fez oito anos de um bom governo, inclusive eu fui secretário de Infraestrutura dele e construí quatro mil quilômetros de estradas na Bahia. Fizemos o programa Luz Para Todos que avançou muito. Chegamos a ter quase 520 mil ligações no interior. Na zona rural não tinha luz, ficava todo mundo em um apagão. Teve o Água Para Todos. Wagner foi um ótimo governador, fez grandes obras de Infraestrutura e, na área social, avançou com hospitais. Então ele tem respaldo. Agora essa situação de eleição, eu fazer previsão agora não dá. Eu sei que ele é forte e o partido dele é forte, e nós vamos em março decidir essa questão de candidato a governador, vice-governador e senador também.

Vocês contam que uma eventual candidatura de João Roma divida o grupo de ACM Neto e favoreça Wagner?

Não sei. Essa é uma discussão que deve ficar restrita aos que estão pelejando lá no Democratas e no Republicanos, com Roma e o Neto. Eles vão ter que decidir lá. Eu não vou me envolver na esfera partidária que não é a minha esfera partidária. Eu não posso resolver isso. Eu não olho para o outro lado. Eu não olho para o partido dos outros. Eu olho para o meu e o meu grupo, que é com quem estou alinhado. Não posso me envolver em questões internas de partidos e de alianças políticas do Republicanos com o Democratas. Os partidos devem se entender. Se não se entenderem vão ter uma diáspora e cada um fica responsável por aquilo que faz. Ninguém chega a ser prefeito de Salvador sem bom juízo. Se o cara vai lá e faz dissidência interna aí eles vão ter dificuldades. Mas eu não quero me envolver nisso.

Mateus Soares

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