Zelenski admite negociar termos de Putin, mas depois imita Churchill e fala em lutar até o fim

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, admitiu discutir os termos de rendição colocados por Vladimir Putin para encerrar a campanha militar da Rússia contra seu país. Isso foi na noite de segunda (7), já madrugada de terça (8) na Europa.

No fim da terça, contudo, o mesmo Zelenski fez uma emocionada aparição virtual no Parlamento britânico e fez um discurso decalcando a famosa fala na qual o premiê Winston Churchill, naquela mesma Câmara dos Comuns, prometeu lutar até o fim contra a Alemanha nazista em 1940.

O Zelenski negociador surgiu em uma entrevista à rede de TV americana ABC. Nela, ele comentou o ultimato feito por Putin por meio de seu porta-voz, que em uma conversa com a agência Reuters na segunda elencou os pontos para o fim da guerra.

"Eu acho que itens sobre os territórios ocupados temporariamente e as pseudorrepúblicas não reconhecidas por ninguém além da Rússia, nós podemos discutir e achar um compromisso sobre como esses territórios irão viver daqui em diante", disse.

Ele se referia à exigência de reconhecimento da Crimeia, anexada por Putin em 2014, como russa, e das áreas rebeldes pró-Rússia do Donbass (leste ucraniano), apoiadas pelo Kremlin.

"O que é mais importante para mim é como as pessoas que moram nesses territórios e querem ser parte da Ucrânia vão viver", disse.

Outro sinal dado por Zelenski foi acerca do tema da neutralidade ucraniana: os russos querem que a Constituição local seja emendada para proibir a adesão a blocos, notadamente a Otan (aliança militar ocidental).

"Eu relaxei sobre essa questão há muito tempo, depois que eu entendi que a Otan não está preparada para aceitar a Ucrânia", afirmou. Ele se queixou da forma com que o porta-voz Dmitri Peskov colocou os termos.

"Isso é um ultimato, e não estamos preparados para ultimatos. Estou pronto para dialogar, não para capitular", afirmou. A guerra começou há quase duas semanas, no dia 24 de fevereiro.

Isso dito, Zelenski colocou seu manto de defensor da Ucrânia e herói do Ocidente algumas horas depois, ao aparecer ante os membros do Parlamento em Londres. "Não nos renderemos e não perderemos. Lutaremos até o fim, no mar, no ar. Seguiremos lutando por nossa terra, custe o que custar, nos bosques, nos campos, nas costas, nas ruas", disse. Foi ovacionado em pé.

Zelenski, que tem sido mostrado no Ocidente com uma espécie de Churchill do Leste Europeu por sua resistência ao ataque russo em Kiev, resolveu copiar o antecessor, mais precisamente o discurso de 4 de junho de 1940 --o segundo dos três mais famosos na fase aguda da queda da França ante as forças de Adolf Hitler.

"Iremos até o fim. Lutaremos na França. Lutaremos nos mares e oceanos [...] Lutaremos nas praias, lutaremos nas áreas de desembarque, lutaremos nos campos e nas ruas [...] Nunca nos renderemos", disse o estadista britânico (1874-1965).

As negociações entre Rússia e Ucrânia seguem abertas, mas três rodadas de conversas depois, avançaram muito pouco além de tentar azeitar a criação de corredores humanitários para retirar civis de áreas sob cerco de Moscou. Mesmo isso não tem dado certo, com acusações de lado a lado.

Os termos colocados por Peskov não diferem muito daqueles do ultimato já feito por Putin ao Ocidente em dezembro, que foi rejeitado. Agora, contudo, ele coloca as cartas com suas tropas dentro da Ucrânia, em batalhas bastante encarniçadas. Os EUA afirmam que os russos já perderam de 2.000 a 4.000 soldados.

Não há, claro, estimativa feita das baixas dos aliados em Kiev. Moscou só admitiu 498 mortes na primeira semana do conflito, até aqui, o que já configura um desempenho complicado em termos de proporção com os feridos, três vezes mais. É uma taxa distante daquela de Exércitos modernos, mais próxima do 1 morto para 10 feridos.

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