Líder na zona leste de SP, Padre Ticão é ameaçado após evento com católicas feministas

Foto: Reprodução
Conhecido líder comunitário na zona leste de São Paulo, o Padre Ticão estaria sofrendo ataques por meio de mensagens de ódio e ameaças de morte desde a realização da 36ª Semana da Juventude, organizada pelo grupo da comunidade Renovação Jovem da Paróquia São Francisco de Assis, em Ermelino Matarazzo.

Durante a Semana da Juventude, no início de agosto, foram realizadas atividades como rodas de conversa sobre cannabis medicinal, conduzida pelo próprio Padre Ticão, e uma palestra sobre gênero, direitos sexuais, direitos reprodutivos e religião, com a participação da organização Católicas pelo Direito de Decidir.

Eventos sobre racismo, políticas públicas, juventudes, uma celebração ecumênica e uma romaria de jovens à Basílica de Nossa Senhora Aparecida também fizeram parte da programação.

Segundo a organização feminista Católicas pelo Direito de Decidir, os ataques são feitos por grupos extremistas da própria Igreja Católica e direcionados ao padre, a integrantes da Paróquia São Francisco de Assis e aos jovens do grupo Renovação. A organização não citou os nomes dos grupos supostamente responsáveis pelas ameaças.

"Provocada por quem não se propõe a exercitar o diálogo, a avalanche de violência tenta sufocar as vozes de uma comunidade de fé conhecida pela luta nas questões sociais", diz nota de apoio ao Padre Ticão divulgada pela organização.

No site e nas redes sociais de grupos conservadores da igreja foram divulgados pedidos para que os seguidores denunciassem a participação das feministas no evento da Paróquia São Francisco de Assis.

Um desses grupos é o apostolado Templário de Maria. No site e nas redes sociais do apostolado há uma publicação com o texto: "Urgente! Grupo de feministas pró-aborto estará na Semana da Juventude em uma paróquia de São Miguel Paulista". Os leitores são estimulados a "denunciar" a participação. No site foram divulgados os telefones da Diocese de São Miguel Paulista, da Paróquia de São Francisco e do vigário da Paróquia.

O apostolado Templário de Maria afirma ter sido fundado com o objetivo de propagar a "total consagração à Santíssima Virgem, bom como a sã doutrina da Santa Igreja Católica Apostólica Romana".

Outro grupo conservador, o Salve Roma, é mais radical. No dia 3 de agosto, publicou nas redes sociais um texto pedindo que os "hereges" fossem denunciados.

"A Paróquia de São Francisco de Assis promove evento onde feministas defenderam a legalização do aborto, contrariando o Magistério da Igreja e o Papa Francisco. O evento mostrou que os organizadores são hereges públicos e devem ser afastados pela Diocese de São Miguel Paulista por 'FALTA GRAVE'. Um grupo de católicos, bravamente, defendeu a integridade da fé e o Magistério da Santa Igreja contra os rebeldes e desobedientes da paróquia", diz a postagem.

PADRE TICÃO

Padre Ticão foi um dos líderes da criação do Parque Dom Paulo Evaristo Arns e do Hospital de Ermelino Matarazzo, ambos na zona leste. Ele também participou da mobilização para a instalação da USP Leste e da Universidade Federal de São Paulo na zona leste. Na região, entre suas obras estão o Centro de Convivência para Melhor Idade e o Centro de Recuperação de Crianças Deficientes.

Em março deste ano, o padre provocou controvérsias ao criar na paróquia um curso sobre o uso medicinal da maconha em parceria com a Universidade Federal de São Paulo. "Não vou dizer que Deus é maconheiro, eu realmente não sei. Mas com certeza ele é cannabista", disse em entrevista à Carta Capital.

Ele defende o uso da cannabis para tratamentos médicos e afirma que ela só não é liberada no Brasil devido ao interesse de grandes grupos pelo monopólio. Segundo o padre, os moradores da região de sua paróquia demonstraram interesse pelo curso, principalmente porque a cannabis pode ajudar no tratamento de crianças com deficiências. Por Cristina Camargo | Folhapress