Brics não se comprometem com sistema de pagamento alternativo, apesar de pressão de Dilma e da Rússia
Apesar da insistência da ex-presidente Dilma Rousseff e do governo da Rússia, os Brics devem evitar compromissos com sistemas de pagamento alternativos na declaração da cúpula do bloco, que se realiza no Rio, nos dias 6 e 7 de julho.
Na reunião dos Brics em Kazan, na Rússia, no ano passado, após pressão do líder russo Vladimir Putin, foi incluído um compromisso de explorar a viabilidade de “uma infraestrutura independente de liquidação e custódia transfronteiriça, Brics Clear” e houve uma instrução aos ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do grupo para discutir “a questão das moedas locais, instrumentos de pagamento e plataformas”.
Dilma, que foi reconduzida em fevereiro à presidência do banco dos Brics (NDB, Novo Banco de Desenvolvimento), e o governo russo passaram os últimos meses tentando emplacar uma “plataforma de investimentos” dos Brics liderada pelo NDB. Ela agora atua como nomeada pela Rússia.
No dia 18 de junho, Dilma se reuniu com Putin em São Petersburgo, e o líder russo defendeu que o NDB se dedique à “expansão da liquidez das moedas nacionais” e à criação de uma “plataforma digital para investimentos”.
Não ficou claro o que exatamente é a plataforma defendida pela Rússia. Mas Putin e outros líderes russos fizeram declarações sobre o tema nos últimos meses, dando indicações de que ela envolveria uso de ativos digitais, como bitcoins, criação de sistemas de pagamentos alternativos e maior independência do Ocidente. “Propomos a criação de uma nova plataforma de investimentos dos Brics usando ativos digitais”, disse Putin em Sochi, outubro do ano passado.
Na cúpula em Kazan, Putin disse que “é importante construir mecanismos financeiros multilaterais alternativos, confiáveis e livres”. Já o ministro das Finanças russo, Anton Siluanov, foi além: “Estamos definindo o rumo para a futura infraestrutura financeira do Brics. Os países do Brics precisam de medidas de proteção e mecanismos alternativos. Planejamos criar soluções de pagamento e liquidação que serão aceitáveis para todos os participantes dentro de um ano.”
Dentro do NDB, Dilma abraçou a missão e teria dito várias vezes a interlocutores que a plataforma de investimentos deveria ser uma das grandes entregas da cúpula dos Brics.
Mas a Índia se opôs, dizendo em reuniões que isso desvirtuaria o mandato do banco dos Brics. Os indianos queriam que a plataforma de investimentos fosse o que o nome diz, apenas uma série de incentivos para os países investirem em membros dos Brics. O governo brasileiro tampouco se empolgou. Segundo uma fonte do governo, está totalmente afastada a ideia de moeda dos Brics e o Brasil vê limitações para o uso de moedas locais em comércio.
Procurada, a assessoria do NDB não respondeu a duas tentativas de contato por email e telefone.
A ideia de criar sistemas alternativos de pagamentos e comércio em moeda local é vista pelos EUA e UE como tentativas da Rússia de escapar das sanções financeiras que enfrenta desde que invadiu a Ucrânia, em 2022, e sua exclusão do sistema Swift de informações e transações financeiras internacionais.
Logo após assumir, em janeiro deste ano, o presidente Donald Trump advertiu que haveria retaliações caso os membros do BRICS tentassem substituir o dólar americano como moeda de reserva.
“Vamos exigir um compromisso desses países aparentemente hostis de que eles não criarão uma nova moeda do Brics, nem apoiarão qualquer outra moeda para substituir o poderoso dólar americano ou enfrentarão tarifas de 100%”, disse Trump.
Os governos de países do bloco, principalmente Brasil e Índia, trabalharam para diluir a menção à plataforma na declaração e conseguiram apoio para que se limitasse a uma referência vaga. Nas palavras de um negociador, a proposta não foi suficientemente discutida, e muitos países não queriam “cutucar a onça com vara curta”.
Bryan Harris, sócio-gerente da consultoria Sabio, acha que a Rússia continuará pressionando pelo desenvolvimento de sistemas de pagamento alternativos para tentar contornar sanções e o isolamento econômico. Mas ele acredita que o Brasil não quer antagonizar Washington neste momento delicado.
“A Índia e a China, por sua vez, têm suas próprias alternativas nacionais à infraestrutura de pagamento ocidental e não vão mergulhar de cabeça nas iniciativas dos Brics sem uma consideração séria”, diz. Para ele, a reação de Washington à inclusão de sistemas de pagamento alternativos na declaração final seria “rápida e severa”. “Posso ver países como Brasil e Índia fazendo o máximo para evitar esse cenário.”
Patrícia Campos Mello e Nathalia Garcia/Folhapress
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Siga-nos
Total de visualizações de página
Ouça aqui: Web Radio Gospel Ipiaú
Web Rádio Gospel de Ipiaú
Mercadinho Deus Te Ama
Faça seu pedido: (73) 98108-8375
Publicidade
Publicidade

Publicidade
Publicidade

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente esta matéria.