Wagner é pressionado a fazer com Leão o que fez com Geddel em 2010, por Raul Monteiro*

Foto: Divulgação/Arquivo

Candidatíssimo ao governo da Bahia, o senador Jaques Wagner (PT) enfrenta um dilema em relação à boa administração do grupo governista necessária ao sucesso da campanha, primeira condição para sua vitória eleitoral em 2022. Trata-se do que fazer com João Leão (PP), cujo partido ganhou um protagonismo na política e no país pelas mãos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que passou a agitar o ânimo dos progressistas na defesa de uma candidatura própria na Bahia e a empolgar o próprio vice-governador com a perspectiva de obter apoio e condições antes impensadas para assumir o desafio.

Embora diga que é homem de grupo e dele não pretenda sair, Leão não age em conformidade com o discurso. Pelo contrário, mesmo antes de o PP ganhar o coração do governo Bolsonaro já se movimentava com uma desenvoltura que até quem não é da política acredita ser de alguém interessado em conquistar o governo baiano, mesmo plano do petista. São posições que, se não chegam a desestabilizar, produzem uma verdadeira paranóia no ex-governador, um sentimento que só aumentou com a súbita elevação de posição do PP no plano nacional, que passa, inclusive, pela possibilidade de ingresso do presidente da República no partido.

Wagner já havia sinalizado para a necessidade de fazer uma espécie de “corte de asas” em Leão desde a sucessão para a Assembleia Legislativa, no ano passado, quando atuou fortemente pela eleição do deputado estadual Adolfo Menezes, do PSD, partido do senador Otto Alencar, nome com que conta efetivamente na chapa na condição de candidato à reeleição para o Senado. Já naquele momento acreditava que haveria uma fratura na base forçada por Leão e incentivada por seu filho, o deputado federal Cacá, que nunca escondeu de ninguém o interesse no namoro com o candidato do DEM ao governo, ACM Neto.

A eleição se resolveu em favor de Adolfo, que tem cumprido o compromisso de não criar problemas ao governo na Assembleia, um aliado do prefeito ACM Neto rompeu com ele para se tornar ministro da Cidadania tentando se colocar como alternativa ao democrata e o quadro saiu da perspectiva de controle para o PT, sendo ainda alterado pela proximidade e comunicação que o fato de estarem no mesmo governo no plano nacional proporcionam a Roma e ao PP baiano, a ponto de um cenário prever uma chapa com ele e Leão. Agora, o que se diz é que Wagner deveria ter em mente pelo menos duas datas para resolver o conflito ainda não aberto com o vice-governador.

Usando o controle político que hoje exerce sobre o governo, por meio do secretário de Relações Institucionais, Luiz Caetano, o senador poderia determinar o afastamento do PP do governo agora em setembro ou dilatá-lo para março do próximo ano, quando acaba o prazo para as filiações partidárias. Os defensores da tese de que Leão pode se transformar numa fonte de problemas ou passar a fazer exigências descabidas para se manter no grupo preferem o prazo mais curto para uma definição. Acham que o rompimento isolaria Leão, cuja base do PP não acompanharia, num repeteco do que aconteceu com Geddel Vieira Lima (MDB) em 2010.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*

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