Boris Johnson prepara fim de restrições e política de convivência com a Covid

       Medidas devem valer apenas para a Inglaterra, e cientistas alertam para relaxamento prematuro
Foto: Dylan Martinez/Divulgação/Arquivo
Contrariando especialistas, o primeiro-ministro Boris Johnson deve anunciar nesta segunda-feira (21) a estratégia “convivendo com a Covid”, que retira as restrições ainda em vigor, para alcançar.

Apenas um dia após a rainha Elizabeth 2ª receber o diagnóstico positivo para Covid-19, o premiê prepara a derrubada da obrigação de auto-isolamento para infectados e o fim do fornecimento de testes gratuitos para a população.

“Hoje irá marcar um momento de orgulho depois de um dos períodos mais difíceis na história do nosso país, quando começamos a aprender a conviver com a Covid”, afirmou antes de seu pronunciamento no Parlamento.

O governo adiantou que irá manter alguns sistemas de vigilância e planos para medidas de contenção no caso de uma nova variante surgir.

Ainda não está claro, porém, se o relaxamento se aplicaria somente à Inglaterra ou se seria válido para todo o Reino Unido, uma vez que as gestões locais têm tido certa autonomia para definir suas estratégias. O primeiro-ministro do País de Gales, Mark Drakeford, por exemplo, já demonstrou ser contrário à decisão e classificou qualquer mudança na estratégia de exames como “prematura e irresponsável”.

“A testagem tem tido um papel central em quebrar correntes de transmissão e como uma ferramenta de vigilância que nos ajuda a detectar e responder a variantes que surgem”, defendeu. “É essencial que isso continue.”

A derrubada das restrições vai na mesma linha de como o governo britânico tem lidado com os demais protocolos e vem na esteira de outras medidas anunciadas em meio à crise pela qual passa Boris. O premiê está no meio de uma polêmica envolvendo festas durante a pandemia na residência oficial em Downing Street.

Médicos e cientistas, no entanto, alertaram que o relaxamento deixará o país vulnerável a uma nova variante e pediram que Boris não seja “entusiasmado” com a saúde do país. Conselheiros do governo também disseram que o relaxamento pode levar a um rápido crescimento da doença.

Com um total de 18,6 milhões de casos, o Reino Unido vê uma queda acentuada na média móvel após a variante ômicron levar ao maior pico desde o início da pandemia. Neste domingo (20), a média dos últimos sete dias foi de 42.918 infecções, bem abaixo das 180 mil registradas no início de janeiro.

As mortes também tiveram uma leve alta, mas ficaram bem longe do que foi visto em janeiro de 2021. A curva de hospitalizações, apesar de um maior crescimento, apresentou comportamento semelhante.

O premiê, por sua vez, já afirmou não querer que as pessoas “joguem a cautela pela janela”, mas a ampla cobertura vacinal significa que o governo quer passar de uma obrigação imposta pelo Estado para o incentivo da responsabilidade pessoal —71,6% estão com esquema completo.

Cientistas ponderam ainda ser imprevisível o quão rápido o comportamento das pessoas irá mudar, já que a maioria continua a evitar regiões movimentadas e usar máscaras, mesmo após essas regras deixarem de existir.

A divergência em torno do relaxamento foi vista também dentro do próprio governo, com um conflito entre os ministros da Saúde e das Finanças, Sajid Javid e Rishi Sunak respectivamente, sobre o financiamento de algumas das medidas, segundo a mídia local. Uma fonte ligada à gestão disse à agência de notícias Reuters que uma reunião entre os principais ministros foi adiada, mas deve acontecer ainda nesta segunda.

Uma divisão entre conservadores já havia ocorrido em dezembro do ano passado, quando medidas mais duras para conter o surto da ômicron, apresentadas como “Plano B”, foram aprovadas no Parlamento, mas expuseram um racha no partido de Boris.

Os planos de agora vêm sendo discutidos há semanas e colocam o país como a primeira grande economia europeia a permitir que pessoas infectadas frequentem sem restrições lojas e transporte público e trabalhem presencialmente.

Colocar o ônus sobre os empregadores para definir regras de isolamento e exigir que as pessoas paguem pelos testes, porém, pode afetar mais os mais pobres, que geralmente estão em empregos que envolvem uma maior interação com colegas ou clientes.

Até agora, o governo procurou manter a economia aberta combinando testes rápidos em massa com a exigência legal de cinco dias de autoi-solamento, abordagem que permitiu ao país atravessar a onda da variante ômicron.

Folhapress

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