Trump reduz tarifas sobre café e carne bovina; adicional de 40% sobre Brasil permanece

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta sexta-feira (14) medida para reduzir tarifas sobre a importação de carne bovina, tomate, café e banana, em movimento voltado para controlar a inflação dos alimentos no país após o tarifaço.

Entre outros países exportadores de commodities, as medidas devem beneficiar o Brasil, maior produtor global de café e segundo maior produtor de carne bovina, atrás apenas dos EUA, segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA).

O país é alvo de uma sobretaxa total de 50% desde agosto, sendo 10% das tarifas globais recíprocas e 40% relacionado ao que o governo Trump chamou de "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ainda não está clara a magnitude da isenção desta sexta.

Centenas de alimentos foram listados em documento divulgado pela Casa Branca. As medidas se aplicam retroativamente a partir das 2h01 (horário de Brasília) desta quinta-feira (13).

O decreto modifica o escopo das tarifas chamadas recíprocas com base em segurança nacional, pilares da estratégia de Trump para enfrentar o que ele classifica como "grandes e persistentes déficits comerciais" dos EUA.

A decisão vem após recomendações de autoridades encarregadas de monitorar o estado de emergência nacional declarado por Trump em abril. O governo citou negociações com parceiros comerciais, a demanda doméstica e a capacidade produtiva americana como fatores que motivaram a revisão.

"Após considerar as informações e recomendações que essas autoridades me forneceram, o andamento das negociações com diversos parceiros comerciais, a demanda doméstica atual por determinados produtos e a capacidade atual de produção desses produtos nos Estados Unidos, entre outros fatores, determinei que é necessário e apropriado modificar ainda mais o escopo dos produtos sujeitos à tarifa recíproca imposta pela Ordem Executiva 14257", afirma Trump no decreto.

Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,96 bilhão em café para os Estados Unidos, sendo o maior fornecedor no período, segundo dados da International Trade Administration, órgão vinculado ao Departamento de Comércio americano.

Desde que as tarifas de 50% entraram em vigor em agosto, no entanto, as vendas de café despencaram, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Em outubro, a retração foi de 54,4% em relação ao ano passado.

Nos EUA, o produto acumula alta de cerca de 20% em relação ao ano passado, segundo dados do CPI (índice oficial da inflação ao consumidor no país).

Para carne bovina, os EUA enfrentam uma inflação de 12% a 18% em relação ao ano passado. Além das tarifas sobre o Brasil, o maior exportador global, uma redução do rebanho local também tem pressionado os preços.

O representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, disse mais cedo nesta sexta que Trump estava pronto para cumprir as promessas isentar alimentos e outros produtos que não são produzidos nos EUA.

Greer disse que o momento é propício para isso, logo após anúncios de acordos comerciais com Argentina, Equador, El Salvador e Guatemala nesta quinta (13). A redução marca um recuo para Trump, que até então defendia que as tarifas globais não pressionavam a inflação.

Segundo o governo americano, os acordos na América Latina devem ser concluídos nas próximas duas semanas e abrem os mercados para a produção agrícola e industrial dos EUA. Os quatro países se comprometeram a não impor impostos sobre serviços digitais de big techs.

A Casa Branca indicou que as tarifas gerais de 10% impostas a produtos da Argentina, El Salvador e Guatemala, e de 15% aos originários do Equador, permanecerão sem mudanças, mas que haverá uma redução em um certo número de mercadorias.

Segundo a Casa Branca, o governo americano tem mantido boas conversas com outros países da região. O Brasil, alvo de sobretaxas de 50%, não foi citado nos acordos.

O ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) se encontrou com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, também nesta quinta e disse esperar uma resposta dos EUA sobre a proposta feita pelo Brasil de pausar as tarifas para depois avançar na negociação para produtos específicos.

O ministro não detalhou o teor da proposta, mas o governo brasileiro quer um acordo provisório que passe pela suspensão das sobretaxas de 40% aplicadas ao país para então negociar detalhes das tarifas por setor (no total, produtos brasileiros são taxados em 50%, em razão de tarifa global de 10% aplicada pelo governo americano).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Trump tiveram em outubro uma reunião presencial em Kuala Lumpur (Malásia), durante uma reunião da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático). O encontro ocorreu semanas após os dois líderes terem conversado por telefone e na esteira da "química" durante a abertura da Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).

Na Malásia, Trump disse que as tarifas impostas ao Brasil poderiam ser negociadas muito rapidamente. O objetivo do governo brasileiro é que haja uma suspensão das sobretaxas durante o período de negociação.

Desde que Rubio foi escalado como o principal negociador para o tarifaço contra o Brasil, Vieira realizou quatro reuniões com o secretário de Estado. A primeira delas ocorreu dias depois do telefonema entre Trump e Lula.


Na ocasião, Vieira afirmou que aquele era um "início auspicioso de processo negociador" com os Estados Unidos.

Ao longo das últimas semanas, negociadores brasileiros mantiveram conversas informais com responsáveis por questões comerciais dos EUA, em que os americanos apontaram as suas prioridades nas negociações: conseguir acesso ao mercado de etanol no Brasil e discutir a regulamentação de big techs, incluindo moderação de conteúdo.

Os americanos afirmaram que a regulação das plataformas digitais está ligada a questões de liberdade de expressão. Já o etanol é uma queixa antiga dos americanos. A reclamação é que o etanol americano, feito de milho, enfrenta uma sobretaxa de 18% para entrar no Brasil, enquanto a barreira nos EUA era de apenas 2,5%.

Já o lado brasileiro aponta que Washington nunca aceitou vincular discussões sobre o etanol a uma liberalização do mercado de açúcar nos EUA, altamente protegido. Na terça (11), Trump disse reduziria "algumas tarifas" sobre o café.

Por Folhapress

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