Mercosul cita desapontamento com UE e evita menção à Venezuela em declaração final

Líderes sul-americanos destacam falta de consenso político entre europeus e evitam prazo para acordo
Os países do Mercosul manifestaram desapontamento com o adiamento da assinatura do acordo com a União Europeia e não fizeram menção à situação na Venezuela no documento final da cúpula de líderes, deste sábado (20), em Foz do Iguaçu.

No texto, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai enfatizam que o tratado não foi selado, como previsto, por falta de consenso político entre os europeus. Os presidentes salientaram que a assinatura do acordo "daria uma sinalização positiva ao mundo na atual conjuntura internacional, fortalecendo a integração entre os dois blocos".

Apesar da frustração, demonstraram confiança de que a União Europeia terminará os trâmites internos que permitirão à assinatura do acordo com o Mercosul futuramente. No texto, falam em fixar uma possível data para a assinatura, sem mencionar um prazo.

Ao discursar na cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contou ter recebido uma carta dos presidentes da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do Conselho Europeu, António Costa, na qual ambos manifestam expectativa de ver o acordo aprovado em janeiro.

O presidente brasileiro também cobrou coragem e vontade política dos líderes europeus depois de dizer que esperava finalmente assinar o acordo UE-Mercosul após 26 anos de negociação.

"Mas, infelizmente, a Europa ainda não se decidiu. Líderes europeus pediram mais tempo para discutir medidas adicionais de proteção agrícola", disse. "Sem vontade política e coragem dos dirigentes não será possível concluir uma negociação que já se arrasta por 26 anos", acrescentou.

Além da decepção pelo adiamento da assinatura do tratado, outro assunto que marcou o encontro dos líderes sul-americanos no Brasil foi a divergência sobre a crise da Venezuela.

A situação do país de Nicolás Maduro não foi mencionada na declaração final dos presidentes, que priorizou aspectos comerciais, e levou a cúpula a terminar sem um documento do bloco e dos Estados associados —em que são discutidos temas geopolíticos da região.

Atualmente, o Mercosul conta com sete Estados associados: Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Panamá, que formalizou sua adesão em 2024.

O assunto colocou os presidentes Lula e Javier Milei, da Argentina, em lados opostos. Enquanto o brasileiro afirmou que uma intervenção armada na Venezuela seria catastrófica, o argentino exaltou a pressão dos Estados Unidos sobre o regime de Maduro.

No campo comercial, a declaração ainda deu ênfase à estratégia do bloco sul-americano de diversificar suas parcerias comerciais. Em trecho do documento, "manifestaram o interesse em seguir a prospecção de diálogos exploratórios com outros parceiros comerciais com potencial para incrementar a inserção do bloco na economia internacional".

Além de saudar a retomada das negociações com Canadá e do aprofundamento da relação com a Índia, os presidentes destacaram as discussões com Vietnã e Indonésia, como parte do objetivo de estreitar laços com economias emergentes de rápido crescimento e expandir o alcance das parcerias do Mercosul.

No documento, também reafirmaram a intenção de avançar nos processos de integração comercial com países da América Central e o Caribe, dando continuidade às negociações com El Salvador, para assinatura de acordo de livre comércio, e aos diálogos com Panamá e a República Dominicana.

O bloco sul-americano deu sequência às tratativas internas envolvendo o aperfeiçoamento do Focem, o fundo voltado para redução de assimetrias do Mercosul. No comunicado, os líderes disseram ter instruído os órgãos competentes a "impulsionar os trabalhos em andamento" para dar continuidade ao mecanismo.

A transição energética também foi tema de debate na cúpula em Foz do Iguaçu, com discussões voltadas à integração de mercados de biocombustíveis e aos combustíveis sustentáveis de aviação.

O bloco definiu ainda os termos de referência para a realização de um estudo voltado ao setor sucroalcooleiro, buscando um diagnóstico de potencialidades, alternativas e oportunidades para o fortalecimento das cadeias produtivas regionais e facilitação do acesso a mercados internacionais.

Por Nathalia Garcia/Folhapress

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