Atacado por Lula, Guaidó diz que presidente legitima ditadura da Venezuela

O líder opositor venezuelano Juan Guaidó, 39, diz ao Painel que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca “blanquear” (legitimar) a ditadura de Nicolás Maduro ao recebê-lo com honras de chefe de Estado em Brasília.

“Lula o que faz é legitimar um ditador na prática. Pior ainda, revitimiza toda a sociedade venezuelana”, afirmou ele, que se proclamou presidente interino e chegou a ser reconhecido por dezenas de países, inclusive o Brasil sob Jair Bolsonaro (PL).

Chamado de impostor por Lula, Guaidó afirmou que o ataque não se restringe a ele.

“Lula o que faz ao atacar-me é relativizar a tragédia que sofre a Venezuela”, declarou, falando desde os EUA, onde se baseou após deixar o país citando razões de segurança.

Como o sr. viu a visita de Maduro ao Brasil e o encontro com o presidente Lula?

E não houve menção à Amazônia, que tanto o presidente Lula citou durante sua campanha, ou à presença de AK-47, certamente russos, na fronteira com Roraima. Nem ao tráfico de ouro, entre outras coisas, na fronteira, ou à presença de milhares de venezuelanos que são produto do deslocamento forçado.

Ele se dedicou a atacar-me, e não foi um ataque a Juan Guaidó, mas um ataque à luta por democracia, por eleições livres, por respeito às vítimas de violação de direitos humanos.

O presidente chamou o sr. de impostor.

Lula me chamou de impostor para evitar falar da necessidade de eleições livres na Venezuela, ou de que Maduro comete crimes de lesa-humanidade. Lula revitimiza a toda a sociedade venezuelana. Michelle Bachelet [ex-comissária da ONU para direitos humanos] disse que havia violações sistemáticas de direitos humanos na Venezuela. A Human Rights Watch falou dos deslocados. Essa não é portanto uma opinião de Juan Guaidó. Lula o que faz ao atacar-me é relativizar a tragédia que sofre Venezuela, legitimar uma ditadura, lamentavelmente.

A presença de Maduro na reunião com presidentes da América do Sul mostra que ele não está mais isolado?

Mostra que o convite que recebeu por parte de Lula marca uma agenda geopolítica do Brasil muito clara, que não faz parte da democracia. Mas além da pretensão que tenha o gesto, é muito preocupante para 7,5 milhões de refugiados, para dezenas de milhares de vítimas da repressão de Maduro. Isso não é apenas estender a mão a um ditador, mas desestabilizar a região. A Operação Acolhida recebeu centenas de milhares de venezuelanos deslocados pela tragédia da Venezuela. Essa não é uma narrativa como disse o presidente Lula, não é um invento. Não é relativizável. É um fato.

O sr. espera que os presidentes da América do Sul cobrem Maduro pela situação de direitos humanos na cúpula?

O mínimo que esperamos é que falem das vítimas e dos direitos dos presos políticos, dos migrantes venezuelanos e da solução do conflito, que passa por eleições livres e justas. Não queremos nenhum presente, apenas isso.O presidente Lula toma suas decisões, e sua prioridade é a agenda internacional. Lamento que a aproximação com Maduro e com a Venezuela não seja de uma busca das soluções do conflito. Há ainda uma possibilidade de acordo mediado pelo México.

Como essa visita impacta as negociações para a transição política? Maduro se fortalece?

Temos que seguir lutando por eleições livres na Venezuela, para sair de uma ditadura, entendendo que o presidente do Brasil é sem dúvida uma referência na região. Hoje ele está do lado da repressão, das violações dos direitos humanos e não das vítimas e das pessoas que estão lutando no terreno pela democracia. Pergunto a Lula se, além de receber o ditador e atacar a mim, vai falar de democracia, de soluções para o conflito na Venezuela.

Onde o sr. está agora?

Estou, precisamente por perseguição da ditadura de Maduro, nos EUA.

Quais são seus próximos passos?

A ideia é voltar à Venezuela quando seja seguro, mas hoje lamentavelmente não é. Estaremos em um giro internacional exigindo os direitos que merecem os venezuelanos desde 2018 [data da última eleição de Maduro, amplamente considerada fraudulenta pela comunidade internacional].

Folha de S. Paulo

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