Coronavac é eficaz contra variantes do coronavírus, diz estudo chinês

Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

A Coronavac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, é eficaz contra a maioria das variantes do coronavírus Sars-CoV-2 conhecidas e com potencial de maior preocupação, diz estudo conduzido na China.

Os anticorpos produzidos pela vacina foram capazes de bloquear igualmente a ação da forma ancestral do vírus chinesa e das variantes D614G (a primeira mutação a surgir do vírus), B.1.1.7 (britânica) e B.1.429 (californiana). No caso das variantes P.1 (de Manaus), B.1.351 (sul-africana) e B.1.526 (nova-iorquina), a vacina se mostrou eficaz, mas foram produzidos menos anticorpos neutralizantes, de um quarto a um quinto dos que foram detectados para as outras cepas.

O estudo foi publicado na forma de correspondência —um artigo breve, porém revisado por pares— na última edição da Lancet, uma das mais prestigiosas revistas científicas, na última quinta (27).

No Brasil, a Coronavac é produzida em uma parceria da empresa com o Instituto Butantan, em São Paulo, e ela responde por cerca de 6 em cada 10 doses de imunizante aplicadas no Brasil.

Para avaliar a medida de proteção conferida pelo fármaco, os pesquisadores colheram amostras de sangue de 93 profissionais de saúde saudáveis antes e depois de serem imunizados com as duas doses da Coronavac. As amostras do soro (porção do sangue contendo os anticorpos) foram testadas contra pseudovírus (réplicas artificiais do vírus) contendo as mutações de cada uma das formas do patógeno.

Como era de esperado, o sangue pré-vacinação não apresentou nenhum anticorpo neutralizante contra o Sars-CoV-2. Já entre as amostras dos indivíduos imunizados, 76% continham anticorpos capazes de neutralizar o vírus “selvagem” (ancestral).

Essa taxa, no entanto, caiu consideravelmente quando testado contra três das variantes, a P.1 (só 34% das amostras neutralizaram essa variante), nova-iorquina (26%) e sul-africana (5%). Segundo os autores, isso se deve à mutação E484K, comum a essas três variantes, que são conhecidas por reduzir significativamente a ação de anticorpos neutralizantes específicos contra essas variedades.

No entanto, é importante destacar que os anticorpos neutralizantes são apenas uma forma de proteção conferida por vacinas, e outras, como a imunidade celular, podem também atuar. Os autores afirmam que, assim como as vacinas de mRNA (RNA mensageiro, caso de Pfizer e Moderna), as vacinas de vírus inativado têm sido eficazes em proteger contra as formas do vírus em circulação, incluindo as VOCs (variantes que causam preocupação).

Quanto à variante P.1, embora a Coronavac tenha produzido menos anticorpos capazes de neutralizá-la, a proteção ainda assim se confirmou. Outros estudos, incluindo um desenvolvido por pesquisadores do Instituto Butantan, mostraram um potencial da vacina em proteger contra a variante de Manaus.

Outras vacinas em uso também apresentaram redução na capacidade de neutralização in vitro contra formas do vírus, mas, em estudos de eficácia na vida real (efetividade), todas as vacinas têm se mostrado eficazes em reduzir casos graves e óbitos da Covid, incluindo na África do Sul, onde a B.1.351 é predominante.

Como o estudo foi feito em laboratório, é importante continuar monitorando a ação das vacinas na população, especialmente nas regiões onde formas do vírus contendo a mutação E484K, como o Brasil, para avaliar a proteção da vacina.

Em Serrana, cidade do interior de São Paulo, um estudo conduzido pelo Instituto Butantan com o objetivo de avaliar a eficácia da Coronavac contra a variante P.1 já foi concluído. Os resultados devem ser apresentados nos próximos dias, segundo o diretor do instituto, Dimas Covas.

Ana Bottallo, Folhapress

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