A Faroeste e o sucesso ilegítimo da elite jovem e anti-cidadã, por Raul Monteiro*

Foto: Divulgação/Arquivo/
O ministro Og Fernandes, do STJ, toca até aqui de maneira impecável a Operação Faroeste

Entre as surpreendentes revelações da nova fase da Operação Faroeste, que investiga o esquema de grilagem de terras no Oeste da Bahia por meio de vendas de sentenças judiciais, está o envolvimento de três ex-juízes do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), acusados de operar para algumas das celulas criminosas comandadas por desembargadores no Tribunal de Justiça da Bahia, segundo denúncia do Ministério Público Federal, que chegou a solicitar a prisão dos três, pedido que, entretanto, não foi acatado pelo ministro Og Fernandes, coordenador impecável das apurações no âmbito do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Todos têm em comum, além do exercício profissional da advocacia, excelente origem sócio-econômica, sobrenomes conhecidos e, consequentemente, laços familiares e relacionais com os setores mais jovens da elite baiana, a qual integram com autêntico senso de pertencimento. Há, entre eles, desde um genro de um ex-senador da República e secretário do governo Rui Costa (PT) a um filho de uma das desembargadoras presas nesta mais recente etapa da Faroeste e outro de um empreendedor estimado e reputado como muito competente nos meios empresariais que circula com a esposa nos animados bailes da high society local.

O quadro está longe de responder à pergunta sobre porque motivo jovens nascidos praticamente em berço de ouro, comparativamente à grande maioria de seus compatriotas de mesma faixa etária, que tiveram acesso a boas escolas e a bens e serviços que são uma verdadeira miragem para setores amplamente majoritários da população brasileira, portanto, a todas as oportunidades e condições para despontar em suas vidas profissionais fazendo, efetivamente, a diferença, resolvem usar suas conexões para garantir posições estratégicas na estrutura do Estado para dele se servir ao invés de servir à sociedade.

Pelo contrário, apenas confirma a tese de que a elite baiana e nacional e, neste caso, lamentavelmente, seu segmento mais jovem, promissor e bem-sucedido, que sempre esteve longe de enfrentar as agruras da luta pela sobrevivência econômica, ao invés de representar a perspectiva de mudanças no país por meio do exercício de uma liderança cidadã, que pense e formule, utilizando sua situação privilegiada em favor da melhoria das instituições e da Nação, queda-se integralmente preocupada de forma egoísta com seus interesses mais mesquinhos e privados, além de ideais de acumulação que não passam pelo mérito pessoal, mas pela chance do desvio, em exercício pleno de uma espécie de neo-patrimonialismo bossal.

Para ela, infelizmente, comprovada a culpa pela Justiça, não há outro caminho senão o da punição pura e simples, que deve passar também, como para todos os envolvidos no esquema, não apenas pelo sequestro mas pela privação de tudo o que conquistou de forma ilícita – mansões, automóveis de luxo, jóias e dinheiro, em alguns casos, alocados em contas no exterior, como já se deu a falar, entre os procuradores federais dedicados às investigações, em relação a algumas cabeças dos vários vasos da organização criminosa que vem enriquecendo às custas do primitivo mecanismo da usurpação de terras no Estado da Bahia.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

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