Palmeiras tem sonho interrompido pelo Chelsea e é vice-campeão mundial

Jogadores do Chelsea celebram gol marcado por Lukaku na final contra o Palmeiras no Mundial de Clubes
Foto: Karim Sahib / AFP
O Palmeiras parou no Chelsea na tentativa de alcançar seu grande sonho, a conquista do Mundial. A equipe alviverde endureceu o jogo contra a formação inglesa e o levou à prorrogação, na noite de sábado (12) dos Emirados Árabes Unidos, mas a decisão da competição acabou como as oito anteriores: vitória do europeu.

O campeão da Champions League chegou ao troféu com um triunfo por 2 a 1. Nos 90 minutos iniciais, Lukaku abriu o placar de cabeça, e Raphael Veiga empatou para a equipe brasileira em pênalti tolo de Thiago Silva. Depois, foi a vez de Luan fazer pênalti. Havertz definiu o placar no estádio Mohammed Bin Hayed, em Abu Dhabi, já aos 12 do segundo tempo extra.

Foi o primeiro título mundial do Chelsea, que havia fracassado em sua tentativa anterior, em 2012, quando perdeu por 1 a 0 a final para o Corinthians. Aquela foi a última ocasião em que um não europeu ficou com a taça. Desde então, venceram Bayern (duas vezes), Real Madrid (quatro vezes), Barcelona e Liverpool.

O resultado dá sequência à chacota que acompanha os palmeirenses a cada fracasso na busca pelo troféu intercontinental. Muitos deles consideram a glória na Copa Rio de 1951 uma conquista da maior grandeza, algo que nunca impediu os rivais de fazer troça, apontando que o clube da zona oeste paulistana não tem Mundial.

Nos últimos anos, corintianos, são-paulinos, santistas e até rivais não paulistas, como os flamenguistas, entoaram com frequência os versinhos: “O Palmeiras não tem Mundial, o Palmeiras não tem Mundial, não tem Copinha, não tem Mundial”. Era uma adaptação de uma velha canção de Dorival Caymmi que se tornou irritante aos ouvidos alviverdes.

A parte da Copinha foi enterrada no mês passado, com a inédita vitória na tradicional Copa São Paulo de juniores. Houve festa em São Paulo no dia 25 de janeiro, com a expectativa de que todos os versos da piadinha musical estariam obsoletos em pouco tempo. Não foi o que ocorreu nos Emirados Árabes, apesar da boa presença alviverde nas arquibancadas.

Anteriormente, em 1999, a caminhada rumo ao troféu foi interrompida em uma falha do ídolo Marcos contra o inglês Manchester United. No Mundial de 2020, no Qatar, a equipe registrou a pior campanha de um sul-americano na competição, com derrotas para o mexicano Tigres e o egípcio Al Al Ahly.

O torneio de 2021, realizado já em 2022 devido a atrasos no calendário durante a pandemia de Covid-19, até começou bem para o Palmeiras. O time superou com facilidade o Al Ahly, algoz no ano anterior, porém não pôde concretizar o passo mais complicado, derrubar o campeão da Champions League.

Não foi uma vitória fácil do Chelsea, que encontrou um adversário bem postado defensivamente. O técnico Abel Ferreira montou um esquema de marcação individual em vários dos jogadores da formação inglesa, que teve bastante dificuldade para quebrar essa barreira de atletas vestindo branco.

Rony, que vinha sendo o jogador mais avançado, virou quase um lateral direito. Acompanhava o tempo todo o ala esquerdo Hudson-Odoi. Do outro lado, Gustavo Scarpa fazia o mesmo com Azpilicueta. Mount (depois Pulisic) era o homem de Piquerez. Marcos Rocha caçava Havertz. No meio, Zé Rafael e Danilo faziam o cerco a Kanté e Kovacic.

O centroavante Lukaku era quase sempre marcado por Luan, que se virava bem, com Gómez na sobra. Assim, os únicos jogadores do campeão europeu que tinham liberdade para trabalhar eram o trio de zagueiros. Christensen, Thiago Silva e Rudiger avançavam e jogavam na intermediária ofensiva.

Era parte da armadilha do Palmeiras, que se armava para contragolpear. O problema era que o homem de velocidade, Rony, partia de uma posição muito recuada. Raphael Veiga e Dudu eram os atletas mais avançados e não têm a mesma rapidez. Mesmo assim, oportunidades apareceram no primeiro tempo.

A melhor dela apareceu aos 27 minutos, em contra-ataque no qual Zé Rafael foi lançado, brigou na meia-lua com dois zagueiros e rolou para Dudu, que entrava livre pela esquerda. Em vez de bater de primeira, o que era uma possibilidade clara, ele tentou conduzir a bola, perdeu a passada e deu um chute desequilibrado.

No início da etapa final, o Chelsea finalmente conseguiu achar espaços, sobretudo do lado esquerdo. Foi por ali que Hudson-Odoi recebeu livre e cruzou, aos nove. Lukaku ganhou a primeira de Luan e cabeceou no canto direito de Weverton.

Abel reagiu colocando Jailson no lugar de Zé Rafael, dando força ao meio-campo. O Palmeiras teve um momento de instabilidade no qual poderia ter levado o segundo, porém renasceu em uma bola alçada na área. Thiago Silva, como já fez outras vezes na carreira, inexplicavelmente disputou pelo alto usando a mão.

Chamado a ver o lance em vídeo, o árbitro australiano Chris Beath apitou pênalti, convertido por Raphael Veiga aos 19. O momento virou. Ouvindo a arquibancada berrar que “o Palmeiras é o time da virada”, os alviverdes passaram a incomodar o time britânico, que, no entanto, continuava perigoso: Havertz e Pulisic erraram por pouco.

O empate persistiu até a prorrogação. O Chelsea, que já demonstrava cansaço, conseguiu sobrevida com algumas substituições. Tinha a posse de bola, porém, em sua única oportunidade mais clara do primeiro tempo extra, havia posição de impedimento. O travessão foi acertado, mas, em caso de bola na rede, o lance teria sido anulado pelo sistema eletrônico de marcação de posição irregular.

A disputa caminhava para os pênaltis até um escanteio para os ingleses em que a bola ficou viva na área. Luan bloqueou chute de Azpilicueta com o braço. Mais uma vez, o juiz foi chamado ao vídeo para apitar pênalti. Havertz o converteu, aos 12 da segunda etapa da prorrogação.

O triunfo, se não era tratado como prioritário pelo Chelsea, amplia o moral de Thomas Tuchel. Depois de ter levado o Paris Saint-Germain à final da Champions League, o alemão assumiu a equipe londrina e triunfou no principal torneio europeu sem ser considerado favorito, derrubando o Manchester City, de Pep Guardiola, na decisão.

O técnico, que só tinha glórias domésticas no currículo, na Alemanha e na França, ganhou novo prestígio com o triunfo internacional. Depois disso, ainda venceu a Supercopa Europeia e, agora, aos 48 anos, celebra a conquista do Mundial.

Ele chegou a desdenhar do torneio, dizendo em dezembro que nem pensava nele. Nos Emirados Árabes Unidos, porém, vibrou bastante com os gols de sua equipe e com o título. Ele chegou a Abu Dhabi apenas na véspera da decisão, recuperado de Covid-19.

Marcos Guedes / Folhapress

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente esta matéria.