Foto de Lula com FHC causa incômodo no PSDB, anima PT e irrita entusiastas da 3ª via

Foto: Joelmir Tavares
A publicação da foto dos ex-presidentes Lula (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), após dias de afagos mútuos, causou diferentes reações nos partidos de ambos ao longo desta sexta-feira (21) e aborreceu entusiastas de uma terceira via para a eleição presidencial de 2022.

Os diretórios nacional e paulista do PSDB emitiram notas em tom de desconforto com o encontro entre os outrora rivais políticos. Embora FHC não tenha declarado apoio a Lula no primeiro turno, ele tem dito em entrevistas que votará no petista, se for preciso, para derrotar Jair Bolsonaro (sem partido).

“Esse encontro ajuda a derrotar Bolsonaro, mas não faz bem a um potencial candidato do PSDB”, disse o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo. Hoje o partido tem entre seus pré-candidatos os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o senador Tasso Jereissati (CE).

“Nossa característica é saber dialogar, inclusive com adversários políticos”, continuou Araújo. “De toda forma, precisamos evitar sinais trocados a nossos eleitores. O partido segue firme na construção de uma candidatura distante dos extremos que se estabeleceram na democracia brasileira.”

A seção paulista do PSDB, presidida pelo secretário Marco Vinholi, aliado de Doria, afirmou em nota que “o encontro de FHC com Lula tem caráter dentro da democracia, onde adversários políticos dialogam”.

Ressaltou, no entanto, que “o PSDB trabalha uma alternativa para o Brasil capaz de liderar a retomada tão importante no país, frontalmente contrária aos retrocessos de Lula e Bolsonaro”.

Na mesma linha, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), que disputou a Presidência em 2014 e é crítico histórico do PT, manifestou-se pelo direito de FHC “de almoçar, jantar e tomar seu vinhozinho com quem ele escolher”, mas frisou que os planos dos tucanos passam longe de aliança com Lula.

“Quanto à questão política, o PSDB deve continuar a busca de uma candidatura ao centro, e há sinais claros de que, além dos nomes colocados até aqui, o senador Tasso começa a considerar realmente uma candidatura. Lula nunca foi, e não acredito que será, uma opção para o PSDB”, declarou Aécio.

O almoço dos ex-presidentes, que ocorreu no dia 12 de maio no apartamento do ex-ministro do STF e ex-ministro da Justiça e da Defesa Nelson Jobim, foi revelado por Lula na manhã desta sexta em uma publicação em suas redes sociais.

Os perfis do petista informaram que os dois “se reuniram para um almoço com muita democracia no cardápio” e “tiveram uma longa conversa sobre o Brasil, sobre nossa democracia, e o descaso do governo Bolsonaro no enfrentamento da pandemia”.

Além de líderes do PSDB, outros políticos que trabalham pela fabricação de uma alternativa viável entre Lula e Bolsonaro revelaram, nos bastidores ou em público, descontentamento com a divulgação da foto pelo petista, acompanhada de um discurso que soa positivo para os interesses do PT.

Desde que recobrou o direito de se candidatar, em março, Lula iniciou uma abordagem a partidos e políticos de centro-direita, refez pontes com setores da esquerda e intensificou o contato com o mercado financeiro e as igrejas evangélicas, em esforço para se posicionar como moderado.

O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, que sonha em filiar o apresentador Luciano Huck e transformá-lo nessa opção distante dos dois pólos, tratou o episódio como “grave equívoco” em meio às costuras para levantar um nome competitivo do autoproclamado centro.

“Gesto de civilidade e educação o de FHC, que há 20 anos é tratado por Lula/PT como um estorvo nacional. Mas, politicamente, não me parece ajudar em nada a construção de uma alternativa democrática para os que rejeitam a opção entre Lula e o fascista Bolsonaro. Grave equívoco”, afirmou.

O ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung (ex-MDB, PSB e PSDB, hoje sem partido), que é próximo a Huck e incentivador de uma opção de centro em 2022, preferiu adotar tom mais otimista.

“Dois ex-presidentes estarem conversando em defesa da democracia, em meio à maior crise já vivida pelas nossas gerações, é positivo. Negativo seria não conversar”, afirmou.

FHC é uma peça com influência sobre os críticos da polarização, que hoje orbitam em torno de nomes como Doria, Leite, Tasso, Huck, o ex-juiz Sergio Moro (sem partido), o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM), o empresário João Amoêdo (Novo) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT).

Em declarações nos últimos dias, o ex-presidente da República repetiu defender a articulação de uma candidatura alternativo às de Bolsonaro e Lula, mas afirmou que, diferentemente do que fez em 2018, não anulará seu voto e escolherá o petista se ele for ao segundo turno contra o atual mandatário.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada na semana passada, Lula lidera a corrida eleitoral de 2022, com 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro. Em um eventual segundo turno, o petista levaria ampla vantagem, com uma margem de 55% a 32%.
Joelmir Tavares, Folhapress

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