Caminhoneiros dos EUA se inspiram no Canadá e protestam contra restrições anti-Covid

Caminhão concentrado com outros veículos em Adelanto, na Califórnia, prepara-se para iniciar viagem até Washington; na mensagem, lê-se: 'agricultores e caminhoneiros pela liberdade'
Foto: Mario Tama /Getty Images/AFP
Inspirados em seus colegas do Canadá, que organizaram bloqueios durante três semanas até que foram detidos pela polícia local, caminhoneiros dos Estados Unidos planejam embarcar nesta quarta-feira (23) em uma viagem de mais de 4.000 km do estado da Califórnia até a capital do país, Washington, em defesa do fim das restrições para conter a pandemia de Covid.

Autonomeado “comboio do povo” —também motivado pelo canadense “comboios da liberdade”—, o grupo anuncia que vai passar 11 dias na estrada até desembarcar na região metropolitana de Washington em 5 de março. O número de caminhoneiros e veículos envolvidos é incerto.

Ainda assim, o governo americano reagiu. O Pentágono anunciou nesta terça (22) que 400 membros da Guarda Nacional da capital estarão a postos para fornecer apoio em pontos de tráfego estratégicos a partir do próximo sábado (26) até 7 de março. Cerca de 50 veículos táticos de grande porte também serão colocados à disposição.

Com casos, mortes e internações por Covid em queda após uma grave onda motivada pela variante ômicron, os EUA têm assistido à derrubada da maior parte das restrições, tanto em estados dominados por republicanos, quanto naqueles onde há maioria democrata. Cerca de 65% da população está com o primeiro esquema vacinal completo.

Na Califórnia, onde tem início o comboio de caminhoneiros, também houve afrouxamento das medidas. O declínio da ômicron no estado levou o governo local a suspender a obrigatoriedade do uso de máscara em espaços fechados, com exceção de transporte público, hospitais e asilos, mas somente para aqueles que estejam imunizados.

Ainda assim, o estado, governado pelo democrata Gavin Newsom, mantém um estado de emergência desde os meses iniciais da pandemia, algo que entrou na lista de demandas dos manifestantes, que pedem que a medida seja suspensa permanentemente.

Brian Brase, caminhoneiro que é um dos organizadores do comboio, disse à agência de notícias Reuters que, independentemente de onde os caminhões pararem, eles “não vão a lugar nenhum” até que as demandas do grupo sejam atendidas. Outras exigências incluem o fim da cobrança do passaporte vacinal.

Outro comboio, este partindo da Pensilvânia, está também a caminho de Washington. Bob Bolus, um dos organizadores, disse a uma afiliada da rede ABC que os manifestantes não têm intenção de violar as leis ou bloquear o tráfego da região, mas que isso poderia mudar caso as exigências em relação às restrições da pandemia não forem atendidas. “Eles não vão nos intimidar. Nós somos o poder, não eles.”

Também entra na conta dos protestos a situação econômica americana. A inflação nos EUA chegou a 7,5% neste mês, segundo dados divulgados na última semana, o que representa a maior alta em quatro décadas. Ainda que outros índices nacionais sejam positivos, números como esse colocaram combustível nos atos.

A situação melhorou desde que o governo de Joe Biden injetou trilhões de dólares, levando ao crescimento econômico de 5,7% em 2021, o mais forte desde 1984, segundo dados do Departamento de Comércio em janeiro. Enquanto isso, o desemprego está em 4%, perto da taxa de 3,5% de fevereiro de 2020, pouco antes da pandemia.

No Canadá, que inspirou os protestos nos EUA e também em outros países, como Nova Zelândia, um protesto iniciado por caminhoneiros e ao qual se somaram líderes de movimentos de extrema direita e ex-policiais ocupou diferentes pontos do país por cerca de um mês. Partes da fronteira com os EUA, como a ponte Ambassador, em Ontário, também foram bloqueadas, desaguando em perdas econômicas.

O premiê Justin Trudeau chegou a decretar estado de emergência nacional para conter os atos. Com isso, permitiu que os bancos do país congelassem as contas bancárias de todos os suspeitos de envolvimento com os bloqueios —cerca de 220 contas foram bloqueadas, assim como mais de 250 endereços de bitcoin. O congelamento foi encerrado nesta quarta, anunciaram as autoridades.

Ainda assim, foi preciso que a polícia agisse para retirar os manifestantes das ruas da capital Ottawa. Na segunda, 196 pessoas foram detidas e 115 veículos, rebocados. Nos primeiros dias do protesto, havia mais de 400 veículos ocupando as ruas do centro.

Folhapress

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