Coluna A Tarde: Corrupção deslavada




Uma pauta jornalística concebida com competência e realizada por um repórter consciente do seu significado e repercussão, se tudo desse certo – como deu -, abalou o País a partir da sua divulgação que começou em “Fantástico,” da Globo. Ganhou força na mídia de maneira geral.  O estarrecimento da população é sincero por desconhecer tais procedimentos, mas não o das autoridades dos três poderes. Elas sabem, perfeitamente, –inclusive os órgãos investigadores- que esta República é movida, em parte, pela corrupção abjeta que está presente em quase todas as atividades econômicas que envolvem o dinheiro público.

No Brasil se corrompe da base à cúpula da atividade pública. Difícil, presume-se, alguém permanecer íntegro. Nesta República, generaliza-se em suas três esferas, União, estados e municípios. É do conhecimento geral (menos do povo) e, pior, se banalizou de tal maneira que a punição passou a ser exceção. Na verdade, a punição praticamente inexiste. Observe-se o que está ocorrer com o escândalo do mensalão, que balançou o primeiro governo Lula. Foi em 2005 e parte dos crimes pode prescrever. Está presente em todas as modalidades de contratação para prestar serviços ou fornecimento a órgãos públicos, ou lá o que seja. As licitações são forjadas (inclusive as eletrônicas) e os convites feitos (outra modalidade de contratos) à empresas escolhidas a ponta de dedo.
       
Quantos foram punidos no Brasil, que se tenha notícia até hoje? Poucos, pouquíssimos. O Brasil nada mais é do que um grande ralo público por onde escoa o dinheiro recolhido a partir de uma carga tributária extorsiva, indecente, perversa. Acontece também na atividade privada, em escala imensamente menor. A forma mostrada pela Globo é uma das mais antigas: empresas são convidadas a participar de procedimentos exclusivamente para perder, num processo rotativo entre elas que funciona de forma alternativa: perde-se uma, ganha-se outra, mudando-se apenas a posição das empresas-atores que de ativas passam a passivas e vice-versa,
     
No Executivo é coisa antiga, de igual modo no Legislativo. No Judiciário, era até pouco tempo uma caixa preta. Pouco se sabia, a não ser falatório. A ministra Eliana Calmon usou pé-de-cabra para abri-lo. Lutou contra o corporativismo, usou palavras duras como “magistrados bandidos” e expôs o processo de venda de sentenças, uma das formas mais vis de enlamear a justiça. Boa parte dos bons magistrados ainda estão silenciosos, mas, com o tempo, eles próprios farão a limpeza que o Judiciário, expurgando os maus.
     
A reportagem chocou. A sujeira está em todo canto, principalmente no serviço público. É necessário que se fique atento às licitações. Seria importante que se constituíssem mecanismos sérios para fiscalizá-las. Porque, em boa parte quem determina o vencedor é a propina.     

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Os pré-candidatos a prefeito de Salvador passaram a utilizar, com maior assiduidade, consultas para conhecer a sua aceitação junto ao eleitorado. Nada que tenha maior significado por não usar processos e métodos com a consistência que normalmente é utilizada nas pesquisas feitas durante as campanhas eleitorais, para conhecimento do público. São, tão-somente, meras amostragens que permitem uma leitura supérflua do pensamento do eleitor.
       
São usadas para o consumo, ou deleite, interno do partido ou do pré-candidato. Uma, recentíssima, confirma ACM Neto, do DEM, à frente, mas, também, com maior rejeição entre os possíveis futuros candidatos. É seguido de Antonio Imbassahy, do PSDB. Embolados no terceiro e quarto lugares (a diferença é mínima), aparecem Nelson Pelegrino, do PT, e Lídice da Mata, do PSB. O comunicador Mário Kertész surge mais abaixo. Sua posição não informa nada porque até bem pouco ele afirmava que estava fora do processo. Agora, a propaganda do PMDB na televisão e na rádio demonstra outra realidade: ele pretende, sim, colocar seu nome na disputa.

PRÉ-CANDIDATURAS-2
     
Se tais consultas para consumo interno são desconsideradas, há, no entanto, um fato político perturbador entre os nomes que representam a oposição. Dificilmente conseguirão se aliançar de modo a oferecer apenas um nome representando as três legendas mais importantes do agrupamento, o PSDB, o PMDB e o DEM. O PR também poderá vir a se agrupar.
     
Há reclamações mais altas do que simples ruídos políticos. Envolvem ACM Neto. Os nomes da oposição e integrantes dessa frente em Salvador passaram a detectar – e a espernear – com um fato que consideram, mesmo sem união, despropositado. Neto estaria desenvolvendo um jogo para obter o apoio de outros partidos oposicionistas a partir de contatos e negociações que estaria procedendo com caciques nacionais das legendas em Brasília.

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Revela-se que realiza um trabalho incessante para trocar apoio entre uma legenda (o PSDB é o alvo) e DEM, contato que haja reciprocidade de apoio a ele na sucessão municipal de Salvador.
     
Estaria a conversar com o PSDB em São Paulo, para ter o apoio a Serra e em outras capitais. Tal movimento está causando comichões em Salvador. Muito acham que o procedimento do democrata fere princípios, entre os quais o da tese de que a situação dos partidos em Salvador deve ser decidida aqui e não em contatos com lideranças nacionais de outras agremiações. Isso leva à seguinte conclusão: se antes se falava em aliança oposicionista, agora andam a falar que o jogo é individual e arriscado. Poderá trazer conseqüências desagradáveis em Salvador. Por exemplo: Antônio Imbassahy é pré-candidato. Considera-se bem situado e não tem nenhum motivo para atender pedidos ou imposições de Brasília. O jogo será jogado aqui, e não no Congresso ou em S. Paulo.

*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta quinta-feira (22)

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